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sábado, 26 de março de 2011

GUEVARA E O EXPRESSO - II

Voltando agora à estranha decisão do Expresso de incluir a biografia de Guevara entre oito biografias incontornáveis do sec. XX.

A primeira parte do mistério à volta do Che é tentar compreender como é que um jovem médico, asmático e tímido, se transformou num guerrilheiro, fanático, autoritário, cruel e sempre pronto para execuções sumárias. A segunda parte do mistério é compreender como a nossa sociedade de consumo transformou este ser abjecto num ícone da liberdade. É esta segunda parte que julgo importante neste contexto.

A partir da celebre fotografia de Korda de 1960, vieram as bandeiras da esquerda, os posters dos quartos das teen-agers, e depois um sem fim de utilizações, desde a barriga de Mike Tyson, ao braço de Maradona, passando pelo biquíni de Gisele Bundchen, ou até a homenagens como a que o Expresso agora lhe presta. Tudo a reforçar uma "ideia" cuja história real ninguém quer conhecer, ou quando muito conhecer apenas na sua versão cor de rosa.

A verdade é que o Che que o mundo julga que conhece nunca existiu, o que existiu foi a necessidade de um Che, de um revolucionário idealista disposto a morrer pelos pobres e pela liberdade. Era necessária uma versão actualizada de Robin Hood, como Lenine, Estaline e outros, não eram "vendáveis" para o efeito, a solução aparece com a fotografia de Korda, o revolucionário bonito e de olhar romântico. Estava feito! A sociedade de consumo comprou, como compra tudo o que seja de marketing fácil.

Dir-me-ão que o caso de Guevara não é diferente de muitos outros falsos heróis que recheiam a história da humanidade, talvez, mas a maior parte desses vultos da história com percursos por vezes também macabros, foram normalmente peças essenciais de grandes, embora dolorosas, transformações. Não foi assim com Guevara, a revolução cubana teria acontecido com ou sem ele, tudo leva a crer que teria até decorrido melhor sem o Che, porque ele, além de mau comandante militar, foi um administrador totalmente incompetente, que Fidel teve mesmo de acabar por afastar apesar de sempre o ter protegido.

Ainda há dias a imprensa portuguesa entrou em transe porque Jerónimo de Sousa defendeu Estaline como herói da II Guerra, e no entanto é verdade, dificilmente a Inglaterra e os EUA teriam parado Hitler sem Estaline, sem ele e sem o alto preço que os povos da então União Soviética pagaram. Fora de duvida que lhe devemos essa.

Os crimes de Estaline foram imensamente maiores em termos quantitativos do que os de Guevara, milhares de vezes maiores, mas tiveram a atenuante de terem sido praticados institucionalmente no âmbito de um estado totalitário paranóico, que tentava uma revolução difícil num quadro adverso e com inimigos internos tão paranoicos como ele. Não foi assim com Guevara, o único paranóico era ele próprio.

O que me arrepia em toda esta história é que estou convicto que se em 2002, Guevara fosse vivo e estivesse presente quando Ingrid Betancourt foi presa pelas FARC, perante as dúvidas sobre o que fazer com a prisioneira, Guevara chegar-se-ia à frente, como fez tantas outras vezes, puxaria do revolver e executaria Betancourt. Tudo a bem do reforço da sua imagem de guerrilheiro sem sentimentos nem contemplações, apenas obcecado pelas imperiosas necessidades da Revolução.

Talvez Guevara até escrevesse de novo no seu diário, como após uma outra execução: "Acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do cranio, com o orificio de saída no lobo temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Seus bens agora me pertencem"
(cont.)

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