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sábado, 24 de maio de 2014

BANQUEIROS À PORTUGUESA E O BP
 - DE JARDIM A SALGADO

Em todo o globo o mundo financeiro é um terreno complicado, em que é mais ou menos comum o surgimento de situações inesperadas muito graves, isto porque a sofisticação dos instrumentos financeiros e a alavancagem tornam difícil aos controladores e reguladores assegurar que os operadores não correm riscos desmedidos, de consequencias incontroláveis.

No caso do nosso pequeno pseudo-capitalismo, alguns serão induzidos a pensar que o que se passa é mais ou menos o mesmo do que no resto do mundo. Infelizmente os nossos problemas são  bem mais prosaicos, eles estão ao nível da falta de sofisticação do nosso mercado e dos seus instrumentos, assim como da incompetência de reguladores e controladores.

Olhando para o passado recente da banca nacional a situação pode resumir-se da forma seguinte:

- BPP - um fundo de Investimento agressivo a quem o Banco de Portugal (BP) decidiu dar uma licença bancaria, não se sabe porquê
- BPN - um caso de policia, nacionalizado a bem dos prevaricadores
- BANIF - alguma vez preencheu de facto as condições para ser um banco?  o BP  achou que sim
- CGD - teoricamente o banco do Estado, na pratica foi a mãe de todos os negócios de grupos e mafias diversas, que originaram os bilionários prejuízos agora acumulados
- BPI - Aparentemente o único banco "normal", com os problemas normais numa grande crise internacional

Neste quadro restam os dois grandes bancos privados nacionais, bancos que tudo levaria a crer estarem fadados ao sucesso, quer nacional quer mesmo internacional, BCP e BES, e que estão hoje nas situações que todos mais ou menos conhecemos.

O BCP foi um dos "cases" mais importantes em Portugal, no que se refere à velocidade e segurança de lançamento de uma grande operação entre nós, de facto o BCP revolucionou a forma de lançar negócios no país, assim como de desenvolver o negocio bancário, e depois disso, durante uns bons anos continuou a ser um caso de enorme sucesso.
Tempos mais tarde tudo se perdeu, sob o olhar sempre desatento do BP, começaram os malabarismos diversos,e contra eles apenas se levantaram outros artistas que apenas queriam substituir-se aos malabaristas de serviço.
Hoje só é estranho como é que o banco era tão forte que resistiu  aos malabarismos, às ondas de assaltantes,  e depois a esta enorme crise, tudo sempre sob o olhar complacente do BP.
Com uma equipe de luxo, onde se perdeu o BCP?

O BES era outro caso fadado à nascença para o sucesso, não arrancou com o dinamismo do BCP, mas tinha atrás de si o peso da tradição e a imagem do grande banco nacional que sobrevivera/renascera independente após  revolução, alem disso, tal como BCP, tinha também uma equipe de qualidade e um líder incontestado.
No entanto, há muito que não há praticamente escândalo económico em Portugal em que o nome do banco não seja envolvido. Na maior parte dos casos tudo fica por esclarecer de forma cabal, como é usual com a nossa justiça, no entanto a possibilidade de  que se trate apenas de coincidencias ou azares, é cada vez  menos plausível  para o publico.
Agora o presidente do banco vem dizer que a origem de todos os problemas são dois casos de ausência total de controle interno dentro do grupo (Holding e Angola), o que por si só seria já alarmante, no entanto tudo leva a crer que as coisas sejam bem piores.
Aparentemente, um banco envolvido em tantos pequenos e grandes escândalos teve necessidade de se envolver em situações e com pessoas não muito recomendáveis, que poderiam ter aparente utilidade imediata, mas com riscos para o espírito do grupo,  para as suas praticas, e finalmente, para a sua solidez. Como em tudo na vida os atalhos simplificadores pagam-se caros.
O BES seria assim dois mundos, o mundo formal com a sua tradição e a sua equipe de luxo, e o mundo informal, mais "dinâmico", habilidoso, actuando sempre nas margens da legalidade, que gravitava à sua volta e que o primeiro grupo julgava controlar.
Também aqui tudo sempre sob o olhar desatento do BP.

Ricardo Salgado vai conseguir manter-se? Vai conseguir fazer o seu sucessor? Seria saudável que alguma dessas coisas acontecesse? A resposta óbvia parece ser que não.
Embora estas questões possam parecer importantes, na verdade elas são já claramente secundarias.
A grande questão é saber como chegamos aqui, como foi possível? Para alem da incompetência, cegueira ou temor reverencial do BP, como foi possível a banca chegar a este ponto?
Para não procurar exemplos mais longe e ficar dentro da nossa área cultural, como é que aqui ao lado, Espanha produziu grandes bancos e banqueiros (a par de outros casos nada exemplares), e nós apenas este pântano doentio e pequenino?
Teria sido possível que Jardim e Salgado tivessem sido grandes banqueiros, com peso e prestigio internacionais, onde é que eles se perderam? Onde é que a nossa banca se perdeu? Para alem da ostensiva ausência de um BP o que fez que assim fosse?
A resposta a estas questões é agora especialmente importante, porque vivemos os dias em que a banca europeia mais poderosa resolveu deixar de jogar o jogo do faz de conta, como tem feito até agora,  e decidiu que é tempo de encarar a sua recapitalização. Quem vai recapitalizar a banca portuguesa? Vai restar algum banco nacional no final do processo?

Finalmente o BP decidiu assumir o seu papel de regulador, auditor e controlador do sector, depois de anos de incompetência em que todos os partidos que passaram pelo poder, e não só, tiveram enormes responsabilidades. Também será de realçar o facto de pela primeira vez um governo ter resistido às pressões, que julgo imensas, para que mais uma vez se arranjasse uma pseudo-saída do problema, o que não teria sido mais do que um adiamento de um cancro que cresceria como uma bola de neve e que depois se tentaria transferir para o erário público. Claro que as limitações impostas pelos controles comunitários também vieram diminuir o espaço para as nossas tradicionais habilidades.

Toda a historia deve ter uma conclusão moral, julgo que também esta.
Todos estes "embrulhos" tiveram custos enormes para  os accionistas envolvidos, tanto para os pequenos como para os controladores, para o país, tanto em termos de prejuízos materiais como de imagem, enfim e sobretudo, perdas incalculáveis para todos nós. Tudo isto porque os governos, os reguladores e os controladores se demitiram, deixando o campo aberto aos habilidosos e malabaristas.
Os únicos ganhadores de todos estes processos acabaram por ser precisamente esses habilidosos e malabaristas, cuja únicas qualidades são precisamente essas, e que se estas oportunidades não lhes tivessem sido abertas, seriam apenas os pobres diabos que efectivamente são, e não os homens muito ricos que alguns até serão.
Curiosamente até Jardim e Salgado acabam também por ser vitimas deste processo, em que foram protagonistas e responsáveis importantes. Serão certamente os dois homens ricos, também o seriam se tivessem trilhado outros caminhos, talvez até muito mais, veja-se Botin. Mas na verdade dificilmente terão a imagem publica que poderiam ter tido. Porquê terminar sem honra nem gloria envoltos em suspeitas, dúvidas e acusações?
Apesar dos custos sociais de toda esta historia nem tudo teria sido perdido, se pelo menos tivéssemos a certeza que nunca mais situações destas se repetiriam, e que o rigor, o trabalho e inteligência, passassem a ser critérios de avaliação mais importantes que as capacidades malabaristas nos bordos da legalidade.