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segunda-feira, 14 de março de 2011

A VITIMIZAÇÃO DA GERAÇÃO DEOLINDA

Antes de expor os meus argumentos contra uma visão que se instalou e que parece querer vitimizar esta geração, quero esclarecer que não pertenço ao grupo dos que tem como certo que houve uma degradação geral do ensino, arrastada pela massificação, e que os licenciados de hoje são praticamente analfabetos funcionais. Antes pelo contrário, acredito na melhoria conseguida na qualidade média de todo este sector aos diversos níveis, e acredito sinceramente que os licenciados de hoje têm mais bagagem que os do passado, sobretudo os da minha geração saídos da caótica Universidade dos anos 60.

Já agora um aparte, o que eu não acredito é que ao actual governo possam ser atribuídos méritos especiais nestes resultados, estas coisas nunca são resultados de políticas de curto prazo. Na verdade a nossa revolução na Educação começa com Marcelo Caetano e Veiga Simão, depois foi fortemente reforçada com o 25 de Abril, e a partir daí, com erros e acertos pelo meio, todos os governos têm continuado de forma razoável este projecto.

Voltando à geração Deolinda, que acredito uma das melhores formadas que o país já teve, o que eu quero afirmar é que não posso aceitar a vitimização desta geração, como sendo uma geração sacrificada pelos erros das precedentes. Que esta geração se achasse vitimizada seria normal, faz parte do processo usual entre gerações, outras houve que foram muito mais longe com o seu ódio a tudo que os pais tinham construído, como foi o caso da geração de 60 que prometeu mudar o mundo e livrá-lo de todos os males que os seus pais lhe tinham trazido, tudo isso com as consequencias que conhecemos.

Todas as gerações se consideraram vítimas das anteriores, isso nada tem de novo, a novidade é que agora é a geração dos pais que se junta à vitimização da dos filhos, num processo que não só é ridículo, como não tem bases sérias e sobretudo é perigoso, porque ao fomentar a vitimização pode estar agravar a doença, em vez de estimular as melhores formas para sair dela.

A vitimização não tem sentido nem no tempo nem no espaço, quero dizer fazendo comparações históricas, ou com outros países. Claro que se podem sempre descobrir situações melhores, mas elas estão longe de ser a regra.

Começando a "análise histórica" pelas situações mais dramáticas, o que diriam as gerações da Europa Central a quem os pais deixaram por diversas vezes apenas países destruídos, fome e miséria? Pense-se apenas no que as diversas gerações do primeiros 50 anos do sec XX na Alemanha e na Rússia receberam como heranças, e pior ainda, quais foram as heranças das novas gerações das minorias perseguidas naqueles países?

Para não ir muito longe, e agora nas comparações espaciais no tempo presente, porque não olhar para os emigrantes de leste, muitos deles com formação superior, alguns com doutoramentos e PHD`s, que hoje em dia em diversos países da Europa Ocidental executam tarefas humildes para sobreviver?

Mas esqueçamos as comparações internacionais, vamos ao nosso país, esta geração é vítima de quê? de ter podido estudar? a maioria dos seus pais e avós não pôde, na idade em que muitos hoje saem das universidades já grande parte dos seus avós tinham mais de dez anos de trabalho, por vezes muito duro. Não, não é disso que se queixam, é da incerteza, mas onde estão essas gerações que tiveram vidas descansadas cheias de certezas? A geração que hoje tem 55 a 70 anos, a única certeza que tinha era de no mínimo 3 anos de tropa, a maior parte dos quais passados na guerra, e apenas depois disso talvez um emprego ou a emigração. O quadro das gerações anteriores não foi melhor com as guerras mundiais, a pobreza nacional e a emigração.

Quais são então essas gerações douradas tão invejadas, as dos 30/55 anos de idade? As geração que chegam ao mercado de trabalho depois do 25 de Abril, já sem guerra e com a adesão à CE? Têm sido de facto gerações com sorte, sem guerra, com emprego, com um mercado que abriu enormes oportunidades, as primeiras gerações que beneficiaram a sério da sociedade de consumo, a geração que não só passou a ter carro cedo, como a ser a geração que em toda a Europa teve carro novo mais cedo!, a geração para quem as viagens de férias ao estrangeiro são normais e indispensáveis, e por aí fora..., mas sobretudo as gerações em que as diferenças sociais se esbateram e as pessoas ficaram mais próximas. Se fosse para dramatizar diria que as primeiras gerações em que entre nós quase ninguém teve fome, nem frio, nem dentes podres, ou a necessidade imperiosa de emigrar para poder sobreviver, nem medo de que uma qualquer guerra lhe entrasse de repente pela porta dentro.

São essas as gerações invejadas? Por mim não tenho inveja, gosto que seja assim. Qual o futuro destas gerações? Como irão acabar? Irá tudo correr bem até ao fim? Não parece, mas ninguém sabe, a única coisa que se sabe é que todas fizeram erros e vão continuar a fazer, é preciso reduzir esses erros ao mínimo para que não existam transferências desmesuradas de encargos inter-geracionais, não vejo que tenhamos em Portugal situações especialmente anómalas que justifiquem esta autocrítica em relação à geração que agora chega ao mercado de trabalho.

Julgo que a explicação é outra, a maior parte destes novos licenciados é filha de pais não licenciados, que construíram dentro de si a imagem de que tudo era sempre fácil para drs. e engs. e que por isso os seus filhos chegando lá teriam a vida resolvida. De facto assim foi por muito tempo em Portugal, como anteriormente tinha sido com o 5º ano do liceu, e mais atrás com o simples saber ler e escrever, mas os tempos mudam e essas coisas acabam. Hoje os cursos são cada vez mais apenas um dos elementos a ter em conta numa selecção para um cargo, elemento esse que já é até menos importante do que a experiência profissional efectiva, e por isso esta nova geração ficará numa posição crescentemente difícil se não entrar no mercado de trabalho rapidamente mesmo que em funções "inferiores" à sua formação.

Falemos claro, com excepção dos cursos muito técnicos, o que a generalidade das universidades ensina é sobretudo a pensar e a saber procurar o que não se sabe, quase ninguém sai da universidade pronto para gerar valor para as organizações, todo o recrutamento representa um investimento (tempo, dinheiro, erros, confusões, etc), investimento esse que por vezes é perdido porque as pessoas ou não são aproveitáveis na função ou se vão embora. Daqui resulta que as organizações se defendem, recrutando os com maior probabilidade de não serem uma desilusão em função da sua experiência profissional e das suas perspectivas, esta realidade inultrapassável agrava-se em tempos de crise.

Grande parte destes jovens licenciados à procura da primeira oportunidade serão na sua grande maioria aproveitáveis nas suas áreas, quero crer, mas todos sabemos que de há muito tempo existem inúmeros licenciados que nunca conseguiram trabalhar como tal, por diversas razões, desde licenciaturas pouco procuradas, desajustamento das oportunidades, ou até meras questões do foro comportamental. A licenciatura garante que o seu titular tem, além de alguns conhecimentos técnicos, uma capacidade intelectual e de trabalho no mínimo de valor razoável, mas nada mais garante: qual a sua capacidade de relacionamento (em trabalho de cooperação, em competição, nas relações de poder)? qual o seu nível de objectividade a avaliar situações? qual seu nível de criatividade? como se comporta sobre stress? etc.

Não quero com isto dizer que não haja a necessidade de tomar medidas, no campo da legislação laboral, do apoio ao emprego, etc. Qual a solução? Não tenho solução, mas certamente não é vitimizando esta geração, e de uma forma ou de outra alimentando o seu desânimo e passividade, que a vamos ajudar. Esta geração teve enormes vantagens relativamente às que a antecederam, está a viver uma situação difícil e só vai sair dela se explorar até ao fim todas as oportunidades possíveis, tanto numa perspectiva individual como colectiva, com toda a humildade e garra que puder, senão o fizer será de facto perdida, poderá então vitimizar-se se quiser, mas dificilmente conseguirá demonstrar a sua tese se tiver o simples bom senso de olhar para a História, ou até apenas para o que se passa por esse mundo fora com as gerações congéneres.

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