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sexta-feira, 30 de abril de 2010

RENOVÁVEIS
O governo espanhol começou ontem negociações com a oposição com vista ao estabelecimento de um Pacto Energético de longo prazo (EXPANSION), e por cá?
ROUBINI
Hoje no FT, finalmente alguém diz o que tinha de ser dito sobre a questão grega, apesar de o caminho ser difícil espero que não se continue nos adiamentos habituais em que tudo será ainda muito pior.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

PORQUE MERKEL TEM RAZÃO

As críticas a Merkel têm sido mais ou menos generalizadas por toda a Europa, pela sua alegada "falta de visão e de espírito europeu", fora da tradição alemã e sobretudo da visão de Helmut Khol e de Adenauer. Para estes críticos Merkel está apenas preocupada com as suas eleições regionais e outros aspectos da política interna alemã.

Julgo que aquelas críticas a Merkel não têm razão de ser, não se pode comparar a margem de manobra que a Alemanha de hoje tem com a que teve no tempo dos seus antecessores, por diversas razões mas sobretudo devido à dimensão e peso da crise económica que se vive, e cujos desdobramentos são ainda dificilmente previsíveis.

A teoria do aval claro e urgente à Grécia, que correu solta por essa Europa fora, e que apenas não se concretizou graças a Merkel, tinha como base uma política voluntarista muito arriscada não só para o Euro mas para a Europa como um todo. No estado actual da economia mundial não era possível à Europa e muito menos à Alemanha, avalizar nenhum país em dificuldades fora de um quadro legal bem definido, quadro esse que não existe, mesmo que esse país fosse conhecido pelo seu bom comportamento o que como todos sabemos não era sequer o caso.

Aquele aval não era (nem é) possível por uma simples razão, a situação financeira mundial está presa por fios débeis e a qualquer momento pode "despencar", pelo que todas as posições que se tomem têm de ter em conta esse quadro, tomar qualquer decisão sem ter aquele risco em consideração é uma atitude suicida, seria isso que o aval rápido e cego à Grécia teria significado para toda a Europa, tanto mais quanto não se trata de uma simples crise de liquidez mas de problemas de solvência.

Claro que a Grécia, Portugal ou a Irlanda são economias demasiado insignificantes para serem por si só um problema maior, mesmo nos tempos difíceis que correm, no entanto considerando-as em grupo e juntando Espanha e Itália, teremos riscos potenciais que podem atingir os triliões (US) de euros, ou seja, totalmente ingeríveis.

Merkel foi depois acusada de ter acabado por ceder em toda a linha, mais uma vez não foi assim, no quadro que foi aprovado ficou absolutamente claro, para a Europa e para o mundo, qual é limite da responsabilidade alemã se amanhã a Grécia entrar em incumprimento. O risco da pretensa solução rápida e voluntariosa era que com ela teríamos "um por todos e todos por um", até ao último euro nos cofres de Berlim...

Qual é de facto a situação financeira mundial? No quadro da grave crise em que ainda estamos mergulhados os diversos Estados injectaram quantidades astronómicas de dinheiro nas economias para evitar o colapso da actividade económica e financeira, e com ele todo o subsequente conjunto de desgraças agravadas para as populações (não vem agora ao caso se a política foi ou não correcta). Como consequência daquela actuação dos Estados eles próprios ficaram enormemente endividados, mesmo os que ainda o não estavam, as populações que na maioria dos casos já estavam sobre-endividadas ficaram ainda em piores condições (embora com o alívio temporário da queda das taxas de juro), as empresas que estavam menos endividadas aguentar-se-ão enquanto houver consumidores, e os bancos continuarão de pé enquanto haja dinheiro a custo praticamente zero, novas injecções de capital e não tiverem de avaliar os seus activos a preços de mercado efectivos.

Ou seja, estamos perante um castelo de cartas, que todos queremos que se estabilize e consolide, mas ao mesmo tempo não podemos deixar de tomar todas as precauções para o caso de as coisas correrem mal, e isso quer dizer que não há avais nem cheques em branco para ninguém. Aliás o processo grego tem vindo a confirmar a necessidade daquelas cautelas, com as sucessivas surpresas sempre que se aprofundam os números (cada cavadela uma minhoca).

Com este panorama de fundo tudo pode vir a acontecer no quadro monetário europeu se as coisas se complicarem mais a nível mundial, e como é evidente a Alemanha mais do que nenhum outro país tem que que estar preparada para o que der e vier, e exigir dos outros países da zona euro que façam a sua parte no sentido de tentar salvar tudo o que ainda não está totalmente perdido.

Pôr mais "dinheiro bom em cima de dinheiro mau" não resolve nada e só torna as coisas mais difíceis para todos. Se os países em dificuldades não quiserem, ou lhes for impossível, fazer o que tem de ser feito, não vai haver solução que não passe pelo repensar da zona euro.

Esperemos que Merkel, embora tendo razão, não "force a barra" para além do exequível.

(na sequência ver texto: O regresso do marco alemão?)
O REGRESSO DO MARCO ALEMÃO?
(publicado no Jornal de Negócios a 27/4/10)

Os países da zona euro em dificuldades, embora estejam em situações de gravidade e características diferentes, têm em comum vários aspectos dos quais é de realçar a baixa produtividade relativa (e padrões de consumo não consentâneos com ela), do qual todos os outros problemas em grande parte derivam: deficits comerciais e de transacções, peso da dívida pública relativamente ao PIB, endividamento externo das economias como um todo, reduzidos níveis de poupança, etc. Portugal e a Grécia são os países que fazem o pleno e padecem de todos aqueles males, embora o nosso país em doses mais reduzidas que os gregos. Os outros países têm situações negativas mais focalizadas em alguns sintomas concretos, o que não quer dizer situações globais menos graves, quer pela dimensão, quer por outros aspectos específicos.

Estamos assim perante um conjunto de países que tem de fazer um verdadeiro milagre económico no meio de uma crise mundial extremamente difícil, milagre económico porque terão de expandir as suas economias e simultâneamente reduzir o consumo interno, num quadro de investimentos reduzidos, economias abertas e uma moeda forte que não controlam, ou seja, terão de reforçar vendas ao exterior no momento em que esse é o objectivo de todos os outros seus concorrentes que para tal têm mais margem de manobra. Pode dizer-se que se tratam de missões quase impossíveis, será que alguém o vai conseguir? no quadro actual dificilmente. Na verdade o que toda a gente espera (ou apenas tem esperança?)é de que as coisas se comecem a compor na economia mundial e isso acabe por dar espaço para estes países virem a recuperar-se lentamente ao longo do tempo. Mas, e se assim não for?

Se não for assim, o destino serão as suspensões de pagamentos ao exterior, os incumprimentos, as renegociações de dívida, etc. Poderá isso ser feito no quadro do actual euro? Aqui temos de recordar que ninguém pode (pelo menos em teoria) ser expulso do euro mas pode sê-lo da UE, o que no entanto seria um caminho complicado e totalmente desintegrador da Europa. Mas por outro lado, ter países "em default" dentro do euro, além de extremamente complexo seria uma humilhação sem fim para os países da moeda forte (Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia) e um factor de destabilização das suas economias.

Dentro deste quadro pessimista, mas infelizmente longe de inverosímil, teríamos então uma situação extremamente grave com diversos países sem condições de honrarem os seus compromissos, mas que não poderiam ser expulsos do euro e para os quais a desvalorização da moeda se tornaria uma necessidade cada vez mais premente, e face à concentração do seu comércio dentro da própria Europa o ideal seria mesmo a desvalorização do seu euro em relação ao dos "países europeus de moeda forte".
Ou seja, dado que os incumpridores não podem ser expulsos, nem sair pelo seu pé porque tal levaria à falência generalizada das respectivas economias (endividadas em euros e operando em novas moedas), restaria como solução que fossem as economias fortes a sair do euro, o que nesse quadro seria a melhor solução para todos. Quando isso acontecesse essa nova moeda (ou moedas) teria uma rápida valorização ao mesmo tempo que o euro teria forte desvalorização.

É verdade que as desvalorizações por si só não resolvem nada, elas apenas podem facilitar processos de ajustamento que por outras vias são mais difíceis ou até impossíveis, mas as desvalorizações são operações de reconhecimento de empobrecimento (elas não o criam apenas o reconhecem) e em que é transferida riqueza dos aforradores para os devedores, mas esse é o preço a pagar por quem não faz o que deve, quando deve.

Teríamos duas vias possíveis para um segundo e novo euro, na primeira hipótese a Alemanha abandonava o euro regressando ao marco ou coisa parecida e, de imediato ou posteriormente, algumas das outras economias a seguiam. A via alternativa seria a referida por Martin Taylor (ex-CEO do Barclays) da criação institucional de dois euros, um para o Sul e outro para o Norte (sudo e neuro), nesta hipótese todos os depósitos e compromissos financeiros seriam transformados 50% em cada uma das moedas que a partir desse momento começariam a divergir. Obviamente a primeira via seria a mais interessante para os países do sul.

É curioso voltar a Keynes em 1941 quando no seu texto sobre o novo sistema financeiro internacional defende a criação de várias uniões monetárias, entre as quais a germânica com a Alemanha, Holanda e Áustria (e também Suiça), e a união latina com França, Bélgica, Portugal, Espanha e Itália, neste quadro a Grécia ficava na união balcânica.

O fim do euro tal como o conhecemos é inevitável? Obviamente que não, mas se a crise se agravar o estreito caminho que tem pela frente irá tornar-se cada vez mais difícil e estreito e então poderá não haver outra saída. Seja como for, julgo mais do que nunca indispensável acelerar os mecanismos de controle e concertação das políticas fiscais e orçamentais dentro da zona euro, não só porque ainda há esperança, como porque um "novo euro" necessitaria ainda mais daqueles mecanismos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

MEIO PEC TAMBEM SERVE?

Apesar de todos os que sabem alguma coisa de economia, quer em Portugal quer no estrangeiro, dizerem que as medidas do PEC seriam insuficientes e que seria necessário ir mais longe, afinal decidiu-se reduzir o PEC em vez de o aumentar, aparentemente devido ao encontro Sócrates/Passos Coelho.

Claro que o PSD tem razão quando diz que sobretudo o que é preciso é reduzir a despesa pública e não aumentar as receitas, mas a verdade é que conseguir no curto prazo efeitos significativos na redução da despesa é praticamente impossível, e a apresentação de resultados desta vez é urgente, a UE e os mercados precisam de sinais concretos e não apenas de intenções piedosas.

Perante este aparente acordo que pelo menos adiou a decisão relativa à redução dos limites máximos das deduções fiscais, Teixeira dos Santos, para salvar a honra do convento, terá forçado o primeiro ministro a avançar com o imposto das mais valias, ora este imposto é o mais traiçoeiro dos impostos, porque no caso de a crise se agravar (que é o caso em que estas receitas seriam mais necessárias) não vão existir mais valias, e logo não vão existir receitas!

E se o PSD em vez de dramatizar o "aumento de impostos" sobre a classe média, ao mesmo tempo que no seu congresso houve quem defendesse claramente a redução significativa de todos os salários do país, viabilizasse com o PS o aumento temporário e gradual do IVA (podia começar com 0,5%), o que teria efeitos imediatos, daria credibilidade às nossas intenções e seria facilmente desmontável assim que começassem a aparecer resultados do lado da despesa?

Voltando à despesa pública, ainda mais importante e urgente do que eliminar desperdícios, é a necessidade de parar rapidamente esta corrente vertiginosa de crescimento do estado que todos os dias inventa novas funções, novos serviços, novas instalações, etc., tanto a nível da administração central como dos municípios, o que aliado ao Cavaquismo/Fontista que Sócrates no passado tanto criticou e de que agora se transformou no grande defensor, conduzem ao crescimento imparável de um monstro tentacular cada vez mais difícil de controlar.

Estamos claramente em zona de grande perigo mas ninguém parece preocupado, assim como é que a população pode compreender alguma coisa quando tiver que pagar a conta?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

TEXTOS IMPERDÍVEIS

O Finantial Times de hoje tem dois textos sobre a crise grega de enorme interesse, também o VOX-EU de 22 de Abril tem um texto de Daniel Gros e Alcidi Cinzia mais técnico mas absolutamente imperdível, este sobre as diferenças entre os casos mais problemátcos da zona euro.

O texto de hoje do FT assinado por Gideon Rachman, compara a reacção da Grécia às recentes medidas de austeridade ao que se passou na Latvia, que no ano passado teve de tomar medidas bem mais pesadas do que aquelas até agora anunciadas por Atenas. Tudo leva a crer que a Grécia mais uma vez se vai envolver nos habituais conflitos intestinais crónicos desde que deixou o império Otomano, e assim dentro em breve teremos uma rica Latvia e uma Grécia empobrecida mas ao sol do Mediterrâneo, e nós? que vamos fazer quando não der mais para brincar?

O outro texto é de Wolfgang Munchau e compara a actual crise europeia à sub-prime americana.

domingo, 25 de abril de 2010

DÍVIDA E ESPECULADORES

O disparate é livre, essa liberdade já existia até antes do 25 de Abril, mas se não se praticasse tanto era capaz de ser bom para o país.
Vem isto a propósito do que se tem dito sobre a acção dos especuladores e de outras forças sinistras (sobretudo anglo-saxónicas) contra o euro, a Grécia e Portugal.

Neste âmbito merecem especial destaque as declarações de Francisco Louçã, não contra os anglo-saxões, mas contra os europeus continentais de França e da Alemanha que ele descobriu agora que detêm grande parte da dívida portuguesa, logo perigosos especuladores contra Portugal! Ora nós que devíamos comprar aquela dívida não o fazemos (e provavelmente Louçã também não) e preferimos outras aplicações que nos parecem mais interessantes, e por outro lado os fundos e os particulares daqueles países têm confiança em nós e compram a dívida que nós não compramos, fazem-nos um favor e são insultados na praça pública como especuladores!! Está tudo a delirar ou é só ignorância?

Vamos ver se de uma vez por todas se deixa de dizer tanto disparate, os especuladores só compram dívida pública quando ela está na bacia das almas, até lá eles só vendem dívida e quando muito compram CDS`s para especularem contra, não os emitentes de dívida, mas os compradores da dita dívida que depois são insultados como especuladores pelos nossos políticos.

Espero que o Prof Dr Louçã nunca veja os especuladores comprarem dívida nacional, porque se isso viesse a acontecer quereria dizer que ela já teria um desconto de pelo menos 50%, o que como é evidente significaria tão só e apenas estaríamos completamente falidos, e ele talvez mais perto do seu sonho revolucionário.

Também a versão da conspiração anglo-saxónica contra o euro é outra confabulação sem sentido, claro que os USA não gostariam de perder o seu papel chave no sistema monetário internacional mas certamente não é essa a sua maior preocupação neste momento, isto por duas razões, o euro nunca chegou perto de pôr aquela hegemonia em causa, e neste momento para a recuperação das exportações americanas um euro forte seria muito melhor que a debilitada moeda a que a crise mundial e os erros das economias europeias conduziram.

domingo, 18 de abril de 2010

GEORGE SOROS E O INET

Soros foi indiscutívelmente um dos grandes "traders" dos tempos modernos, por essa via tornou-se um homem muito rico (dos mais ricos do mundo utilizando critérios mais alargados), mas o que o distingue são sobretudo as suas preocupações com as questões sociais, políticas e económicas, raras em homens que tiveram o seu sucesso económico e que lhe permitiriam passar os últimos anos de vida a exibir o seu dinheiro, poder, ou até jovens namoradas, em lugar do tipo de preocupações que o ocupa.

A verdade é que Soros sempre sonhou em ficar na história não como um homem muito rico mas como um filósofo, e foi por isso que escreveu diversos livros sobre a sua "teoria de reflexividade", sem qualquer sucesso diga-se de passagem, até porque aquela teoria no que é aproveitável nada tem de original e para além desse aspecto é simplesmente uma grande confusão. É curioso que Soros pouco ou nada escreveu sobre como ganhar dinheiro nos mercados, apesar de isso ser a coisa sobre a qual ele comprovadamente sabe.

Na sua juventude Soros foi aluno de Karl Popper que o marcou profundamente e que ficou como a figura tutelar que ele procura não digo igualar mas de quem pelo menos quer sentir-se condigno discípulo, e é por isso que tem sido um filantropo que abraçou várias causas político/sociais e culturais sempre longe da habitual "caridadezinha internacional". Foi nesse âmbito que em 2009 ele criou o Institute of New Economic Thinking, instituto esse que agora em Abril realizou a sua sessão inaugural no King`s College em Cambridge (a casa de Keynes) com a quase totalidade da nata dos economistas do mundo.

Aquela sessão inaugural produziu uma série de conferencias que se podem ver no site do instituto e que são de enorme interesse (http://ineteconomics.org/), ou ainda no Youtube.

É verdadeiramente prodigiosa a quantidade de informação que hoje existe disponível à distância de um clic na internet, em todas as áreas mas também na da economia, neste campo para além do site do referido instituto gostaria de realçar, entre muitos outros, os sites europeu e americano que constam dos blogs do Só Curtas:
http://www.voxeu.org/ e http://economistsview.typepad.com/economistsview/.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

OS PRÓXIMOS 100 ANOS

O título é claramente pretensioso, parece de um daqueles best-sellers que depois de espremido não diz nada, mas apesar do apelo comercial do título o livro de George Friedman (não confundir com o Thomas) é um livro indiscutivelmente importante para ajudar a compreender este nosso mundo.

O livro tem uma primeira metade que é especialmente interessante e que é dedicada à análise do mundo actual e às grandes forças que nos condicionam e em parte determinam o futuro. A segunda parte entra no campo da futurologia e é altamente polémica, além de aí ser clara a visão bélica que o autor tem sobre o nosso futuro, o que transforma esta parte num texto curioso mas de cuja leitura muita gente dispensará os pormenores.

Em termos de grandes teses do livro, pode dizer-se que Friedman pensa (ao contrário de grande parte dos outros autores) que o grande século dos USA não foi o XX mas será sim o sec. XXI. Neste novo século, tal como em toda a história da humanidade, os grandes conflitos serão inevitáveis não porque sejam em si um objectivo de alguém mas porque as desconfianças entre as diversas potencias sempre acabarão por os originar. Na sua visão a Rússia acabará por se despedaçar e as novas potencias que tentarão aproveitar essa situação serão a Polónia, a Turquia e o Japão, dado que na visão dele a China e a Índia estarão demasiado envolvidas em problemas internos para poderem ter aí algum papel. Como se vê teses largamente polémicas, postas em cima da mesa por alguém que tem uma equipe dedicada a tempo inteiro a este tipo de questões, o que não os inibe de errar totalmente mas que garante que pelo menos não estamos apenas perante meia dúzia de "palpites".

George Friedman é um homem da geopolítica e o fundador da Stratfor, empresa de consultoria nesta área que tem um site na internet que se pode ver no lado esquerdo deste blog (embora o grosso da informação seja exclusivo dos assinantes).

O autor não representa um "pensamento americano" sobre estas questões que nos USA são tema de estudo de inúmeras personalidades, universidades, grupos diversos e revistas (entre outras as duas também com links neste blog - Foreign Policy e Foreign Affairs). Já aqui referi anteriormente Farheed Zakaria como alguém com um papel e posições importantes neste campo, até pelo relevo que tem na comunicação social, Zakaria por exemplo tem posições radicalmente diferentes das de Friedman, quer em relação ao poderio americano quer às perspectivas do mundo para o sec. XXI. Com diferenças ainda mais radicais, temos no extremo oposto do autor deste livro a esquerda americana, dentro da qual neste campo e bem conhecido em Portugal temos Emanuel Wallerstein, com a sua visão totalmente pessimista não só em relação ao futuro próximo dos USA mas de uma forma mais geral em relação ao capitalismo, que segundo ele já morreu há algumas dezenas de anos mas ainda não sabe.

Não é possível no mundo de hoje ter posições sobre as grandes questões que se põem à humanidade sem conhecer estas diferentes perspectivas e com bases nelas ir construindo as nossas próprias ideias.

domingo, 11 de abril de 2010

PASSOS COELHO E O SEU CONSELHO SUPERIOR DA REPÚBLICA

Antes de tudo o mais quero destacar o sucesso que inegavelmente o Congresso foi para o PSD e para Passos Coelho, em especial pelo brilhante discurso de encerramento do seu novo líder.

No entanto, como ele próprio o disse, as dificuldades começam agora, não vai ser fácil fazer uma oposição sistemática e forte com base em conteúdos em lugar de o fazer com base em "casos", ela vai exigir muito trabalho e profundo conhecimento dos assuntos sob risco de ser rapidamente descredibilizada, é um caminho difícil mas sem alternativa.

Quanto à proposta que Passos apresentou na abertura do congresso do tal conselho de notáveis, parece que a receptividade foi muito má e quase toda a gente aposta que será daquelas ideias que discretamente será deixada cair. Julgo que pode ser uma pena fazê-lo desde já, sem a trabalhar melhor e ver da sua exequibilidade prática.

A ideia tem dois pontos negativos, corre o risco de criar um "2º Presidente da República" e por outro lado de ocupar espaço que deve pertencer ao Parlamento, julgo no entanto que esses dois problemas são ultrapassáveis e que o potencial de um órgão desse tipo pode justificar o esforço de no âmbito da revisão da Constituição se trabalhar a ideia.

Para resolver a delicadeza do problema face à Presidência deveria ser dado ao PR o poder de escolher o presidente da referida comissão, entre ex-PR`s ou outras individualidades, devendo depois esse presidente nomeado propor os outros membros da comissão para aprovação parlamentar.

O potencial desta comissão justifica alteração constitucional tão complicada? Pode ser que sim, se o seu âmbito de actuação for definido não como de um órgão decisor (aprovar nomeações, etc. que devem caber ao governo ou ao Parlamento) mas como de um órgão tutelar que vela pelas boas práticas e que nessa linha faz recomendações ao legislativo e ao executivo para que tomem medidas no sentido de melhorar e clarificar os processos de decisão política.

Teríamos assim uma versão modificada e minimizada de um Senado, que poderia assumir posições que um PR a bem da sua independência não deve assumir, e que pressionaria o governo e o parlamento no sentido das clarificações pretendidas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

CONTRA-PARTIDAS E CORRUPÇÃO

Embora seja minha intenção dedicar um texto à problemática geral da corrupção agora pretendo apenas abordar a questão da prática das contra-partidas em Portugal.

Fala-se com espanto da falta de cumprimento das contra-partidas no contrato dos submarinos como se fosse uma grande surpresa e um escândalo inesperado, eu pergunto, quantos contratos com contra-partidas tiveram execução "razoável" (digamos acima dos 80%)? Estou pessoalmente convicto que a grande maioria deles terá ficado muito longe até mesmo dos 50%.

Isto quer dizer corrupção? pode efectivamente ser uma via para isso, mas a corrupção não precisa das complicações dos contratos de contrapartidas, ela vive bem sem eles.

A prática de atrelar acordos de contra-partidas aos grandes contratos do Estado e das empresas públicas era na origem uma ideia bem intencionada e que se julgava com largo potencial, por permitir obter ganhos adicionais de valor importante para quem as recebia e de menor valor para quem as concedia, seria assim uma estratégia "win-win". Como muitas ideias generosas a prática acabou por não confirmar as intenções e normalmente os acordos de contrapartidas não foram cumpridos na maior parte dos casos (e julgo que o mesmo aconteceu a nível internacional), tendo mesmo passado a ser recomendado que se abandonasse tal prática e se negociassem preços de forma mais rigorosa sem sonhar com hipotéticas vantagens de contra-partidas que nunca se confirmam.

Porquê agora este alarme? Julgo que se está apenas a banalizar a corrupção, em breve pouca gente acreditará que ela não é um fenómeno totalmente generalizado, e isso mais não fará do que desmotivar a população e aumentar o próprio fenómeno da corrupção em vez de o diminuir.

O permanente sensacionalismo, alimentado por guerras políticas constantes, em conjunto com a crise económica que vivemos, poderá vir a abrir a porta a uma situação de instabilidade que ninguém vai então ser capaz de gerir. Pulido Valente manifesta o seu espanto perante a passividade do PC e BE face à actual crise, mas porquê fazer alguma coisa? Se mexer estraga! As burguesias estão com tendências suicidas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ORDENADOS DOS GESTORES E "CORPORATE GOVERNANCE"

Embora muito se tenha falado do tema dos ordenados dos gestores existem alguns pontos importantes que não teem sido referidos, em especial no que respeita à relação entre esta questão e os problemas de "corporate governance".

É importante começar por realçar a dificuldade deste assunto para o qual não há soluções fáceis, e todas elas serão sempre difíceis de explicar à generalidade da população, pelo que não posso deixar de criticar o facto de se ter escolhido o presente ano, com uma crise económica de grandes proporções e mais de meio milhão de desempregados no nosso país, para se forçar a informação pública das renumerações individuais, renumerações essas que independentemente do seu montante parecerão sempre ultrajantes a qualquer desempregado ou família de baixo rendimento em dificuldades.

Digo que não existem soluções fáceis, porque os simples critérios de público/privado, rentável/deficitária, grande /pequena, nacional/internacional, ou grau de imersão concorrencial, ou as comparações internacionais, etc. são simplificações traiçoeiras porque em última análise o que deve definir os níveis de renumeração é o grau de complexidade do desafio que se põe à gestão de cada empresa em cada momento.

De uma forma simplista pode até parecer fácil, definem-se os níveis de complexidade dos desafios e depois é apenas ir ao mercado procurar gestores com capacidade para enfrentar esses desafios, na verdade tudo é mais ou menos assim quando existe claramente um patrão, seja um pequeno capitalista português seja um Warren Buffett, mas fora dessas situações o processo torna-se muito mais complexo e mais político, e os jogos de poder assumem relevância especial.

Como dizia, para as empresas que teem de facto um patrão a decisão é simples, ele vai ao mercado buscar o gestor ideal para atingir os objectivos que ele pretende alcançar, gestor esse que ele julgue que tem um preço "razoável" e cuja actuação ele vai controlar de muito perto e normalmente com grande conhecimento do respectivo negócio. Nestes casos os problemas que muitas vezes se põem à gestão são de outro tipo (intromissão e avareza) que não vêem aqui ao caso.

Nas empresas em que o Estado participa, ou grandes empresas mesmo sem o Estado mas com controle partilhado entre vários grandes accionistas, o processo de selecção dos gestores deixa de ser totalmente objectivo, raramente os accionistas nestes casos baseiam a escolha nas recomendações de um "head hunter" ou solução semelhante, na prática desenvolve-se um processo negocial muito político em que os accionistas que fazem parte da decisão de escolha procuram, de entre os mais ou menos competentes, aqueles que mais garantias dão de defenderem os seus interesses e pontos de vista. Estes processos de selecção levam a vários problemas, por um lado os gestores assim escolhidos para além da sua faceta executiva teem de ter um lado político bastante desenvolvido para sobreviverem ao processo de selecção, depois o facto de terem esse lado político e a própria prática do processo negocial que culmina na respectiva nomeação dá aos eleitos e em especial ao CEO assim recrutado um poder exagerado (de quase grande accionista) em relação àquele que seria necessário para o exercício da sua missão, e para além de tudo, no meio deste processo não fica garantido que a futura conduta da gestão esteja totalmente alinhada com os verdadeiros interesses das empresas e não com interesses particulares, de accionistas, das equipes de gestão, ou outros.
A juntar a estes fenómenos do poder nas empresas sem patrão claro, temos o facto de as comissões executivas serem em Portugal parte integrante dos Conselhos de Administração, o que retira liberdade e peso aos Conselhos que acabam na prática por ficar nas mãos das comissões executivas que deveriam controlar mas que são quem na realidade tem o livro de cheques, para além da habilidade política de que já deram provas para chegar lá. E como é evidente por esta via fácilmente as renumerações dos executivos envolvidos podem deixar de ter qualquer relação com as necessidades do mercado.

Quanto a mim não são as renumerações que estão bem ou mal, são os processos de selecção e de manutenção dos executivos que são maus e perigosos, esses sim são os verdadeiros problemas que deveriam preocupar quem de direito, tudo o resto tem pouca importância efectiva.

Em Portugal não temos grandes estrelas na gestão das nossas empresas, mas para não ir muito longe falemos de Emilio Botin (presidente do Santander), quanto vale? Não faço a mínima ideia de quanto recebe mas certamente dezenas de milhões, terá por essa via entre ordenados, prémios e stock options acumulado ao longo da sua vida centenas de milhões, indiscutívelmente merecidos. As grandes estrelas teem de ser pagas, em dinheiro e em reconhecimento pelo trabalho feito, é compensador para as empresas e para as sociedades que assim seja.

Quando a contratação de gestores para empresas "sem dono" se fizer de uma forma clara e aberta, fixando-se as renumerações em função dos desafios e dos resultados, não só toda esta polémica perderá sentido, como os riscos a que as empresas e a sociedade estão sujeitas em termos de má gestão ficarão largamente diminuídos.