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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014



GRÉCIA, O LABORATÓRIO

O ano acaba com a garantia de eleições antecipadas na Grécia, o que é uma óptima notícia para os cientistas políticos, mas tudo leva crer que péssima para a população grega, já tão sofrida.
A notícia é boa para os cientistas políticos porque abre a possibilidade de surgirem respostas reais a uma série de questões e esse interesse será tanto maior quanto maiores forem as mudanças na Grécia, quase que quanto pior melhor.
Quais são as grandes questões em aberto:
- Como reage um eleitorado da periferia europeia depois de sofrer anos de austeridade, quando tem de escolher entre uma solução "realista" e a "aventura" mais ou menos populista?
- Caso a direita ganhe até que ponto os apoios europeus serão mais vigorosos do que até aqui?
- Caso o Syriza ganhe vai rapidamente transformar-se num realista ou irá mesmo partir a loiça toda?
- Irá o Syriza iniciar de facto uma nova experiência de socialismo democrático? Com que contornos? Irá destruir a economia?
- Como irá a Comissão europeia gerir os acontecimentos subsequentes? E o Banco Central Europeu?
- Que solidariedades internacionais irá o Syriza conseguir? Vamos assistir a experiências que destabilizem ainda mais o equilíbrio geopolítico da região?
- Qual vai ser a reação dos outros eleitorados europeus aos acontecimentos na Grécia? O Syriza vai ser uma vacina contra os populismos na Europa ou o início de uma nova vaga?

e por aí fora...

Tempos interessantes..., esperemos que os custos sociais não sejam demasiado grandes.

domingo, 28 de dezembro de 2014




AS PT's , OS TRABALHADORES , OS ACIONISTAS E A AG

Vem agora Isabel dos Santos queixar-se do Conselho de Administração da SGPS por ter inviabilizado a sua OPA, não sei o que aquele conselho fez, sei sim das dificuldades postas pela CMVM. Seja como for duvido da capacidade actual do grupo de Isabel dos Santos para se lançar na aventura de um "operador de base lusófona", face às dificuldades previsíveis para o futuro próximo da economia angolana.
Muito provavelmente ficaremos todos sem saber se a solução de Isabel dos Santos seria boa ou não para trabalhadores da PT Portugal e/ou para os acionistas da PT-SGPS.

O que parece estar agora sobre a mesa é apenas a decisão de autorizar ou não a venda da PT Portugal à Altice, decisão essa que vai depender dos acionistas da PT-SGPS. Quem são hoje os acionistas desta empresa? Será que a OI directa ou indirectamente já controla parte do capital suficiente para conseguir esta aprovação? Esta aprovação faz sentido para os acionistas não ligados à OI? A aprovação é boa ou má para os trabalhadores da PT Portugal?

Para responder a estas questões temos de voltar atrás e responder a uma outra pergunta, como é que foi possível uma operação de fusão em que os acionistas da empresa perderam mais de 80% do valor do seu património (1)? Vinte desses 80% são consequencia da operação da Rio Forte, de qualquer modo os outros 60% são apenas consequencia directa da fusão. Ninguém viu nada? Nem a SEC americana? Nem a CMVM? Nem o CA da PT-SGPS? Nem as Comissões de Auditoria, os auditores externos, as Comissões de trabalhadores, os sindicatos?

Se não fosse de mau gosto fazer uma comparação com o holocausto diria que a forma como acionistas e trabalhadores se deixaram cozinhar em lume brando é semelhante. Talvez seja melhor ficarmos pela história do rei que ia nú, numa monarquia absoluta nunca ninguem na corte reconheceria semelhante facto, as cortes existem e vivem de exactamente  não o fazer, elas existem apenas para  elogiar as vestes do rei, mesmo que toda agente saiba que ele vai nú. Ou seja, em toda esta história, para que tudo tivesse corrido bem, faltou apenas a criança inocente, de olhar límpido e claro que tivesse, em devido tempo, gritado a verdade, faltou na PT como faltou no BES. E como entre nós nunca há culpados, o único culpado é óbviamente a criança que não gritou, procure-se a criança!

E agora? Para trabalhadores e acionistas a única solução boa seria a reversão da fusão, o que o próprio CA da SGPS veio apresentar como possível, se assim for a venda da PT à Altice tem de ser parada na proxima AG.

Caso a fusão não seja reversível a venda à Altice pode ser a solução menos má para os trabalhadores, não porque aquela empresa não venha a fazer grandes cortes no pessoal ou porque seja certo que venha a concretizar o seu anunciado desejo de se converter num grande operador de telecomunicações, mas apenas porque será melhor para os trabalhadores passar a um quadro claro com um novo acionista que pelo menos para já quer administrar a empresa, do que arrastar-se dentro de um grupo brasileiro que não tem qualquer interesse na empresa, além de a vender rapidamente, em bloco ou retalhada.

Quanto aos acionistas parece-me não fazer qualquer sentido a autorização da venda à Altice, o seu único poder efectivo dentro da OI reside nisso, o poder de autorizar uma possível venda da PT, logo não o pode fazer sem contrapartidas, seja no limite do ideal a reversão da fusão mesmo que com algumas perdas ou, no mínimo dos mínimos, com uma compensação que reduzisse de forma significativa a sua actual perda de mais de 80%.

Vamos ver o que se segue até à Assembleia Geral de 12 de Janeiro.




(1)- em termos aproximados, no processo de fusão a PT- SGPS entregou à OI e seus acionistas a PT-Portugal com valor equivalente à sua dívida, mais algumas participações societárias e 4.300 milhões de euros, o que daria um valor superior a 5.000 milhões para o patrimonio líquido da PT-SGPS naquela data, actualmente o valor da empresa é inferior a 1.000 milhões

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O CA DA PT-SGPS E A VENDA DA PT

Vem agora o CA da PT-SGPS dizer que tem dois pareceres que podem fundamentar a anulação da fusão com a OI.

Não podemos esquecer que foi este CA, com apenas algumas alterações, que aprovou todo o negócio PT/OI, pelo que  este tipo de notícias tem de ser visto com o maior cuidado.

Isto não quer dizer que a notícia em si não seja positiva, e que o CA não tenha feito bem em obter estes pareceres, mas apenas que isso não chega, é aliás muito pouco.

Todos sabemos que, por um lado, pareceres em Portugal pode haver tantos como professores de direito e por outro lado, que um parecer é apenas uma base para actuar, um parecer na gaveta não serve para nada.

Que vai o CA fazer com os pareceres? Essa é a grande questão. Vai iniciar acções em Portugal, Brasil e Estados Unidos para os tornar eficazes? Vai levá-los a uma Assembleia Geral de accionistas para que eles decidam o que fazer? Ou vai guardá-los com muito carinho, apenas para dizer que o CA fez a sua parte?
A CMVM E A OPA DE ISABEL

A digníssima CMVM que tem andado a dormir há longos anos, como o demonstram os casos da Cimpor, BCP, PT e BES, entre outros, resolveu agora acordar para mostrar serviço.

Formalmente a CMVM até pode ter razão, a lei diz que o valor oferecido em OPA não pode ser inferior à cotação média dos últimos seis meses, simplesmente esses últimos seis meses envolvem duas PT's diferentes, uma que teria 37%  da OI e outra que apenas tem 26%   . Logo é evidente que o que está em causa agora é a PT que tem apenas os referidos 26%  e mais um direito potencial futuro de aquisição do restante, pelo que seria a média das cotações depois de conhecida essa realidade que deveria ser considerada, sem se ter em conta as cotações de uma empresa que se julgava existir mas que na verdade não existia.

O problema dos reguladores que ao longo do tempo se vão demitindo do exercício das suas funções é que quando finalmente se sentem pressionados, não têm nem coragem, nem legitimidade, para fazer o que deve ser feito, limitando-se a refugiar-se em  interpretações restritas da lei.

Mais outro brilhante serviço que a Nação fica a dever à digníssima instituição.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

PORQUE NÃO DEIXAR FALIR A TAP?


Quantos biliões (milhares de milhões) custou já a TAP aos cofres do Estado português nos últimos 40 anos? Porque ninguem apresenta essas contas? Porque esse mesmo dinheiro não foi empregue a salvar outras empresas que foram à falencia? Para defender uma companhia de bandeira, aliás criação imperialista da longa noite fascista? Ou tudo isto acontece, apenas porque dada a sua relevancia os sindicatos se apoderaram da empresa como sendo coisa sua e fonte do seu poder? Porque é que hoje já poucos países têm verdadeiras companhias de bandeira e para nós isso é um drama nacional?

As empresas não pertencem apenas aos seus acionistas, mas tambem não pertencem exclusivamente aos seus trabalhadores, as empresas existem para satisfazer um cojunto complexo de interesses, começando pelos clientes e as comunidades em que as empreas estão inseridas, passando pelos fornecedores, pelos acionistas e trabalhadores. A ordem dos factores pode ser discutível mas isso não altera em nada as conclusões.

Se a TAP falir poderemos ter no máximo 6 meses de cofusão, mas entretanto outras companhias ocuparão o seu espaço, muito provavelmente com melhores preços e qualidade. Quanto aos trabalhadores, os melhores serão certamente recrutadas por outras empresas, provavelmente com melhores condições do que as que têm hoje.

Claro que eu, como a grande maioria dos portugueses gostaria de ver a TAP continuar, simplesmente  julgo que há preços que não vale a pena pagar, serão mais uns biliões para adiar um problema, tal como tem sido feito ao longo de 40 anos. Se a TAP falir que fique claro que os sindicatos assim o quizeram, tal como o pessoal que os apoiou.
MUNDO PERIGOSO - PAZ MUNDIAL?

Há muitas décadas que o nosso mundo não estava tão perigoso, e isto, hoje em dia à velocidade acelerada a que vivemos, quer dizer que rapidamente podemos estar à beira de uma catástrofe, daquelas que como tem sido habitual ao longo da história, toda a gente acha impossível até à véspera da respectiva confirmação, e alguns mesmo só muito depois de as primeiras bombas começarem a explodir.

A Rússia está à beira do abismo, o que a história tem demonstrado ser a situação mais perigosa, para a paz mundial, em que uma grande potencia militar pode estar. O médio oriente está ao rubro. Os mares da China há muito que não estavam tão quentes. A Europa está totalmente desorientada dentro das suas contradições internas e a sua fronteira a leste já está a arder. A América Latina continua mergulhada no seu populismo crónico. Os Estados Unidos como indiscutível grande potencia mundial tinham que deixar passar uma mensagem clara e coerente para o mundo, mas as divisões entre falcões, isolacionistas e moderados, levam a actuações contraditórias, que é exactamente o que o mundo não poderia ver agora.

Olhando para o quadro económico. A América Latina, o continente do populismo está de novo a mergulhar em grande confusão, com excepção, para já, apenas do Chile e da Colômbia. A Europa e o Japão são economias envelhecidas e estagnadas, com execpão quase que única do Reino Unido. Os Estados Unidos, apesar de serem a grande economia ocidental que apresenta melhores resultados continua a parecer incapaz de andar por si própria sem os imensos fluxos injectados pelo Banco Central. A China que tem sido o catalisador da economia mundial parece incapaz de continuar a desempenhar esse papel, face à necessidade de arrumar a própria casa. A Ásia, sem os motores da economia mundial a funcionar, em especial da China e do Japão, dificilmente conseguirá fugir à estagnação, numa época perigosa em que se abriram ás respectivas populações perspectivas de enriquecimento que se não vão confirmar. A Rússia, o maior país do mundo, com o petróleo a preço de banana é um deserto económico, com uma população reduzida,  envelhecida, alcoolizada, e dividida em termos étnicos e religiosos. África, que em breve será o continente mais populoso do mundo e que tem mostrado taxas de crescimento invejáveis, não tem pernas para andar sozinha num mundo que não sabe para onde vai.

A repentina e abrupta queda dos preços do petróleo, aparentemente uma óptima notícia para os países não produtores, pode ser o desplotar de todos as loucuras político-militares. Se é verdade que existem fortes razões económicas que  estão subjacentes a esta queda - queda da procura, aumento da oferta (esta em especial depois do shale gás nos EUA) - também é indiscutível que a queda dos preços tem sido potenciada pelos interesses da dupla habitual, Estados Unidos/Arábia Saudita, os primeiros para dar cheque à Rússia e os segundos para retirar espaço ao Irão.
Mas as consequencias negativas da queda dos preços do petróleo não se limitam aos países produtores, com o risco de falência das empresas exploradoras mais débeis, incluindo muitas das mais novas empresas americanas, os efeitos rapidamente se transmitirão às respectivas economias, em especial ao sector financeiro altamente envolvido no financiamento desta empresas, se assim for, depois seguir-se-á o filme que já conhecemos.

Há muito tempo que a paz mundial não estava em tão grande risco, caso não haja rapidamente algum bom senso, bastará apenas um pequeno fósforo para incendiar todo este imenso petróleo, que de repente, afinal sobra...


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

FOI COSTA QUE TRAMOU SÓCRATES?

Como é que numa terra tão dada a teorias da conspiração ninguém ainda levantou essa hipótese?
Esta é obviamente a possibilidade mais realista.
Na verdade Costa teve a oportunidade, tinha os meios e tinha o motivo, o que faria dele o suspeito perfeito em qualquer cenário de crime, porque é que até agora ninguém levantou a possibilidade?
Será que Costa tinha um álibi? Não me parece, só Marcelo acredita que um fim desonroso de Sócrates seria um pesadelo para Costa.
Ou será apenas porque os socráticos preferem agarrar-se a uma manobra maquiavelica da direita, ou dos sinistros magistrados?
Porque não mais uma manobra de mestre de António Costa? Obrigaram-no a ser candidato a 1º ministro quando o homem queria ser  Presidente, ainda queriam que tivesse de gerir o fantasma de Sócrates para o resto de vida? Sempre omnipresente sobre o seu governo?
Prender o homem era a solução ideal para todos os problemas, acabou-se com o mito, acabaram-se as fidelidades e todos os outros equívocos, e assim  Costa tornou-se o líder incontestado que salvou o partido num momento dramático. Podia haver melhor?
Depois de resolvido o problema do fantasma, dedicou-se a domar o partido, e a dar cheque ao PC e ao BE, ao mesmo tempo que deixava a direita pendurada.
Mais uma vez fez tudo certo, alguém poderia pensar que, recém chegado á liderança do partido e a um ano de eleições, fosse fazer uma abertura á direita? A guinada à esquerda era forçosa, o partido ainda saliva por essas coisas, e ao mesmo tempo entalou as esquerdas e deixou a direita a falar sózinha.
E se no futuro resolver fazer tudo ao contrario estará completamente à vontade, a sua equipe irá sempre para onde ele quizer, o partido irá sempre para onde lhe parecer estar o poder, e aos discursos empolados seguir-se á o realismo politico necessário.
Ainda não digo que o homem seja um génio, nem que vá ganhar as eleições, mas que até agora fez tudo certo disso não tenho dúvidas.
Quanto a ter sido o seu ministro da Justiça que tramou Sócrates, saber não sei, mas cada um tem direito à sua teoria da conspiração. De qualquer modo acho que já vai sendo tempo de Costa ir fazer uma visita a Évora, ter lá enviado o pobre do Soares foi uma boa idéia, mas não chega.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

ESTRANHA ALIANÇA

Mário Soares, Alberto João, Clara Ferreira Alves, Marinho Pinto, Sousa Tavares?
Ironias do destino.

terça-feira, 25 de novembro de 2014


CORRUPÇÃO

As sociedades ocidentais são relativamente tolerantes com a corrupção, em especial as do Sul. Já no Oriente, com a influencia do pensamento Confucionista, em que o colectivo se sobrepõe sempre ao individual, a corrupção é dos crimes mais graves, sendo muitas vezes equiparado ao assassinato com penas que chegam à condenação à morte ou  prisão perpétua.

Não quer isto dizer que no Oriente haja menos corrupção que no ocidente, salvo casos como os de Singapura, porque há sempre quem arrisque contando com a ineficiência dos sistemas de controle.
A grande diferença em relação ao Ocidente é que a corrupção não é vista apenas como um jogo que "quem pode pratica", mas como um crime com implicações sociais profundas, em que o custo menor são até as quantias pagas aos corrompidos. Na verdade, de forma indirecta, morre muito mais gente por causa da corrupção do que por causa de assassinatos.

Os efeitos indirectos da corrupção não podem ser escamoteados, ela começa por levar a decisões incorrectas, optando-se por soluções que não são as melhores ou são mais caras do que deviam, depois levam a que essas soluções sejam muitas vezes mal implantadas porque os corrompidos perdem o poder de controle dos  fornecedores que os corromperam. E esta é apenas a primeira onda de consequências da corrupção, mas que, por vezes leva de imediato a prédios, pontes ou estradas que ruíem repentinamente, causando vítimas.

Mas mais importantes ainda são os efeitos indirectos posteriores da corrupção, quer pelo exemplo, quer pelas consequências a nível de distribuição do poder.
Se o chefe rouba porque é que os outros não haverão de roubar?
Se a corrupção domina quem é que os chefes corruptos vão escolher? certamente quem lhes assegure o espaço necessário para as suas operações, e não os melhores.

E assim  as sociedades vão-se degradando, e nas fases mais avançadas de degradação social, a corrupção espalha-se  por toda a sociedade, tornando inevitável a ineficiência e o empobrecimento colectivos. E empobrecimento significa miséria, e miséria significa morte, muita morte.

domingo, 23 de novembro de 2014

DO ESTORIL À COVA DA BEIRA

Era uma vez a história de um menino rico cuja vida, contra todas as probabilidades, se viria a cruzar com a de um menino modesto e muito mais novo, mas que o acaso, as circunstancias, ou o destino, como se queira, fizeram com que viessem a partilhar tempos de gloria e infortúnio.

Ricardo Salgado nasceu em berço dourado, depois foi apanhado pela revolução de Abril no inicio da sua carreira profissional o que o fez andar  fora do país por alguns anos, quando regressou conseguiu impor-se como o novo líder da família, apesar de ser um Espírito Santo que de facto é um Salgado. Seguiram-se longos anos de sucessos diversos e poder crescente, até se tornar o DDT, depois foi o colapso que todos conhecemos, com os inerentes custos económicos e de imagem para o país, para um sem número de investidores que perderam tudo, ou grande parte do que tinham, e para a sua família.

Começando muito mais tarde, José Sócrates fez o percurso comum aos jovens políticos de província da nossa democracia, estruturas partidarias locais, depois nacionais, seguindo-se o Parlamento e mais tarde diversos cargos em varios governos, culminando como primeiro-ministro. Anos depois desgastado pela crise, e também por muitos casos mal explicados, perde as eleições e entra no seu "inferno astral".

Curiosamente a nossa comunicação social divide-se agora entre os que querem fazer todo o aproveitamento sensacionalista destas questões e os que vêm  de forma alarmista,  qualquer movimento da Justiça e das polícias, considerando existirem enormes riscos para as liberdades e garantias individuais.

Claro que o sensacionalismo é perigoso, e o ameaçar das liberdades individuais ainda muito mais, mas também é preciso não dramatizar com base em situações que não se verificaram. A verdade é que não existem imagens públicas da detenção de nenhum dos suspeitos/arguidos, e  umas simples fotografias de uns carros a passar não podem ser consideradas atentados às liberdades individuais, faz parte dos custos que figuras públicas têm de pagar em casos destes. Veja-se em comparação o caso dos  Estados Unidos onde se vêm na televisão suspeitos algemados e humilhados em público, sem qualquer justificação, basta lembrar Strauss-Khan.

Fala-se também em linchamento e condenação pública antes de a justiça o fazer, mas a verdade é que decida a Justiça o que decidir, a historia do BES não é explicável apenas pela crise, por azar , por pura incompetencia, ou outras razões que excluam totalmente algum comportamento doloso, toda a gente sabe disso. Como também todos sabemos que não é possível a um político que não seja rico ou não tenha tido cargos muito bem pagos, com o ordenado de primeiro-ministro ter um apartamento de luxo em Lisboa, ser cliente dos melhores alfaiates de Bevery Hills, e fazer anos sabáticos com uma vida mais ou menos luxuosa em Paris. Goste-se ou não, um primeiro ministro com aquelas condições, em Portugal nunca poderá ambicionar muito além de viver em Massamá e de passar férias na Manta Rota, ou coisa no género.
Um pato bravo qualquer pode ter montes de situações mal explicadas na sua vida, se for apanhado é problema dele, um homem público, em especial um primeiro ministro, não pode, não há como ter situações dessas numa democracia moderna.

Nada me move pessoalmente contra nenhuma das duas pessoas mencionadas, antes pelo contrario, conheci os dois em diferentes épocas e circunstancias da minha vida, e respeito a capacidade de trabalho, a energia e tambem a capacidade de conquistar poder que os dois sempre mostraram , mas lamento alguns dos caminhos pelos quais  enveredaram por razões que só eles saberão. Realço ainda que não me refiro ao aspecto político, não sou dos que pensam que Sócrates é responsável por todos os males do país, julgo mesmo que qualquer dos nossos primeiros ministros anteriores a ele, se lá tivesse estado naqueles anos, teria feito o mesmo ou pior do que ele fez, apertado entre a crise, os lobbies das construtoras, interesses diversos , e as políticas contraditorias da Europa, Sócrates fez o que o seu carácter voluntarioso, por vezes em excesso, lhe impunha que fizesse naquele quadro.

Sou contra sensacionalismos,  linchamentos públicos e versões simplistas de questões complexas, mas que muita coisa está podre neste reino que não é da Dinamarca e é uma república, isso não tenho dúvida. Agora a única coisa importante é tirar as necessarias lições do sucedido, e tomar as medidas indispensáveis para que não aconteçam de novo coisas semelhantes.

Nesse quadro a comunicação social tem um papel fundamental, mas não podemos estar optimistas, a verdade é que a comunicação social portuguesa  teve um papel relevante na destruição da monarquia constitucional e da 1ª República, e por outro lado,um papel muito menor do que por vezes se refere na queda da 2ª República. Que vai ela fazer com a 3ª?

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O ÓDIO DE JARDIM GONÇALVES

A longa entrevista dada ontem à noite por Jardim Gonçalves à RTP parece ter como única finalidade destruir Carlos Costa.
Tratou-se de um rebuscado exercício de um homem que diz não estar a par de nada do que se passa no sector, que nada sabe do inquérito parlamentar, que nada sabe do que se passou no BES, etc. A única coisa que ele sabe é que Costa não exerceu o poder que tinha, e depois fez tudo errado.

O ódio destilado contra Costa é tão grande que Jardim até perdoa  a Ricardo Salgado, apesar do papel que este teve no ataque ao BCP.

Muita gente tem dúvidas sobre se as opções do Banco de Portugal foram as melhores, mas nenhum de nós sabe o quadro exacto em que foram tomadas, salvo Jardim, que não sabe nada do que se passa no país mas que sabe tudo sobre o Banco Central.
Também a questão do poder do BP para afastar Salgado é controversa, mas Salgado não era apenas  um banqueiro, ele era de facto o DDT, e para mais sentado num banco que de repente se soube que estava falido. Não daria neste caso para o BP usar tácticas de guerrilha administrativa sobre o BES, como Jardim insinuou.

Toda a entrevista foi sem dúvida um exercício exemplar, de inteligencia, de cinismo e de ódio.

Estará o país  tão podre que Carlos Costa possa acabar por ser a grande vítima de todo este processo?


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

E A CMVM??!!

Foi o BCP, foi a CIMPOR, foi o BES, foi a PT, foi também o BPN, ou seja, umas dezenas de biliões de dólares que pura e simplesmente se evaporaram, e que fez a CMVM?
Que mais será preciso acontecer para que se perceba que a CMVM não existe?

Pior, seria bem melhor que não existisse, pelo menos não daria a errada sensação de segurança aos accionistas, outros investidores e ao publico em geral, julgando que são protegidos por um polícia dos mercados, que afinal dorme o tempo todo.
E para que a luxuosa instituição e seus quadros durmam descansada e cómodamente, o público vai pagando as taxas necessárias para os sustentar, segundo ela sem custos directos para o contribuinte, mas com custos incalculáveis para a sociedade.

E a vergonha internacional??!! Qualquer questão complexa, que leva a exame detalhado e forçosamente demorado em qualquer parte do mundo, é rapidamente aprovada pela CMVM, vejam-se as complexas operações da PT/OI.
Enquanto a CMV brasileira  estudou detalhadamente em cada fase como estavam protegidos os interesses dos accionistas da OI e continua a estudar a ultima fase do processo que ainda não está aprovada por ela, que fez a CMVM?? aprovou sempre  tudo rapida e urgentemente com enorme sentido do necessario esforço patriotico. Ter uma Comissão cheia de génios proporciona-nos esta vantagem!
De facto pode-se acusar a CMVM de tudo, menos de não ser rápida a decidir! Tudo menos empata! Ou será que se trata apenas de desejo de voltar rapidamente ao seu sono profundo??

Chegámos ao ponto em que já ninguém tem nem confiança,nem esperança, nas instituições nacionais, sejam reguladores, sejam tribunais. Neste ponto todas as nossas esperanças se concentram agora apenas no estrangeiro, seja o Luxemburgo, a Suissa, os Estados Unidos, o Brasil ou até, (porque não?) Angola. Em lugar de lutar para que as nossas instituições façam o seu papel, limitamo-nos a ter esperança que alguma entidade esrangeira o faça, o que óbviamente não irá acontecer.

Será que a CMVM apenas dorme, ou já morreu e ninguem deu por isso?

terça-feira, 28 de outubro de 2014

POBRE ANTÓNIO COSTA

Estava ele a gozar os prazeres da vida, presidente incontestado da maior Câmara do país, para mais cheia de dinheiro que o governo lhe deu, patrono da cultura e das artes, comentador diletante, bem humorado e bem pago, com apoios desde a direita às franjas da esquerda radical, e ainda por cima com pouco trabalho porque o que tinha a fazer era facilmente delegável, quando senão....
Naquele quadro o objectivo óbvio era a Presidência, não só a presidência como a re-presidência, que o país já demonstrou que reelege qualquer mono, quanto mais a ele. Presidência de onde certamente sairia com maior unanimidade do que a rainha de Inglaterra.

Quem tramou o Costa? Guterres vai mesmo avançar? Ou foram  apenas os grupos de interesse do PS que acharam que era tempo de obrigar o homem a expôr-se? Eles tinham pressa e chegava de boa vida para Costa?

Estes partidos são maquinas de poder e quando estão muito tempo afastados dele, começam a ficar nervosos e a procurar soluções que lhes permitam o retorno ao poder. No caso do PS não era bem assim, mais ou menos feliz, o partido estava controlado por Seguro e tinha uma vaga esperança de chegar ao poder, apesar da falta de carisma do líder.

Só que essa vaga esperança não era suficiente para aplacar a ira e as ambições dos sectores mais carentes, eles tinham pressa, era preciso reduzir ao mínimo qualquer possibilidade de o governo não perder as eleições, eles precisavam de Costa, acontecesse o que acontecesse, esse era sem dúvida o melhor cavalo disponível. E assim, deram cabo da vida ao homem, já não há comentador, já não há boa vida, a imagem consensual vai desfazer-se, e vai dar muito, mas muito, trabalho.

Falemos agora dos carentes do poder, curiosamente neste caso os carentes são encabeçados pela brigada do reumático do partido, ele é Soares, ele é Almeida Santos, ele é Alegre, e até para surpresa geral conseguiram envolver nisto Sampaio, homem que até aqui tinha conseguido demonstrar bom senso e independência de pensamento, coisas da idade. Para além da brigada, existem óbviamente sempre montes de candidatos a lugares e negocios públicos e as maçonarias, a pressionarem pelo rápido regresso ao poder a qualquer custo. Não seria justo esquecer aqui os jovens turcos, também eles ansiosos por mostrar as suas habilidades, tal como os jovens cavaleiros que rodeavam D. Sebastião em Alquecer-Quibir, com os seus sonhos de glorias e saques diversos.

E tudo isto para quê? Se António Costa não ganhar as eleições irá perder grande parte do seu prestígio, e terá que recomeçar a vida política quase que do zero. Se as ganhar terá que fazer todo o mal que Passos não pôde ou não quis fazer, Costa irá fazer a revisão constitucional, e todas as outras reformas que a Europa vai exigir, não terá como as não fazer, a melhor opção será mesmo fazê-las logo que chegue ao governo, para ainda ter tempo de beneficiar dos seus efeitos, isto se a tal brigada míope e a direita o deixarem. A brigada impediu Seguro de viabilizar as medidas que a Europa queria, apenas para dificultar a vida a Passos Coelho, agora sobra para Costa fazer tudo o que já devia estar feito.

Seja como for, nada será como dantes para Costa, poderá não ser como passar do paraíso para o inferno, mas pelo menos para o purgatório será.






segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL DE DILMA

São três os grandes desafios de Dilma. Se ela não souber responder-lhes o Brasil arriscará de novo uma solução não Constitucional.

- Conseguir controlar a voracidade de camaradas e aliados, desafio este que as condições da presente vitoria tornam ainda mais difícil.

- Voltar a pôr a economia a funcionar, coisa que não se vê que alguém no PT saiba fazer, a menos que nova onda de subida dos preços das matérias primas venha salvar o partido

- Conquistar as populações das grandes cidades, em especial a juventude, que ela já tinha perdido nas manifestações contra o campeonato do mundo e que os escândalos de corrupção afastam cada vez mais

Em que condições vai o Brasil estar quando dos Jogos Olímpicos de 2016?
Como vai Dilma conseguir chegar a 2018? Qual a solução constitucional se ela não tiver condições para chegar lá?

Há já quem oiça o tilintar das espadas ...



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A PT, A OI, OS CAMPEÕES NACIONAIS E A IMPRENSA

Como se deveria saber desde o início, o único interesse da OI na grande operação de fusão era os biliões que a PT lhe entregou, a ela e aos seus acionistas, acrescidos dos que a venda da propria PT e seus activos viria a gerar.
Só por interesses obscuros ou ingenuidade se poderia supor que as coisas fossem diferentes, o mercado de telecomunicações brasileiro é extremamente dificil, de enorme dimensão e exige investimentos extremamente vultuosos. Qualquer ilusão sobre uma possível estrategia lusófona, para mais por parte de um grupo descapitalizado, foi sempre apenas "wishfull thinking", mais uma vez por ingenuidade ou dolo, como se queira.

O caso da dívida da Rio Forte foi a cereja no topo do bolo para a OI, teve então a desculpa ideal para se livrar da PT e da gestão portuguesa, sem grandes custos de imagem, acabando por sair até mesmo como vítima das trapalhadas portuguesas,e realizando mais rapidamente todo o caixa possível para as suas necessidades no Brasil.

Agora vêem os grandes estrategas portugueses, com o seu duvidoso curriculum, alertar para a urgência de que o estado salve o campeão nacional, como se os estados pudessem fazer ou salvar campeões nacionais.
Os campeões nacionais fazem-se por si, não são feitos pelos estados, o que os estados podem fazer é estragar com mimos, hipotéticos campeões à custa do contribuinte. A PT já não tem possibilidade de vir a ser um campeão nacional, essa possibilidade, se é que existiu, já passou.

Seja a Altice, seja outra solução do mesmo tipo, mesmo que disfarçada sob a capa de um voluntarioso grupo de "patriotas" que vão salvar o tal campeão, é esse o destino de curto prazo da PT. Logo depois de esse novo proprietário arrumar a casa irá vendê-la, a um ou vários operadores de telecomunicações,  realizando uma significativa mais valia. Por ironia das coisas esse segundo negocio poderá mesmo ser contratado logo quando da efectivação do primeiro.

O mais preocupante de tudo isto é que à conta de delírios sobre campeões nacionais o contribuinte venha a ter que digerir mais uma enorme fatia dos custos de toda esta operação.
O facto de o estado estar falido não é garantia suficiente de que não venha a suportar os custos das habilidades que se vão seguir, infelizmente a historia da 3ª República mostra bem como isso tem sido feito.

E depois temos a nossa imprensa, que noutro país qualquer seria uma esperança de vigilância do interesse público mas que em Portugal é apenas um negocio monopolista como outro qualquer, que assegura apenas a maximização do seu poder e lucros.
Entre nós a imprensa ganha quando inventa campeões e seus agentes, que lhes pagam por isso, depois ganha vendendo jornais para explicar como esses campeões se afundam. Continuando no entanto sempre atenta a novo negocio que possa surgir de um possível "renascer"  de um campeão que possa voltar a ser fonte de receita.

Pobre país!

sábado, 24 de maio de 2014

BANQUEIROS À PORTUGUESA E O BP
 - DE JARDIM A SALGADO

Em todo o globo o mundo financeiro é um terreno complicado, em que é mais ou menos comum o surgimento de situações inesperadas muito graves, isto porque a sofisticação dos instrumentos financeiros e a alavancagem tornam difícil aos controladores e reguladores assegurar que os operadores não correm riscos desmedidos, de consequencias incontroláveis.

No caso do nosso pequeno pseudo-capitalismo, alguns serão induzidos a pensar que o que se passa é mais ou menos o mesmo do que no resto do mundo. Infelizmente os nossos problemas são  bem mais prosaicos, eles estão ao nível da falta de sofisticação do nosso mercado e dos seus instrumentos, assim como da incompetência de reguladores e controladores.

Olhando para o passado recente da banca nacional a situação pode resumir-se da forma seguinte:

- BPP - um fundo de Investimento agressivo a quem o Banco de Portugal (BP) decidiu dar uma licença bancaria, não se sabe porquê
- BPN - um caso de policia, nacionalizado a bem dos prevaricadores
- BANIF - alguma vez preencheu de facto as condições para ser um banco?  o BP  achou que sim
- CGD - teoricamente o banco do Estado, na pratica foi a mãe de todos os negócios de grupos e mafias diversas, que originaram os bilionários prejuízos agora acumulados
- BPI - Aparentemente o único banco "normal", com os problemas normais numa grande crise internacional

Neste quadro restam os dois grandes bancos privados nacionais, bancos que tudo levaria a crer estarem fadados ao sucesso, quer nacional quer mesmo internacional, BCP e BES, e que estão hoje nas situações que todos mais ou menos conhecemos.

O BCP foi um dos "cases" mais importantes em Portugal, no que se refere à velocidade e segurança de lançamento de uma grande operação entre nós, de facto o BCP revolucionou a forma de lançar negócios no país, assim como de desenvolver o negocio bancário, e depois disso, durante uns bons anos continuou a ser um caso de enorme sucesso.
Tempos mais tarde tudo se perdeu, sob o olhar sempre desatento do BP, começaram os malabarismos diversos,e contra eles apenas se levantaram outros artistas que apenas queriam substituir-se aos malabaristas de serviço.
Hoje só é estranho como é que o banco era tão forte que resistiu  aos malabarismos, às ondas de assaltantes,  e depois a esta enorme crise, tudo sempre sob o olhar complacente do BP.
Com uma equipe de luxo, onde se perdeu o BCP?

O BES era outro caso fadado à nascença para o sucesso, não arrancou com o dinamismo do BCP, mas tinha atrás de si o peso da tradição e a imagem do grande banco nacional que sobrevivera/renascera independente após  revolução, alem disso, tal como BCP, tinha também uma equipe de qualidade e um líder incontestado.
No entanto, há muito que não há praticamente escândalo económico em Portugal em que o nome do banco não seja envolvido. Na maior parte dos casos tudo fica por esclarecer de forma cabal, como é usual com a nossa justiça, no entanto a possibilidade de  que se trate apenas de coincidencias ou azares, é cada vez  menos plausível  para o publico.
Agora o presidente do banco vem dizer que a origem de todos os problemas são dois casos de ausência total de controle interno dentro do grupo (Holding e Angola), o que por si só seria já alarmante, no entanto tudo leva a crer que as coisas sejam bem piores.
Aparentemente, um banco envolvido em tantos pequenos e grandes escândalos teve necessidade de se envolver em situações e com pessoas não muito recomendáveis, que poderiam ter aparente utilidade imediata, mas com riscos para o espírito do grupo,  para as suas praticas, e finalmente, para a sua solidez. Como em tudo na vida os atalhos simplificadores pagam-se caros.
O BES seria assim dois mundos, o mundo formal com a sua tradição e a sua equipe de luxo, e o mundo informal, mais "dinâmico", habilidoso, actuando sempre nas margens da legalidade, que gravitava à sua volta e que o primeiro grupo julgava controlar.
Também aqui tudo sempre sob o olhar desatento do BP.

Ricardo Salgado vai conseguir manter-se? Vai conseguir fazer o seu sucessor? Seria saudável que alguma dessas coisas acontecesse? A resposta óbvia parece ser que não.
Embora estas questões possam parecer importantes, na verdade elas são já claramente secundarias.
A grande questão é saber como chegamos aqui, como foi possível? Para alem da incompetência, cegueira ou temor reverencial do BP, como foi possível a banca chegar a este ponto?
Para não procurar exemplos mais longe e ficar dentro da nossa área cultural, como é que aqui ao lado, Espanha produziu grandes bancos e banqueiros (a par de outros casos nada exemplares), e nós apenas este pântano doentio e pequenino?
Teria sido possível que Jardim e Salgado tivessem sido grandes banqueiros, com peso e prestigio internacionais, onde é que eles se perderam? Onde é que a nossa banca se perdeu? Para alem da ostensiva ausência de um BP o que fez que assim fosse?
A resposta a estas questões é agora especialmente importante, porque vivemos os dias em que a banca europeia mais poderosa resolveu deixar de jogar o jogo do faz de conta, como tem feito até agora,  e decidiu que é tempo de encarar a sua recapitalização. Quem vai recapitalizar a banca portuguesa? Vai restar algum banco nacional no final do processo?

Finalmente o BP decidiu assumir o seu papel de regulador, auditor e controlador do sector, depois de anos de incompetência em que todos os partidos que passaram pelo poder, e não só, tiveram enormes responsabilidades. Também será de realçar o facto de pela primeira vez um governo ter resistido às pressões, que julgo imensas, para que mais uma vez se arranjasse uma pseudo-saída do problema, o que não teria sido mais do que um adiamento de um cancro que cresceria como uma bola de neve e que depois se tentaria transferir para o erário público. Claro que as limitações impostas pelos controles comunitários também vieram diminuir o espaço para as nossas tradicionais habilidades.

Toda a historia deve ter uma conclusão moral, julgo que também esta.
Todos estes "embrulhos" tiveram custos enormes para  os accionistas envolvidos, tanto para os pequenos como para os controladores, para o país, tanto em termos de prejuízos materiais como de imagem, enfim e sobretudo, perdas incalculáveis para todos nós. Tudo isto porque os governos, os reguladores e os controladores se demitiram, deixando o campo aberto aos habilidosos e malabaristas.
Os únicos ganhadores de todos estes processos acabaram por ser precisamente esses habilidosos e malabaristas, cuja únicas qualidades são precisamente essas, e que se estas oportunidades não lhes tivessem sido abertas, seriam apenas os pobres diabos que efectivamente são, e não os homens muito ricos que alguns até serão.
Curiosamente até Jardim e Salgado acabam também por ser vitimas deste processo, em que foram protagonistas e responsáveis importantes. Serão certamente os dois homens ricos, também o seriam se tivessem trilhado outros caminhos, talvez até muito mais, veja-se Botin. Mas na verdade dificilmente terão a imagem publica que poderiam ter tido. Porquê terminar sem honra nem gloria envoltos em suspeitas, dúvidas e acusações?
Apesar dos custos sociais de toda esta historia nem tudo teria sido perdido, se pelo menos tivéssemos a certeza que nunca mais situações destas se repetiriam, e que o rigor, o trabalho e inteligência, passassem a ser critérios de avaliação mais importantes que as capacidades malabaristas nos bordos da legalidade.