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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019


SONHO ERÓTICO - PORQUE VIM A BEIJING

Naquela manhã, saíste porta fora, zangada, furiosa mesmo, ainda hoje não percebi bem porquê.
Eu, ainda meio estremunhado vi-te toda vestida, já pronta para sair, e tentei que pelo menos me beijasses e dissesses alguma coisa, mas nada, apenas mastigaste irada algumas palavras que não consegui compreender, depois desapareceste, batendo a porta. E foi tudo.
Só quando me levantei e dei uma volta pela casa, compreendi que tinhas levado todas as tuas coisas.Tinhas mesmo partido.

Durante meses procurei-te por todo o lado, um pouco por todo o mundo, junto de todos aqueles teus amigos mais ou menos loucos, que na verdade nunca gostaram muito de mim. Mas nada, também eles não sabiam de ti, sim tinhas estado na Normandia, mas também em Bali e até no Atacama, mas tinhas partido e ninguém sabia para onde, ou pelo menos assim diziam.

Agora, quase um ano depois, perguntas-me o que vim fazer a Beijing. Na verdade nem queres saber a resposta, perguntas por perguntar, vejo o teu ar divertido, de menina que reaparece depois de ter feito uma maldade grave, mas que disfarça, com ar inocente, como se nada tivesse acontecido.

Sei bem que nem vais ler a resposta, ou talvez o faças, daqui a uns meses, quando qualquer coisa te fizer lembrar que um dia existi, e que até passei pela tua agitada e desmiolada vida. Mesmo assim, vou dizer-te o que vim fazer a Beijing.

Sabes aquelas chinesinhas? Normalmente pequeninas e apenas levemente bonitas, mas com um ar doce que olha espantado? Acho que elas vão ouvir atentamente as histórias que eu lhes vou contar de ti, e aos poucos aqueles olhos arredondar-se-ão de espanto silencioso, e eu vou amá-las por isso, e vou amá-las noites inteiras.

Sabes, eu vou ter um prazer imenso no prazer delas, nos gemidos doces, nas explosões violentas, nos olhares então já perdidos, orgasmo a orgasmo, até desfalecerem de volúpia e cansaço. E farei amor toda a noite, todas as noites, só adormecendo ao nascer do Sol quando a brisa dos primeiros dias quentes de Primavera entrar pela janela da varanda, corpos colados de suor e sémen. E depois vamos acordar, esfomeados, apenas quando o Sol se tiver a pôr, e a brisa que entra pela janela for então já fresca.

De seguida perder-me-ei de novo na noite da cidade, até encontrar uma outra mulher-menina, mais bonita ainda, mais doce do que tudo o resto, e repetirei tudo de novo. Sempre, disciplinada e amorosamente, até à tarde em que finalmente não acordarei mais.

Sim é isso que eu vim fazer em Beijing, é aqui que eu vou encontrar essas putinhas, silenciosas, doces, e de olhar profundo, filhas directas e dilectas de Buda, Lao Tse e Confúcio, e também talvez de Mao e Deng Xiao Ping. É aqui que eu me vou perder, é aqui que vou ser feliz, encontrar-me a mim e a todas as verdades universais, tudo ao mesmo tempo, numa solução verdadeiramente eficaz de tudo em um.

Mas eu sei que é mentira, sei que elas não existem, já procurei um pouco por todo o lado, e elas duram apenas algum tempo, sempre demasiado curto, soando demasiado falso, e depois é o vazio, pior do que antes, sempre pior, cada vez pior.

Mas existe o ópio! Acho que é isso! O ópio! Foi ele que me trouxe até aqui! Agora sim, agora tudo faz sentido, foi ele que me chamou! É ele que que eu vou encontrar em Beijing, e então tudo será claro, coerente, evidente e suave. E de degrau em degrau, descerei desde os salões luxuosos, até à decadência das sarjetas, onde me tornarei um vegetal, e finalmente me fundirei com a mãe Terra.
Sim, amor, é isso que eu vim fazer em Beijing.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019


IMPEACHMENT, NÃO É DEMASIADO CEDO?

Qual o objectivo dos democratas ao enviarem já para o Senado o processo de "Impeachment/afastamento" de Donald Trump?
Virem a conseguir que 67 Senadores, dos quais 22 não democratas, venham a apoiar o seu afastamento? Como a decisão do Senado será essencialmente politica e não jurídica, é altamente improvavel que isso possa acontecer a curto prazo.
Ou será que esperam que Trump renuncie antes de o Senado vir a tomar uma decisão sobre o assunto?
Ou será ainda, que o objectivo é apenas desgastar Trump e obrigar os republicanos a mudar de candidato para as presidenciais de 2020?
Todos aqueles objectivos parecem de dificil concretização, podendo até este apressado envio para o Senado vir mesmo a ter consequencias contrarias aos interesses dos democratas.
Sem haver nenhuma indicação clara de quem possa ser o candidato democrata, é quase impossível que um numero significativo de senadores republicanos venha a apoiar o impeachment, mesmo quando a popularidade de Trump é muito mais baixa do que era a de Nixon aquando do seu processo de impeachment.
Pensar que Trump se auto-afastará parece também altamente irrealista.
Resta portanto apenas a hipotese de o objectivo ser o de desgastar o candidato Trump, de preferencia até ao ponto de o partido republicano vir a escolher um outro candidato.
Se o unico objectivo realista é desgastar Trump, não teria sido preferível começar o processo de afastamento para Março/Abril, altura em que começará a ficar mais claro quem poderá ser o candidato democrata? Isso poderia permitir que um maior número de senadores republicanos apoiassem o processo.
Não seria também mais eficaz fazer o desgaste de Trump mais perto das das eleições?
Não compreendo esta urgencia de Pelosi e dos democratas em irem para o Senado.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019


UM AVISO AO POLITICAMENTE CORRECTO

Quando um "menino-bem", meio-louco, embora brilhante, derruba a "Muralha Vermelha" dos trabalhistas e atinge uma das maiores maiorias conservadoras de sempre, é forçosamente tempo de reflexão.
Reflexão para Bruxelas que com o seu autismo facilitou o afastamento dos povos Inglês e Galês da ideia europeia.
Reflexão para as lideranças de esquerda, que no alto da arrogância das suas modas intelectuais, alienou o seu eleitorado de sempre, apesar de, no final, o ter tentado comprar com promessas imensas de benesses impossíveis.
Boris, que já tinha tido o Brexit na mão, arriscou tudo nestas eleições, porque queria o Brexit e a maioria absoluta. O gambler ganhou e "took it all"!
O Brexit tinha-se tornado inevitavel há muito, pelo que poderá existir uma certa sensação de alivio em largos sectores da população, mas na verdade, com os problemas da Escocia e da Irlanda e com o novo período de negociações europeias, tudo leva a crer que a tensão vai continuar.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019




TRABALHISTAS VOTAM CONSERVADOR E VICE-VERSA

Pode parecer estranho que isso possa acontecer em larga escala, mas é o que se prevê que aconteça, e é isso que torna totalmente imprevisivel o resultado eleitoral de amanhã.
Todas estas "trocas de votos", têm origem principalmente na questão do Brexit, em resumo temos as seguintes situações como exemplo:
-Londres, onde muitos conservadores vão votar nos trabalhistas (ou DL), apenas para tentar evitar o Brexit
-Interior de Inglaterra, onde muitos trabalhistas vão votar conservador para parar a "destruição do sentido de comunidade" que eles atribuem à Europa
-País de Gales, onde muitos conservadores vão votar trabalhista para não sair da politica agricola comum europeia, isto para além dos independentistas
-Escocia, semelhante a Gales, mas com a motivação independentista mais vincada
-Em outros casos também se verificarão inversões importantes por razões diversas, como seja no caso dos judeus, em que grande parte do eleitorado tradicionalmente trabalhista votará conservador, acontecendo situações semelhantes ou inversas noutras comunidades.
Apesar deste quadro as sondagens continuam a apostar na vitoria de Boris e até na sua possível maioria absoluta.
De tudo isto apenas uma coisa resulta evidente, a evidente e imperdoavel incompetencia europeia para ter parado o Brexit, com uma politica de informação bem executada o Brexit teria sido facilmente evitado.
Agora resta esperar.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019



BRINCAR COM A CORRUPÇÃO

Se o governo não quer fazer nada contra a corrupção deveria pelo menos ter a honestidade de não vir fazer de conta.
Ao lançar a "denuncia premiada" para cima da mesa, o governo quer apenas estabelecer a confusão para depois poder dizer que nada se fez porque não existiu consenso na sociedade sobre o que fazer.
A delação premiada envolve efectivamente uma serie de perigos e em poucos casos tem de facto alguma vantagem pratica.

Na verdade o que o governo quer é, mais uma vez, fugir da única medida efectiva no combate à corrupção que é a "Inversão do Ónus da Prova" ou do "Enriquecimento Ilícito", dessa medida os políticos fogem que nem diabo da cruz, porque só ela pode parar as negociatas diversas em que se especializaram, eles e os partidos.

Esta medida já foi varias vezes discutida e da última vez foi afastada por ser considerada inconstitucional. Como é que esta medida pode ser inconstitucional em Portugal quando ela é regra em outros países da Europa??
A razão porque a medida foi considerada inconstitucional foi apenas porque, mais uma vez, ela foi proposta apenas  para "encenar" uma vontade de lutar contra a corrupção na política, na verdade ela foi desenhada de forma a ser inconstitucional!!

Aquela medida foi considerada inconstitucional apenas porque se aplicava a toda a população, o que obviamente não é possível, não seria possível exigir a qualquer cidadão que demonstre como obteve os 100 euros que tem na carteira sob risco de ser responsabilizado pelo roubo de quantia equivalente perto de si. 
Mas é claro que se um político tem bens no valor de vários milhões tem de ter a obrigação de demonstrar em pormenor como os obteve e caso não o faça, deverá ser sancionado criminal e politicamente por enriquecimento ilícito, o que continua a não ser possível entre nós, tendo de ser o ministério publico a fazer prova da ilegalidade, o que raramente é possível.

Os custos directos da corrupção, ou seja os valores pagos aos corruptos, embora sendo grandes, são muito reduzidos face aos prejuízos que eles acarretam para o país.
O país tem de suportar custos muito maiores por decisões erradas, por contratos mal feitos e mal controlados, por legislação e regulação propositadamente deficientes, por corruptos escolherem corruptos para altos cargos, para protegerem os seus interesses, etc tudo isso tem custos para o país varias centenas de vezes superiores aos pagamentos directos em si. Estamos portanto a falar de muitos biliões.

Mas ainda pior que os biliões que a corrupção custa, é o perigo de ela se tornar endémica, quando ela salta dos políticos e outros poderosos para toda a sociedade.
Então as sociedades vão-se degradando rapidamente e a corrupção espalha-se por todo o lado, tornando inevitável a ineficiência e o empobrecimento colectivos. 
E empobrecimento significa miséria, e miséria significa morte, morte e máfias diversas. 
Seremos então uma Calabria ou uma grande Nápoles, tudo graças aos nossos políticos, a todos eles, Costa é apenas o que está de serviço.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019



ABANDONO, ABORTO E O REGRESSO DAS RODAS

O caso de Sara e do recém-nascido abandonado no lixo, foi já amplamente discutido, atrevo-me a voltar a ele apenas porque julgo que as questões mais importantes para a nossa sociedade, que este caso pode indiciar, ficaram por abordar.
Na verdade para além dos aspectos mais mediáticos, que envolveram desde o Presidente da Republica a uns tantos sem abrigo, os temas que se discutiram andaram mais ou menos, entre uma possível "maldade criminosa" de Sara e as diversas culpas da sociedade no sucedido.
Mas o que parece estranho é que este caso, talvez para descanso das nossas boas consciências, foi sempre encarado como se tratasse apenas um episódio isolado, sem qualquer significado para alem do drama concreto em si mesmo. Mas será este um caso isolado? Não corresponde ele a um problema mais fundo e vasto?
Não será que este caso só foi diferente de muitos outros porque, simplesmente, Sara não fechou o saco?
Quantas outras Saras fecharam e fecham os sacos?
No Séc XIX as rodas, onde as mães podiam abandonar as suas crianças, foram fechadas, decisão tomada como uma medida progressista de elevada relevância social, no âmbito do "optimismo positivista" do tempo, nunca ficou claro se essa decisão resolveu algum problema ou, apenas passou a esconder o que se passava no tempo do anterior sistema de abandono de crianças nas rodas.
O certo é que as rodas acabaram há mais de 150 anos, mas recentemente regressaram.
Já no Séc XXI as rodas reapareceram em alguns países do norte da Europa, como a Alemanha e a Suíça, rodas essas algo modernizadas mas basicamente as mesmas. Afinal parece que o optimismo positivista não se confirmou e que o problema continua a existir, mesmo na rica Europa Ocidental do nosso tempo.
Aparentemente, tudo leva a crer que se o problema existe naqueles países, potencialmente ele existirá também entre nós e provavelmente, será até bem maior por aqui.
Existindo o problema, a melhor forma de o enfrentar não seria pela multiplicação de rodas pelo país, mas por dar às mães a possibilidade de entregarem para adopção os recém-nascidos, logo nas maternidades publicas em que os tiverem, isso salvaguardaria a saúde não só das crianças, como das mães.
Este tipo de solução só há alguns anos começou a ser legalmente permitida e apenas em alguns países, países esses onde é permitido às mães abdicarem, por sua exclusiva vontade e de forma expedita, de "serem legalmente mães". Em Portugal, recentemente foi adoptada solução legal semelhante mas mais complexa, dado que entre nós as mães podem fazer aquela renuncia mas apenas com o acordo do progenitor, o que torna os processos muito mais complexos, demorados ou até inviáveis.
Embora nos possa chocar a "facilidade" com que estas mães poderiam (e podem já, em alguns países) entregar as suas crianças para adopção, a verdade é que as alternativas a essa solução são sempre ainda muito piores.
Esta possibilidade jurídica tem ainda uma outra enorme vantagem, pode vir a diminuir o numero de abortos voluntários, porque parte das mães que os fazem poderiam optar pelo nascimento para futura adopção, isto levaria à redução do numero de abortos e também à protecção acrescida da saúde das mães envolvidas.
É de realçar que, periodicamente, a imprensa portuguesa refere que fetos/recém-nascidos são encontrados em casas de banho publicas, no lixo, etc, pelo que este problema existe entre nós e terá alguma dimensão.
Neste quadro, não se compreende como aquela opção, que já existe em Portugal (embora com condicionantes), não é divulgada junto das mães em "zona de risco".
É estranho que o Estado não divulgue junto daquelas mulheres "em risco" esta possibilidade, através do Ministério da Saúde e dos organismos de acção social.
Assim como é estranho que o movimento femininista, sempre tão pronto a reagir a qualquer piropo que seja, da parte de qualquer macho, não tenha demonstrado qualquer interesse neste assunto.
A Igreja Católica, que ao longo de séculos teve um papel importantíssimo nesta área, papel de que foi afastada no século XIX, também não mostrou até agora vontade de qualquer envolvimento.

sábado, 7 de dezembro de 2019



O CHEGA DEITOU FORA O SEU PROGRAMA

O Chega tem manifestado ser uma criança muito precoce, aos seis meses já andava sozinha, mas agora, para espanto geral, aos sete meses deitou fora o seu programa, uma coisa que só costuma acontecer lá pela adolescência.
Na verdade, aquela programa era uma coisa muito estranha, um ser antropomorfo, um híbrido de um mini-tratado politico-filosófico da direita ultra-conservadora, com umas ideias soltas para uma revolução ultra-liberal na economia. Salazar deveria estar em estado de choque.
Para se ter uma ideia do programa desaparecido esta semana, o Chega propunha a extinção de todos os ministérios salvo os ligados às funções de soberania do Estado, ou seja, restariam os da Justiça, da Defesa, da Segurança Interna e dos Negócios Estrangeiros. No caso da Educação a revolução seria então total e imediata, privatização das universidades e de todas as escolas e liceus, sendo as escolas entregues aos professores para explorarem o respectivo negocio. Parece que Salazar terá chegado a dizer aos mais íntimos que, sendo assim, votaria no PCP!
Foi-se o programa politico com as suas 45 paginas e há agora uma lista de "70 Medidas para Reerguer Portugal" de onde a aventura da Revolução ultra-liberal desapareceu.
Como eu já vinha referindo aqui desde 27 de Outubro, com aquele programa o Chega teria grandes dificuldades de crescimento, o ter-se livrado dele foi uma boa ideia, foi bom para toda agente salvo para o CDS, que agora vê o seu espaço de manobra ainda mais reduzido.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019



É TEMPO DE RIO PARTIR?

Tudo leva a crer que sim, a liderança de Rio apenas fazia sentido num quadro de viabilização das grandes reformas indispensáveis e que o país nunca fez, existiu a esperança que com Costa isso fosse possível, a realidade tem demonstrado o contrario.
O PSD não pode deixar-se enrolar nas contradições e becos sem saída em que o governo da nova geringonça se vai meter, tem de ficar claro que o partido nada tem a ver com isso, não pode ser ele a pagar a factura do descalabro que se avizinha.
Rio não tem nem idade, nem perfil, para fazer o tipo de oposição que os tempos tornam necessária.
No próximo Congresso é tempo de Rio sair pelo seu próprio pé, para bem do país, do PSD e dele próprio.
Sairá então pela porta grande, ele tinha razão, só que não era o tempo certo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019



COMBATER A DEFLAÇÃO - UMA ABORDAGEM HETERODOXA 


São diversas as origens dos processos deflacionarios, de entre elas o crescimento geral da aversão ao risco, o envelhecimento das populações que também faz aumentar a referida aversão e a disseminação do sentimento de que os preços vão continuar a baixar (ou a não aumentar) o que leva ao adiamento das decisões de compra, isto nas economias mais ricas, deflação essa que, dentro do mesmo espaço monetário, se estende depois às economias mais pobres, aí mais pelas limitações económicas dessas populações do que pela sua aversão ao risco.
No sentido de reverter estes processos deflacionarios os governos europeus nada têm feito, tendo deixado o problema quase que apenas nas mãos do Banco Central Europeu, com as óbvias limitações que ele tem e os enormes riscos das suas medidas mais agressivas.
Isto embora existam medidas que os governos poderiam ter tomado, na área fiscal e outras, no sentido de tentar diminuir aquela aversão ao risco e levar ao aumento da inflação. Medidas aquelas a que varios países e em especial a Alemanha, se têm oposto com medo do regresso do descontrole orçamental pela Europa fora.
Apenas no Japão parece ter optado pela via fiscal para combater a deflação,com resultados ainda não claros.
A hipótese que defendo aqui seria uma solução em que fossem criados suplementos adicionais ao IVA, sempre que a inflação estivesse abaixo do objectivo para o período.
Os fundos obtidos por via daqueles adicionais seriam devolvidos de imediato à economia (ou até em parte antecipadamente), com o propósito de inflacionar essa economia.
Aquele processo seria repetido em ciclos o mais curtos possíveis, trimestralmente se tal fosse exequível.
O objectivo seria assim criar inflação por duas vias, fazendo as pessoas acreditar que ela iria acontecer de acordo com o planeado pelos governos e por outro, pela transferência de recursos de agentes económicos com aversão ao risco média, para agentes com aversão ao risco abaixo da media.
Neste quadro os governos deveriam deixar claro que sempre que inflação estivesse sensivelmente abaixo da meta, gerariam inflação por via fiscal até ela voltar a aproximar-se do objectivo. Em linhas gerais, as regras a divulgar e implantar seriam do tipo do exemplo abaixo:
1- Trimestralmente, sempre que a taxa de inflação anual seja inferior à meta fixada, serão tomadas as seguintes medidas:
a) activada uma taxa adicional e temporária sobre o IVA (e outros impostos que se julguem adequados - sobre a transacção de imóveis, automóveis, etc) destinada a compensar a diferença em relação ao objectivo verificada no trimestre
b) caso nos trimestres seguintes a inflação continue abaixo do respectivo objectivo, o governo repetirá o referido em a), aumentando de novo a taxa adicional
c) aquelas taxas adicionais deverão começar a ser retiradas gradualmente logo que a a inflação comece a subir e a aproximar-se do nível desejado.
2- Todos os recursos captados por via destas taxas adicionais deveriam ser de imediato devolvidos à economia, preferencialmente em investimentos de rápida concretização e de mão de obra intensiva.
Esta solução, se exequível, teria a vantagem de ser neutra em termos orçamentais, o que a faria mais palatável para os países do norte da Europa.
Como é evidente, este tipo de abordagem apenas faria sentido se aplicado à totalidade da zona monetária envolvida.




A REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA EM CURSO

O aparecimento dos novos partidos, conjugado com o desgaste dos tradicionais e o virar à esquerda do PS, vieram criar um cenário totalmente novo, pelo que o quadro partidário irá mudar muito rapidamente.
Neste novo quadro, apenas o PCP parece estar na mesma, o PC é o PC, nunca mudou, tudo leva crer que não vai mudar, pelo que apenas se irá extinguir lentamente ao longo do tempo.
O PS que tem disputado o centro Social-democrata com o PSD, parece agora em deriva clara para a esquerda, deixando desse modo ao PSD espaço para se afirmar com o verdadeiro partido social-democrata, sendo assim, o PS irá, cada vez de forma mais clara, pisar os terrenos do BE, num processo de aproximações e arrufos consecutivos.
O PAN é sobretudo um partido do tipo identitário e tentará continuar o seu caminho nas bordas do PS, esteja ele onde estiver. O Livre parece vir a deixar de ter representação parlamentar, e não terá possibilidade de vir a desempenhar qualquer papel neste novo cenário, podendo até vir a surgir um outro partido identitário em volta de Joacine.
Quanto ao PSD, face à deriva esquerdista do PS, poderá afirmar-se como o único partido social democrata do espectro partidário, tornando-se assim o Centro do sistema. No entanto com a crise de ideias e de liderança, não é claro até que ponto o partido conseguirá potenciar esta oportunidade.
Neste momento existem à direita do PSD três partidos, o mais antigo, o CDS, é o que parece ter pela frente uma vida mais complicada, até porque é o que tem uma posição ideológica mais indefinida, ao que se junta, o peso de uma historia e de muitos dirigentes também eles "historicos", assim como uma estrutura que pode ter mais inconvenientes do que vantagens.
O Chega é o partido à direita que recentemente conseguiu maior sucesso, no entanto a sua opção por ser um partido totalmente conservador nos costumes e totalmente liberal na economia, poderá vir a originar-lhe problemas de crescimento a médio prazo.
Por sua vez o Iniciativa Liberal conseguiu ter também um impacto social significativo, sendo um partido liberal, tanto na economia como nos costumes, terá como objectivo ser uma direita mais "moderna" e dinâmica, como se trata de facto de uma novidade politica entre nós, fica mais difícil prever até onde poderá ir.
Neste quadro, restará ao CDS (ou a quem lhe suceda) o espaço para ser conservador nos costumes e também na economia, conservador no sentido de não pretender fazer na economia "revoluções" liberais, tudo numa linha mais democrata cristã, mais ou menos conservadora dependendo da liderança
Este cenário à direita pode ainda vir a mudar muito, quer porque estas transformações são ainda muito recentes, quer porque não é ainda claro onde e como o PSD se vai situar.

domingo, 1 de dezembro de 2019



TRUMP O IMPEACHMENT E OS BILIONARIOS

Face a todo o aparato jurídico que os processos de impeachment envolvem, o público é levado a pensar que o mais importante e determinante do sucesso desses processos  são as infracções cometidas pelo Presidente, face   à Constituição e ao aparelho jurídico dos EUA.
As coisas não são assim tão simples, se o fossem talvez a maioria dos Presidentes americanos pudesse ter sido "impeachavel", mesmo os maiores, como seria o caso Franklin Delano Roosevelt que dava muito pouca importância aos detalhes Constitucionais e legislativos, na urgencia de fazer as suas grandes reformas.

Na verdade existem, mais três  aspectos determinantes da possibilidade  de concretização de um impeachment, o nível de popularidade do Presidente, o apoio que o Presidente tem da maquina do Estado (Central e Estadual) e, por último, mais importante mas em grande parte função dos dois pontos anteriores, o apoio que o Presidente consegue assegurar por parte das suas bancadas nas duas Câmaras do Congresso.
Não se pode ignorar que um Presidente com níveis de popularidade muito altos pode fazer mais ou menos o que quiser, pois nunca será afastado, por infrações jurídico-constitucionais menores, sobretudo se os seus níveis de aprovação andarem acima dos 60%.
O outro aspecto referido é o apoio que o Presidente tem na maquina do Estado, por maquina do Estado quero aqui significar as Forças Armadas, os Serviços de Segurança, a Diplomacia, os "Directores Gerais", os governos Estaduais, etc Um  Presidente que toda a maquina veja como competente é um Presidente que também não é facilmente "impeachavel", sobretudo por "pecadilhos menores".
Por último, a decisão sobre um impeachment é sempre política, e por isso não cabe aos tribunais, embora eles possam ter alguma influencia em determinadas fases do processo, pelo que a decisão final será sempre das duas Câmaras do Congresso e aí, como é evidente, apenas mantendo-se a  fidelidade total ao Presidente por parte do partido que o apoia, ele poderá resistir ao processo.
Aquela fidelidade, para além das ligações pessoais, depende sobretudo de dois elementos principais, de como os Senadores e Congressistas vêem o seu futuro político em função do seu apoio ou não ao processo e depois, e mais importante ainda, de como os grandes financiadores do partido vêem eles mesmos esse assunto.

Neste quadro como fica Trump?
A sua popularidade nunca sequer atingiu os 50%, nem antes nem depois da sua eleição, de facto a sua popularidade media foi de apenas 40%, tendo variado entre os 35 e os 46%. É de destacar que a popularidade media dos Presidentes dos EUA nos últimos 60 anos foi de 53% . Face a este  baixo nível de popularidade, poder-se-ia mesmo falar de  impopularidade, impopularidade essa que só parece menor pela adoração que os seus devotos dedicam a Trump.
Àquela sua baixa popularidade  acresce o facto de que toda a máquina do Estado está já muito "cansada" com Trump, com a sua impreparação,  a sua arrogância, a sua imprevisibilidade e até com as suas infantilidades de criança mimada.
A somar aqueles dois aspectos, é de há muito evidente que razões de ordem juridica para o impeachment não faltam.
Perante esta situação, o impeachment de Trump parece estar totalmente nas mãos do partido Republicano.
Talvez no entanto as coisas não sejam assim tão simples como parecem.
Até que ponto podem as decisões tomadas no âmbito interno do partido democrata virem a ser determinantes no sucesso do impeachment?

Independentemente de quem interinamente suceda a Trump, a grande preocupação dos republicanos e em especial dos seus financiadores, é a de saber quem poderá ser o vencedor das eleições de 2020, sobretudo depois de Trump afastado e o partido desgastado.
Face aos inúmeros problemas políticos e económicos criados por Trump, julgo que a maioria dos grandes financiadores republicanos não estará muito preocupada com a sua saída, mas estarão, isso sim,  preocupadíssimos com a possível eleição de um Sanders ou de uma Elizabeth Warren.
Ou seja, curiosamente, julgo que a concretização ou não do afastamento de Trump, está de facto nas mãos dos democratas, ou seja, se o vencedor das primarias democratas for um radical dificilmente haverá impeachment, e assim, por estranho que pareça, a radicalização dos democratas seria o melhor seguro de vida para Trump.
A radicalização dos democratas não apenas inviabilizará o impeachment, como poderá até levar  à reeleição de um Presidente impopular, porque o desfecho de um combate entre dois radicais será sempre de resultado imprevisível.

Digo isto. não por pensar que não existam virtualidades nos programas de Sanders e Warren. Como eles gostam de dizer, Roosevelt nas suas reformas foi muito mais longe do que aquilo que eles agora propõem, mas simplesmente, não é agora  claramente o tempo para os EUA embarcarem  em processos desse tipo.
Nestas condições, o Mundo e os EUA precisam que o Partido Democrata deixe para depois a ideia de nomear um radical, isso poderia  custar-nos a continuação de Trump, com todos os efeitos catastróficos que tal poderia  implicar.