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quinta-feira, 21 de julho de 2011

FINALMENTE O DEFAULT GREGO!

Chamem-lhe temporário ou "selected", na verdade é pura e simplesmente um default, espera-se pelo menos que agora seja gerido de forma competente, ao contrário do que tem sido feito com todo este dossier.
Como disse (e escrevi aqui e no JN) desde o primeiro dia, o default era inevitável, apenas o lobby dos grandes bancos europeus e as limitações da Comissão Europeia o adiaram artificialmente, agora aqui está ele, só que muito mais caro.
Os problemas vão ser imensos, entre eles o dos CDS's, mas esta é a única via para uma verdadeira e saudável solução da crise Europeia, espera-se que nos detalhes se não destrua o que a decisão tem de positivo.
Curioso é que, mais uma vez, seja a mais criticada dos políticos europeus, Angela Merkel, a avançar com a solução.


RESPOSTA A PEDIDO DE EXPLICAÇÃO FEITO NO FACEBOOK

A razão porque digo finalmente é porque esta é única via para a efectiva solução do problema europeu, até agora tem-se andado apenas a adiar as questões (grega e do modelo global), e isso tem custos enormes porque os mercados sabem que é assim, e vão atacando os pontos fracos e destabilizando todo o edifício. Os mercados só vão parar quando a Europa tiver apresentado uma resposta coerente que seja de facto uma solução e não apenas um adiamento, e a decisão de hoje parece ser a base para uma solução efectiva.

No dia 10 de Maio de 2010, a seguir à reunião do Conselho Europeu que aprovou o pacote grego e o fundo de resgate, escrevi o que julgava que iria acontecer, o que logo a seguir se veio a confirmar e me levou a publicar o texto de 18 de Maio, textos esses que estão abaixo (parcialmente).

A questão é que primeiro as autoridades europeias foram apanhadas desprevenidas pela gravidade da situação grega (o que é no mínimo de estranhar em especial estando então o mundo em crise há dois anos), não conheciam a dimensão do problema e muito menos como o abordar. Quando em Maio o quadro já é mais claro faltou a coragem para a decisão ideal que teria sido o default imediato com gestão das consequencias (capitalização dos bancos gregos e credores, etc.), mas para além de todos os problemas do processo de decisão comunitáro na verdade continuava a ignorar-se exactamente a dimensão daquelas consequencias (do default) e como as gerir, ao que se juntou o lobby dos grandes bancos europeus altamente investidos em divida grega e a quem o default assustava enormemente.

A partir daí ficou claro para os mercados que a Europa era um edifício frágil sem capacidade de resolver os seus problemas, e começaram os ataques aos seus pontos fracos, Irlanda, Portugal, e agora Itália e Espanha, processo este que só vai terminar quando a Europa der provas de que sabe o que está a fazer e não a enrolar-se em adiamentos e pseudo-soluções. E qualquer solução passaria sempre pela reestruturação da dívida grega, o que só se poderia fazer por doações à Grécia (quem? como?) ou pelo default com negociação. O default é um caminho claro que os mercados percebem bem, ganha quem ganha, perde quem perde mas o assunto fica arrumado e o modelo europeu pode tornar-se um sistema coerente que não vale a pena atacar. Só que teria sido muito mais barato ter feito isto um ano atrás.



EURO - O PACOTE BILIONÁRIO (10/5/2010)
Será que vai chegar? A questão não é o montante mas toda mecânica de funcionamento que parece não desmerecer em nada as habituais confusões da burocracia europeia. Falta ainda que o BCE diga o que vai fazer da sua parte, será que daí vem alguma verdadeira novidade? infelizmente tudo leva a crer que não, vamos ver.
Caso não haja uma estratégia clara, coerente e inovadora os mercados não vão comprar a solução, mas provavelmente vão até aproveitar para fazer uma boa recuperação antes de voltarem a cair com maior violência, "cèst la vie".

A EUROPA ENLOUQUECEU? (18/5/2010)
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Na fatídica noite da reunião dos ministros das finanças (pós Conselho Europeu), quando foi apresentado o comunicado final, ficou logo claro que o mercado não ia "comprar" a solução apesar da dimensão do pacote, e não iria comprar porque não era clara e sobretudo porque não encarava a questão da reestruturação da dívida grega, o que foi visto pelo mercado como sendo maior a preocupação de salvaguardar interesses de alguns bancos do que o de verdadeiramente limpar a casa (e aquela reestruturação poderia ter sido feita sem premiar os especuladores cheios de CDSs). Depois daquela noite os mercados tiveram uma ligeira recuperação e logo de seguida afundaram de novo, o que deixou os políticos europeus no estado que temos constatado.
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domingo, 5 de junho de 2011

UMA VITÓRIA, OS FALHANÇOS, UMA OPORTUNIDADE PERDIDA, OS DISCURSOS, E AGORA A PARTE DIFÍCIL

Uma vitória clara do PSD, com alguma virtude do próprio na fase final da campanha, mas sobretudo graças aos erros da governação do PS e às dificuldades da crise. Não se deve no entanto ignorar que numa conjuntura destas o PSD deveria ter conseguido ir mais longe, não fossem os erros cometidos.

Falhanços: O enorme grau de abstenção numa época tão dramática da vida do país, e ainda os resultados das inúmeras sondagens divulgadas.

Oportunidade perdida: A de por fim sairmos claramente de um sistema de dois grandes partidos e "n" pequenos, para um sistema de três partidos grandes (mais n outros). Num país que não optou por um sistema fomentador do bi-partidarismo, viver-se sempre na ilusão da solução ideal de uma maioria absoluta de um só partido é uma aberração. O CDS tinha agora a oportunidade de passar os 15% e assim alterar as regras do jogo, julgo que só o voto útil no PSD o impediu, aquele alteração teria sido um passo importante para se entrar num novo estágio da vida democrática portuguesa, algum dia vai acontecer. A existencia de pelo menos três grandes partidos coligáveis dois a dois, é um passo indispensável ao nosso amadurecimento político.

Uma noite de bons discursos por parte de todos os líderes partidários, com destaque para os de Portas, Passos e, goste-se ou não, o "até ao meu regresso" de Sócrates.

Falta agora a parte difícil, e não será um Presidente e uma maioria que a irão tornar mais fácil, nos tempos mais próximos os desafios postos à governação são imensos, e a margem para erros extremamente reduzida. Em pouco tempo começará a ficar claro se, com mais ou menos dor, a nova maioria vai conseguir fazer face ao desafio ou se nos arrastará para o desastre, porque não existirá caminho do meio.

A escolha de uma equipe de elevada qualidade tecnica, de gente honesta e com energia, será apenas o primeiro e indispensável passo, difícil mesmo será pô-la a trabalhar em conjunto, de forma articulada e auto-motivadora, evitando a dispersão de energias em pequenas guerras, e egos exacerbados.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PASSOS-SÓCRATES

Passos tem vindo a crescer como candidato na última semana, deixando o seu anterior estilo de bom rapaz e mestre-escola, e assumindo uma postura mais segura e agressiva.
No entanto, não me parece ter havido um vencedor no debate de hoje, mas para Passos o simples facto de o não perder é já uma vitória importante.
Será que as coisas vão começar a compor-se para o PSD? Talvez, mas nunca é de menosprezar a capacidade do partido de fazer grandes erros políticos, como foi o caso ainda esta semana na forma como abordou a crítica ao programa das novas oportunidades.

sábado, 14 de maio de 2011

O CDS E O MILAGRE DO SENHOR PASSOS (E DA MARKTEST)

A nova sondagem Público/TVI vem dizer práticamente o contrário da da Marktest, o PS sobe, o PSD desce, a esquerda radical desce, e o CDS não só sobe, como pela primeira vez iguala a soma do PCP com BE. Mais grave para o PSD é que isto acontece depois de o CDS lhe ter feito o favor de dizer que não governaria com Sócrates, e que portanto não haveria uma solução que não pasasse pelo PSD. Será que as sondagens neste país são uma brincadeira?

Goste-se ou não destes resultados, para qualquer analista que saiba alguma coisa de política elas fazem mais sentido do que os anteriores. A verdade é que o PSD até agora nada fez para merecer uma subida, antes pelo contrário, radicalizou o discurso com um líder sem o perfil para o fazer, vai diáriamente acumulando confusões e contradições, e para cúmulo do disparate tentou ainda massacrar o seu parceiro histórico. Estranho seria que esta história acabasse bem. Claro que o PSD ainda tem algum tempo, mas cada dia que passa é mais duvidoso que seja suficiente, tanto mais que não se vê qualquer sinal de mudança, nesta estratégia arrogante e suicida.

Parece ser chegado o momento de o CDS recolher os frutos do seu indiscutível bom trabalho, e dos erros do PSD. O partido tem conseguido transmitir uma imagem de trabalho rigoroso, de bom senso, e simultâneamente de firmeza na defesa das suas convicções fundamentais, o que perante as confusões do PSD sobressai ainda mais.

O CDS humildemente tentou uma coligação pré-eleitoral que o PSD arrogantemente desprezou, depois continuou sem hostilizar o PSD procurando até apoiá-lo na pré campanha, actuação essa que atingiu o ponto alto no debate com Socrates em que deu a entender não existir uma solução sem PSD. Em resposta teve apenas o recrudescimento dos ataques do PSD à sua base eleitoral, num comportamento meio arrogante, meio paternalista, de pretenso novo-rico.

Os dois avisos que aqui referi, que Portas deixou no debate com Socrates, continuam de pé, e cada vez mais fortes, um foi ao PSD para não ser agressivo em relação ao CDS, e o outro, de que existem várias interpretações possíveis para a dita recusa de governar com o PS. O PSD parece que continua surdo a tudo e todos, será que quer concorrer com Sócrates em termos de autismo político? Aí será dificil, Sócrates tem uma prática imbatível.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

SÓCRATES/LOUÇÃ

Sob o ponto de vista formal Louçã foi o vencedor claro. Em termos práticos fica por saber se a mensagem enviada por Sócrates à esquerda, de apelo ao voto útil, passou ou não.

terça-feira, 10 de maio de 2011

PASSOS - ASSIM NÃO!

Era o debate mais fácil que é possível ter-se, com o comunista mais educado e bonzinho do mundo! E no entanto foi um desastre, pelo menos para quem esteve atento.

Sem dúvida que Passos fez bem o seu papel de bom rapaz e mestre escola, mas isso é coisa fácil em debates com este tipo de opositor, é também verdade que até aproveitou bem o inicio do debate para atacar o PS, graças à simpatia de Jerónimo e da entrevistadora, mas como este debate em si não contava para nada o problema são os pormenores.

E o pormenor foi o IVA sobre a electricidade, de nada serve Passos dizer que foi apenas a título de exemplo hipotético. Já não se vai ver livre de ter levantado a possibilidade de aumentar o preço da electricidade em 17%, o que para alem de ser devastador para as famílias, o seria também para muitas empresas, em que a dedutibilidade do IVA e reduções de 3 ou 4% na taxa da segurança social não seriam suficientes para o compensar.

Com erros destes o milagre não vai acontecer, ainda há tempo, mas cada vez menos.
OS RECADOS DE PORTAS?

Ao PSD: Olhem que eu me portei bem, até disse que não queria alianças com Sócrates, vejam lá agora vocês como se comportam!

Ao PS: Se tiver que ser, e o que tem de ser tem muita força, para além do Ministério dos Estrangeiros nós queremos o das Finanças (assim a chave do cofre não será do Sr Sócrates).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

PORTAS/SÓCRATES

Portas esteve claramente melhor, mas Sócrates apesar do ar cansado aguentou-se bem, atendendo à posição difícil em que se encontra.
Na prática ninguém terá mudado de campo por causa do debate, o único ponto marcante e que poderá vir a ter consequencias futuras importantes, foi a afirmação contundente de Portas de que não apoiará um governo de Sócrates, tudo o resto foi mais do mesmo.

domingo, 8 de maio de 2011

A RADICALIZAÇÃO DE PASSOS

Aparentemente, agora só um milagre o pode salvar. Será que ele vai acontecer?
Não é que a estratégia seja errada em termos abstractos, o problema é saber quem no PSD terá a capacidade de a vender, a um eleitorado desconfiado e conservador, como é o nosso, ainda por cima num reduzido espaço de tempo.

Passos teve até agora um comportamento errático, com demasiados altos e baixos, e sobretudo sem nunca ter mostrado a força de um líder para uma grande mudança. Até este momento em nada se vislumbrou que tenha o carisma para liderar uma transformação da envergadura da proposta. Mas mesmo que esse carisma agora de repente se afirmasse, haveria ainda tempo útil para essa grande reconversão? É muito duvidoso, tanto mais que para a generalidade do eleitorado Passos é pouco conhecido, e apenas parece ser "um bom rapaz".

Se ele não o pode fazer sozinho, será que ele tem uma "equipe de ouro" para apresentar, com capacidade para fazer acontecer o milagre? Até agora também não parece existir qualquer coisa de parecido com isso. Isto para além dos problemas que eleições ganhas por "equipes" podem suscitar ao futuro da governação.

Será que no calor da batalha eleitoral Passos vai "explodir" como um grande líder que mobiliza o país? Aí estamos claramente no campo dos milagres, e não serei eu a negar a sua possibilidade, embora.... 8/5/11
O VÍDEO DO ORGULHO NACIONAL

A ideia até foi boa, a produção também, no entanto o conteúdo é de uma pobreza franciscana.
Feito de algumas verdades, muitas meias-verdades, um sem fim de irrelevancias, e pior, afirmações perigosas (a ajuda de Salazar à Finlândia teve apoio de quem? e o que continha? etc.).
Mas grave mesmo, é que o orgulho e a cultura nacionais estejam tão em baixo, que até permita que os portugueses embandeirem em arco com este pequeno vídeo.
Agora resta apenas esperar que os finlandeses não se zanguem, e se limitem a achar graça a esta pequena curiosidade, provinciana e cabotina.

domingo, 1 de maio de 2011

CARTA DE AMOR

(Dado que na política, na economia e até nos mercados, a idiotice parece instalada, prefiro as cartas de amor - exercício de prosa poética)

Já não sou capaz de explicar nada do que se passa com a minha vida, ou pelo menos quase nada. Mas sobre como o mundo funciona, ao contrario, eu sei quase tudo. Na verdade sou um cosmólogo, as grandes abstracções sobre os desígnios do universo são facilmente inteligíveis para mim.

Conheço já todos os seus truques, as múltiplas formas através das quais ele nos leva a fazer as coisas erradas, para apenas depois, com um sorriso vago e subtil, nos deixar cair num estado de quase consciência, sentirmos algum mal-estar, e finalmente a pesada sensação de que o caminho não seria de facto por alí. Para então de novo partirmos, esforçada e corajosamente em sentido oposto, indo de surpresa em surpresa até ao inevitável fim, que apesar de conhecermos desde o inicio, de tão esperado tratamos também como nova surpresa.

Nesssas coisas ele já não me engana, conheço-lhe todos os truques, manhas, artifícios e subtilezas. Sei de todas as guerras dos homens, sei muito antes quando vão começar, sei até, ao mesmo tempo, quando e como vão acabar. Aí já nunca me engano. As coisas até já perderam a graça de tão evidentes. Afinal o Universo é apenas uma máquina como qualquer outra, e portanto entediantemente óbvia, quando se conhece mais intimamente.

Só a ti é que eu não percebo, escapas a todas as lógicas, tudo quanto espero sai ao contrario, acho que o Universo se enganou em qualquer coisa quanto deixou que te fizessem, porque defeito de fabrico não será, os deuses não deixariam, deve ser apenas algum pequeno desajustamento, mas que desencadeia efeitos em cadeia de dimensão perigosa, pelo menos para mim, para mim o grande cosmólogo.

E no entanto, o Universo parece não se preocupar, ele que pretende levar tudo a sério, qualquer pequena guerra com uns milhões de mortos, qualquer exercício de vaidade colectiva apenas um pouco mais notório, ou até um simples acontecimento desportivo desses com um pouco mais de público. Mas contigo, e o teu comportamento absurdo, desconcertante, com isso não, com isso ele em nada se preocupa, mesmo quando lhe chamo a atenção para a imprudência do que tu fazes, para os riscos para a humanidade, e ao fim e ao cabo para ele próprio, nada…, parece nem ouvir.

Apenas estes alheamentos do Universo em relação a ti é que ainda não consegui perceber, e não é por falta de eu lhe chamar a atenção, não. Também não é por falta de tempo dele, ao fim e ao cabo, ele não tem grande coisa para fazer, a máquina funciona sempre, quer ele lhe dê ou não atenção.

É evidente que ele tinha mais que tempo para tratar do teu caso, mas a verdade, tenho que o admitir, é que não quer, acho que é a maneira de se vingar de mim, ele não perdoa que eu lhe conheça as manhas e todos os truques baixos que usa, e então utiliza-te como forma de me exasperar. É isso, só pode ser isso. Começo a não saber o que fazer, ele está a pôr a minha sanidade em risco, acho que é isso que ele quer, aí eu já não poderei mais advinhar-lhe as intenções, denunciar-lhe as habilidades baratas, e todas essas coisas que fazem o espanto dos homens.

Até já lhe propus uma troca, entregar-lhe todo o meu saber cosmológico por conta de uma simples explicação de ti, mas nada, ele também não quer, acho que agora já só quer vingar-se, e vai querer que todos saibam que a minha ambição apenas me perdeu, que eu nunca devia ter tentado compreender como ele funciona, e que, quando eu estava quase lá, bastou ele estender essa pequena armadilha, que és tu, para fazer me perder para sempre.

Talvez tu pudesses ainda me salvar, se antes de ele me destruir por completo me contasses a verdade, se me explicasses os teus mistérios, se parasses com as tuas pequenas mentiras, talvez ainda desse tempo. Mas será que queres? Mas será que podes? Ele vai deixar que o faças? Tantas dúvidas e já resta tão pouco tempo.(Meu amor).

quinta-feira, 21 de abril de 2011

PSD A CAMINHO DOS 20% ?

Se Passos Coelho, Relvas e Diogo Campos, continuarem a falar, certamente não vai ser difícil ao PSD regressar gloriosamente à casa dos 20%.
Como dizia aqui, a 25 de Março, a histórica capacidade do PSD de destruir capital politico não é fácil de bater, agora é esperar para ver.
Mas a nossa salvação são as brilhantes e oportunas intervenções do PR, agora a bem do orgulho nacional, com a sua lição à Europa sobre solidariedade! Aliás numa linha de argumentação coincidente com a do BE, a democracia tem estas vantagens!
Que tal uma coligação PR/BE/PSD?

sábado, 16 de abril de 2011

QUARTETO PRESIDENCIAL?

Nada contra, do mal o menos, mas bom mesmo seria termos um Presidente!
Esperemos que, pelo menos, o quarteto do 25 de Abril não acabe em cacofonia, como já vem sendo habitual no país.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ELOGIO DA IRLANDA

Será que o tigre celta não passa de um gato tinhoso, zarolho e trôpego, apenas tão vagamente celta como os nossos minhotos?

Existem em inglês duas frases, que embora aparentemente contraditórias entre si descrevem melhor que qualquer longa tese os fenómenos das subidas e descidas da imagem pública das pessoas, organizações e países. "Nothing succeeds like success" e "Nothing fails like success". A admiração, os jogos de interesses, e a inveja, aliadas ao superficialismo das análises, acabam por nos levar de forma repetida à construção e destruição de imagens muitas vezes sem quaisquer fundamentos efectivos.

A Irlanda, considerada em 2005 pelo Economist o melhor sítio do mundo para viver, rapidamente foi esquecida e virou patinho feio. Mas a verdade é que aquele país foi um indiscutível caso de sucesso, e não se pode ignorar esse sucesso nem a forma como ele foi conseguido, porque para além da justiça que lhe é devida, existem aí lições importantes que devem ser estudadas. A imensa e absurda bolha imobiliária que a Irlanda produziu, não é razão para não nos debruçarmos sobre as fontes do seu êxito.

A forma mais simples de explicar a diferença entre a situação portuguesa e a Irlandesa talvez seja usando duas historietas metafóricas. Era uma vez uma família em Dublin que começou um pequeno negócio, depois aliou-se a parceiros estrangeiros e teve grande êxito no mercado externo com os jovens quadros que foi recrutando. Aquele sucesso foi de tal maneira grande que completamente inebriados por ele, a tal familia resolveu ir ao Casino acompanhada pelos seus melhores quadros, e numa noite jogaram tudo, o que tinham e o que não tinham, o resultado obviamente foi o que seria de esperar. Esta a história da crise Irlandesa.

Agora falemos da família portuguesa, o seu negócio de construção teve um crescimento significativo, embora a parte de leão tenha ficado para "os grandes que sabem lidar com o peixe graúdo", graças a muito trabalho e também ao primo lá da Câmara, deu para ganhar bom dinheiro, empregar toda a família, crescer e até fazer uns investimentos no imobiliário ("que agora não está lá muito bem mas há-de melhorar"), "agora o problema é que ninguém paga a ninguém e não se vê saída para isto, os políticos cada vez são piores, o euro também não ajuda, acabaram com as obras todas e o resto já se sabe que não existe, Deus nos ajude...".

Com taxas de crescimento anual entre os 5% e 15% nos anos de 1991 a 2007, a Irlanda conseguiu multiplicar por quatro o seu PIB e dobrar o volume de emprego. Foi tudo artificial dirão alguns, foi a bolha imobiliária, mas atenção, o boom da construção só começa no final dos anos 90, e somente a partir daí é responsável por parte destes números. Façamos um exercício, se considerarmos que o excesso de construção equivaleu à totalidade do PIB de 1991 e a metade do emprego total desse mesmo ano, teríamos assim que o PIB em vez de ter ter quadriplicado teria "apenas" triplicado e o emprego em vez de ter duplicado teria "também apenas" aumentado em 50%. Quem na Europa fez isso? Quantos no mundo?

A "história universal das bolhas" tem diversos casos totalmente absurdos, no fundo ela é apenas uma parte da história da ganancia humana. Naquela história, a bolha das tulipas, na Holanda do sec. XVII, continua a ser a líder incontestada do absurdo, mas a bolha imobiliária irlandesa vai certamente ficar com um lugar destacado nessa mesma história, dado que chegou a construir 14 vezes mais casas per capita do que aquelas que eram construídas à época em Inglaterra! Mas tal como a bolha das tulipas não destruiu a Holanda, também a do imobiliário não vai destruir a Irlanda; no final, os fundamentais são sempre determinantes.

A Irlanda deu as maiores alegrias que um país podia ter dado às nossas esquerdas radicais, o caso tido por elas como o exemplo "neo-liberal" por excelência afinal era uma fraude, como aliás são todos e eles sempre tinham avisado. Apesar de durante o "milagre" a taxa de desemprego ter descido de 18% para pouco mais de 4%, e de o país ter absorvido um crescimento da população de 10% com a chegada dos novos imigrantes, nada disso comoveu as nossas iluminadas esquerdas. É pobreza de espírito? É. Mas na verdade a da direita também não é melhor, porque envergonhadamente apenas se resumiu a olhar para o lado, tentando que o "fiasco neo-liberal" irlandês não a afectasse.

Na verdade o caso irlandês está até longe de ser uma verdadeira experiência neo-liberal, e contra as primeiras aparências talvez seja até mesmo o contrario disso. É um caso cheio de matizes diversas que devíamos estudar profundamente para dele tirar as lições adaptáveis à nossa realidade, o comodismo da posição que reduz todo o sucesso da Irlanda à bolha, ao domínio do inglês, e à agressividade da sua política fiscal, é apenas mais um sinal da nossa preguiça intelectual.

terça-feira, 29 de março de 2011

GUEVARA E O EXPRESSO - III

Agora que estou de partida tenho de acabar este meu folhetim Expresso-Guevara.

Assim dizia a Veja de 3 de Outubro de 2007:
"Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa".
"Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto" Essa frase nunca mais foi lembrada porque não combina com a aura mitológica criada à volta da figura. No dia seguinte ele foi executado por ordem do exercito boliviano, duma forma bastante menos sumária do que aquela a que a sua pratica habituara. A CIA parecia estar dividida sobre o assunto pois havia quem defendesse a possibilidade da sua utilização contra os antigos companheiros.

"El chancho" (o porco), como era tratado pelos seus companheiros porque não gostava de tomar banho e cheirava a "rim fervido", foi tema de várias biografias e numerosos textos, endeusado nuns, feito demónio noutros. A referida edição da Veja de 2007, quando dos 40 anos da sua morte, apresenta um bom resumo de vários aspectos daquela trajectória e, apesar de a revista ter sido sempre contraria ao Che, tem uma tradição de objectividade que é garantia de autenticidade das suas fontes.

Não conheço a biografia que o Expresso vai publicar, no mínimo espera-seque seja uma biografia isenta e inteligente sobre o "mito Guevara", mas mesmo que assim seja o mal já estará feito.

A maior parte das pessoas não irá ler biografia nenhuma, mas mais uma vez terá ficado com a ideia simples de Guevara entre os grandes vultos da humanidade, até sancionada por um jornal independente, do centro político.

Nada tenho contra que se editem biografias de Guevara, mas sim contra que isso se faça no contexto de oito biografias incontornáveis do sec XX, em que a maior parte delas são de facto biografias de grandes e indiscutíveis personalidades. Isso é intelectualmente baixo e um des-serviço público, feito por um jornal que é da nossa melhor imprensa.
AFINAL ESTÁ TUDO BEM

O primeiro ministro demitiu-se faz amanhã uma semana e já na quinta-feira se vai reunir o Conselho de Estado! Como se vê um processo acelerado, como convém à urgência do assunto.

O Presidente ainda não falou ao país, parece que não quer incomodar. Sócrates e amigos continuam ao ataque como sempre. Passos depois de uma boa entrevista televisiva, embrulha-se em dispensáveis considerações avulsas.

Ouve-se já o tinir das espadas, ou talvez melhor, das marretas reforçadas, e o ar começa a ficar carregado daquela excitação que antecede as grandes batalhas, acabem elas como acabar.

O risco de que tudo acabe na mesma é enorme, só que se assim for será muito pior do que a situação actual, porque não haverá então uma única figura com um mínimo de credibilidade.
Talvez o Verão e a praia nos salvem.

sábado, 26 de março de 2011

GUEVARA E O EXPRESSO - II

Voltando agora à estranha decisão do Expresso de incluir a biografia de Guevara entre oito biografias incontornáveis do sec. XX.

A primeira parte do mistério à volta do Che é tentar compreender como é que um jovem médico, asmático e tímido, se transformou num guerrilheiro, fanático, autoritário, cruel e sempre pronto para execuções sumárias. A segunda parte do mistério é compreender como a nossa sociedade de consumo transformou este ser abjecto num ícone da liberdade. É esta segunda parte que julgo importante neste contexto.

A partir da celebre fotografia de Korda de 1960, vieram as bandeiras da esquerda, os posters dos quartos das teen-agers, e depois um sem fim de utilizações, desde a barriga de Mike Tyson, ao braço de Maradona, passando pelo biquíni de Gisele Bundchen, ou até a homenagens como a que o Expresso agora lhe presta. Tudo a reforçar uma "ideia" cuja história real ninguém quer conhecer, ou quando muito conhecer apenas na sua versão cor de rosa.

A verdade é que o Che que o mundo julga que conhece nunca existiu, o que existiu foi a necessidade de um Che, de um revolucionário idealista disposto a morrer pelos pobres e pela liberdade. Era necessária uma versão actualizada de Robin Hood, como Lenine, Estaline e outros, não eram "vendáveis" para o efeito, a solução aparece com a fotografia de Korda, o revolucionário bonito e de olhar romântico. Estava feito! A sociedade de consumo comprou, como compra tudo o que seja de marketing fácil.

Dir-me-ão que o caso de Guevara não é diferente de muitos outros falsos heróis que recheiam a história da humanidade, talvez, mas a maior parte desses vultos da história com percursos por vezes também macabros, foram normalmente peças essenciais de grandes, embora dolorosas, transformações. Não foi assim com Guevara, a revolução cubana teria acontecido com ou sem ele, tudo leva a crer que teria até decorrido melhor sem o Che, porque ele, além de mau comandante militar, foi um administrador totalmente incompetente, que Fidel teve mesmo de acabar por afastar apesar de sempre o ter protegido.

Ainda há dias a imprensa portuguesa entrou em transe porque Jerónimo de Sousa defendeu Estaline como herói da II Guerra, e no entanto é verdade, dificilmente a Inglaterra e os EUA teriam parado Hitler sem Estaline, sem ele e sem o alto preço que os povos da então União Soviética pagaram. Fora de duvida que lhe devemos essa.

Os crimes de Estaline foram imensamente maiores em termos quantitativos do que os de Guevara, milhares de vezes maiores, mas tiveram a atenuante de terem sido praticados institucionalmente no âmbito de um estado totalitário paranóico, que tentava uma revolução difícil num quadro adverso e com inimigos internos tão paranoicos como ele. Não foi assim com Guevara, o único paranóico era ele próprio.

O que me arrepia em toda esta história é que estou convicto que se em 2002, Guevara fosse vivo e estivesse presente quando Ingrid Betancourt foi presa pelas FARC, perante as dúvidas sobre o que fazer com a prisioneira, Guevara chegar-se-ia à frente, como fez tantas outras vezes, puxaria do revolver e executaria Betancourt. Tudo a bem do reforço da sua imagem de guerrilheiro sem sentimentos nem contemplações, apenas obcecado pelas imperiosas necessidades da Revolução.

Talvez Guevara até escrevesse de novo no seu diário, como após uma outra execução: "Acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do cranio, com o orificio de saída no lobo temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Seus bens agora me pertencem"
(cont.)
O BRASIL ANEXA PORTUGAL?

Esta é a proposta da coluna Lex do FT de hoje.

Dada a dificuldade da Europa em lidar com a crise portuguesa, sugere que o Brasil, que tem uma alta taxa de crescimento, acesso a crédito barato, uma população vinte vezes a portuguesa, e um PIB dez vezes o nosso, anexe Portugal e trate do problema.

E termina "that sounds like a better home than the tired old EU".

O habitual humor britânico, mas quem quiser levar a sério, é aproveitar a visita de Dilma já esta semana, para preparar a nossa integração como vigésimo sétimo Estado da República Federativa.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O PSD E AS SONDAGENS

Se fosse hoje o PSD teria a maioria absoluta, sem sequer precisar do CDS, seria de facto assim? Nunca ninguém o saberá.

E dentro de dois meses, como serão as coisas? O PSD tem demonstrado uma capacidade sem fim de destruir património nos momentos mais cruciais, será que vai ser assim mais uma vez? Por sua vez o PS de Sócrates é bom em recuperações impossíveis, o que torna tudo ainda mais difícil.

Tudo pode acontecer em Junho, se se for por aí.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A VISITA DE DILMA

Esta é um mea-culpa, afinal Cavaco (e Amado) sempre conseguiu que Dilma viesse rapidamente a Portugal. No final deste mês, o primeiro país europeu - nada mau.
E AGORA PRESIDENTE?

Depois de óbviamente aceitar a demissão de Sócrates, simplesmente marcar eleições para Junho ou chamar os três partidos do poder e dar-lhes quatro dias para encontrar uma solução governativa consensual para vigorar até final do ano?
Agora vamos ver se temos Presidente.

terça-feira, 22 de março de 2011

GUEVARA E O EXPRESSO - I

Como é que um jornal como o Expresso faz uma edição de oito biografias "incontornáveis" do sec XX e entre elas põe a de Che Guevara? É só ignorancia, ou jogada político-comercial? Apenas porque o Che vende tanto poster como a Coca-Cola, ou o Ronaldo?
Mas um jornal como o Expresso pode entrar nesse jogo? Mesmo o Waltinho Moreira Salles, bilionário e cineasta, quando fez "Diários de Motocicleta", para acalmar os seus complexos de culpa de burguês bem nascido, teve o cuidado de se debruçar apenas sobre a época pré-revolucionária de Guevara.

É discutível se John Kennedy pode ombrear com Freud, Einstein, Mandela ou Gandhi, mas Guevara não é nem discutível. Caso fosse uma galeria de criminosos do século aí seria diferente, embora de dimensão moderada em relação a muitos outros, teria a vantagem de ser o criminoso charmeur, tanto mais que assassinado ainda novo, e aquele que conseguiu quase sempre sair como o bom mocinho da história, graças aos intelectuais de salão da cultura francesa de esquerda, e a interesses diversos do KGB á CIA, passando pelos comerciais.

Kennedy nã terá sido um vulto da envergadura dos outros, mas teve o grande merito de ter sido o presidente que iniciou a resolução do problema da segregação racial nos Estados Unidos. O presidente upper-class, tambem charmeur, com uma família bonita, que quase encarnou uma "casa real" americana. O presidente que Balsemão gostaria de ter sido, mesmo que apenas da pequena, pobre e decadente Lusitânia (de preferencia com a Marylin incluída no pacote, e sem o respectivo assassinato), sonho que aliás o aborto constitucional que é o estatuto da reeleição inviabilizou totalmente. Vá lá... essa do Kennedy ainda se pode compreender, tanto mais que vende bem, mas o Che!!!

(cont.)
A EUROPA EM TRANSE

Todos zangados com Merkel porque a Alemanha na votação da ONU se absteve em relação à operação Líbia (tal como o Brasil, também candidato a um assento permanente no Conselho de Segurança), agora é Cameron que não sabe o que fazer, ele que achava que ia ter as suas Malvinas apenas tenta controlar um Sarkozy com freio nos dentes, que por sua vez é acossado por uma senhora Le Pen que quase o iguala nas votações, Berlusconi já assustado, ameaça proibir a utilização das bases italianas se os outros meninos não se entenderem na brincadeira, e por aí vai...

Como sempre os americanos vão ter de assumir o controle para que tudo não acabe numa desgraça, mas a culpa é deles que nos idos de 50, no Suez, fizeram o ultimato a franceses e ingleses, que não tiveram outro remédio que não fosse retirar rápida e humilhantemente, trauma do qual nunca recuperaram.

Enquanto isto a Irlanda ameaça com o default, o partido dos "Verdadeiros Finlandeses" (anti-europeu) aproxima-se do poder, e Sócrates vai a Bruxelas explicar que o compromisso afinal era a apenas a manifestação pessoal de uma intenção.

Enquanto isto a Turquia parece ser o único país da zona que sabe qual o seu papel, e aguarda o tempo que inexoravelmente virá, em que voltará a ser grande potencia no charco mais promiscuo do mundo, que é o Mediterrâneo.
QUESTÕES SOCIALISTAS

Porque será que, apesar de Amado já varias vezes se ter posto em bicos dos pés, ninguém lhe liga nenhuma? Isto apesar de ser o único membro do governo com perfil de homem de Estado. Será por causa do tamanho? mas Vitorino é mais pequeno e tem numerosa claque.

Porque é que Sócrates desencadeou a presente crise com tanta antecedência em relação ao congresso do partido? Não corre o risco de perder o controle da máquina? Ou será que o buraco descoberto pelos homens do BCE era tão grande que o não deixaram sair do Conselho sem um compromisso?

segunda-feira, 21 de março de 2011

OBAMA, DILMA E A NOVA DIPLOMACIA BRASILEIRA

Obama começou a sua visita à América Latina pelo Brasil, dando ao país um estatuto especial de "potencia amiga", só depois, em Santiago, ele se vai dirigir então ao mundo castelhano das Américas.

Apesar de não ter obtido resultados práticos, a visita consagrou Dilma como uma das grandes do mundo, e veio assim validar a correcção de rota que ela fez em relação aos disparates diplomáticos da equipe de Lula.

A primeira visita de Dilma ao exterior será à China, importante sinal das mudanças no mundo em que vivemos. Longe vão os tempos em que a primeira visita internacional de um Presidente brasileiro era a Portugal, agora resta apenas tentar que quando ela vier à península Ibérica comece por Lisboa, sinais do tempo...

domingo, 20 de março de 2011

A LÍBIA E O CINISMO OCIDENTAL

Kadhafi é um louco perigoso, já fez muito mal ao mundo enquanto teve espaço para navegar entre os grandes poderes mundiais, e depois, continuou com a sua arrogância cabotina e ridícula, comprando as venais amizades dos seus antigos inimigos.

Agora Kadhafi vai cair, mas não por ser um assassino ou por neste momento comportar riscos especialmente importantes, ele vai acabar porque está fraco, e o Ocidente que sempre o odiou (com toda a razâo) pode enfim deixar cair a mascara, e atacar o seu ex-parceiro de negócios diversos.

Ao contrario da União Soviética e agora da China, que sempre apoiaram de forma sistemática e incondicional todos os amigos que suportassem os seus interesses, os países ocidentais, enredados no seu discurso das liberdades acabam por ter grandes hesitações sempre que têm de fazer o contrario do que apregoam, o que acontece inúmeras vezes, quando os seus interesses não coincidem com o referido discurso. Por tudo isso o Ocidente apesar de ser um parceiro poderoso e rico, é pouco confiável e imprevisivel.(1)

Kadhafi não vai cair por ser um perigo, os alegados massacres parecem ter existido tanto quanto o arsenal de destruição em massa de Saddam, e também não seria isso a preocupar o Ocidente, como outros massacres agora em curso o não preocupam. Kadhafi vai morrer porque perdeu o poder, porque Cameron é um jovem político ambicioso, porque Sarkozy é uma velha raposa perseguida, e porque relutantemente Obama acabou por alinhar em mais esta aventura.

A primeira parte vai ser fácil, um passeio mais ou menos acidentado até tomar conta de Tripoli. O difícil vai ser depois, gerir umas quantas tribos mais ou menos incontroláveis, e a partir daí construir um estado moderno, e com base nele, na Tunisia e outros países, criar um novo Norte de África que seja uma barreira efectiva à pressão demográfica sobre a Europa. Essa será a parte difícil, que eles não vão fazer, e provavelmente vão até agravar a situação já existente.

Quando tanto se fala de dívidas inter-geracionais, essa é a verdadeira dívida por saldar que vamos deixar às novas gerações. Quando chegar a hora da verdade serão elas que terão de explicar aos novos poderes mundiais o papel do "homem branco" e das suas contradições, mas pior, tal como Kadhafi agora, elas então já não terão qualquer poder, e como sempre a versão final será a dos vencedores.



(1)- A este propósito não resisto a recordar Ceausescu, terá sido por acaso que o único líder do antigo bloco de leste que foi fuzilado tenha sido o único amigo do Ocidente?

sábado, 19 de março de 2011

PASSOS COELHO E O DISCURSO DO REI

Num momento em que o país precisaria de um líder da oposição que o galvanizasse, Passos Coelho propõe-se simplesmente a adormecê-lo.

Ao contrario do rei, ele não será gago mas arranjou uma maneira de falar que não sei se não é pior. Ao menos a gaguez transmite ansiedade ao ouvinte que fica atentamente paralisado a tentar compreender, enquanto que com o sistema de Passos o ouvinte apenas adormece porque fica impossível relacionar qualquer palavra com a anterior, que terá sido pronunciada alguns minutos antes, e obviamente já esquecida até pelo mais interessado dos ouvintes.

Não foi certamente assim que Passos conquistou e liderou a JSD. Esta aparente tentativa de transmitir segurança e dignidade, por via de um discurso monótono e impossível de ouvir, não leva a lado nenhum. Esta é uma receita que pode ser utilizada muito pontualmente em ambientes e ocasiões excepcionais, mas nunca de forma sistemática, desde as pequenas entrevistas às dissertações nas universidades.

sexta-feira, 18 de março de 2011

PSD ENCURRALADO PELO PS

Com ou sem ajuda do PR não vai ser fácil ao PSD sair desta, é muito erro! São anos seguidos de disparates sucessivos!

Neste blog a 23 de Maio do ano passado escrevi "Derrubar o governo", era o momento certo para ter levado o PS a substituir Sócrates (que aliás estava morto por o fazer). Foi a oportunidade perdida para o PSD controlar o calendário político.

Pobre país, perdido entre um governo que congela as pensões abaixo de 250 euros, enquanto simultaneamente baixa o IVA sobre o golf, e uma oposição que se comporta como uma barata tonta acossada.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A VITIMIZAÇÃO DA GERAÇÃO DEOLINDA

Antes de expor os meus argumentos contra uma visão que se instalou e que parece querer vitimizar esta geração, quero esclarecer que não pertenço ao grupo dos que tem como certo que houve uma degradação geral do ensino, arrastada pela massificação, e que os licenciados de hoje são praticamente analfabetos funcionais. Antes pelo contrário, acredito na melhoria conseguida na qualidade média de todo este sector aos diversos níveis, e acredito sinceramente que os licenciados de hoje têm mais bagagem que os do passado, sobretudo os da minha geração saídos da caótica Universidade dos anos 60.

Já agora um aparte, o que eu não acredito é que ao actual governo possam ser atribuídos méritos especiais nestes resultados, estas coisas nunca são resultados de políticas de curto prazo. Na verdade a nossa revolução na Educação começa com Marcelo Caetano e Veiga Simão, depois foi fortemente reforçada com o 25 de Abril, e a partir daí, com erros e acertos pelo meio, todos os governos têm continuado de forma razoável este projecto.

Voltando à geração Deolinda, que acredito uma das melhores formadas que o país já teve, o que eu quero afirmar é que não posso aceitar a vitimização desta geração, como sendo uma geração sacrificada pelos erros das precedentes. Que esta geração se achasse vitimizada seria normal, faz parte do processo usual entre gerações, outras houve que foram muito mais longe com o seu ódio a tudo que os pais tinham construído, como foi o caso da geração de 60 que prometeu mudar o mundo e livrá-lo de todos os males que os seus pais lhe tinham trazido, tudo isso com as consequencias que conhecemos.

Todas as gerações se consideraram vítimas das anteriores, isso nada tem de novo, a novidade é que agora é a geração dos pais que se junta à vitimização da dos filhos, num processo que não só é ridículo, como não tem bases sérias e sobretudo é perigoso, porque ao fomentar a vitimização pode estar agravar a doença, em vez de estimular as melhores formas para sair dela.

A vitimização não tem sentido nem no tempo nem no espaço, quero dizer fazendo comparações históricas, ou com outros países. Claro que se podem sempre descobrir situações melhores, mas elas estão longe de ser a regra.

Começando a "análise histórica" pelas situações mais dramáticas, o que diriam as gerações da Europa Central a quem os pais deixaram por diversas vezes apenas países destruídos, fome e miséria? Pense-se apenas no que as diversas gerações do primeiros 50 anos do sec XX na Alemanha e na Rússia receberam como heranças, e pior ainda, quais foram as heranças das novas gerações das minorias perseguidas naqueles países?

Para não ir muito longe, e agora nas comparações espaciais no tempo presente, porque não olhar para os emigrantes de leste, muitos deles com formação superior, alguns com doutoramentos e PHD`s, que hoje em dia em diversos países da Europa Ocidental executam tarefas humildes para sobreviver?

Mas esqueçamos as comparações internacionais, vamos ao nosso país, esta geração é vítima de quê? de ter podido estudar? a maioria dos seus pais e avós não pôde, na idade em que muitos hoje saem das universidades já grande parte dos seus avós tinham mais de dez anos de trabalho, por vezes muito duro. Não, não é disso que se queixam, é da incerteza, mas onde estão essas gerações que tiveram vidas descansadas cheias de certezas? A geração que hoje tem 55 a 70 anos, a única certeza que tinha era de no mínimo 3 anos de tropa, a maior parte dos quais passados na guerra, e apenas depois disso talvez um emprego ou a emigração. O quadro das gerações anteriores não foi melhor com as guerras mundiais, a pobreza nacional e a emigração.

Quais são então essas gerações douradas tão invejadas, as dos 30/55 anos de idade? As geração que chegam ao mercado de trabalho depois do 25 de Abril, já sem guerra e com a adesão à CE? Têm sido de facto gerações com sorte, sem guerra, com emprego, com um mercado que abriu enormes oportunidades, as primeiras gerações que beneficiaram a sério da sociedade de consumo, a geração que não só passou a ter carro cedo, como a ser a geração que em toda a Europa teve carro novo mais cedo!, a geração para quem as viagens de férias ao estrangeiro são normais e indispensáveis, e por aí fora..., mas sobretudo as gerações em que as diferenças sociais se esbateram e as pessoas ficaram mais próximas. Se fosse para dramatizar diria que as primeiras gerações em que entre nós quase ninguém teve fome, nem frio, nem dentes podres, ou a necessidade imperiosa de emigrar para poder sobreviver, nem medo de que uma qualquer guerra lhe entrasse de repente pela porta dentro.

São essas as gerações invejadas? Por mim não tenho inveja, gosto que seja assim. Qual o futuro destas gerações? Como irão acabar? Irá tudo correr bem até ao fim? Não parece, mas ninguém sabe, a única coisa que se sabe é que todas fizeram erros e vão continuar a fazer, é preciso reduzir esses erros ao mínimo para que não existam transferências desmesuradas de encargos inter-geracionais, não vejo que tenhamos em Portugal situações especialmente anómalas que justifiquem esta autocrítica em relação à geração que agora chega ao mercado de trabalho.

Julgo que a explicação é outra, a maior parte destes novos licenciados é filha de pais não licenciados, que construíram dentro de si a imagem de que tudo era sempre fácil para drs. e engs. e que por isso os seus filhos chegando lá teriam a vida resolvida. De facto assim foi por muito tempo em Portugal, como anteriormente tinha sido com o 5º ano do liceu, e mais atrás com o simples saber ler e escrever, mas os tempos mudam e essas coisas acabam. Hoje os cursos são cada vez mais apenas um dos elementos a ter em conta numa selecção para um cargo, elemento esse que já é até menos importante do que a experiência profissional efectiva, e por isso esta nova geração ficará numa posição crescentemente difícil se não entrar no mercado de trabalho rapidamente mesmo que em funções "inferiores" à sua formação.

Falemos claro, com excepção dos cursos muito técnicos, o que a generalidade das universidades ensina é sobretudo a pensar e a saber procurar o que não se sabe, quase ninguém sai da universidade pronto para gerar valor para as organizações, todo o recrutamento representa um investimento (tempo, dinheiro, erros, confusões, etc), investimento esse que por vezes é perdido porque as pessoas ou não são aproveitáveis na função ou se vão embora. Daqui resulta que as organizações se defendem, recrutando os com maior probabilidade de não serem uma desilusão em função da sua experiência profissional e das suas perspectivas, esta realidade inultrapassável agrava-se em tempos de crise.

Grande parte destes jovens licenciados à procura da primeira oportunidade serão na sua grande maioria aproveitáveis nas suas áreas, quero crer, mas todos sabemos que de há muito tempo existem inúmeros licenciados que nunca conseguiram trabalhar como tal, por diversas razões, desde licenciaturas pouco procuradas, desajustamento das oportunidades, ou até meras questões do foro comportamental. A licenciatura garante que o seu titular tem, além de alguns conhecimentos técnicos, uma capacidade intelectual e de trabalho no mínimo de valor razoável, mas nada mais garante: qual a sua capacidade de relacionamento (em trabalho de cooperação, em competição, nas relações de poder)? qual o seu nível de objectividade a avaliar situações? qual seu nível de criatividade? como se comporta sobre stress? etc.

Não quero com isto dizer que não haja a necessidade de tomar medidas, no campo da legislação laboral, do apoio ao emprego, etc. Qual a solução? Não tenho solução, mas certamente não é vitimizando esta geração, e de uma forma ou de outra alimentando o seu desânimo e passividade, que a vamos ajudar. Esta geração teve enormes vantagens relativamente às que a antecederam, está a viver uma situação difícil e só vai sair dela se explorar até ao fim todas as oportunidades possíveis, tanto numa perspectiva individual como colectiva, com toda a humildade e garra que puder, senão o fizer será de facto perdida, poderá então vitimizar-se se quiser, mas dificilmente conseguirá demonstrar a sua tese se tiver o simples bom senso de olhar para a História, ou até apenas para o que se passa por esse mundo fora com as gerações congéneres.

sexta-feira, 11 de março de 2011

BCE DESCOBRE NOVO BURACO NAS CONTAS PÚBLICAS PORTUGUESAS?

O Eurointelligence refere que, segundo o Deutsch Finantial Times, o BCE descobriu um enorme gap nas contas portuguesas que vai conduzir a um aumento da pressão no sentido de mais e mais profundas reformas.

quinta-feira, 10 de março de 2011

BRASIL - TEMPO DE CAMBIO FIXO?

O governo já avisou que vai adoptar um conjunto de medidas destinadas a controlar a valorização do Real, será que isso vai ser suficiente?

O Brasil é o único BRIC com um sistema de cambio flutuante mais ou menos puro, embora a Índia nos últimos anos também se tenha aproximado do mesmo padrão. Isto põe ao país problemas de difícil solução, em especial no contexto da actual crise mundial e das medidas que países como os USA têm tomado, com os consequentes grandes movimentos internacionais de capitais. Àquelas dificuldades juntam-se as comerciais, dado que a imensa maioria do comercio externo brasileiro se verifica com as duas grandes moedas de reserva internacionais (USD e EURO) e com o "super administrado" YUAN.

O cambio determinado por via da flutuação pura em última análise é o resultado da conjugação de dois factores, por um lado do diferencial entre as taxas de juro internas e as "do resto do mundo", e por outro das expectativas em relação à própria valorização cambial, num processo que rapidamente se torna auto-sustentado e tende a desenvolver-se em espiral até ao seu desenlace final.

Dado que não vai ser possível ao Brasil baixar as taxas de juro, resta-lhe baixar as expectativas relativamente ao potencial de valorização da moeda, tarefa que se afigura extremamente difícil seja qual for o pacote de medidas que esteja a ser preparado, salvo no caso de se verificar nos mercados mundiais um crescimento explosivo da aversão ao risco, o que por si só corrigiria a situação.

O dilema para os países nesta situação é sempre entre arriscar na difícil opção da administração do cambio, ou alternativamente, tentar apenas domesticar o cambio flutuante. Depois dos erros feitos até 1999 na administração do cambio, o governo e Banco Central têm reafirmado a sua fé na flutuação, até a nova Presidenta já o fez claramente.

Será que os erros do passado são razão suficiente para afastar a solução do cambio administrado/fixo? Será que o cambio flutuante é domesticável no actual contexto mundial, e das instituições/legislação/capacidade-competitiva brasileiras?

Se não for encontrada uma solução que funcione, o Brasil corre o risco de que a grande festa que tem vivido acabe em enorme frustração. Mais uma vez, como diversas vezes já aconteceu na história do país.
Lula podia não o saber, mas Dilma sabe. Haja esperança.
CONTRA A REELEIÇÃO PRESIDENCIAL

Agora, passadas as eleições presidenciais e no começo de um novo mandato, é o momento de reflectir sobre o estatuto da reeleição.

A reeleição de Presidentes da República em regimes não presidenciais não só não tem qualquer sentido como tem potenciais inconvenientes importantes.

Não faz sentido porque a base teórica da figura da reeleição é a necessidade de dar a um poder executivo que faça um bom trabalho a possibilidade de ter mais tempo para levar esse trabalho mais longe, ora isto não se aplica a poderes não executivos que não teem propriamente obra e não deixam um trabalho realizado (1).


Poder-se-ia dizer que embora não existam argumentos a favor da reeleição ela acaba por ser uma solução prática, o "homem já é conhecido e tem experiência". Totalmente errado, a solução nada tem de prático porque envolve sempre mais uma eleição e porque a ilusão de se conhecer o "homem" é apenas isso mesmo, uma ilusão, dado que a prática tem demonstrado que o Presidente do primeiro mandato nunca é igual ao do segundo, e o mais grave é que são os dois piores do que poderiam ser se tivessem apenas um mandato.

Para além da falta de vantagens da reeleição, quais são portanto os inconvenientes do sistema? Julgo serem claros os seguintes inconvenientes:

- Conduzir à não apresentação à competição eleitoral dos melhores candidatos possíveis (2)
- Induzir os re-Presidentes a fazerem dois mandatos abaixo do seu potencial efectivo(3)
- Aumentar o risco de eleição de um Presidente desautorizado ou de "3ª classe" (4)

Assim, este sistema que não tem justificação teórica alguma, tem inconvenientes e riscos graves que afectam a qualidade da democracia, por não permitir a escolha dos melhores, por levar os eleitos a fazerem maus mandatos, e ainda por poder conduzir à eleição de um Presidente "desautorizado".

Já que se fala em revisão Constitucional, acho que é o momento de encarar esta questão e acabar com a reeleição, com ou sem alargamento do mandato presidencial. Numa solução mais rebuscada, a possibilidade de reeleição por um mandato poderia manter-se na Constituição a título excepcional, desde que fosse previamente aprovada por uma maioria qualificada da Assembleia, o que obviamente apenas aconteceria em ciscunstancias muito excepcionais.

Vamos agora assistir à quarta re-Presidencia desta República, tomemos atenção ao desenrolar dos acontecimentos. Que os deuses nos protejam.




NOTAS

(1) -É impossível que um Presidente num regime do tipo do nosso se dedique a uma obra e apresente um trabalho de facto importante? Impossível não será, em teoria, mas na prática é muito difícil, quer pelas limitações do cargo - em termos de poderes, conflitos institucionais, orçamento, etc - quer por limitações dos próprios Presidentes. No entanto, (ainda em teoria) talvez fosse possível a um Presidente dedicar-se a um empreendimento, cívico, cultural ou de outro tipo, desde que o fizesse com recursos escassos e sem conflitos com o executivo, o que exigiria no entanto uma disponibilidade e capacidade de trabalho que os Presidentes, em fim de carreira e de vida, não é expectável que tenham.

(2) - O maior inconveniente do estatuto da reeleição é que leva a que os possíveis candidatos com mais potencial nem sequer se apresentem, é como se fosse considerado à partida um jogo de cartas marcadas em que o candidato-presidente tem uma vantagem desproporcional. Este facto reforça ainda mais a vantagem relativa do re-candidato, dada a fraqueza dos opositores que se apresentam, tudo em prejuízo do país que muito provavelmente teria melhores soluções.

(3)- Os dois mandatos são deficientemente exercidos porque o objectivo principal de qualquer Presidente é manobrar em todo o seu primeiro mandato para aumentar a possibilidade de obter o segundo, por isso nada de importante se pode esperar dele, ele vai seguir a sua estratégia pessoal de manutenção de longo prazo. No segundo mandato, "enfim liberto!" ele vai fazer tudo o que lhe passar pela cabeça, de qualquer modo já está em fim de carreira sem mais ambições que não seja tentar ficar na pequena História. Ou seja, no primeiro mandato ele não vai fazer o que podia e devia, sempre que isso implique a possibilidade de qualquer desgaste, no segundo ele será tentado a fazer até o que não devia porque se trata da sua última oportunidade de deixar uma marca.


(4)- Outro grande inconveniente do estatuto da reeleição é o facto de o Presidente poder ser fortemente desgastado durante a campanha para a reeleição. Dir-me-ão que esse risco existe também na primeira campanha e é inerente a todos os processos eleitorais, sejam cargos executivos ou não, no entanto essas situações só aparentemente são semelhantes.
O desgaste eleitoral de um candidato executivo em busca de reeleição não é especialmente importante porque se for vencedor ele vai deter o poder e, por isso, em termos práticos rapidamente recuperará do desgaste sofrido, ao contrario do Presidente sem poder efectivo para quem a imagem é fundamental porque é seu único activo.
Também a situação de um re-candidato presidencial é diferente da de um candidato de primeira água, quando há uma campanha de desgaste sobre um re-candidato, quer se queira quer não, ela afecta directamente o Presidente porque as duas figuras já não separáveis, ao contrario do que acontece com o candidato não Presidente, que mesmo desgastado o é apenas na sua pessoa física e não na sua figura presidencial que não tem. Quando a figura do candidato e do Presidente em exercício se misturam e se apresentam numa eleição, o desgaste de que ele for alvo não acaba com a campanha, mantém-se para além dela porque ele foi realizado já sobre o Presidente e não sobre um candidato qualquer, eleito ou não. Sendo assim, um Presidente reeleito nessas circunstâncias penosas, terá sempre mais dificuldade de ser o tal Presidente de todos os cidadãos.
Não quero com isto insinuar que esta é a situação actual, com as dúvidas que foram levantadas relativamente ao comportamento de Cavaco Silva na gestão de alguns dossiers pessoais, questões que apesar de não serem tão inócuas como o candidato como quis fazer crer, também não são um caso propriamente escandaloso. Mas a sua ocorrência foi importante para chamar a atenção para este potencial ponto negativo do estatuto da reeleição, dado que nada impede que amanhã venhamos a viver uma situação muito mais grave noutra reeleição, o que poderia até conduzir à tal eleição de um candidato de 3ª apenas para fugir ao re-candidato desgastado.

quarta-feira, 9 de março de 2011

OS BANQUEIROS E A CRISE

Enquanto banqueiros e políticos não acertarem uma saída para a crise Europeia, por acordo ou imposição, a instabilidade da zona Euro vai continuar.
O problema começa na Alemanha e depois vem por aí abaixo Europa fora, não existirá solução sem custos, sejam eles mais uma vez socializados ou assumidos pela banca.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

PORTUGAL PODE FALIR?
(Publicado no J. Negócios 1/2/11)

Espero que este texto não seja mais um artigo sensacionalista, desses que prevê o iminente colapso do Euro, a estrondosa chegada do FMI, ou outra qualquer desgraça, embora eu próprio há pouco tempo tenha escrito sobre o hipotético regresso do marco alemão, apenas como hipótese mais verosímil dum primeiro passo de uma improvavel debacle.

O que eu pretendo alertar aqui é que, ao contrário do que aparentemente seria expectável, o risco de falência nacional pode aumentar se os outros países europeus resolverem, de uma forma ou de outra, os seus problemas, e nós ficarmos para trás na resolução dos nossos.

Como já foi dito e redito toda esta crise foi um exemplo que a Europa deu ao mundo de como se não gere este tipo de situação, qualquer pais de terceiro mundo saberia melhor o que fazer do que o velho Continente deu provas de ser capaz. Em todo este processo a Europa nunca conseguiu ter uma actuação que os mercados "comprassem" como solução efectiva, mas apenas pequenos remendos que os mercados sabem que servem apenas para ganhar tempo e que por isso os levam a periodicamente voltar a "abordar" este dossier em aberto, com toda a instabilidade que já conhecemos.

O que eu quero dizer é que os mercados só compram situações claras e finais, meias decisões nunca são levadas a sério, mesmo que por algum tempo pareça que sim. Neste quadro é óbvio que no início da crise o que devia ter acontecido era a falência Grega - ganhava quem ganhava, perdia quem perdia, a dívida grega era reestruturada e a vida continuava. É assim com os países "normais", mas no imbróglio europeu não podia ser este o caminho, e a culpa não foi da Alemanha, antes pelo contrário, foi ela que pelo menos não permitiu a concretização do voluntarismo amador que queria pôr mais toneladas de dinheiro bom em cima de dinheiro mau.

A Grécia não podia falir por causa do "efeito sistémico", o chavão preferido do momento económico, até talvez seja verdade, mas o mais grave é que ninguém na Europa sabia de facto e de forma rigorosa qual era o potencial efeito sistémico da falência grega, e obviamente, muito menos ainda como gerir esses efeitos, por isso a única saída era ganhar tempo com medidas mais ou menos avulsas, que os mercados "compraram" apenas como isso mesmo.

Espera-se que hoje a Europa já tenha a lição estudada e avaliados todos os danos colaterais da diversas soluções efectivas possíveis, isto embora a vontade de improvisar continue a correr solta, como é o recente exemplo da "salvação" via operações de "bonds buy back", operações essas que na melhor das hipóteses são apenas caras e inócuas, porque mesmo baixando o montante nominal da dívida aumentam o seu custo médio e por isso mantêm o seu custo total, que no final é o que seria importante reduzir; interesses suspeitos?

Como tem sido dito, e hoje parece unânime, a reestruturação das dívidas de alguns países europeus é inevitável (como se sabia desde o princípio), neste quadro, o ideal para nós e para a Europa seria que a CE tivesse a capacidade para desenhar e executar uma grande operação que envolvesse os Estados e os bancos em situação delicada e limpasse a casa de uma vez por todas, esta seria a solução que os mercados comprariam e arrumaria o problema, no entanto é duvidoso que a Europa tenha a capacidade técnica e política para o fazer.

Não sendo possível a grande operação global, e assumindo que a Europa vai conseguir gerir a situação fora de cenários catastróficos, o que pode acontecer é que se venha a fazer um programa de reestruturação controlada das dívidas dos países que recorreram ao FEEF, em simultâneo com a recapitalização dos bancos mais fragilizados, e ainda ao mesmo tempo conseguir tirar da linha de risco pelo menos a Espanha e afastando dela ainda mais a Itália. Neste quadro nós claramente sobramos, não recorremos ao fundo europeu, não seremos já risco sistémico numa Europa com a casa mais ou menos arrumada, e seremos portanto o candidato ideal a ser a cereja no topo do bolo. O processo que devia ter começado com a falência de Grécia acabaria assim com a falência de Portugal (o sacrifício do cordeiro "quase" inocente), e os mercados respirariam aliviados com o fim de uma crise seguindo os padrões normais.

Cenário inverosímil? Não tenham tanto a certeza meus senhores, se ficarmos para o fim a probabilidade da sua concretização será grande, o "problema espanhol" é a nossa garantia, sem ele tudo nos poderá acontecer, por isso atenção, tanto mais que finalmente a Espanha parece querer enfrentar seriamente as suas questões de fundo, como foi agora o caso com a abordagem ao problema da Caixas que apesar de insuficiente foi a primeira manifestação de vontade política de resolver uma questão até agora quase tabu, e vamos ver o que vem a seguir.

Não quero ser o alarmista de serviço, mas quero deixar duas ideias: a primeira, de que não podemos correr o risco de ficar para o fim sob pena de virmos a ter de pagar uma factura desmesurada; a segunda, de que se ficarmos para o fim pelo menos não façamos tudo de forma tão incompetente como a Europa o fez, pelo que teremos de saber, e quanto mais cedo melhor, exactamente como, e sobretudo quem, interna e externamente, vai pagar a conta, porque na verdade estas operações nunca são neutras em termos de classes sociais e grupos económicos.