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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015




JUNCKER E A GRÉCIA


Juncker é um político na linha de Barroso, apenas mais simpático e sem o ar de boxer aposentado do português.
Ao dizer que são políticos da mesma linha  isso nada tem a ver com opções partidárias, mas apenas com o seu comportamento político, com isto  quero dizer  que Juncker tem  tão poucas ideias como Barroso e simultâneamente tem  a mesma habilidade política, o mesmo jogo de cintura. Tratam-se enfim de dois virtuosos do jogo político que fizeram as suas carreiras com base nisso e não têm qualquer outro projecto ou ideal, para além da própria carreira.

Perante esta realidade que se pode esperar de Juncker face a qualquer situação delicada? Obviamente que nada, tal como aconteceu com Barroso, primeiro porque não tem conhecimento profundo dos dossiers, segundo porque para este tipo de políticos a solução será sempre a que no imediato seja a mais fácil.
É por estas razões que Juncker aceita qualquer coisa vinda da Grécia, porque nem sequer sabe bem o que está em causa, e também porque a última coisa que ele quer é ter de gerir uma situação como seria a de uma saída da Grécia do euro, sobretudo no início do seu mandato.

Se Juncker fosse um político com P grande, saberia que este é um bom momento para correr o risco de uma saída de um país do euro, apesar de ainda não estar montado todo o sistema da união monetária, grave seria isso acontecer numa altura em que os mercados estivessem em polvorosa.
Mas Juncker quer apenas sobreviver e por isso está aberto a todo o jogo de chantagem que a Grécia queira fazer, se não forem os estados membros a controlar a situação vamos ter desastre.


O NEOLIBERALISMO NA EUROPA -I


Não vou falar de Von Mises, nem de (Von) Hayek, a minha intenção aqui é bastante mais prosaica.

Vou falar desse neoliberalismo que é a política que os partidos socialistas praticam depois de ganharem eleições.
E também daquele outro, mais radical, que aqueles mesmos partidos praticam depois de terem tentado concretizar os seus programas eleitorais, e a que apressadamente recorrem, a meio dos seus mandatos, tentando não sucumbir à derrota eleitoral que se aproxima. Deste segundo caso Hollande é o melhor exemplo, que chegou mesmo ao ponto de passar a governar por decreto-lei, para acelerar as reformas neoliberais que ele abjurara, e por via desse artifício  evitar o desgaste público nas suas hostes.

Enfim, o neoliberalismo filho de Margaret Tatcher, e que levou a que ela dissesse que o seu maior orgulho era o New Labour, seu enteado talvez.
Sim, o neoliberalismo, "esse monstro, desumano, capitalista, perverso e fonte de todos os males" das nossas sociedades...

Agora sem ironias. O neoliberalismo está longe dos verdadeiros liberais libertários que odeiam o estado sob qualquer forma e que pensam que o principal papel do cidadão é vigiar o pouco estado que tenha de existir  O neoliberalismo é sobretudo um sistema não dogmático que conhece os perigos e a falta de capacidade dos estados para actuarem  de forma sistemática em todas as áreas da vida social e que por isso julga que fora das áreas que são da sua  competencia especifica, justiça, defesa e segurança o papel dos estados tem de ser analisado, discutido e decidido cuidadosamente, para bem da sociedade.

Como foi possível surgir já na segunda metade do século XX o neoliberalismo? Ainda por cima no Reino Unido com todas as suas tradições de apoio social e sindicais?

Este movimento resultou do efeito conjugado de dois acontecimentos com características opostas. Por um lado o alívio do fim da 2ª Grande Guerra encheu as populações de esperança, era o fim de tempos muito duros, era o momento das classes trabalhadores tomarem nas suas mãos os destinos da sociedade, é esse fenómeno que leva à inesperada derrota eleitoral de Churchill perante os trabalhistas. Mas simultâneamente, esse é também o tempo do princípio do fim do domínio económico da Europa sobre grande parte do 3º mundo.

Assistimos assim no pós guerra  ao surgimento do peso político das classes trabalhadoras e dos seus sindicalistas , em simultâneo com a perda de importância económica gradual da Europa no contexto mundial.
Aquela perda de importância deriva do aumento do peso  de outros poderes económicos actuando em espaços que anteriormente eram de "exploração" europeia quase exclusiva,  com destaque evidente para os Estados Unidos, mas também para outros estados e para os novos movimentos e estados independentes.

Poder-se-ia quase que dizer que o desenvolvimento do estado social se dá no pior momento histórico possível, exactamente quando a Europa deixa de poder com facilidade transferir acréscimos dos seus custos de produção para os seus mercados cativos. Este é o problema original do chamado Estado Social, a que no futuro se viriam a juntar outros

Mas na época,  o optimismo em relação ao futuro, conjugado com o poder económico  de que o Reino Unido ainda dispunha, permitiram  montar um sofisticado e caro estado social, estado esse não parou de crescer, tornando-se um peso cada vez mais difícil de suportar para uma sociedade que entretanto empobrecera em termos relativos.

Os  custos crescentes do estado social, por um lado, e a força cada vez maior dos sindicatos, por outro, conduziram à quase paralisação da economia do Reino Unido. A modernização era entravada pelos sindicatos, a despesa pública absorvia cada dia porções maiores do PIB,e tudo isto acontecia ao mesmo tempo em que o poder de exportar a qualquer preço se ia reduzindo.

É neste cenário que surge Tatcher. De braço de ferro em braço de ferro, a dama de aço, consegue limitar o poder dos sindicatos, controlar a despesa pública e relançar e modernizar a economia.
Ainda hoje odiada por uns, venerada por outros,  Tatcher foi o grande agente modernizador do Reino Unido, tendo desencadeado um processo que acabou por ser continuado pelos próprios trabalhistas com o New Labour.

Esta é a origem do neoliberalismo, a que os países da Europa continental foram resistindo e aplicando apenas esporádicamente em doses homeopáticas, até à crise de 2008.  Com excepção do caso alemão, aspenas quando a realidade se impõe e  são mesmo  obrigados a eliminar os bloqueios, corporativos e outros, que entravam a modernização e o crescimento, os países do continente recorreram à medicina neoliberal, tal como foi o caso da súbita e recente conversão francesa.

domingo, 22 de fevereiro de 2015





      A QUESTÃO GEOPOLÍTICA GREGA - PUTIN GANHA SEMPRE

       Já se percebeu que para a Europa não existe um problema económico com a Grécia, o país pode falir, sair do Euro, e mais o que quiser, que tudo isso não será mais do que uma beliscadura na economia europeia, que em menos de um mês estará esquecida. Nesse caso haverá, então sim, uma enorme crise humanitária na Grécia, que a Europa não vai poder ignorar, mas cada coisa a seu tempo.

       No ponto de vista geo-político a questão é muito mais complicada, mas a decisão não será também muito difícil, dado que não existe uma solução boa resta escolher a menos má. A escolha é entre viabilizar um projecto Chavista na Europa, ou deixá-lo desenvolver-se fora da Europa numa zona geográfica já muito complicada e importante para nós.

      A escolha parece-me clara, é preferível um problema junto às nossas fronteiras, por mais delicado que isso seja, do que um cavalo de Troia dentro de casa. Não que o problema dentro de casa leve a uma revolução Chavista na Europa, não é essa a questão, a razão é muito pior, o Chavismo em dois ou três países levará à radicalização na Europa, provavelmente mesmo a guerras civis, e isso será o caos, e o fim do projecto europeu.

       Se a Europa hoje viabilizar a aventura do Syriza, não o obrigando a seguir o essencial das regras comunitárias (certamente com adaptações), podemos dizer desde já adeus ao sonho do projecto de uma Europa una e democrática. Os nacionalismos estarão de volta, com as personagens habituais.

       No meio de tudo isto o grande vencedor é Putin, qualquer solução é boa para ele, Troia seria melhor porque destablizaria e radicalizaria, a solução da Grécia fora só destabiliza, de qualquer modo um ganho importante.

      Se a Europa sobreviver ao dia de hoje , é melhor começar a pensar a sério numa política de defesa.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015



BENTO, O EXPLICADOR

Victor Bento tem sido o melhor explicador nacional de como as economias funcionam. Nunca disse nada de original, nunca sequer se preocupou em ser o mais actualizado dos economistas, mas sempre foi o que melhor explicou ao comum dos mortais os mecanismos da economia. De tal forma que até Cavaco, que séculos atrás até foi um bom economista, se apaixonou por Bento e o levou para o Conselho de Estado, certamente para explicar aos outros conselheiros aquilo que ele, Cavaco, nunca conseguiu fazer.

Tudo corria bem até à aventura do BES, Bento nunca foi um banqueiro, tinha umas ideias vagas também sobre esse assunto, e o governo e o BP, tal como ele, também estavam perdidos, depois foi o que todos sabemos... em resumo, as coisas correram mal. Vai daí Bento resolve repensar a sua visão da economia europeia, e como tinha pressa, e o país e a Europa não podiam esperar mais para conhecer as importantes revelações que tinha a fazer, decidiu não esperar pelo seu novo livro e entregou ao Observador o texto base da sua nova visão.

O texto de Bento parte de uma descoberta que ele fez recentemente, os países do Euro têm uma moeda única! Como têm uma moeda única mas orçamentos nacionais e balanças comerciais e de pagamentos também nacionais, acabaram por se gerar situações perversas para a recuperação da crise. Quase que parece o outro  Victor, o  Constâncio, que até à ida para Frankfurt sempre defendeu que com o Euro o facto de os países terem saldos positivos ou negativos nas suas balanças deixara de ter qualquer importância.

Até à revelação de Bento nunca ninguém se lembrara desta vertente das economias europeias, apenas ele, com o seu faro aguçadíssimo, agora o descobriu, e ao descobrir viu rapidamente que temos estado todos a ser enganados pela Europa rica, facto esse que no entanto, todos os economistas da esquerda já tinham "percebido" à bastante tempo.

Ou seja, depois do BES, Bento é um novo economista da esquerda! A esquerda não terá ganho grande economista, mas ganhou um grande explicador, o que já não é mau.

Como bom economista de esquerda Bento fica pelo meio do caminho, limita-se a dizer que o norte explorou o sul, e o fez para mal de todos, mas nunca diz o que deveria ter sido feito, talvez porque aí teria de dizer claramente o contrario de tudo quanto andou a dizer.

A Revelação de Bento, não é ainda motivo para o Nobel, mas é sem dúvida um passo importante!



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015



CARTA ABERTA AOS POVOS DA EUROPA (Projecto)


O Syriza tem tentado por todos os meios junto das instituições comunitáriass, defender o povo da Grécia e com ele os povos de toda a Europa.

Mas, na realidade, todos os nossos esforços em prole dos nossos povos e da humanidade, têm sistemáticamente esbarrado no autoritarismo alemão, e dos seus apaniguados, assim como de outros governos amedrontados, sem coragem para dizer basta à Alemanha.

Para que a Grécia possa iniciar esta nova fase da sua vida, libertar o seu povo e vencer a crise humanitária que vive, querem os burocratas de Bruxelas que lhes apresentemos um plano detalhado do que pretendemos fazer. Os burocratas incompetentes e irresponsáveis são sempre assim, enquanto o povo morre de fome eles querem mais papeis! Vivem do papel e para o papel.

Como é óbvio nós não podemos dizer o que pretendemos fazer, nem como vamos pôr a Grécia no que eles dizem ser o bom caminho, os burocratas e os governos reacionarios que dominam neste momento a Europa, não podem ter esse tipo de informação, porque se a tivessem usá-la-iam para nos destruir, a nós e ao nosso projeto de uma nova Europa!

Que melhor garantia podem os burocratas de Bruxelas querer do que os curriculla, e a palavra  dos nossos líderes?

O nosso líder, Tsirpas, ainda recentemente afirmou que o nosso objectivo não é o socialismo imediato, mas apenas o princípio do  fim da Europa tal como a conhecemos, lembrando então que faria como fez Chavez, "nós não pedimos o voto no socialismo, nós pedimos o voto para uma mudança real na vida das pessoas, e assim gradualmente as pessoas irão se aperceber que o socialismo é uma boa idéia, tal como aconteceu  na Venezuela". Portanto é falso que sejamos comunistas ou queiramos uma revolução, queremos apenas uma nova Europa, beneficiando da riqueza da experiencia Venezuelana. Temos esse direito e não vão ser os burocrats europeus e a Alemanha que nos vão parar!

Depois, temos como responsável da economia e das finanças gregas um professor que é a inveja de toda a Europa, apoiado por vários prémios Nobel, como Krugman e Stiglitz, e que apresentou logo no início das negociações uma enorme panóplia  de soluções aos iletrados ministros e burocratas europeus, pelas quais teria sido possível de imediato resolver todos os problemas da Europa e foi logo recusada, porque se aceite ficaria patente a incompetencia geral. Depois de tão brilhante apresentação, aqueles eurocratas refugiaram-se em mais um pedido de medidas concretas para fazer face à crise grega, sem inteligencia e sem visão os burocratas acabam sempre no mesmo. Agora para tentar destruir a imagem do nosso génio financeiro, os seus inimigos passam o tempo a relembrar que ele terá dito que é um economista acidental e um marxista errático. Mas nem com todas as campanhas eles vencerão, o mundo sabe que temos razão, e que temos as melhores soluções para a Grécia, para a Europa e talvez  mesmo para o mundo.

A campanha contra nós já envolve também o nosso parceiro de coligação, chegam ao ponto de dizer que Kammenos é xenofobo e anti-semita, tudo apenas porque ele é um patriota que luta pela dignidade grega dentro da Europa, melhor, pela Grécia  como lanterna da Europa como históricamente foi, e temos direito de voltar a ser.

Perante esta realidade apelamos a todos os povos da Europa, que se revoltem e imponham aos seus governos, o apoio claro e irrestrito aos desejos do governo grego, porque esse é o único caminho que resta à Europa.

Viva o Syriza! Viva a Nova Europa! Abaixo a Alemanha e seus apaniguados! Abaixo os eurocratas!




quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015



UMA EXPERIÊNCIA DE ESQUERDA, POR FAVOR!

Este texto vai ser um pouco complicado. Os meus amigos à direita não gostam das minhas posições, para eles ambíguas, sobre estas guerras da direita e esquerda, os de esquerda raramente lêem o que escrevo e quando o fazem, fazem-no com dificuldade. Este será mais um desses textos que  não vai agradar a ninguém.

Desde pequeno, tenho ouvido falar do sonho de uma sociedade diferente daquelas em que temos vivido, uma sociedade igualitária, fraterna e livre. Apesar de nunca ter acreditado em nenhuma das propostas que ao longo dos tempos foram sendo apresentadas, não perdi a esperança de que um dia surja alguma coisa com sentido e de que finalmente a esquerda consiga apresentar um projecto viável e executá-lo de forma convincente. Até agora as desilusões têm-se seguido.

Nos tempos modernos, a esquerda deu-nos a Revolução Francesa que começou por assassinar a nobreza nacional, guilhotinar os reis, os altos funcionários, depois os burgueses, e finalmente os revolucionários começaram a guilhotinar-se e assassinar-se sucessivamente uns aos outros, abrindo caminho para Napoleão que por fim estabeleceu a "sua ordem" na casa, e tentou estendê-la a toda a Europa. A primeira grande aventura da esquerda não correu propriamente bem, mas..

Depois de aventuras menores diversas, veio o socialismo científico de Marx e mais tarde as ditaduras do proletariado de Lenine e Estaline, que após implantadas,  rapidamente se transformaram em ditaduras das nomenclaturas em nome do proletariado, de Cuba à China foi assim, com os resultados económicos, sociais e ecológicos que hoje são conhecidos, isto para além do que, pelo caminho, foi acontecendo às "liberdades burguesas".

Recentemente a América Latina tem tentado algumas experiências socialisto-populistas a maior parte delas com especificidades muito locais que têm a ver com o problema nunca resolvido das populações indígenas. Mas de novo estamos perante experiências todas elas mais ou menos desastradas, a única  mínimamente equilibrada parece ser a do Equador, embora nada de fascinante, nada que que aponte um novo caminho para as sociedades do século XXI.

A Europa, berço de todas estas ideias e ideais, tem contribuído bem pouco para novas experiências, socialistas e sociais-democratas aburguesaram-se e pouco os distingue dos democrata-cristãos, o nosso Abril foi o equívoco de que não vale a pena falar agora e recentemente, Hollande foi uma esperança fugaz que não deu em nada. A esperança que resta é o Syriza, vai o Syriza resistir ao choque da realidade?

O grande problema da esquerda radical é que nunca gostou da realidade, o seu jogo foi sempre  comparar  a realidade capitalista, com todos os seus defeitos reais mais os por ela inventados, com situações imaginárias que a esquerda dizia existirem noutras sociedades ou em sociedades também imaginárias que iriam, ou irão, construir.

Só que para construir alguma coisa é preciso um projecto, até agora nunca ninguém viu um projecto dessa esquerda, o único objectivo parece ter sido sempre e apenas a conquista do poder, depois logo se vê. Mas existe alguma credibilidade nisso? Criticar a realidade e pedir um mandato para construir algo que nem ela, esquerda, sabe o que é?

Na verdade  até tive esperança que o Syriza fosse diferente, acreditei mesmo que eles tinham um plano para uma sociedade alternativa, que precisasse de ser ajustado aqui e ali, mas que existisse um projecto. Afinal não, o único projecto era sacar um cheque em branco à Europa. É isto o melhor que a esquerda pode fazer?

Porquê esta incapacidade de apresentar um novo projecto de sociedade? Falta de capacidade intelectual? Preguiça? Medo de que nenhum eleitorado o "compre"?

Ninguém  espera que a esquerda possa fazer o milagre de conseguir juntar todas as benesses das sociedades de consumo capitalistas a uma muito maior igualdade, todos sabemos que não há almoços grátis, mesmo almoços socialistas, mas qual é o seu projecto de sociedade? Como vamos para lá? Como desmontar os mecanismos de mercado/preços sem destruir as economias? Por favor, vamos ser sérios, somos todos adultos.

Até lá vamos ficando com as esquerda que há, a esquerda caviar (beluga ou não), a dos seus intelectuais diletantes, a das múmias simpáticas dos PC's, e a dos exaltados que não têm ideia do que querem, para além da catarse do reclamar  e gritar. A única verdadeira novidade que até agora a esquerda nos deu foram aquelas meninas, até bonitinhas, inteligentes, agressivas, articuladas e palavrosas que hoje em dia preenchem mais de metade dos nossos telejornais.

Estou a ficar velho (aliás já estou, só que ainda não assumi) e ainda preciso de ver essa grande eperiencia socialista. Por favor apressem-se, já agora se possível não a façam aqui em Portugal, deixem isso para depois de ver os resultados em outro lugar.

Os meus amigos de direita devem ter razão, no fundo eu sou um esquerdista, só que, depois destes mais de dois séculos de desastres, e tal  como São Tomás, preciso de ver para acreditar.





quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015



 AMERICAN SNIPER E OS ERROS DA DEFESA DOS EUA


Um filme eminentemente político, de que os republicanos não terão gostado nada.
Um filme sobre a estupidez destas guerras que não se podem vencer e deixam cicatrizes profundas em todas as partes envolvidas.

Fez-me lembrar outro filme, esse basicamente um documentário, "estrelado" pelo ex Secretário da Defesa dos EUA Robert McNamara. o tecnocrata Presidente da Ford que  Kennedy convidou para seu Secretário e que foi responsável pela escalada no Vietname.
Naquele filme, The Fog of War, umas dezenas de anos depois do fim da guerra, McNamara explica como ao fim e ao cabo tudo não passou de um acumular de mal-entendidos, sem eles nunca teria havido guerra.
Foi esse filme que me fez perder por completo a confiança que tinha nas decisões da defesa americana, uma grande potencia com a qualidade e quantidade de informação que tem, nunca poderia entrar em aventuras que não tivessem uma forte justificação, mesmo que tudo apontasse no sentido contrário, acreditei nisso até ver e ouvir McNamara. A partir de então desconfio de toda a política de defesa americana,  sobretudo quando se trata de intervenções directas em países estrangeiros.

No meio das pressões dos falcões, dos interesses da industria de defesa e outros fornecedores, das manobras de políticos estrangeiros que procuram ganhar peso nos seus países envolvendo os americanos nas suas jogadas, e também obviamente dos humanos erros, no meio disto tudo, todas as loucuras são possíveis, em nome de qualquer coisa que se queira inventar.

O filme de Clint Eastwood aborda estas questões não pela via do ensaio mas contando de forma magistral e emocionante uma história verídica de um herói americano, do seu duelo com outro herói (embora o filme o não assuma como tal) anti-americano, das condições daquelas guerras de ocupação impossível, e das dificuldades de um regresso a casa para heróis, menos heróis e "cobardes".

Infelizmente tudo leva a crer que desta vez as sequelas vão ser muito piores do que as do Vietname, não que a guerra tenha sido mais violenta, não porque os conflitos durem há mais tempo - ambos são heranças coloniais que se arrastam do século XIX - mas porque o mundo muçulmano continuará a ver em tudo isto sobretudo como uma guerra religiosa, que não irá acabar só por os canhões se calarem.

Quem depois do American Sniper ainda  acreditar na clarividencia militar americana, recomendo com urgência The Fog of War.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015



A VERDADE SOBRE AS DÍVIDAS EUROPEIAS  - A GRÉCIA


Esta questão das dívidas nunca é abordada de forma global e sem preconceitos, uns porque querem esconder a verdade, e outros porque querem apenas transformar este assunto em arma de arremesso.
É importante  analisar esta problemática de uma forma realista e independente, sem segundas intenções, porque só depois disso se podem tomar opções conscientes sobre a forma como cada um pensa que o problema deve ser gerido.
Assim, existem à partida duas grandes questões:
.qual a origem das actuais dívidas públicas?
.as dívidas são "pagáveis"?

-Qual a origem das actuais dívidas públicas?
As actuais dívidas podem ser decompostas em três partestes, a dívida pré-crise, a dívida fruto da socialização dos prejuízos do sistema financeiro, e a dívida resultante do acumular dos novos deficits orçamentais entretanto verificados.
As dívidas "pré-crise"  normalmente apresentadas estão muito sub-avaliadas, porque era normal em todo o Sul esconder dívida do sector estatal em empresas públicas deficitárias, debaixo do tapete, do colchão e onde mais fosse possível... artifícios esses de desorçamentação diversa que depois foram eliminados. Na verdade essas dívidas efectivas na Europa do Sul eram já muito maiores do que aquilo que usualmente aparece referido, sendo em toda a região já no início da crise da ordem dos 100% do PIB, isto nos casos menos graves.
A outra componente, a socialização da dívida do sistema financeiro, é a componente injusta que resulta da total incompetência da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. A Europa adiou enquanto foi podendo o reconhecimento de que vivia uma crise financeira, argumentando que isso era um problema americano ao qual o Euro estava imune. Assim, enquanto os EUA e o UK obrigaram o bancos a recapitalizarem-se com dinheiro público, contra a vontade dos respectivos accionistas que tiveram mais tarde de comprar ao estado as novas acções entretanto emitidas (estado esse que as vendeu realizando um lucro substancial), enquanto isso na Europa a questão foi sendo empurrado com a barriga, graças ao lobbie da banca, e como os problemas não foram encarados de frente logo no início, foram tornando-se maiores e acabaram por ser transferidos para os orçamentos dos estados em lugar de ter sido assumidos pela banca. A grande vítima deste processo foi a Irlanda, que tem a maior percentagem da sua dívida proveniente desta origem.
A terceira parte das dívidas é fruto de estes países terem continuado com deficits orçamentais e portanto com necessidade de recorrer a novos financiamentos.

- Estas dívidas são pagáveis?
Na generalidade dificilmente, basta pensar que mesmo a um juro médio de 2% indexado ao PIB  e amortizando as dívidas a 50 anos se teria um desembolso anual superior a 3% do PIB por cada 100% de dívida/PIB que se quizesse anular, o que não sendo totalmente incomportável seria no entanto muito limitativo do investimento público.
A Europa do norte, melhor, a Alemanha, vai impedir a reestruturação destas dívidas? Não acredito, a Alemanha sabe que é melhor para ela que as economias do sul ganhem dinamismo, mas o norte tem dois problemas, um  são os seus eleitorados e o outro  é a fé dos respectivos governos em que o sul venha mesmo a resolver os seus problemas e a aumentar a sua produtividade.
Os "incomportáveis" custos da dívida têm assim dois objectivos, obrigar o sul a fazer o trabalho de casa e não assustar os eleitorados do norte. Apenas isto, porque todos os governos sabem que um dia todas estas dívidas vão ser reestruturadas, só que seria um desastre duplo dizer isso publicamente neste momento.

- Que fazer?
 Até agora têm coexistido dois caminhos, caminhos esses que são melhor exemplificados pelos casos diametralmente opostos da  Irlanda e da Grécia.
A Irlanda , que foi de facto a grande vítima da incompetência europeia, aceitou as regras do jogo, não discutiu, não hesitou, fez rapidamente uma grande reestruturação da sua economia, com os custos sociais inerentes, e é hoje de novo o tigre celta, apesar de alguns problemas que ainda tem.
A Grécia foi sempre o doente que fez batota, aquele que diz ao médico que toma os remédios e não o faz, assim dedicou-se a simular reformas que não fez, impostos que não recolheu, etc A culpa, essa, foi sempre dos remédios e do médico, tudo no meio de uma confusão bem Mediterrânica. O resultado só podia ser o desastre que se verificou, não vale a pena dizer que a culpa é da Europa, da austeridade, etc,  a culpa é da Grécia, poderá não ser do seu povo, ou se se quiser, sê-lo-á apenas na medida em que continuou a suportar as suas elites.

- A Grécia
A Grécia do Syriza surge agora com um hipotético terceiro caminho, que teria pelo menos a vantagem de acabar com o faz de conta grego.O Syriza quer virar a mesa e começar tudo de novo. Tudo bem, concordo que existem outras soluções se a Europa der algum apoio, o que é estranho é que só agora o partido e o seu economista chefe parecem ter começado a pensar nisso, esse trabalho não devia ter sido feito antes das eleições? O Syriza esperava que a Europa se rendesse de joelhos às suas reivindicações que  se limitavam a que a Europa lhe passasse um cheque em branco, ainda por cima  ao seu pior aluno? Agora, em quinze dias a Grécia vai ter um plano alternativo minimamente credível?
Existem caminhos alternativos e essa experiência de um novo socialismo seria interessante, só que não existem alternativas que sejam um caminho fácil, acreditar nisso é a receita para o insucesso, o único caminho que resta à Grécia é o da austeridade distribuída de outra maneira, mas esse caminho também não é fácil, como percorrê-lo sem paralisar a economia?
Não sou dos que deseja o desastre para o Syriza, até porque a conta seria paga pelo povo grego, mas neste campo não existem milagres, se não existir uma proposta bem fundamentada não haverá aprovação e a Grécia estará à beira do desastre. e depois dele, a saída do euro.
A ilusão de que a Grécia é a carta que sustenta um castelo que  hipoteticamente seja o euro é apenas isso, uma ilusão.
Apostar tudo na sua importância geopolítica, esperando que isso viabilize o inviabilizável não é solução, por muitos telefonemas de Obama e Cameron que haja.
Uma Grécia fora do euro financiada por americanos, russos e ingleses? Possível?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015



A UCRÂNIA, PUTIN E A EUROPA

Quando da negociação do acordo entre a Ucrânia e a CE, Putin defendeu a realização de um encontro a três para garantir que o processo decorreria sem sobressaltos. Naquela altura a Europa assumiu a posição formalmente correta de recusar qualquer negociação a três, dado que sendo a Ucrânia um estado soberano não fazia sentido sentar à mesa com uma Rússia, que se assumia como parte interessada no processo. Isto deu no que todos sabemos hoje em dia. Podia ter sido diferente?

Podemos gostar ou não de Putin, mas temos de reconhecer que ele tem de gerir o problema político mais complicado do mundo. A Rússia é o maior país do mundo, com uma densidade populacional muito baixa e em redução, com uma grande diversidade étnica e religiosa, tudo agravado por se tratar de uma população envelhecida e com um nível de alcoolismo extremamente elevado. A Rússia continua a ser uma grande potencia militar, continua e tem de continuar, no dia em que o não for a Rússia deixará de existir, as forças centrífugas internas e as ambições de diversos e poderosos vizinhos tornariam a sua existência impossível. Obviamente Putin não quer ser o último dos Czares da Santa Rússia.

Agora assistimos à peregrinação a Moscovo dos principais líderes da Europa continental,pedindo a Putin que viabilize uma solução para a crise Ucraniana. Vai ser  ainda possível recuperar a situação depois dos enormes estragos, traumas e compromissos assumidos, entretanto verificados? Vamos ver.

A lição mais importante que a Europa deve tirar desta crise é sobre a necessidade do realismo político na gestão das relações internacionais, o formalismo é importante mas só se pode ser infléxivel na sua defesa, quando se está preparado e decidido a assumir no campo militar, de forma imediata todas as consequencias necessárias. Quando assim não é a defesa de formalismos tem tudo para acabar mal.

A maneira como a Comissão Europeia geriu a crise Ucraniana, assim como a forma como geriu a crise económica europeia, irão ficar na história como exemplo do que não deve ser feito.

JAIME GAMA  - PORQUE ESPERA O PS?

Com a desistência de António Guterres,  Jaime Gama seria a escolha óbvia para o PS, porque existem dúvidas?
Jaime Gama é talvez o mais culto dos homens públicos portugueses, tem sempre dado provas de bom senso em todas as situações, varias vezes ministro e também  Presidente da Assembleia da República tem uma experiência política difícil de igualar, é um político com grande aceitação mesmo  fora do partido e com grande capacidade de construir consensos.
Apesar de tudo isto o seu nome  vai surgindo sempre nas analises dos comentadores como uma hipótese quase que secundária. Porquê?
É a ala mais à esquerda que não gosta da figura? São os habituais grupos das negociatas e das maçonarias que querem outro tipo de solução?
Falta de carisma? Um presidente num regime como o nosso não precisa de ser uma figura carismática, no sentido de um líder que arrasta multidões. O país está cansado de figuras com passados duvidosos, é tempo de gente de idoneidade indiscutível, e que simultâneamente sejam figuras que tenham uma visão de longo prazo dos interesses do país, dando garantia de os prosseguir, em lugar de se envolverem nas guerras dos pequenos interesses.
Se o PS fizer esta escolha isso terá também a vantagem de elevar a fasquia, e obrigar a direita a subir o nível das suas propostas.