Vou tentar abordar aqui duas questões, a participação popular e os aspectos cenograficos.
A baixa participação popular no funeral de Soares só foi uma surpresa para quem não tivesse pensado no assunto. Nos tempos que correm as pessoas só se motivam para se deslocarem a assistir ao vivo a um acontecimento, no caso de tal proporcionar um espectaculo que o justifique, ou se estiver envolvida nesse acontecimento uma grande carga emocional.
Nada disso acontecia com Soares, ele era já velho e estava doente há bastante tempo, era uma morte natural e esperada, além disso estava afastado do poder há muitos anos, e, para mais, os jovens não viveram os seus tempos aureos, pelo que seria difícil a sua mobilização, e eles são sempre a população mais disponível para ser mobilizada.
Nesta situação era evidente que os velhos e a meia-idade iriam participar das cerimonias confortavelmente em casa, pela televisão e pelas redes sociais, foi o que aconteceu.
Últimamente tem sido dito muito disparate sobre os perigos das redes sociais, mas no que se refere à participação ao vivo em actos públicos, elas são de facto um factor de redução dessa participação, salvo quando a emoção vence a inercia.
Se foi assim com Soares, tudo leva a crer que com os outros ex-presidentes irá ser bem pior. E isso leva-me aos aspectos cenograficos.
As cerimónias foram altamente elogiadas por toda a gente, no entanto, permito-me levantar algumas reticencias.
Ou se faz um funeral digno mas simples ou se faz um funeral com intençao de ser impactante. Se é para ser impactante não faz sentido poupar uns tostões, não digo gastar fortunas, estou a falar de milhares de euros a mais ou a menos.
Um funeral de estado ou é uma coisa simples e digna, ou é um espetaculo, meia coisa é um disparate.
Ninguém vai faltar ao funeral da raínha Isabel porque, para além da ligação emocional a uma raínha em exercício, o espectaculo é garantido e raro.
Na linha de fazer "solenes" funerais de estado, julgo que existem aspectos que deveriam ser melhorados:
- não faz sentido um longo percurso pela cidade, ele deve ser concentrado e muito impactante
- o refeitorio dos Jeronimos não me parece uma boa solução (a sala em si e os acessos), pelo que ou se investe em decoração ou se escolhe outro local
-não compreendo que no passeio dos Jeronimos, entra a rua e a entrada do mosteiro, não houvesse uma guarda de honra
- o pessoal necessita de melhor treinamento, em especial no que respeita ao transporte do caixão
-etc.
- enfim, foi um bom esforço mas tudo tem de ser repensado e melhorado
Por último:
. a Servilusa deveria ter tido o bom gosto de tapar o seu logotipo no carro que levou o corpo até à Praça do Municipio, julgo que não era o momento para fazer publicidade
. tenho dúvidas sobre a decisão do "dinamico Medina" de pôr um cravo na bandeira, se a família e o protocolo o não fizeram, porquê ele?