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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019


SONHO ERÓTICO - PORQUE VIM A BEIJING

Naquela manhã, saíste porta fora, zangada, furiosa mesmo, ainda hoje não percebi bem porquê.
Eu, ainda meio estremunhado vi-te toda vestida, já pronta para sair, e tentei que pelo menos me beijasses e dissesses alguma coisa, mas nada, apenas mastigaste irada algumas palavras que não consegui compreender, depois desapareceste, batendo a porta. E foi tudo.
Só quando me levantei e dei uma volta pela casa, compreendi que tinhas levado todas as tuas coisas.Tinhas mesmo partido.

Durante meses procurei-te por todo o lado, um pouco por todo o mundo, junto de todos aqueles teus amigos mais ou menos loucos, que na verdade nunca gostaram muito de mim. Mas nada, também eles não sabiam de ti, sim tinhas estado na Normandia, mas também em Bali e até no Atacama, mas tinhas partido e ninguém sabia para onde, ou pelo menos assim diziam.

Agora, quase um ano depois, perguntas-me o que vim fazer a Beijing. Na verdade nem queres saber a resposta, perguntas por perguntar, vejo o teu ar divertido, de menina que reaparece depois de ter feito uma maldade grave, mas que disfarça, com ar inocente, como se nada tivesse acontecido.

Sei bem que nem vais ler a resposta, ou talvez o faças, daqui a uns meses, quando qualquer coisa te fizer lembrar que um dia existi, e que até passei pela tua agitada e desmiolada vida. Mesmo assim, vou dizer-te o que vim fazer a Beijing.

Sabes aquelas chinesinhas? Normalmente pequeninas e apenas levemente bonitas, mas com um ar doce que olha espantado? Acho que elas vão ouvir atentamente as histórias que eu lhes vou contar de ti, e aos poucos aqueles olhos arredondar-se-ão de espanto silencioso, e eu vou amá-las por isso, e vou amá-las noites inteiras.

Sabes, eu vou ter um prazer imenso no prazer delas, nos gemidos doces, nas explosões violentas, nos olhares então já perdidos, orgasmo a orgasmo, até desfalecerem de volúpia e cansaço. E farei amor toda a noite, todas as noites, só adormecendo ao nascer do Sol quando a brisa dos primeiros dias quentes de Primavera entrar pela janela da varanda, corpos colados de suor e sémen. E depois vamos acordar, esfomeados, apenas quando o Sol se tiver a pôr, e a brisa que entra pela janela for então já fresca.

De seguida perder-me-ei de novo na noite da cidade, até encontrar uma outra mulher-menina, mais bonita ainda, mais doce do que tudo o resto, e repetirei tudo de novo. Sempre, disciplinada e amorosamente, até à tarde em que finalmente não acordarei mais.

Sim é isso que eu vim fazer em Beijing, é aqui que eu vou encontrar essas putinhas, silenciosas, doces, e de olhar profundo, filhas directas e dilectas de Buda, Lao Tse e Confúcio, e também talvez de Mao e Deng Xiao Ping. É aqui que eu me vou perder, é aqui que vou ser feliz, encontrar-me a mim e a todas as verdades universais, tudo ao mesmo tempo, numa solução verdadeiramente eficaz de tudo em um.

Mas eu sei que é mentira, sei que elas não existem, já procurei um pouco por todo o lado, e elas duram apenas algum tempo, sempre demasiado curto, soando demasiado falso, e depois é o vazio, pior do que antes, sempre pior, cada vez pior.

Mas existe o ópio! Acho que é isso! O ópio! Foi ele que me trouxe até aqui! Agora sim, agora tudo faz sentido, foi ele que me chamou! É ele que que eu vou encontrar em Beijing, e então tudo será claro, coerente, evidente e suave. E de degrau em degrau, descerei desde os salões luxuosos, até à decadência das sarjetas, onde me tornarei um vegetal, e finalmente me fundirei com a mãe Terra.
Sim, amor, é isso que eu vim fazer em Beijing.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019


IMPEACHMENT, NÃO É DEMASIADO CEDO?

Qual o objectivo dos democratas ao enviarem já para o Senado o processo de "Impeachment/afastamento" de Donald Trump?
Virem a conseguir que 67 Senadores, dos quais 22 não democratas, venham a apoiar o seu afastamento? Como a decisão do Senado será essencialmente politica e não jurídica, é altamente improvavel que isso possa acontecer a curto prazo.
Ou será que esperam que Trump renuncie antes de o Senado vir a tomar uma decisão sobre o assunto?
Ou será ainda, que o objectivo é apenas desgastar Trump e obrigar os republicanos a mudar de candidato para as presidenciais de 2020?
Todos aqueles objectivos parecem de dificil concretização, podendo até este apressado envio para o Senado vir mesmo a ter consequencias contrarias aos interesses dos democratas.
Sem haver nenhuma indicação clara de quem possa ser o candidato democrata, é quase impossível que um numero significativo de senadores republicanos venha a apoiar o impeachment, mesmo quando a popularidade de Trump é muito mais baixa do que era a de Nixon aquando do seu processo de impeachment.
Pensar que Trump se auto-afastará parece também altamente irrealista.
Resta portanto apenas a hipotese de o objectivo ser o de desgastar o candidato Trump, de preferencia até ao ponto de o partido republicano vir a escolher um outro candidato.
Se o unico objectivo realista é desgastar Trump, não teria sido preferível começar o processo de afastamento para Março/Abril, altura em que começará a ficar mais claro quem poderá ser o candidato democrata? Isso poderia permitir que um maior número de senadores republicanos apoiassem o processo.
Não seria também mais eficaz fazer o desgaste de Trump mais perto das das eleições?
Não compreendo esta urgencia de Pelosi e dos democratas em irem para o Senado.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019


UM AVISO AO POLITICAMENTE CORRECTO

Quando um "menino-bem", meio-louco, embora brilhante, derruba a "Muralha Vermelha" dos trabalhistas e atinge uma das maiores maiorias conservadoras de sempre, é forçosamente tempo de reflexão.
Reflexão para Bruxelas que com o seu autismo facilitou o afastamento dos povos Inglês e Galês da ideia europeia.
Reflexão para as lideranças de esquerda, que no alto da arrogância das suas modas intelectuais, alienou o seu eleitorado de sempre, apesar de, no final, o ter tentado comprar com promessas imensas de benesses impossíveis.
Boris, que já tinha tido o Brexit na mão, arriscou tudo nestas eleições, porque queria o Brexit e a maioria absoluta. O gambler ganhou e "took it all"!
O Brexit tinha-se tornado inevitavel há muito, pelo que poderá existir uma certa sensação de alivio em largos sectores da população, mas na verdade, com os problemas da Escocia e da Irlanda e com o novo período de negociações europeias, tudo leva a crer que a tensão vai continuar.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019




TRABALHISTAS VOTAM CONSERVADOR E VICE-VERSA

Pode parecer estranho que isso possa acontecer em larga escala, mas é o que se prevê que aconteça, e é isso que torna totalmente imprevisivel o resultado eleitoral de amanhã.
Todas estas "trocas de votos", têm origem principalmente na questão do Brexit, em resumo temos as seguintes situações como exemplo:
-Londres, onde muitos conservadores vão votar nos trabalhistas (ou DL), apenas para tentar evitar o Brexit
-Interior de Inglaterra, onde muitos trabalhistas vão votar conservador para parar a "destruição do sentido de comunidade" que eles atribuem à Europa
-País de Gales, onde muitos conservadores vão votar trabalhista para não sair da politica agricola comum europeia, isto para além dos independentistas
-Escocia, semelhante a Gales, mas com a motivação independentista mais vincada
-Em outros casos também se verificarão inversões importantes por razões diversas, como seja no caso dos judeus, em que grande parte do eleitorado tradicionalmente trabalhista votará conservador, acontecendo situações semelhantes ou inversas noutras comunidades.
Apesar deste quadro as sondagens continuam a apostar na vitoria de Boris e até na sua possível maioria absoluta.
De tudo isto apenas uma coisa resulta evidente, a evidente e imperdoavel incompetencia europeia para ter parado o Brexit, com uma politica de informação bem executada o Brexit teria sido facilmente evitado.
Agora resta esperar.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019



BRINCAR COM A CORRUPÇÃO

Se o governo não quer fazer nada contra a corrupção deveria pelo menos ter a honestidade de não vir fazer de conta.
Ao lançar a "denuncia premiada" para cima da mesa, o governo quer apenas estabelecer a confusão para depois poder dizer que nada se fez porque não existiu consenso na sociedade sobre o que fazer.
A delação premiada envolve efectivamente uma serie de perigos e em poucos casos tem de facto alguma vantagem pratica.

Na verdade o que o governo quer é, mais uma vez, fugir da única medida efectiva no combate à corrupção que é a "Inversão do Ónus da Prova" ou do "Enriquecimento Ilícito", dessa medida os políticos fogem que nem diabo da cruz, porque só ela pode parar as negociatas diversas em que se especializaram, eles e os partidos.

Esta medida já foi varias vezes discutida e da última vez foi afastada por ser considerada inconstitucional. Como é que esta medida pode ser inconstitucional em Portugal quando ela é regra em outros países da Europa??
A razão porque a medida foi considerada inconstitucional foi apenas porque, mais uma vez, ela foi proposta apenas  para "encenar" uma vontade de lutar contra a corrupção na política, na verdade ela foi desenhada de forma a ser inconstitucional!!

Aquela medida foi considerada inconstitucional apenas porque se aplicava a toda a população, o que obviamente não é possível, não seria possível exigir a qualquer cidadão que demonstre como obteve os 100 euros que tem na carteira sob risco de ser responsabilizado pelo roubo de quantia equivalente perto de si. 
Mas é claro que se um político tem bens no valor de vários milhões tem de ter a obrigação de demonstrar em pormenor como os obteve e caso não o faça, deverá ser sancionado criminal e politicamente por enriquecimento ilícito, o que continua a não ser possível entre nós, tendo de ser o ministério publico a fazer prova da ilegalidade, o que raramente é possível.

Os custos directos da corrupção, ou seja os valores pagos aos corruptos, embora sendo grandes, são muito reduzidos face aos prejuízos que eles acarretam para o país.
O país tem de suportar custos muito maiores por decisões erradas, por contratos mal feitos e mal controlados, por legislação e regulação propositadamente deficientes, por corruptos escolherem corruptos para altos cargos, para protegerem os seus interesses, etc tudo isso tem custos para o país varias centenas de vezes superiores aos pagamentos directos em si. Estamos portanto a falar de muitos biliões.

Mas ainda pior que os biliões que a corrupção custa, é o perigo de ela se tornar endémica, quando ela salta dos políticos e outros poderosos para toda a sociedade.
Então as sociedades vão-se degradando rapidamente e a corrupção espalha-se por todo o lado, tornando inevitável a ineficiência e o empobrecimento colectivos. 
E empobrecimento significa miséria, e miséria significa morte, morte e máfias diversas. 
Seremos então uma Calabria ou uma grande Nápoles, tudo graças aos nossos políticos, a todos eles, Costa é apenas o que está de serviço.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019



ABANDONO, ABORTO E O REGRESSO DAS RODAS

O caso de Sara e do recém-nascido abandonado no lixo, foi já amplamente discutido, atrevo-me a voltar a ele apenas porque julgo que as questões mais importantes para a nossa sociedade, que este caso pode indiciar, ficaram por abordar.
Na verdade para além dos aspectos mais mediáticos, que envolveram desde o Presidente da Republica a uns tantos sem abrigo, os temas que se discutiram andaram mais ou menos, entre uma possível "maldade criminosa" de Sara e as diversas culpas da sociedade no sucedido.
Mas o que parece estranho é que este caso, talvez para descanso das nossas boas consciências, foi sempre encarado como se tratasse apenas um episódio isolado, sem qualquer significado para alem do drama concreto em si mesmo. Mas será este um caso isolado? Não corresponde ele a um problema mais fundo e vasto?
Não será que este caso só foi diferente de muitos outros porque, simplesmente, Sara não fechou o saco?
Quantas outras Saras fecharam e fecham os sacos?
No Séc XIX as rodas, onde as mães podiam abandonar as suas crianças, foram fechadas, decisão tomada como uma medida progressista de elevada relevância social, no âmbito do "optimismo positivista" do tempo, nunca ficou claro se essa decisão resolveu algum problema ou, apenas passou a esconder o que se passava no tempo do anterior sistema de abandono de crianças nas rodas.
O certo é que as rodas acabaram há mais de 150 anos, mas recentemente regressaram.
Já no Séc XXI as rodas reapareceram em alguns países do norte da Europa, como a Alemanha e a Suíça, rodas essas algo modernizadas mas basicamente as mesmas. Afinal parece que o optimismo positivista não se confirmou e que o problema continua a existir, mesmo na rica Europa Ocidental do nosso tempo.
Aparentemente, tudo leva a crer que se o problema existe naqueles países, potencialmente ele existirá também entre nós e provavelmente, será até bem maior por aqui.
Existindo o problema, a melhor forma de o enfrentar não seria pela multiplicação de rodas pelo país, mas por dar às mães a possibilidade de entregarem para adopção os recém-nascidos, logo nas maternidades publicas em que os tiverem, isso salvaguardaria a saúde não só das crianças, como das mães.
Este tipo de solução só há alguns anos começou a ser legalmente permitida e apenas em alguns países, países esses onde é permitido às mães abdicarem, por sua exclusiva vontade e de forma expedita, de "serem legalmente mães". Em Portugal, recentemente foi adoptada solução legal semelhante mas mais complexa, dado que entre nós as mães podem fazer aquela renuncia mas apenas com o acordo do progenitor, o que torna os processos muito mais complexos, demorados ou até inviáveis.
Embora nos possa chocar a "facilidade" com que estas mães poderiam (e podem já, em alguns países) entregar as suas crianças para adopção, a verdade é que as alternativas a essa solução são sempre ainda muito piores.
Esta possibilidade jurídica tem ainda uma outra enorme vantagem, pode vir a diminuir o numero de abortos voluntários, porque parte das mães que os fazem poderiam optar pelo nascimento para futura adopção, isto levaria à redução do numero de abortos e também à protecção acrescida da saúde das mães envolvidas.
É de realçar que, periodicamente, a imprensa portuguesa refere que fetos/recém-nascidos são encontrados em casas de banho publicas, no lixo, etc, pelo que este problema existe entre nós e terá alguma dimensão.
Neste quadro, não se compreende como aquela opção, que já existe em Portugal (embora com condicionantes), não é divulgada junto das mães em "zona de risco".
É estranho que o Estado não divulgue junto daquelas mulheres "em risco" esta possibilidade, através do Ministério da Saúde e dos organismos de acção social.
Assim como é estranho que o movimento femininista, sempre tão pronto a reagir a qualquer piropo que seja, da parte de qualquer macho, não tenha demonstrado qualquer interesse neste assunto.
A Igreja Católica, que ao longo de séculos teve um papel importantíssimo nesta área, papel de que foi afastada no século XIX, também não mostrou até agora vontade de qualquer envolvimento.

sábado, 7 de dezembro de 2019



O CHEGA DEITOU FORA O SEU PROGRAMA

O Chega tem manifestado ser uma criança muito precoce, aos seis meses já andava sozinha, mas agora, para espanto geral, aos sete meses deitou fora o seu programa, uma coisa que só costuma acontecer lá pela adolescência.
Na verdade, aquela programa era uma coisa muito estranha, um ser antropomorfo, um híbrido de um mini-tratado politico-filosófico da direita ultra-conservadora, com umas ideias soltas para uma revolução ultra-liberal na economia. Salazar deveria estar em estado de choque.
Para se ter uma ideia do programa desaparecido esta semana, o Chega propunha a extinção de todos os ministérios salvo os ligados às funções de soberania do Estado, ou seja, restariam os da Justiça, da Defesa, da Segurança Interna e dos Negócios Estrangeiros. No caso da Educação a revolução seria então total e imediata, privatização das universidades e de todas as escolas e liceus, sendo as escolas entregues aos professores para explorarem o respectivo negocio. Parece que Salazar terá chegado a dizer aos mais íntimos que, sendo assim, votaria no PCP!
Foi-se o programa politico com as suas 45 paginas e há agora uma lista de "70 Medidas para Reerguer Portugal" de onde a aventura da Revolução ultra-liberal desapareceu.
Como eu já vinha referindo aqui desde 27 de Outubro, com aquele programa o Chega teria grandes dificuldades de crescimento, o ter-se livrado dele foi uma boa ideia, foi bom para toda agente salvo para o CDS, que agora vê o seu espaço de manobra ainda mais reduzido.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019



É TEMPO DE RIO PARTIR?

Tudo leva a crer que sim, a liderança de Rio apenas fazia sentido num quadro de viabilização das grandes reformas indispensáveis e que o país nunca fez, existiu a esperança que com Costa isso fosse possível, a realidade tem demonstrado o contrario.
O PSD não pode deixar-se enrolar nas contradições e becos sem saída em que o governo da nova geringonça se vai meter, tem de ficar claro que o partido nada tem a ver com isso, não pode ser ele a pagar a factura do descalabro que se avizinha.
Rio não tem nem idade, nem perfil, para fazer o tipo de oposição que os tempos tornam necessária.
No próximo Congresso é tempo de Rio sair pelo seu próprio pé, para bem do país, do PSD e dele próprio.
Sairá então pela porta grande, ele tinha razão, só que não era o tempo certo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019



COMBATER A DEFLAÇÃO - UMA ABORDAGEM HETERODOXA 


São diversas as origens dos processos deflacionarios, de entre elas o crescimento geral da aversão ao risco, o envelhecimento das populações que também faz aumentar a referida aversão e a disseminação do sentimento de que os preços vão continuar a baixar (ou a não aumentar) o que leva ao adiamento das decisões de compra, isto nas economias mais ricas, deflação essa que, dentro do mesmo espaço monetário, se estende depois às economias mais pobres, aí mais pelas limitações económicas dessas populações do que pela sua aversão ao risco.
No sentido de reverter estes processos deflacionarios os governos europeus nada têm feito, tendo deixado o problema quase que apenas nas mãos do Banco Central Europeu, com as óbvias limitações que ele tem e os enormes riscos das suas medidas mais agressivas.
Isto embora existam medidas que os governos poderiam ter tomado, na área fiscal e outras, no sentido de tentar diminuir aquela aversão ao risco e levar ao aumento da inflação. Medidas aquelas a que varios países e em especial a Alemanha, se têm oposto com medo do regresso do descontrole orçamental pela Europa fora.
Apenas no Japão parece ter optado pela via fiscal para combater a deflação,com resultados ainda não claros.
A hipótese que defendo aqui seria uma solução em que fossem criados suplementos adicionais ao IVA, sempre que a inflação estivesse abaixo do objectivo para o período.
Os fundos obtidos por via daqueles adicionais seriam devolvidos de imediato à economia (ou até em parte antecipadamente), com o propósito de inflacionar essa economia.
Aquele processo seria repetido em ciclos o mais curtos possíveis, trimestralmente se tal fosse exequível.
O objectivo seria assim criar inflação por duas vias, fazendo as pessoas acreditar que ela iria acontecer de acordo com o planeado pelos governos e por outro, pela transferência de recursos de agentes económicos com aversão ao risco média, para agentes com aversão ao risco abaixo da media.
Neste quadro os governos deveriam deixar claro que sempre que inflação estivesse sensivelmente abaixo da meta, gerariam inflação por via fiscal até ela voltar a aproximar-se do objectivo. Em linhas gerais, as regras a divulgar e implantar seriam do tipo do exemplo abaixo:
1- Trimestralmente, sempre que a taxa de inflação anual seja inferior à meta fixada, serão tomadas as seguintes medidas:
a) activada uma taxa adicional e temporária sobre o IVA (e outros impostos que se julguem adequados - sobre a transacção de imóveis, automóveis, etc) destinada a compensar a diferença em relação ao objectivo verificada no trimestre
b) caso nos trimestres seguintes a inflação continue abaixo do respectivo objectivo, o governo repetirá o referido em a), aumentando de novo a taxa adicional
c) aquelas taxas adicionais deverão começar a ser retiradas gradualmente logo que a a inflação comece a subir e a aproximar-se do nível desejado.
2- Todos os recursos captados por via destas taxas adicionais deveriam ser de imediato devolvidos à economia, preferencialmente em investimentos de rápida concretização e de mão de obra intensiva.
Esta solução, se exequível, teria a vantagem de ser neutra em termos orçamentais, o que a faria mais palatável para os países do norte da Europa.
Como é evidente, este tipo de abordagem apenas faria sentido se aplicado à totalidade da zona monetária envolvida.




A REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA EM CURSO

O aparecimento dos novos partidos, conjugado com o desgaste dos tradicionais e o virar à esquerda do PS, vieram criar um cenário totalmente novo, pelo que o quadro partidário irá mudar muito rapidamente.
Neste novo quadro, apenas o PCP parece estar na mesma, o PC é o PC, nunca mudou, tudo leva crer que não vai mudar, pelo que apenas se irá extinguir lentamente ao longo do tempo.
O PS que tem disputado o centro Social-democrata com o PSD, parece agora em deriva clara para a esquerda, deixando desse modo ao PSD espaço para se afirmar com o verdadeiro partido social-democrata, sendo assim, o PS irá, cada vez de forma mais clara, pisar os terrenos do BE, num processo de aproximações e arrufos consecutivos.
O PAN é sobretudo um partido do tipo identitário e tentará continuar o seu caminho nas bordas do PS, esteja ele onde estiver. O Livre parece vir a deixar de ter representação parlamentar, e não terá possibilidade de vir a desempenhar qualquer papel neste novo cenário, podendo até vir a surgir um outro partido identitário em volta de Joacine.
Quanto ao PSD, face à deriva esquerdista do PS, poderá afirmar-se como o único partido social democrata do espectro partidário, tornando-se assim o Centro do sistema. No entanto com a crise de ideias e de liderança, não é claro até que ponto o partido conseguirá potenciar esta oportunidade.
Neste momento existem à direita do PSD três partidos, o mais antigo, o CDS, é o que parece ter pela frente uma vida mais complicada, até porque é o que tem uma posição ideológica mais indefinida, ao que se junta, o peso de uma historia e de muitos dirigentes também eles "historicos", assim como uma estrutura que pode ter mais inconvenientes do que vantagens.
O Chega é o partido à direita que recentemente conseguiu maior sucesso, no entanto a sua opção por ser um partido totalmente conservador nos costumes e totalmente liberal na economia, poderá vir a originar-lhe problemas de crescimento a médio prazo.
Por sua vez o Iniciativa Liberal conseguiu ter também um impacto social significativo, sendo um partido liberal, tanto na economia como nos costumes, terá como objectivo ser uma direita mais "moderna" e dinâmica, como se trata de facto de uma novidade politica entre nós, fica mais difícil prever até onde poderá ir.
Neste quadro, restará ao CDS (ou a quem lhe suceda) o espaço para ser conservador nos costumes e também na economia, conservador no sentido de não pretender fazer na economia "revoluções" liberais, tudo numa linha mais democrata cristã, mais ou menos conservadora dependendo da liderança
Este cenário à direita pode ainda vir a mudar muito, quer porque estas transformações são ainda muito recentes, quer porque não é ainda claro onde e como o PSD se vai situar.

domingo, 1 de dezembro de 2019



TRUMP O IMPEACHMENT E OS BILIONARIOS

Face a todo o aparato jurídico que os processos de impeachment envolvem, o público é levado a pensar que o mais importante e determinante do sucesso desses processos  são as infracções cometidas pelo Presidente, face   à Constituição e ao aparelho jurídico dos EUA.
As coisas não são assim tão simples, se o fossem talvez a maioria dos Presidentes americanos pudesse ter sido "impeachavel", mesmo os maiores, como seria o caso Franklin Delano Roosevelt que dava muito pouca importância aos detalhes Constitucionais e legislativos, na urgencia de fazer as suas grandes reformas.

Na verdade existem, mais três  aspectos determinantes da possibilidade  de concretização de um impeachment, o nível de popularidade do Presidente, o apoio que o Presidente tem da maquina do Estado (Central e Estadual) e, por último, mais importante mas em grande parte função dos dois pontos anteriores, o apoio que o Presidente consegue assegurar por parte das suas bancadas nas duas Câmaras do Congresso.
Não se pode ignorar que um Presidente com níveis de popularidade muito altos pode fazer mais ou menos o que quiser, pois nunca será afastado, por infrações jurídico-constitucionais menores, sobretudo se os seus níveis de aprovação andarem acima dos 60%.
O outro aspecto referido é o apoio que o Presidente tem na maquina do Estado, por maquina do Estado quero aqui significar as Forças Armadas, os Serviços de Segurança, a Diplomacia, os "Directores Gerais", os governos Estaduais, etc Um  Presidente que toda a maquina veja como competente é um Presidente que também não é facilmente "impeachavel", sobretudo por "pecadilhos menores".
Por último, a decisão sobre um impeachment é sempre política, e por isso não cabe aos tribunais, embora eles possam ter alguma influencia em determinadas fases do processo, pelo que a decisão final será sempre das duas Câmaras do Congresso e aí, como é evidente, apenas mantendo-se a  fidelidade total ao Presidente por parte do partido que o apoia, ele poderá resistir ao processo.
Aquela fidelidade, para além das ligações pessoais, depende sobretudo de dois elementos principais, de como os Senadores e Congressistas vêem o seu futuro político em função do seu apoio ou não ao processo e depois, e mais importante ainda, de como os grandes financiadores do partido vêem eles mesmos esse assunto.

Neste quadro como fica Trump?
A sua popularidade nunca sequer atingiu os 50%, nem antes nem depois da sua eleição, de facto a sua popularidade media foi de apenas 40%, tendo variado entre os 35 e os 46%. É de destacar que a popularidade media dos Presidentes dos EUA nos últimos 60 anos foi de 53% . Face a este  baixo nível de popularidade, poder-se-ia mesmo falar de  impopularidade, impopularidade essa que só parece menor pela adoração que os seus devotos dedicam a Trump.
Àquela sua baixa popularidade  acresce o facto de que toda a máquina do Estado está já muito "cansada" com Trump, com a sua impreparação,  a sua arrogância, a sua imprevisibilidade e até com as suas infantilidades de criança mimada.
A somar aqueles dois aspectos, é de há muito evidente que razões de ordem juridica para o impeachment não faltam.
Perante esta situação, o impeachment de Trump parece estar totalmente nas mãos do partido Republicano.
Talvez no entanto as coisas não sejam assim tão simples como parecem.
Até que ponto podem as decisões tomadas no âmbito interno do partido democrata virem a ser determinantes no sucesso do impeachment?

Independentemente de quem interinamente suceda a Trump, a grande preocupação dos republicanos e em especial dos seus financiadores, é a de saber quem poderá ser o vencedor das eleições de 2020, sobretudo depois de Trump afastado e o partido desgastado.
Face aos inúmeros problemas políticos e económicos criados por Trump, julgo que a maioria dos grandes financiadores republicanos não estará muito preocupada com a sua saída, mas estarão, isso sim,  preocupadíssimos com a possível eleição de um Sanders ou de uma Elizabeth Warren.
Ou seja, curiosamente, julgo que a concretização ou não do afastamento de Trump, está de facto nas mãos dos democratas, ou seja, se o vencedor das primarias democratas for um radical dificilmente haverá impeachment, e assim, por estranho que pareça, a radicalização dos democratas seria o melhor seguro de vida para Trump.
A radicalização dos democratas não apenas inviabilizará o impeachment, como poderá até levar  à reeleição de um Presidente impopular, porque o desfecho de um combate entre dois radicais será sempre de resultado imprevisível.

Digo isto. não por pensar que não existam virtualidades nos programas de Sanders e Warren. Como eles gostam de dizer, Roosevelt nas suas reformas foi muito mais longe do que aquilo que eles agora propõem, mas simplesmente, não é agora  claramente o tempo para os EUA embarcarem  em processos desse tipo.
Nestas condições, o Mundo e os EUA precisam que o Partido Democrata deixe para depois a ideia de nomear um radical, isso poderia  custar-nos a continuação de Trump, com todos os efeitos catastróficos que tal poderia  implicar.





terça-feira, 26 de novembro de 2019



O ESTRANHO CASO DE PINTO LUZ

Não conheço Pinto Luz, nem sei muito sobre as vidas partidárias, no entanto parece-me muito estranho que se saiba tão pouco sobre o homem.
Embora ele não seja candidato a nenhum cargo público, mas apenas partidário, pareceria evidente que ele deveria, em paralelo à sua campanha interna no PSD, apresentar-se à população em geral, dizer quem é, e quais são as suas ideias para o país,

O PSD não é um pequeno partido que não suscita a curiosidade de ninguém, os candidatos à liderança do PSD têm as portas da comunicação social abertas. Porque Pinto Luz não aparece?
Dele apenas se sabe que é Vice da Câmara de Cascais, que terá tido um papel importante na realização de uma serie de Conferencias no Concelho e pouco mais, para além de ser amigo de Carlos Carreiras e Miguel Relvas, quase mais nada se sabe.

Parece que fez um lançamento de campanha "trendy", num espaço igualmente moderno, utilizando toda a pirotecnia da tecnologia actual.
Mas, após as intervenções publicas voltadas para o interior do partido, Pinto Luz regressa à sua incubadora, bem protegido de qualquer risco de exposição pública.
Faz sentido que Pinto Luz não fale para a opinião pública? Quando virá ele dizer alguma coisa sobre as ideias que tem para o país? Quando será que se vai sujeitar a entrevistas, de preferência das difíceis?

Pinto Luz existe mesmo??

domingo, 24 de novembro de 2019


CULPA DO ESTADO?   (2)

AS MAQUINAS DA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

O texto anterior era dedicado a expor porque, na minha visão, as criticas que habitualmente se fazem ao capitalismo não têm sentido, penso que quem falha não é o capitalismo mas são sim os Estados, porque em última instância, mesmo as falhas por fraudes de capitalistas são  culpa  dos Estados, e acontecem quando estes são incapazes de regular, fiscalizar e punir os comportamentos criminosos desses mesmos capitalistas.

Este texto é dedicado à "maquina do Estado", ou seja á maquina que na dependência do governo faz as administrações públicas e os países funcionarem. Outra questão diferente é a Organização Política do Estado (divisão de poderes, etc) questão essa que se põe acima da da maquina do estado , outra questão ainda são as políticas que norteiam a acção dos executivos a cada momento,  políticas estas que estarão num nível abaixo e mudam com os governos.
Antes de no próximo texto  entrar no caso concreto de Portugal e dos nossos problemas com o funcionamento dos Órgãos da Soberania, portanto do executivo, legislativo e judicial, vou neste texto tentar fazer uma abordagem teórica de âmbito global e não nacional, mas focado apenas sobre a problemática do funcionamento das "maquinas" dos Estados.

Embora exista sempre uma inter-dependência entre a Organização Política, a Máquina do Estado e as políticas dos governos, no quadro de um regime democrático a alteração de políticas raramente leva á necessidade de alterações profundas nas maquinas dos estados e muito menos ainda na  Organização Política dos países, pelo que os problemas das ditas "máquinas" podem ser analisados de forma independente da organização política e das políticas.
Existe uma serie de factores que torna muito difícil ter boas maquinas de administração pública, pela sua enorme dimensão, pela complexidade e diversidade das matérias envolvidas, pelas limitações derivadas de restrições políticas e orçamentais, pelas constantes mudanças de governo, pelas limitações legais e administrativas especificas, pela constante tentação do poder burocrático, etc
Por todos aqueles aspectos, a dificuldade de gerir uma maquina da administração publica a nível de um país, não é comparável com a gestão de  maquinas administrativas privadas, por muito grandes e complexas que elas sejam.

Esta realidade leva a que os aparelhos de Estado estejam permanentemente a ser remendados, mesmo quando se fala em reformas, na pratica por vezes elas não passam de remendos pomposos, remendos esses que, em lugar de remendar apenas aumentam a entropia dos sistemas, por serem desnecessários ou mal desenhados.
Neste quadro chegamos quase ao ponto de as reformas mais inofensivas serem as cosméticas, que muitos políticos adoram fazer e que embora não servindo para nada e tendo custos mais ou menos  elevados, têm a vantagem de pelo menos também não estragarem nada, neste campo, está o tipo de reforma preferida que é a da simples mudança de nomes, seja de Ministérios, Secretarias de Estado, Institutos públicos, Empresas publicas, etc. tudo serve para as tais reformas cosméticas.
Neste quadro, grande parte das reformas dos Estados ou são cosméticas, ou são feitas na sequencia de legislação internacional, ou são simples acrescentos à confusão institucional e legislativa que a maquina já é.
A urgência democrática de fazer reformas rápidas durante um mandato governamental só agrava mais os já delicados problemas.

A única via para ultrapassar todo este problema seria a existência, em cada país,  de acordos inter-partidários, que envolvessem todos os partidos do arco da governação, para desenhar a "grande reforma do estado", reforma esse que iria sendo implantada pelos sucessivos governos.
A existência de  uma maquina oleada e eficiente beneficiaria qualquer governo que chegasse ao poder e sobretudo, seria benéfica para o país respectivo.
Isso implicaria a necessidade da existência de uma instituição do tipo de um  "Conselho Superior da Reforma do Estado", que elaboraria um Plano com os grandes objectivos para essa reforma e o faseamento das acções para atingir aqueles objectivos, plano esse que deveria ser aprovado no Parlamento e depois executado pelos sucessivos governos, com as alterações que entretanto se julgassem necessárias, também essas depois de aprovadas pelo Parlamento.
Este Conselho  deveria ter um corpo técnico-político de alto nível,  com quadros com profundo conhecimento do que se faz de melhor em termos de Administração Publica a nível mundial e em especial europeu.
Ou seja, seria indispensável a criação de um Conselho deste tipo que trabalhasse em estreita colaboração com o governo, mas que não dependesse dele.

As grandes preocupações que teriam de ser passadas a este Conselho seriam do seguinte tipo:

Estruturas do Estado - Adm Central, Adm Reg e Local, Emp e Inst Publicos , etc
Produção legislativa - Geral, Regulação e Fiscalização, etc
Eficiência -  Eliminar burocracia inútil e duplicações, Equipamentos e soluções, Reestruturações, etc
Competência - Recrutamento, Formação, Remuneração, Incentivos, Motivação, etc
Transparência Total - Indispensável para controle da corrupção a todos os níveis, etc
Etc

O Conselho iria provavelmente ter problemas para encontrar soluções consensuais para  áreas como a  da Saúde, mas mesmo aí julgo que uma aproximação técnica mais reforçada seria positiva para o encontrar dessas soluções.

Não sei se em algum país existe um Órgão deste tipo, mas certamente existirão soluções parecidas, de qualquer forma, julgo que sem este tipo de solução será muito difícil que as maquinas dos Estados não continuem a falhar e com elas os próprios Estados.
Caso, por esta via ou outra,  não se façam as grandes reformas do funcionamento das maquinas dos Estados, eles vão não só continuar a falhar, mas a falhar cada vez mais repetidamente e de forma cada vez mais grave, isto porque a complexidade das sociedades e dos problemas serão cada vez maiores, assim como as mudanças serão mais imprevisíveis e difíceis de gerir e controlar.
Os países que não conseguirem ter boas maquinas para os seus Estados, provavelmente estarão destinados ao caos.







quinta-feira, 21 de novembro de 2019



A BANALIZAÇÃO DA VIOLAÇÃO

De Ronaldo ao Príncipe Andrew, passando por Epstein, assim como por um sem numero de figuras publicas do mundo do cinema, do desporto e de outros sectores, até ao caso do empresário alemão de Cascais, os escândalos sucedem-se.
A violação é um crime demasiado serio para ser banalizado como tem acontecido, esta banalização em lugar de defender as vitimas de verdadeiras violações, não só as torna mais frágeis, como fomenta o negocio das "pseudo-violações" e portanto, da procura por parte de criminosos de "vitimas"  para operações de chantagem.
Violação verdadeira existe quando acontece violência ou coacção física ou moral, quando existe chantagem com base em relações de poder, ou em casos de aproveitamento da fragilidade ou inocência das vitimas.
Não tem sentido vir a reabrir casos de sexo claramente consentido 5, 10 ou 20 anos depois do sucedido, com base em que as coisas não correram "como deveriam" ter decorrido, o que na realidade  acontece na maioria dos casos apenas por razões de ordem financeira.

Mesmo no caso de menores, a obsessão com uma fronteira mítica e sagrada dos 18 anos é um disparate, claro que ela é uma referencia indispensável, mas está longe de ser o factor decisivo. Existem muitas mulheres com muito mais de 18 anos que mais facilmente podem ser vitimas de verdadeira violação do que algumas jovens de 16 ou 17.
Lembro-me de um caso passado em Singapura, há cerca de dez anos, quando foi preso um jovem executivo de um banco suíço, porque foi "apanhado" no hotel com uma prostituta de 17 anos, foi  preso de imediato sem direito a fiança e com risco potencial de uma longa pena de prisão. A jovem prostituta já anteriormente tinha levado à prisão de pelo menos outros 2 ou 3 homens e não era claro se não estava a ser utilizada pela policia como isco. Muito provavelmente o jovem suíço teria uma experiência sexual muito inferior à da jovem prostituta com quem se envolvera, mas isso para a justiça de Singapura de nada valia. Julgo que no entretanto as coisas terão mudado muito por lá, não sei como acabou aquele processo, nem se o tal jovem ainda está preso, mas, seja como for, o preço que terá pago, em termos de imagem, carreira e custos envolvidos, foi certamente totalmente desproporcionado em relação ao acto cometido.

Se no tempo da geração hippie, tivesse existido esta obsessão com a linha magica dos 18 anos, seguramente mais de metade dos lideres do movimento estariam ainda hoje na prisão, tal como aliás, os intelectuais do Maio de 68, também eles especialistas em jovenzinhas virgens.
Esta obsessão em rapidamente classificar tudo como violações criminosas, também acontece quando o "criminoso" é uma mulher, é por isso que de vez em quando lá aparece uma pobre professora com a vida destruída apenas porque teve uma paixoneta por um jovem de 15 ou 16 anos, que nem sequer era seu aluno. neste quadro, apenas algumas professoras  conseguem passar incólumes por esse tipo de experiência, como foi o caso da  Brigitte Macron. Tudo isto apesar de o sonho de todos os adolescentes da minha geração ter sido ter um romance com uma professora, sonho esse quase ninguém terá concretizado e que, provavelmente já não será sonho de ninguém das novas gerações.

Mas esta obsessão, também ela filha do politicamente correcto, não vai ficar por aqui, agora vai começar a reavaliação do passado sexual de todas as figuras históricas, sejam da política, das artes, da ciência ou da cultura. A primeira vitima parece ser Gauguin, pela sua relação com jovens indígenas no Taiti, fala-se em que começará a ser proscrito em alguns museus.Depois virão muitos, muitos outros.

As nossas sociedades têm feito progressos imensos na protecção dos mais fracos, mas se não houver bom senso, se formos pelo caminho deste puritanismo mais ou menos cínico, vamos refazer sistemas do tipo da Inquisição, que não protegerão ninguém e sobretudo, não protegerão as principais e verdadeiras vitimas.







segunda-feira, 18 de novembro de 2019

CULPA DO CAPITALISMO OU DO ESTADO?  (1)
Louçã e Mortagua são os mais conhecidos e dedicados criticos locais do capitalismo, para eles o capitalismo é a origem de todos os males das nossas sociedades.
Aquele tipo de critica é tanto mais facil quanto eles nunca apresentam sequer um unico exemplo real de um modelo de sociedade alternativo, é verdade que noutros tempos já o fizeram, fossem os exemplos da Europa de leste, de Cuba ou da Venezuela, mas depois, quando se tornaram claros os desastres economicos, sociais e ambientais desses tão brilhantes exemplos, discretamente foram-se calando. Desde então ficámos com as criticas mas sem exemplos reais de alternativas.
Qualquer pretensão de tirar conclusões com base em comparações entre utopias e casos reais, além de não levar a lado nenhum é intelectualmente desonesto, mas isso foi o que a esquerda revolucionaria sempre fez e continua a fazer, não uma ou outra vez "por engano", mas de forma sistematica, vezes sem conta, pelo menos desde Estaline a Maduro, passando por Pol -Pot.
Não quero com isto dizer que o capitalismo seja um sistema perfeito para assegurar o crescimento economico e social das nossas sociedades, de facto não o é, nem o pretende ser. Talvez, como a democracia, o capitalismo seja apenas a menos má de entre todas as formas existentes para organizar as economias das nossas sociedades..
Mas mais importante que discutir a bondade do capitalismo é deixarmos este jogo que a esquerda sempre quis impor, do socialismo versus capitalismo.
Na verdade, o socialismo envolve um projecto teorico e messianico para resolução dos problemas globais da sociedade, com os resultados praticos que, até agora, todos conhecemos.
Por sua vez capitalismo é uma outra coisa completamente diferente, muito menos ambiciosa e mais simples, mas com a enorme vantagem de que funciona, o capitalismo é, em ultima analise, apenas um mecanismo de fixação de preços, e por essa via de optimização da alocação de recursos, é isso que ele pretende e pode assegurar, o resto são opções de organização das sociedades.
Não existe no capitalismo nenhum projecto messianico de salvação da humanidade, existe isso sim a garantia de um sistema que assegura o funcionamento economico das sociedades de acordo com os objectivos dessas sociedades.
Os regimes socialistas que existiram ao longo da nossa historia não caíram, ao contrario do que alguma direita gostava de dizer, por "comer criancinhas ao pequeno almoço" (coisa que até não terão feito, mas fizeram outras tão más quanto), aqueles regimes caíram apenas por uma razão simples e bastante mais prosaica, porque nunca conseguiram fixar preços de forma a assegurar que as suas economias funcionassem.
É curioso que tendo sido os economistas socialistas quem mais queimou pestanas e neuronios a estudar, discutir e elaborar teorias sobre a determinação do valor, tivessem sido incapazes de fixar o preço de uma simples batata, que fosse.
Quem primeiro compreendeu bem esse problema e assumiu a responsabilidade pelas mudanças necessarias para o resolver, foi Deng XiaoPing, o pai do "milagroso milagre" economico chinês, com a sua "Economia Socialista de Mercado" (provavelmente influenciado pelo estudo feito por Charles Bettelheim sobre o Capitalismo de Estado Nazi).
Deng conseguiu combinar a " eficiencia" do capitalismo com um Estado que cumpre as suas funções, apesar de o fazer dentro do quadro de uma ditadura, o que permitiu o milagre economico chinês.
O mal da maioria das sociedades ocidentais não é a existencia do capitalismo, é, isso sim, a incapacidade de criar aparelhos de Estado eficientes, num quadro democratico. Ou seja,a incapacidade de criar Estados fortes ecompetentes, que não sejam facilmente capturaveis por interesses privados, ou de corporações diversas.
Goste-se ou não a verdade é que quem tem falhado nas sociedades ocidentais não tem sido o capitalismo mas o Estado. No caso de Portugal isso acontece porque existe uma "Grande Coligaçaõ" que vai da extrema esquerda à extrema direita para que assim seja. Uns não querem um Estado que funcione porque apostam tudo no "quanto pior melhor", outros não o querem porque isso seria o fim das suas inumeras negociatas, pelo que na pratica todos preferem a existencia de um Estado fraco e incompetente..
(continua)
Voltando ao nosso tema, para mim é claro que as culpas que a esquerda gosta de imputar ao capitalismo não têm qualquer sentido, sendo o capitalismo, em ultima instancia, apenas um sistema de determinação de preços, desde que o faça de forma razoavel, não pode ser criticado por não resolver todos os problemas de uma sociedade..
Quando as coisas correm mal nas sociedades chamadas capitalistas isso acontece por causa do aparelho politico instalado, por causa do Estado e portanto dos seus politicos, em ultima instancia é sempre o Estado o responsavel, seja por intervir de menos ou demais, mas talvez sobretudo por intervir mal.
O capitalismo não é um sistema messianico para de forma global determinar a melhor forma de gerir as nossas sociedades, ele é apenas um sistema que através da liberdade dos diversos agentes economicos e sociais permite a optimização da alocação de recursos disponiveis numa determinada sociedade, conseguindo assim aquilo que as sociedades socialistas nunca conseguiram. ou seja, fixar preços para que as economias funcionem.
Para desempenhar o seu papel o capitalismo necessita de competição, de "guerras" entre interesses diversos, interesses por vezes sem escrupulos nem principios, é por isso que o capitalismo só pode funcionar em beneficio da sociedade se o respectivo Estado tiver a capacidade para fixar as regras do jogo, para fiscalizar o seu cumprimento e para punir de forma efectiva todas as infracções, tudo isso feito em devido tempo.
Sem um Estado forte e competente o capitalismo não pode funcionar de forma correcta, e desse modo o seu espirito fica prevertido e em lugar de levar à competição entre os melhores para produzir os melhores resultados, acaba por se juntar aos regimes socialistas na ineficacia, no compadrio e na corrupção.
Dado que não existe, pelo menos para já, alternativa ao capitalismo, por muito que isso custe à dupla Mortagua/Louçã, o que nós temos é de ter um Estado capaz de obrigar esse capitalismo a dar o melhor de si proprio.
O problema é que olhando à nossa volta fica claro que os nossos politicos ou estão de uma forma ou de outra capturados pelo sistema de troca de favores (corrupção em termos crus), ou pensam (como a nossa dupla L/M) que "quanto pior melhor" ou seja, julgam que estão a cumprir a sagrada missão de dar ao capital a corda para ele se enforcar, pelo que estão saudavelmente sempre prontos para criticar e apontar todos os crimes e falhas feitas à sombra do sistema, mas nada fazem para introduzir correcções no sistema (isso seria colaboracionismo!).
(continua)

domingo, 17 de novembro de 2019




O BREXIT AINDA É EVITAVEL?
Como escrevi aqui varias vezes sempre pensei que Boris queria negociar um acordo com a Comissão europeia e que o conseguiria fazer, enganei-me pelo facto de ele não ter conseguido no Parlamento a aprovação do acordo negociado, pelo que a saída até 31 de Outubro não se concretizou.
O facto de não ter cumprido a sua promessa de sair até final de Outubro, por si só não o irá penalizar, ficou demonstrado que fez tudo para o conseguir, obteve um acordo melhor que o de May e depois foi travado pelas guerras parlamentares, nada de grave para Boris.
Varios analistas afirmam que Boris poderia ter conseguido a aprovação parlamentar do acordo, caso não tivesse abandonado essa intenção para se concentrar na "conquista" da rapida marcação de eleições.
Se assim foi a opção parece-me de elevado risco, mesmo para Boris que é um jogador de apostas arriscadas.
Por esta via os Tories arriscam perder não apenas o governo como até o proprio Brexit. Mesmo eu, que sempre julguei o Brexit inevitavel (e até saudavel face ao estado a que o clima geral tinha chegado no Reino Unido) começo agora a duvidar dessa inevitabilidade.
Sem novas sondagens conhecidas é dificil fazer previsões, mas algumas circunstancias de fundo mudaram em relação ao ano de 2016, como por exemplo:
- as "mentiras" sobre os custos europeus já terão um publico muito mais reduzido
- a ideia de uma "arrogancia europeia" estará tambem mais diluida face à paciencia com que negociou dois acordos recusados pelo RU, isso para alem dos três adiamentos concedidos, pelo que terá ficado mais claro que a Europa não quer "reter" o RU à força.
- o eleitorado tambem compreendeu que com o Brexit o proprio RU poderá deixar de existir
- ao que se soma o cansaço com todo este processo, que já deve ser grande, embora com efeitos imprevisiveis
Será que o sonho Imperial de uma nova grande Idade do Ouro conseguirá sobreviver face às realidades do quotidiano?
Não fosse Corbyn (o radical indefinido) o opositor de Boris, o Brexit seria já muito dificil.

domingo, 3 de novembro de 2019


COSTA, O PROVOCADOR
Como as coisas mudam! Aqui há uns anos o título de um outro texto meu sobre Antonio Costa, tinha sido "O MALABARISTA SIMPATICO"
Que aconteceu a Costa para se converter num arrogante provocador? Qual o proposito? Imitar Trump? Mostrar o seu "imenso" poder? Amedrontar a esquerda e a direita? Tentar forçar acordos a preço tão baixo que ninguém lhe pode entregar?
Será que Costa é agora um novo rico arrogante concentrado apenas em mostrar a todos os seu novo poder?
Imaginem Costa num canil, com todos os animais em jaulas bem fechadas, tudo leva a crer que começaria a arrogantemente provocar a raiva em todos os encarcerados e depois, sairia do canil ufano de todo o seu poder, perante a impotencia raivosa dos tais animais.
Não quero falar do que poderia ter acontecido se afinal as tais jaulas não estivessem assim tão bem fechadas, deixo isso à vossa imaginação.
Todos podemos compreender que o PS tem limtações de varia ordem ao tipo de acordos que pode querer fazer, mas será isso justificação para o espectaculo de provocção e arrogancia que foi a apresentação no Parlamento do Programa de Governo?

A AMERICA LATINA JÁ ESTÁ A ARDER?
Poder-se-á dizer que nós europeus, com todos os nossos problemas, não temos moral para falar sobre esse incendio Latino-Americano.
Pode dizer-se que tambem toda a África e o Médio-Oriente ardem, e há muito mais tempo.
Nos tempos que vivemos até as grandes potencias, USA, China e Russia, apresentam sinais de cansaço e fissuras diversas.
Tudo isso é verdade mas a AL apresenta um quadro especialmente preocupante, do Mexico à Argentina, todos os dias a agitação parece agravar-se, num continente que nunca deu provas de ter capacidade de ultrapassar as suas crises de forma facil e construtiva, onde o fim de cada crise tem sido quase sempre o preludio da seguinte.
O Mexico entalado entre os EUA de Trump, os carteis de droga e os emigrantes de passagem.
A America-Central mergulhada na crise endemica de que não se vê como venha a sair (com duas ou três excepções).
A Vezuela na situação dramatica que se conhece, e até a Colombia e o Peru, apesar dos progressos recentes, parecem agora ameaçados de alguma destabilização, tal como o Equador.
Mais a sul a Bolivia está em forte agitação e a situação no Chile é ainda mais grave, o proprio Uruguai que tem sido um pouco um oasis, corre riscos com as proximas eleições. Do Paraguai nada sei, mas pela sua situação geografica e dimensão, dependerá sempre do que se passar à sua volta.
"Last but not least", os dois grandes do sul, o enorme Brasil e a grande Argentina. Tambem eles não podem deixar de ser alvo de enorme preocupação, face aos recentes desenvolvimentos politicos. O Século XX foi um grande tempo para o Brasil em termos de crescimento economico, populacional e de peso politico, para a Argentina foi o inverso, foi um tempo de enorme decadencia. O que se vai passar no Sec XXI?
Por de detrás de tudo isto estarão em grande parte as enormes desigualdades sociais e a inconsciencia social dos mais ricos, mas que mais? porque não consegue a AL sair deste circulo vicioso?

segunda-feira, 28 de outubro de 2019


O CHEGA, O CDS E A DIREITA
Antes de tudo, é importante clarificar o que eu penso sobre se o Chega é ou não de extrema direita. No ponto de vista da "geografia parlamentar" ele é sem duvida a "extrema da direita", isso é bem mais claro do que saber se a "extrema da esquerda" é o BE ou o PCP, ou os dois em simultaneo.
Julgo que aqueles três partidos são os extremos parlamentares, o que não faz deles partidos de extrema direita ou esquerda. Diria que eles "estão" nos extremos actuais, mas eles não "são" os extremos.
Um partido passa a pertencer realmente a uma extrema qualquer, apenas a partir do momento em que contesta o regime democratico, o que nenhum daqueles partidos faz, embora alguns membros de todos eles já o tenham feito no passado.
Aqueles partidos, quando realmente extremistas, depois de se transformarem em partidos anti-democraticos abrem as portas para a defesa dos movimentos de massas, da violencia, etc, tudo coisas de que felizmente por agora estamos longe.
Julgo que a chegada do Chega era inevitavel, quer pelo exemplo europeu, quer pela historia do nosso seculo XX, quer ainda pelos exageros do politicamente correcto.
Acredito que existe entre nós um "mercado potencial" muito significativo para um partido que se afirme de direita de uma forma clara. Isto porque para além das razões globais que levam a isso (o politicamente correcto, os movimentos migratorios, a integração europeia, a globalização etc), existem razões especificamente nossas que o determinam, tais como, o saudosismo (real e imaginario), o fim do "Imperio", a descolonização e suas consequencias, a não existencia de um partido de direita, etc
Dizem que o Chega fez uma campanha rica e com financiamentos significativos, não sei se assim foi, penso apenas que um partido da direita "assumidal" poderia ter ido mais longe, mesmo com pouco dinheiro.
Arrancar com um novo partido à direita em Portugal era muito mais facil do que tentar implantar um qualquer novo partido ao centro, aliás como se tem visto com o que Santana Lopes anda a tentar fazer.
Face à referida dimensão do seu "mercado potencial" penso que o Chega poderia ter ido mais longe do que foi.
As razões pelas quais o Chega não foi mais longe, parecem-me ter sido sobretudo, a falta de experiencia politica, o tom por vezes "trauliteiro" e tambem a opção ideologica de pretender ser um partido fortemente conservador e simultaneamente liberal, o que a prazo lhe poderá vir a sair caro.
Ventura é potencialmente um bom lider, ou seja, é um lider em construção, tem a vantagem de ser uma personagem conhecida dos mídia, tem qualidades de orador, tem "coragem social" e fisica para ser fortemente controverso, mas por outro lado, não transmite a imagem de ter a energia de um líder com um "sentido de missão", tem também abusado do tom de politico "trauliteiro", isso para além de ter cometido erros imperdoaveis, como o de faltar a um debate entre partidos num canal de televisão, para ir debater futebol num outro canal.
A grande questão que agora se põe ao Chega é saber o que vai fazer o CDS.
Será que o CDS vai continuar a definhar na defesa de uma posição ao Centro? Vai o CDS optar entre uma das suas "ideologias" (conservadora, democrata cristã e liberal)? Vai o CDS dividir-se?
Se o CDS se assumir claramente como um partido da direita, irá dificultar muito a vida ao Chega, especialmente se vier a ter uma opção ideologica mais clara que a do Chega..
Em teoria não se pode deixar de ter em consideração até mesmo a possibilidade de uma fusão do Chega com uma ala dissidente do CDS.
Em termos de ciencia politica é neste campo que se encontram as questões mais interessantes do futuro proximo.
Tudo está em aberto, mas desiludam-se aqueles que pensam que a votação à direita foi um fenomeno pontual e sem futuro, o seu eleitorado potencial actual é bem maior do que a votação expressa no Chega.
Esta direita deverá vir a organizar-se nos tempos mais proximos, da forma como o fizer vai depender o modo como se irá apresentar nas eleições presidenciais de 2021, nunca com pretensões de vencer mas apenas com o objectivo de dar um salto em termos do seu peso politico e aí, 2021 poderá ser então uma verdadeira surpresa.
Como sempre, tudo dependerá tambem de como até lá evoluir a situação economica e social.
Sou dos que pensa que a existencia de um partido claramente de direita no nosso quadro politico pode ser muito positivo para a nossa democracia, quer como contraponto ao politicamente correcto, quer como factor de maior exigencia da governação ao Centro, ou ainda, pela possibilidade de governos Centro-Direita, e até pela redução do potencial de uma extrema direita real. 

domingo, 27 de outubro de 2019



COLONIALISMO, RACISMO, ESCRAVIDÃO E OS AVÓS DAS JOACINES~


Uma das razões do enriquecimento da Dinamarca no sec XIX, assim como de muitos outros países do norte da Europa Ocidental, foi o "comercio triangular".
O que era o comercio triangular dinamarquês? Simplesmente a venda de armas fabricadas na Dinamarca às tribos africanas, vendas essas que eram pagas em escravos, escravos que por sua vez eram levados para os Estados Unidos onde eram vendidos, por troca essencialmente de cereais que depois iam para a Dinamarca, tudo obviamente feito em navios dinamarqueses. O negocio perfeito, num triangulo perfeito, sem barcos em vazio.
Tudo aquilo sem colonizações, sem estruturas complicadas, nem outro tipos de problemas, tratavam-se apenas de "negocios intercontinentais", bem concebidos e executados.
Entretanto Portugal continuava no seu "projecto Imperial", misturando muitos aventureiros, com negociantes, escroques diversos, tambem alguns herois e uns tantos dedicados servidores publicos, ao que se juntava ainda, a quimera de uma missão religiosa de envagelização. Tudo num caldo dificil de gerir, em especial com a nossa tradicional desorganização.
Foi assim que, quer os portugueses, quer os outros países da Europa acabaram, de uma forma ou de outra, por se envolver no trafico de escravos.
Mas claro que não foram os dinamarqueses que andaram pelas savanas africanas a perseguir potencias escravos, esse trabalho era feito desde há muito pelos avós das Joacines, que no contexto das permanentes lutas tribais faziam escravos os inimigos que não matavam, esses escravos depois ou eram mantidos junto dos vencedores ou vendidos para as redes esclavagistas continentais, tendo com principal destino o norte de Africa.
A Europa não inventou nem a escravatura, nem o esclavagismo africano, que ali já estavam implantados muito antes dos países europeus lá chegarem.
O Grande Pecado europeu foi ter entrado nesse "negocio" quando toda a moral oficial europeia já não admitia tais praticas e para alem disso, o facto de ter dado uma muito maior dimensão a essas praticas, quando as transformou num negocio Intercontinental, para um mercado imenso e sedento de mão de obra.
Tudo o que se passou nesses tempos foi altamente imoral, mesmo para os padrões da época e claramente criminoso aos olhos de hoje, mas tal só foi possivel pelas praticas milenares dos avós das Joacines,
Nestes processos os unicos inocentes foram os que acabaram sujeitos à escravatura, todos os outros foram culpados, por acção ou omissão.
Se formos agora procurar entre os nossos avós todos os culpados, brancos e negros, a lista não será bonita de se ver, mas para que serviria isso?
Sempre que a logica dominante for a de Rousseau e do seu bom selvagem, versão tão querida às Joacines deste mundo, não iremos a lado nenhum, iremos apenas construir um radicalismo oposto a esse radicalismo do bom selvagem e da maldade do homem branco.
Este tipo de racicinios no limite levariam a que a Alemanha viesse a exigir indeminizações a Italia, pela quantidade imensa de escravos germanicos feitos por Roma!
Ou vamos ser serios, analisamos a nossa historia à luz da realidade do que eram e do que fizeram as nossas sociedades em cada epoca, ou não iremos compreender nada do que se passou, nem evitar erros futuros, apenas fomentaremos a radicalização, até ao ponto de o Chega actual vir a parecer um inofensivo partido do centro-direita.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019


RUI RIO TEM A OBRIGAÇÃO DE FICAR

Eiste uma serie de razões que não permitem a Rio "fugir" neste momento, entre elas:

- pelo menos os proximos dois anos, até às Presidenciais, deverão ser muito complicados

- o Parlamento terá um papel crucial e só Rio pode liderar bem a bancada que escolheu

- o novo governo tem debilidades importantes

- Rio é o unico chefe da direita com credibilidade à esquerda

- s sua saída dividiria ainda mais o PSD

- com ou sem reformas estruturais, Rio tem de estar lá

Embora possa ser um sacrificio pessoal muito grande, Rio não pode recuar agora, até porque se o fizesse, nunca se perdoaria a ele mesmo




terça-feira, 15 de outubro de 2019



CANDIDATOS PRESIDENCIAIS 2021
OU
PORQUE PS E PSD TÊM DE TER JUÍZO

Já existem dois candidatos óbvios para 2021, André Ventura e Sampaio da Nóvoa (Louçã teria menos apoios). Embora Ventura possa parecer estranho para alguns, é evidente que ele não vai perder essa hipótese de se promover e de destabilizar o "regime".
Ao Centro haverá certamente um candidato, caso esse candidato seja Marcelo isso facilitará a luta contra o radicalismo, se assim não for, as coisas poderão tornar-se mais difíceis.
Claro que existirão mais alguns candidatos, que podem acabar por vir a tornar toda a situação ainda mais complexa e imprevisível.

O nível do êxito dos extremistas vai depender essencialmente da qualidade da governação até 2021, que se fará num contexto económico muito menos favorável do que o vivido até aqui, o que vai exigir muito mais do governo que venhamos a ter.
Nesse contexto, quer os erros, quer mesmo as omissões, serão fortemente penalizados, um governo que não consiga transmitir de forma credível a ideia de que fez o melhor possível face às circunstancias, não só colapsará como arrastará consigo todo o Centro político.
Se assim acontecer, será tempo de todos os radicais

Perante esta realidade apenas com um governo "à prova de bala" em termos de comportamento moral, técnico e humano, assim como com uma política de comunicação que aposte tudo na verdade e não na habitual pirotecnia e habilidades diversas, apenas nessas condições, será possível ao País escapar á radicalização total.

Os portugueses já demonstraram varias vezes uma enorme capacidade de aguentar a adversidade, o que eles não vão aguentar mais, será a a arrogância, a mentira, a incompetência e a corrupção.
É tempo de competência, honestidade, verdade e humildade, da parte dos políticos.
Se assim não for, vamos correr o risco de que os portugueses prefiram o caos..