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terça-feira, 18 de dezembro de 2018



PORTUGAL 2019 - O CENTRÃO?


Não existe em Portugal configuração política mais vilipendiada que a do bloco central, isto embora a sua existência tenha sido efémera, apenas dois anos com a difícil missão de gerir a intervenção do FMI 83/85,  o que não mereceria nem especiais elogios, nem os habituais insultos.
Esta percepção pública de que um governo de bloco central é uma coisa má e que seria  o pior que poderia acontecer ao país, assume agora uma gravidade maior.
Gravidade maior porque o país vive actualmente um processo de radicalização, ainda incipiente mas que tudo leva a crer que se irá agravar no próximo ano, com dois actos eleitorais e a pioria da situação económica mundial, a que a guerra comercial de Trump nos parece querer conduzir, tudo isso agravado pelo aumento da instabilidade na Europa.

Perante esta situação, 2019 será pois a última possibilidade de termos uma governação ao Centro e Reformista, que finalmente acabe verdadeiramente com o equívoco do "caminho para o socialismo" (já não estabelecido na Constituição mas ainda presente em espirito), e normalize a nossa sociedade, como uma verdadeira democracia do mundo Ocidental, impedindo assim que caíamos num processo de radicalização incontrolável, que mais uma vez nos mostre como os nossos "brandos costumes" podem com facilidade transformar-se em anarquia violenta, como a historia o provou por diversos, e por vezes longos, períodos

Este texto é pois sobre as virtudes do Centrão e os perigos de radicalização, que à direita e à esquerda, se levantam.

Porque a solução do Centrão é tão desprezada em Portugal? Existem três razões principais para que assim seja:
- a esquerda radical tem medo dela porque sabe que isso possibilitaria as reformas que o país necessita fazer e que provavelmente a afastariam do poder por muito tempo
- a direita radical por razões parecidas, mas menos estruturadas, como aliás essa direita tem sido
- o Clubismo partidário, que confunde camisolas, com ideias e projectos e por isso mesmo é pouco dado a acordos menos óbvios
- por fim, e talvez mais importante que todos os outros, o "Bloco Central dos Interesses", que tal como os grupos anteriores não quer Centrão nenhum, porque sabe que esse Centrão não teria desculpa para não fazer as reformas sempre adiadas, o que acabaria com o seu mundo de negociatas diversas, que tão bem tem proliferado, com acordos por baixo da mesa entre influentes do PS e PSD (e por vezes do CDS). Tudo  isto, enquanto os partidos do centro em exercício no governo vão invocando a sua incapacidade para controlar as situações por falta de legislação que não têm poder para produzir

O Centrão é pois, a única forma de garantir que finalmente se façam no país as reformas sempre adiadas, a reforma política, a administrativa, a da Justiça, a da Administração Pública, a legislação séria anti-corrupção, etc. Sem essas reformas continuaremos a ser uma democracia frágil, que qualquer radicalização destruirá. É por isso que aquelas reformas são urgentes e que 2019 será provavelmente a sua última oportunidade.

O Centrão não é a solução corrente em democracias consolidadas, sendo normalmente preferidas soluções de alternância política, embora de geometria crescentemente complexas, mas a verdade é que a nossa democracia não é verdadeiramente uma democracia consolidada, embora o pareça. O nosso edifício Constitucional e legislativo tem contradições e lacunas, que têm tido um peso negativo no nosso desenvolvimento e que podem ser perigosas já a curto prazo.
Como até hoje o "clubismo" e os interesses do "bloco central dos negócios", impediram a concretização daquelas reformas em devido tempo, temos agora a última oportunidade, que só o "Centrão" pode viabilizar.

No que se refere à radicalização tudo leva a crer que vamos entrar num PRAC, tipo PREC (agora com a radicalização no lugar de revolucionário), mas talvez mais perigoso e ainda mais confuso.

À esquerda Catarina Martins deu o tiro de partida com o seu discurso sobre as pretensões do BE de ir para o governo, aquela declaração foi na altura considerado um erro e uma ingenuidade de Catarina. Catarina e o seu mentor, o "conego" Louçã, estão longe de ser ingénuos, o seu discurso tinha uma audiência e um objectivo claros, Catarina falava para a ala esquerda do PS e dizia-lhes qualquer coisa do tipo: "nós estamos prontos para começar a construir a sociedade socialista em Portugal, se isso não acontecer será apenas por vossa culpa, o país está maduro e nós temos a vontade, vocês vão vacilar? Temos a oportunidade de ser o farol do mundo e de ter sucesso onde antes de nós todos os outros falharam, terão vocês a coragem necessária para entrar na Historia pela porta grande?". O discurso classico dos amanhãs que cantam, antes do caos que sempre se segue.

São bem conhecidos alguns dos apoios incondicionais que existem dentro do PS a um projecto desse tipo, apoios a que parece se juntar agora a própria Juventude Socialista.
Será em volta do BE e do politicamente correcto que será feita a radicalização à esquerda, o que colocará  o PCP numa situação difícil e com consequências imprevisíveis.

Quanto à direita a situação é menos clara, tanto mais que a direita em Portugal deixou de existir no 25 de Abril, desde então que nenhum partido significativo se afirmou como de direita, todos têm andado entre a centro-direita e a centro-esquerda, com excepçao de pequenos partidos sem significado, como é hoje o caso do PNR.
Ou seja, os votos da direita estão algures, espalhados entre a abstenção, o CDS e o PSD, e a sua dimensão é desconhecida, assim como o seu potencial de crescimento.
Recentemente julguei que Santana Lopes fosse tentar ocupar esse espaço vazio que existe à direita, e embora isso envolvesse alguma contradição com a sua linha ideológica, a verdade é que já vimos mudanças de linha politica bastante mais drásticas, não foi essa a opção dele e ao fazê-lo deixou o campo livre para o "Chega", que certamente apontará para caminhos muito mais radicais do que Santana faria.
Vai Ventura, no reduzido espaço de tempo que tem até Outubro, ser capaz de construir um partido com possibilidade de desequilibrar o sistema? A lógica diria que não, mas por outro lado, o clima de radicalização que se está a criar e a força da novidade de uma direita "adormecida", podem vir a gerar uma surpresa.


Antonio Costa sabe que o actual modelo da gerigonça não é repetível, o preço que teria de pagar para um novo acordo seria incomportável  face aos nossos compromissos internacionais e também para o futuro do seu partido e dele proprio, por isso, tudo leva a crer que, não tendo maioria parlamentar, irá preferir uma coligação ao centro. Que espaço tem Costa para dentro do partido vir a impor esse tipo de solução sem demasiados danos?

Naquele cenário, Rui Rio, mesmo que com uma votação a rondar apenas os 20%, seria o parceiro ideal para Costa,  certamente que esse Centrão teria facilmente uma ampla maioria na Assembleia, a rondar a maioria absoluta. Sobreviverá Rio para o concretizar? Tudo leva a crer que sim, algum poder sempre é melhor que nada, e o PSD gosta e precisa de poder.


Nos seus tempos de Presidentes de Municípos os dois terão já falado muito sobre tudo isto, o "destino" acabou por os juntar, falta apenas a parte que teoricamente seria a mais fácil, a que se seguiria o enorme desafio das grandes reformas sempre adiadas, reformas que teriam de pôr de pé num ambiente crescentemente crispado à direita e à esquerda.

Neste final de 2018, de uma forma simplista diria que para 2019 "ou Centrão ou confusão", na verdade julgo que será bem pior do que isso, sem as grandes reformas, e com o agravamento da situação economica, com a instabilidade politica e social na Europa, por cá correremos o risco de caminhar para o caos, a prazo mais ou menos breve.


Façamos por ter um BOM ANO

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018



A HUMILHAÇÃO DA CHINA - VAMOS PARA A GUERRA?


Todas as grandes potencias são paranoicas, porque elas são simultaneamente muito fortes e muito frágeis, pela sua dimensão e complexidade são todas um pouco como castelos de cartas facilmente  arrazaveis. A Historia está cheia de cadáveres de grandes potencias "indestrutíveis" a demonstrá-lo.

De entre as grandes potencias actuais a China tem todas as razões para ser a mais paranoica entre elas, porque é herdeira daquele que foi o maior império do mundo, político, económico e cultural, durante séculos, e porque, depois disso foi humilhada pelo Ocidente, em especial durante o século XIX e inicio do sec XX, ao que se seguiu a humilhação japonesa.

Uma grande potencia com um passado como o da China tem de ser forçosamente muito receosa do mundo que a rodeia. Os Estados Unidos com a constante instabilidade de Trump têm vindo a agravar aqueles receios históricos, pondo em risco a economia e a paz mundiais.

Seria impossível imaginar pior figura que Trump para lidar com a China, Trump é um pato-bravo, primário e arrogante, que julga que pode tratar toda a gente como sempre tratou os seus fornecedores, e como ainda hoje trata todos os seus colaboradores, incluindo os próprios secretários e grandes figuras da política americana. O contacto de Trump com uma China que não pode "perder a face", tem tudo para ser uma relação impossível, sempre numa espiral negativa.

Tudo começou com o absurdo convite que Trump fez a Xi logo no inicio do seu mandato, para visitar os EUA, quando, em lugar de o fazer para uma das residencias oficiais, decidiu convidá-lo para a sua mansão de novo rico de Mar-a-Lago na Florida. Ridiculamente julgava Trump que impressionaria Xi com o seu pastiche de pequeno palacete, adquirido através de truques diversos. Claro que Xi, habituado à imensidão e simplicidade opulenta dos palácios chineses não se sentiu impressionado, mas compreendeu de imediato os riscos que iria enfrentar com a presidência do novo líder americano. Xi que já era um centralizador do poder, tornou-se a partir daí mais convicto que não tinha outro caminho que não o de aumentar essa centralização e acelerar a autonomia geoestrategica e tecnológica da China.

É claro que a China está muito perto de se transformar na grande potencia mundial deixando para trás os EUA, mas Trump adoptou a pior das estratégias para tentar conter esse processo, ao obrigar Xi a acelerar a fundo o processo de modernização tecnológica e de expansão geoetrategica, assim como a estancar qualquer liberalização interna no Império do Meio, liberalização essa que seria um suicido perante um inimigo disposto a explorar todas as eternas tendências centrifugas que são uma realidade do  Império  desde sempre.

Estamos portanto numa corrida, que a impreparação e o convencimento  de Trump em grande parte originaram e para a qual não se vê saída. O mundo volta a estar muito perigoso.

Todas as grandes potencias sempre fizeram acções de destabilização das outras grandes potencias, goste-se ou não, essa é e sempre foi, a dinâmica do poder mundial, mas quando são dados sinais errados pelos líderes mundiais, aquela dinâmica atinge proporções maiores e fica totalmente fora de controle, é então que as desgraças acontecem.

Um mundo com três grandes potencias, uma hegemónica, outra que é o país mais populoso do mundo e a sua segunda economia, e uma terceira que além de ser o maior país do mundo é uma grande potencia militar, um mundo assim é sempre um local com altos riscos, mas torna-se algo de muito perigoso quando entre os seus líderes existe alguém que, além de não saber o que faz, tem razões pessoais para estimular os conflitos.

Trump foi eleito sobretudo graças à estupidez e cegueira dos democratas e dos seus  companheiros "politicamente correctos". Será que os políticos americanos ainda vão a tempo de evitar o desastre?

Muller,  cuidadosamente tem reforçado o seu processo, para um momento em que ele possa vir a ser utilizado para um possível impeachment de Trump. Não será que Trump sabendo disso não vai entrar numa estratégia de "quanto pior, melhor"? Apostando tudo que num clima de guerra (ou pré) qualquer impeachment se torna impossível?

O incidente de ontem, com a prisão no Canadá da directora (e filha do dono) da Huawei, noutra conjuntura seria apenas mais um incidente, neste momento é uma declaração de Trump dizendo que não quer acordo comercial nenhum, ele quer apenas uma guerra ou a humilhação total da China. Apenas uma dessas duas coisas o pode salvar.

Trump, como criança mimada que é,  não terá nenhum escrúpulo em arrastar o mundo para o desastre, apenas numa tentativa de salvar a própria pele. Infelizmente isso nada tem de novo na Historia da humanidade, muitos outros o fizeram antes dele, mas nunca o que esteve em jogo foi tão importante, nem os riscos tão grandes.







segunda-feira, 12 de novembro de 2018




O OBSERVADOR É BOM PARA A DIREITA?

Para mim a resposta é claramente NÃO, não é.
A direita, ou melhor, as direitas, em Portugal são um poço de problemas, o Observador como um jornal moderno, quase que revolucionario para o ambito nacional, poderia e parecia querer ser um elemento para ajudar à resolução daqueles problemas, mas na verdade vem acontecendo precisamente o contrario, não só não ajuda à sua resolução, como parece agravar aqueles problemas.
A nossa direita tem problemas com traumas antigos e recentes que tem de encarar e ultrapassar. A nossa direita há muito deixou de pensar, preferindo ruminar as suas frustrações. Esta direita não irá a lado nenhum enquanto for a direita de alguns interesses e não a direita dos principios, só com base em principios a direita pode vir a traçar uma estrategia vencedora, até lá ela será apenas a dos leitores que se comprasem em ler Alberto Gonçalves ( que aliás afirma que não é de direita), pensando para eles proprios "somos optimos e havemos de dar cabo de todos esses comunas corruptos e incompetentes".
Porque o Observador tem culpa? Porque se a nossa direita é incapaz de ler a realidade, é pouco culta, traumatizada, não tem nem ideias, nem principios, nem projecto, o Observador ou é um instrumento de melhoria dessa direita ou é um logro. Hoje, julgo que é claramente um logro.
Se eu fosse dado a teorias da conspiração, diria até que um jornal "cheio" de gente que vem da extrema esquerda, até mesmo daquele partido que se dizia estar ao serviço da CIA, um jornal assim, tem tudo para ser um "infiltrado" ao serviço da Internacional Socialista, ou de outros projectos de esquerda mais radicais.
Claro que não acredito naquela conspiração, o que até certo ponto é ainda mais grave, porque não sendo assim, resulta que o Observador trabalha para a esquerda mas de graça, ou melhor, pago pelos seus acionistas e assinantes.
Esta "radicalização verbal" tem vindo a crescer de uma forma lenta, quase imperceptivel, ao longo da curta vida do Observador. O Passismo terá tido grande culpa neste processo, não intencionalmente, mas pela mentalidade que foi criando.
Para o Observador ser útil à direita teria de a ensinar a pensar, em lugar de dar prioridade a insultar a esquerda, apenas porque isso é mais facil e vende. Teria que discutir ideias e projectos, para depois ajudar a traçar as estrategias e as desenvolver. A simples masturbação de equivocos auto-congratulatorios, pode ser comoda mas não leva a lado nenhum, para além do crescimento da esquerda.
É neste quadro que o Observador acaba por ser negativo para a nossa direita, porque como tem fama de ser radical, sem o ser de facto, tudo quanto defenda é logo considerado pelo mundo exterior como "inaproveitavel", mas, ao mesmo tempo, abre as portas a reportagens e artigos de opinião de esquerda (estes, muitas vezes os mais ponderados do jornal, juntamente com os de Espada). Ou seja, não "educa" a direita, e com o seu tom-radical não atrai e até afasta o centro, tornando assim impossivel a construção de uma imagem credivel do jornal fora da sua área de influencia directa.
Li recentemente o livro de Nuno Garoupa sobre a direita portuguesa, subscrevo quase tudo o que nele é dito, e é muito e muito polemico, só que sou menos pessimista do que ele, não porque pense que a nossa direita é melhor do que ele diz, mas apenas porque ela é tão má, tão má, que lhe bastaria ser razoavel para poder ter sucesso e isso talvez seja possivel a medio prazo.
O país precisa de ter direitas, que consigam ver a realidade, que tenham ideias e ideais e que a partir daí construam projectos mobilizadores. Até agora o que fez o Observador por isso?
Tudo isto é tanto mais grave quanto acontece na mesma altura em que o Expresso, tradicionalmente um jornal do centro, virou claramente à esquerda. Não foi apenas o recrutamento de Louçã (porquê??), nem só os artigos de Santos Guerreiro, quase tudo no jornal virou à esquerda, com a honrosa excepção de Ricardo Costa, que mantem a sua posição ao centro, agora isolado.
Os tempos continuam dificeis para a direita em Portugal, mas continuo a pensar que pelo menos 90% da culpa é apenas dela mesma.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018




ATÉ QUANDO OS BOLSONAROS?



Como há muito era previsivel, o PT, a esquerda, o centrão e o egoísmo das elites brasileiras, finalmente entregaram o país aos populistas de direita, neste caso os Bolsonaro.
E agora?

Governar o Brasil será sempre uma tarefa extremamente complexa, pelos enormes problemas sociais, pela sua dimensão populacional, territorial e economica, assim como pelos aspectos geopoliticos, tudo isso agravado por uma quadro institucional e legislativo que tornam a governação ainda mais dificil.

Para que Bolsonaro possa ter sucesso necessita de constituir uma equipe de alta qualidade, o que não sendo facil não é impossível, mas esse é apenas o primeiro obstaculo para o seu sucesso.

Gerir uma equipe governamental, envolve uma grande capacidade para gerir personalidades com opiniões diferentes sobre assuntos muito complexos, personalidades essas que tendem naturalmente a degladiar-se constantemente na procura de mais poder e meios para as suas areas de influencia, pelo que sem um bom líder qualquer equipe governamental vira uma bagunça perigosa.

Bolsonaro é um primario, sem experiencia politica executiva, nem de coordenação de equipes com actividades multidisciplinares extremamente complexas, pelo que não é previsivel que possa vir a fazer essa coordenação sózinho. Como irá ele resolver este problema? O seu vice não o poderá fazer, nem Bolsonaro lhe entregaria esses poderes, nem provavelmente ele teria capacidade para os exercer, tambem Paulo Guedes não o poderá fazer para além das áreas economicas.

Na minha opinião, apenas a existencia junto de Bolsonaro de uma personalidade que ele respeitasse e ouvisse, e que lhe conseguisse moderar os ímpetos, poderia viabilizar o sucesso de um seu governo. Por onde andará a personlidade capaz de o fazer? Civil ou militar, discreto, disposto a viver na sombra, com experiencia politica, onde está ele?

Fazem-se comparações de Bolsonaro com Duterte e Trump, todos têm em comum o seu caracter primario e populista, mas não se pode ir mais longe. Bolsonaro não tem a experiencia politica-executiva de Duterte e as Filipinas não são o Brasil. Trump tem uma experiencia de sucesso como líder empresarial de sucesso, que é mãe do seu enorma ego, que Bolsonaro tambem não tem.

O facto de Bolsonaro não ter ainda o "super-ego" de Trump, talvez lhe permita ter a visão para optar pelo tal "assessor principal" referido atrás, sem esse "assessor" o Palacio do Planalto e a Esplanada dos Ministerios serão uma confusão bem maior que a Casa Branca de hoje. Se assim for, depois rapidamente virá o caos.

Recentemente o Comando do Exercito veio a público frisar que o Exercito não tem candidato nestas eleições, foi importante que o tenha feito e que o mantenha, de preferencia sem deixar oficiais no activo desempenhar funções que não sejam funções militares.
Perante o caos, o Exercito é a única garantia da integridade territorial brasileira, e portanto da existencia do Brasil como nação.
Os que pensam que os golpes militares "passaram de moda" e hoje são impossíveis, vivem num mundo de ilusão, o golpe militar na Tailandia em 2014 é a prova disso, ainda era tempo de Obama e reacção internacional contraria foi apenas pouco mais que uma formalidade democratica, sem aquela intervenção qual seria a situação da Tailandia hoje em dia?

O caos seria o fim dos Bolsonaro. Por ironia do destino iríamos assitir a um golpe para destituir um Presidente fã da ditadura militar.

Tempos perigosos, tempos interessantes

segunda-feira, 8 de outubro de 2018



BOLSONARO, QUASE O TSUNAMI

Como era evidente, vinha aí uma onda, só que foi bastante maior do que o esperado, não sendo no entanto o tsunami que os Bolsonaristas desejavam.
Bolsonaro é quase Presidente, não fosse a imprevisibilidade da sua pessoa a vitoria estaria já assegurada.
De qualquer modo, uma "virada" é muito dificil, mesmo que todos os votos de Ciro Gomes e Marina fossem para Haddad, tal não chegaria, seriam ainda necessarios os do PSDB e outros.

Como foi possível que a Esquerda e o Centrão não vissem a onda que vinha aí? Mas pior, como continuam sem a compreender? Para eles tudo é fruto de um movimento "fascista mundial", potenciado pelas novas redes sociais.
O PT começou a sua transformação no mais mafioso dos partidos politicos brasileiros, na noite em que os "camaradas" mataram Celso Daniel (autarca do ABC Paulista), porque ele quis impedir as negociatas que se preparavam. Lula, Dirceu, Genoíno e toda a cúpula do PT apoiaram a ocultação do crime, a partir desse momento o PT foi ladeira abaixo até se tornar na organização mafiosa que hoje se conhece. Haddad até pode ser diferente, mas ele não tem qualquer possibilidade de controlar a maquina mafiosa em que o PT se transformou.
O Centrão há muito tempo que é um balcão de negocios, pai de um emaranhado legislativo que torna quase impossível o papel da Justiça e portanto o controle da corrupção e da segurança pública.

No meio de tudo isto, a população suburbana vive aterrorizada em favelas e afins, deslocando-se "enlatada" em transportes onde chegam a consumir seis horas de cada um dos seus dias.
O mito da esquerda é que foram os ricos a votar em Bolsonaro. Em muitos estados Bolsonaro teve mais de 50% (e até de 60%) dos votos. Abençoado país com tantos ricos!
Claro que não foram os ricos que decidiram a votação que Bolsonaro ganhou em todo o país, com excepção dos Estados do Nordeste, onde a dependencia da "bolsa familia" é quase total. Não compreender isso é não compreender nada do que se passou.

Bolsonaro ganhou não pelas suas qualidades, ganhou porque qualquer "calhau com rodas" que gritasse que é necessario mudar tudo ganharia.
A população sabe apenas que a sua vida está cada vez mais dificil e que os partidos tradicionais estão apenas preocupados com os seus negocios e as "causas fracturantes", não com as suas vidas.

Se Bolsonaro ganhar o desafio será imenso e apenas com uma grande equipe ele lhe poderá fazer face, não serão tempos fáceis.

Caso Haddad viesse a ganhar, a maquina mafiosa do PT rapidamente o engoliria e levaria o país ao caos. Depois, seria uma questão de tempo até ao inevitavel "golpe" militar.







terça-feira, 4 de setembro de 2018




É TEMPO DE BOLSONARO?

Depois do "Centrão" ter demonstrado ao longo dos anos a sua total incapacidade para resolver o imbroglio político-institucional brasileiro.
Depois da esquerda ter traído todos os ideais que apregoava e se ter afundado num mar de corrupção.
Depois de tudo isso, que resta ao Brasil?
Alguem ainda acredita na capacidade do Centrão para fazer as reformas que nunca fez? 
Alguem acredita numa possível rapida regeneração da Esquerda?

A continuação da degradação social e institucional, mais cedo ou mais tarde, conduzirá sempre a um golpe militar, há limites para além dos quais o que fica em causa é a propria integridade nacional, e esses limites o Exercito nunca deixará passar.
Será Bolsonaro a única solução antes do caos e do "Golpe"?
Bolsonaro é um politico de 3ª linha, sem o conhecimento nem a experiencia para os enormes desafios que se levantarão a um Presidente do Brasil, o que óbviamente é um mau começo, mas a verdade é que também já vimos varios presidentes experientes falharem redondamente.
Bolsonaro está também muito longe do que foi a elite militar brasileira, de Golbery, Castello Branco e outros, elite essa que se ainda hoje existir, deverá ser de um nível muito inferior à daqueles tempos.
A única vantagem de Bolsonaro é ser uma carta fora do baralho, ou seja, fora do pantano politico-institucional brasileiro, o que só por si é pouco. No entanto, se Paulo Guedes for o homem que se diz ser, e Bolsonaro tiver absoluta confiança nele, talvez este possa ser um caminho.

Qual o meu prognostico?
Depois de ouvir varios brasileiros, que sempre desprezaram Bolsonaro e odiaram os militares, começarem a manifestar alguma esperança no "novo Bolsonaro", julgo que, goste-se ou não, o Brasil está pronto para Bolsonaro.
O Brasil está muito cansado, tem sido muita desilusão junta e Bolsonaro é a tal carta fora do baralho.
A ver vamos.

segunda-feira, 14 de maio de 2018





ODE NEGRA À EUROPA*

Dizem Eles que graças a ti deixámos de nos matar
nunca mais nos mataremos, uns aos outros,  dizem Eles
será assim  para sempre, graças a ti ó Nova Europa!

Ilusão perigosa, miragem, erro ou embuste mesmo?
será verdade  que tu, com os teus pequenos passos hesitantes
cada vez mais curtos e confusos
vais ser capaz do milagre da nossa redenção?
esqueceremos assim todo o passado, todas as traições, todo o sangue
todos os ódios, todos os enganos, todas as assombrações
e também as religiões, os pecados, as perseguições, as ilusões ainda não perdidas?
todos os egoísmos, todas as invejas, todas as vinganças?
Será mesmo que todos eles não mais voltarão, e que nada os ressuscitará?

Não compreendem Eles que o que nos une é, ainda, apenas o conforto?
não será a nossa paz, somente a paz dos confortavelmente instalados?
Numa segurança comprada dia a dia, a prestações se necessário
num conforto que nos corrompe, embala, inebria, cega e paralisa

Eles, os burocratas, os políticos que mudam a todo o tempo e também os tecnocratas
Eles que da historia têm apenas uma muito vaga ideia
e que do Homem parece nada saberem, julgando que o civilizaram
Eles que dizem conhecer  o caminho, Eles sabem sempre tudo, sempre souberam
saberão certamente o caminho deles, quando tudo começar a ruir


Julgam Eles que o Mundo, respeitosamente, como sempre, esperará  por nós?
esse mundo que nos inveja, que respeita parte dos nossos sucessos
mas que também sabe quanto teve de pagar para que eles fossem possíveis
Julgam Eles que que podemos ainda definir as regras do jogo?
Julgam Eles que podemos ainda regular  mesmo a cadencia das coisas e do próprio tempo?

Pensam Eles que sem mudarmos tudo, e rapidamente, o mundo vai parar à nossa espera?
será que o mundo o vai fazer  porque contraditoriamente, nos vai invejando
outras vezes desprezando, outras respeitando e até muitas vezes nos foi odiando
ou será que o mundo o fará apenas por termos aberto mares, o pensamento, a ciência e as tecnologias?
Apesar das humilhações, da vaidade, e da arrogância que nunca sequer escondemos

Será que Eles, os otimistas de serviço, os ignorantes, os ingénuos, os políticos de passagem
os burocratas, os tecnocratas, e outros, será que todos , todos Eles, julgam que, como ontem
como foi sempre, reverencialmente o mundo esperará por nós, para que tenhamos tempo,
tempo para resolver as nossas querelas internas, de pequenos países ridículos
com os seus egoísmos, os seus passados mal resolvidos e a visão já toldada pela senilidade?
Julgam Eles que teremos sempre tempo, como dantes, muito antes?

Todos sabemos que acabaremos, como romanos, egípcios e outros,  antes de nós acabaram
restarão ruínas, pedras, muitas pedras, e historias que parecerão inverosímeis
Mas porque tem de ser tudo tão rápido? tudo tão incompetente? Tudo tão cego?
Não seria possível deixar que nossos filhos, quem sabe até nossos netos,
não tivessem ainda que ver as nossas terras convertidas numa imensa Síria,
fugindo em hordas que ninguém quererá receber, morrendo pelos caminhos
ou mesmo ainda em casa, em memoria de avós que  nada viram, nada compreenderam
além dos seus pequenos interesses do dia seguinte e dos seus negócios, tão  urgentes como dispensáveis

Talvez portugueses, ingleses e outros poucos,ainda tenham tempo e arte para se esgueirar pelo Atlântico
como sempre fizeram, como sobreviveram e se afirmaram
mas mesmo que assim seja, serão apenas tristes jangadas de pedra, feitas de sonhos perdidos
órfãs de irmãos e primos, entretanto mergulhados nas chamas dos infernos

Como sempre aconteceu aos grandes quando se deixaram tornar irrelevantes
Seremos pasto de dor, bombas, destruição e loucura
Então, no meio dos escombros serão claros, a pequenês dos nossos egoísmos
e o ridículo das nossas pequenas questiúnculas,
filhas dos nossos orgulhos e dos nossos medos, mães da nossa desgraça
nossa deles, que aqui ficarão, como sempre acreditando até ao fim que tudo acabará por correr bem


*Texto suscitado pelas comemorações do 9 de Maio

sábado, 7 de abril de 2018


JOAQUIM BARBOSA
Será que ele vai mesmo ser candidato?
Sendo eleito será que ele conseguirá mudar todo o sistema politico brasileiro? Terá ele a coragem, os apoios e a força para o fazer?
Há muito tempo que o vejo como a unica possível solução "não militar" para arrumar a casa do Brasil, agora parece finalmente decidir-se a avançar.

Enquanto o Brasil não fizer o seu arrumar de casa, continuará a ser o país do futuro, até ao momento em que se torne inviavel, por ter sido o país de todas as oportunidades perdidas.Com esta Constituição, com este sistema partidario, com estes metodos de financiamento de partidos e politicos, o Brasil caminha para o desastre, seja quem for o Presidente.
sexta-feira, 6 de maio de 2016 -- (PUBLICADO EM MAIO DE 2016)
O BRASIL E OS MILITARES
Existe saída para o Brasil sem a intervenção dos militares? Cada vez mais dificilmente.
A classe política está na sua quase totalidade descredibilizada, e o pior é que o actual o sistema político não tem quaisquer condições de gerar uma nova classe política, que seja de facto diferente da que existe hoje.
Existem condições reais para uma rápida mudança do sistema político? Existe uma figura nacional que possa liderar uma tal tarefa? Também dificilmente. As poucas personalidades que poderiam ter prestígio para o fazer, não têm nem suficiente experiencia, nem peso político para o poderem concretizar.
É já tempo para os militares? Ainda não, mas é tempo para que se preparem, porque muito provavelmente em breve serão "chamados".
Quão breve? Um ano? Dois? Tudo vai depender do nível do caos a que se chegue. Aí será tempo de, em nome da "unidade territorial" do Brasil, as Forças Armadas avançarem.
Esperemos apenas que desta vez, como Castello Branco já queria que tivesse sido da outra vez, venham apenas para "arrumar a casa" e que depois regressem aos quarteis.
TRUMP E PUTIN - PUBLICADO EM NOVEMBRO DE 2016
O relacionamento entre Putin e Obama nunca funcionou, na verdade julgo que se desprezavam mútuamente, Putin via Obama como um negro pacifista com pretensões intelectuais, Obama via Putin como um troglodita racista, e um mero operacional dos serviços secretos.
Já entre Trump e Putin tudo leva a crer que o relacionamento venha a ser bem mais facil, na pratica são dois operacionais pragmáticos e brancos, um vindo dos negocios e o outro das polícias.
Para além das semelhanças temperamentais e de formas de actuar, existe outra razão muito forte para que o relacionamento entre os dois venha a fluir.
Os dois têm uma mesma visão do mundo, resumidamente pode dizer-se que os dois temem a China, os dois odeiam os muçulmanos e ambos desprezam a Europa.
Dificilmente poderia existir melhor plataforma para potenciar um entendimento.
Os dois olham a Europa como um conjunto de pequenos países que, quando não se estão a matar uns aos outros, se dividem a todo o tempo sobre as mais diversas questões, comandados por chefes palavrosos, complicados e cobardes, uma Europa ainda por cima cheia de latinos e adormecida por um estado social com custos exorbitantes.
Claro que, apesar de tudo isto, Trump não vai entregar a Europa a Putin, mas, de qualquer modo, é seguro que a nossa vida vai ser bem mais complicada, e para que ela não seja mais dificil do que aquilo que tem de ser, talvez fosse tempo de a Europa tentar compreender a Rússia.
A realidade é que a Europa, nunca compreendeu o seu maior vizinho, fosse a Rússia dos Czares, a dos sovietes, ou a de Putin, pior ainda, nunca a compreendemos, sempre a tememos e fomos continuadamente acumulando erros de relacionamento.
Este desconhecimento europeu da Rússia, é tanto mais estranho quanto foi graças à consolidação do imperio Russo que as hordas de hunos e mongois deixaram de "inesperadamente" aparecer às portas de Roma ou de Viena, antes disso, qualquer capital europeia estava sempre em risco, de que uns Átilas, ou uns Gengis Khans quaisquer, aparecessem para jantar, e alguma coisa mais...

quarta-feira, 7 de março de 2018


O DESASTRE DE PASSOS COELHO, RIO E O FUTURO

Por ironia das coisas, Passos Coelho, o líder que levou o PSD a um dos seus maiores desastres, é tido como uma grande figura do partido, pela maioria dos seus militantes, ou pelo menos assim parece.
Passos foi o líder que não obteve a 2ª maioria absoluta, apenas por causa da sua obstinação, e que, depois disso, geriu desastrosamente a oposição do PSD à geringonça. Foi ainda ele que, mais uma vez pela sua teimosia, conduziu o partido ao desastre autárquico de 2017. Como é que é possível que esta figura seja reverenciada como o grande líder do PSD moderno?!
Passos é entronizado por ter salvo o país! Mas que fez Passos que qualquer outro líder de direita ou do centro político não tivesse feito?? Não havia outro caminho, só amigos de Tsipras poderiam ter suposto e tentado outras vias, nunca lídereres da área politica do PSD. Em horas como aquelas, o que tem de ser tem muita força, até o proprio Mario Soares o fez quando teve que ser.
Então foi porque Passos o fez de uma forma brilhante? Mas onde está esse brilhantismo? !
-Por mim só vejo deficiências, para além das reformas laborais e alguma coisa na Justiça e na Educação, que reformas fez mais?
- A política de comunicação do governo não foi um desastre?
- As decisões na área tributaria foram as mais corretas?
-Houve a coragem de acabar com o grupo BES, mas porque misteriosa razão se deixou arrastar o BANIF?
- Ainda na área financeira, que justificação para todos os lesados de ultima hora? Não será que tudo foi feito muito tarde? E não será também, que tudo foi muito amador?
-Porquê as guerras constantes com o Tribunal Constitucional? Porquê, em relação a nenhuma das reformas, realizadas e por realizar, não houve qualquer tentativa de negociação? Não existia espaço negocial? Ou o que Passos queria fazer estava fora de qualquer de qualquer possibilidade e por isso ele só queria cheques em branco, que o Tribunal Constitucional e outros agentes políticos não lhe podiam passar?
-A frustrada tentativa de revisão das contribuições para segurança social de trabalhadores e patrões, que quase destruiu a coligação, não foi um disparate? Pelo menos no timing, já para não discutir aqui o conteúdo.
-E por aí foi, vejo muita teimosia e resiliência, mas pouca arte e engenho.

Em resumo, Passos chefiou o governo da grande oportunidade perdida.
Com a “cobertura/justificação” da Troyka, aquele poderia ter sido o período das grandes reformas nacionais, mas, na verdade Passos ficou-se pelos mínimos, ainda por cima com um desgaste emocional e social maior do que aquele que teria sido necessário para reformar muito mais profundamente o país. Se para Portugal, esse foi o tempo de mais uma grande oportunidade perdida, para o PSD foi um desastre.
Teria sido fácil fazê-lo de outra forma? Certamente que não e muito menos com uma equipe como a que ele escolheu, em que os que tinham experiência não tinham qualidade e aos que tinham qualidade faltava-lhes a experiência, ou não tinham peso.
O próprio Passos que condições tinha para fazer frente ao desafio? Uma enorme vontade e uma forte resiliência, isso sem dúvida. Mas que experiência? Que conhecimento técnico?
A verdade é que Passos era então um recém convertido ao liberalismo, e por isso perigoso como todos os recém convertidos, porque ao apenas recentemente terem sido “tocados pela luz” julgam que de repente descobriram as soluções para todos os problemas do mundo.
O Passos-liberal passou a considerar-se a si próprio como portador de uma missão redentora, num país atrasado e com atavismos difíceis de ultrapassar. Passos quis ser um Guevara de direita, um revolucionário, a quem as simples reformas não bastavam. 
Ele queria em poucos meses fazer a revolução liberal nacional!!
Revolução essa para a qual não tinha qualquer mandato, isto aliás na linha de todos os bons revolucionários, que sempre usaram os mandatos que tiveram, quando os tiveram, da maneira que melhor lhes aprouve. Revolução obviamente impossível e que teria arrastado o país para o caos político, económico e social. São assim todos os “súbitamente iluminados”, de esquerda e de direita.
Passos, no seu delírio, pensou talvez que fora ungido pelos deuses para fazer a grande revolução, política, cultural e económica em Portugal. Aquela revolução obviamente não podia ser feita, não existiam nem as condições políticas, nem sociais ou económicas para a concretizar. Caso ele tivesse ido mais longe na sua aventura, teria destruído o país, a direita e o PSD.
Assim, Passos, com a sua teimosia, as suas limitações técnicas, e o seu desastre comunicacional, quase que foi o coveiro do PSD e simultaneamente, foi de facto o líder da grande oportunidade perdida pelo país. E para rematar com chave de ouro, foi o político que ofereceu de mão beijada à oposição uma situação muito fácil de gerir, mesmo que cometa muitos erros.
Então que dizer deste fenómeno que é a popularidade de Passos junto de grande parte das bases do PSD, e não só? Como se explica esta situação? Uma parte da explicação reside no facto de a maioria da população não ter sequer chegado a compreender quais eram de facto as suas intenções de fundo. Essa parte da população viu apenas o líder “corajoso” a enfrentar um momento delicado da vida nacional, nunca compreendeu bem o que “aí vinha”. Mas existia, e existe, outra parte dos seus apoiantes, em especial dentro do PSD, que tinham consciência do seu projeto e o apoiavam claramente.
A verdade é que existe hoje em parte da direita e do PSD uma deriva populista, com um pensamento contraditório, pró-europeu, mais ou menos liberal na economia, conservador nos costumes, democratas com reticencias, com uma agenda suficientemente confusa para ser abrangente, em que o anti-esquerdismo (quase que de forma clubística/primaria) é a base aglutinadora.
Esta deriva populista terá como origem, um certo cansaço com o politicamente correto da esquerda, e também com muitas das suas “manobras mais ou menos pérfidas” (como se estas fossem exclusivo das esquerdas). No entanto, para mim, tenho como seguro que a grande justificação desta “revolta moral”, é que ela é a forma das nossas direitas tentarem sublimar as suas frustrações com os próprios erros. Estes fenómenos de sublimação não são obviamente exclusivos das direitas, mas há muito tempo que as nossas abusam deles.
Será esta a nossa formula para o populismo? Porque razão fazer novos partidos para abrir novas frentes populistas, quando isso pode ser feito dentro dos partidos existentes? Será que o PSD como partido herdeiro de muitas tendências, unidas essencialmente pelo seu anti-comunismo, vai ser a nossa frente populista à direita? Esse movimento é imparável? Que consequências teremos no nosso espectro partidário e político?
Nos países ricos da Europa, os movimentos populistas começaram e desenvolveram-se a partir de pequenos movimentos e partidos nos extremos do espectro político, alguns deles cresceram e, neste tempo de incertezas multíplas, adquiriram já alguma relevância política.
No caso de países europeus menos desenvolvidos e com menor tradição democrática, o populismo instalou-se dentro de grandes partidos do poder. Vejam-se os casos da Hungria e da Polónia, com consequências ainda não claras, para essas democracias e para a Europa.
Iremos nós por essa via, de transformar os grandes partidos do centro em partidos populistas? Porque, não tenhamos dúvidas, se o PSD enveredar pela via populista, ou definha e perde toda a sua relevância, ou se afirma como tal e a prazo acabará por levar à radicalização do PS. Teríamos então dois grandes partidos “radicalizados”, rodeados por franjas irrelevantes, o que nos poderia conduzir a situações de enorme risco.
Regressar ao Sec XIX no Sec XXI, não nos levaria apenas a uma “simples” guerra civil, no mundo em que nos encontramos isso faria de nós campo ideal para todas as “experiencias” (alheias).
Os movimentos populistas são atrativos e perigosos, porque são sempre movimentos cheios de contradições, e que aliás vivem e se desenvolvem graças ao cultivo dessas contradições, o que lhes permite oferecer sempre o melhor de diversos mundos, por via de soluções aparentemente fáceis, mesmo que totalmente inexequíveis. Mas aquelas “simplificações populistas” com a sua inerente demagogia, são especialmente perigosas e delicadas na situação atual do projeto europeu.
Nestes tempos, todo o populismo irá desembocar em movimentos anti-europeus, quer se goste ou não. Será impossível completar a construção europeia com base em movimentos populistas espalhados pelo continente,pelo que isso seria o fim do projeto europeu. Se o PSD decidir enveredar pela via populista entregará ao PS toda a liderança do projeto europeu e com ela todos os possíveis louros. Será que o PSD o vai fazer?
E Passos? Será que está acabado como potencial líder de uma direita civilizada? Muitos comentadores pensam que sim, não estou tão seguro disso. A capacidade dos políticos se reinventarem é enorme, e apesar do “desastre”, ele tem qualidades pessoais importantes em termos de resiliência e liderança a que junta uma imagem pública contraditória mas com aspetos que podem ser positivos. A todas essas virtudes, Passos adiciona agora uma experiência governativa significativa, vivida em tempos muito difíceis. Se àquelas qualidades de Passos, o tempo vier a juntar uma maior abertura de espírito, melhor conhecimento técnico e sobretudo, se lhe der a capacidade de reconhecer os seus erros passados, se isso acontecer, Passos poderá voltar a ser um político a considerar na reserva da República

E agora Rio?
Tão teimoso como Passos, um homem da banda social-democrata do partido, que ao contrario de Passos não tem aversão aos velhos, mas que por outro lado, odeia a corte-lisboeta.
Com uma experiência política e de gestão pública infinitamente superior à que Passos tinha, e com uma bagagem técnica também significativamente melhor. Que se pode esperar de Rio?
O ódio de Rio à côrte-lisboeta, desde que racionalizado, poderá ter aspetos positivos. De facto existem, e não apenas nos tempos mais recentes, grandes inconvenientes nas praticas históricas desta “côrte”, que muitas vezes funcionou e funciona como clube fechado de troca de favores e de defesa de interesses particulares. É no entanto tarefa complexa alterar esta realidade, o que passaria forçosamente pela difícil consagração da transparência sistemática ao nível mais alto da gestão pública. Cair na tentação simplista da “multiplicação” de mini-côrtes seria desastroso para o país, e só pioraria tudo.
Quais as perspetivas para este novo líder? Aparentemente começou mal na gestão das questões internas do partido, foi a escolha dos vices, foi a guerra com o grupo parlamentar, foi o tom geral. Por muito que se goste de “pressão” parece que não lhe faltarão melhores oportunidades para a viver. Claramente um mau começo, sobretudo para quem tem pouco tempo pela frente.
Quanto à questão do relacionamento com o PS, contra grande parte das opiniões expressadas pelos comentadores de direita e centro, penso que Rio esteve bem. Não é tempo de fazer exigências ao PS que não tenham possibilidade de ter sucesso. O PSD necessita de mostrar agora que tem vontade de negociar soluções conjuntas, e por essa via de sair do beco em que se meteu à espera do diabo, e também de provar que tem vontade de negociar de espírito aberto e construtivo.
Se nestes dossiers agora abertos, ou noutros futuros, o PS bloquear negociações, tem de ficar claro perante os eleitores porque razões as negociações não tiveram sucesso, e quais as diferenças que as impossibilitaram. Só a partir daí o PSD poderá começar a fazer oposição de uma forma séria e sobre a qual possa capitalizar.
Rio tem pouco tempo e muito trabalho pela frente, pelo que necessita de não se dispersar em guerrilhas prejudiciais e consumidoras de tempo precioso, nem em teimosias “geneticas” ou em complexos anti-côrte.
Vencer o PS não será fácil, mas não é impossível, para que isso possa acontecer não poderão existir falhas da parte do PSD, será também necessário que o PS faça alguns erros (o que é altamente provável) e que, no meio desses erros, Costa tenha algum daqueles “surtos-psicoticos” que já demonstrou por mais de uma vez.
Passa por aí a possibilidade muito estreita de bater o PS.

Claro que o mais provável é que Rio não consiga derrotar o PS em 2019, mas se Rio fizer um bom trabalho e conseguir que o PSD cresça de forma significativa, certamente que ele irá continuar.
Se Rio falhar, o PSD tem grande probabilidade de vir a tentar transformar-se num grande partido “populista”, na tentativa de fugir ao definhar como um pequeno partido entalado ao centro.
É difícil fazer previsões num momento em que o quadro europeu continua muito fluído, em que às incertezas quanto ao Brexit, à Alemanha, à Itália, à Hungria e Polónia, e outras, se somam as incertezas da geopolítica global, relativamente aos EUA , Rússia e Médio-oriente.
Previsões são difíceis, mas isso significa que é tempo de cautela, sobretudo para pequenos países periféricos como o nosso.