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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019



ABANDONO, ABORTO E O REGRESSO DAS RODAS

O caso de Sara e do recém-nascido abandonado no lixo, foi já amplamente discutido, atrevo-me a voltar a ele apenas porque julgo que as questões mais importantes para a nossa sociedade, que este caso pode indiciar, ficaram por abordar.
Na verdade para além dos aspectos mais mediáticos, que envolveram desde o Presidente da Republica a uns tantos sem abrigo, os temas que se discutiram andaram mais ou menos, entre uma possível "maldade criminosa" de Sara e as diversas culpas da sociedade no sucedido.
Mas o que parece estranho é que este caso, talvez para descanso das nossas boas consciências, foi sempre encarado como se tratasse apenas um episódio isolado, sem qualquer significado para alem do drama concreto em si mesmo. Mas será este um caso isolado? Não corresponde ele a um problema mais fundo e vasto?
Não será que este caso só foi diferente de muitos outros porque, simplesmente, Sara não fechou o saco?
Quantas outras Saras fecharam e fecham os sacos?
No Séc XIX as rodas, onde as mães podiam abandonar as suas crianças, foram fechadas, decisão tomada como uma medida progressista de elevada relevância social, no âmbito do "optimismo positivista" do tempo, nunca ficou claro se essa decisão resolveu algum problema ou, apenas passou a esconder o que se passava no tempo do anterior sistema de abandono de crianças nas rodas.
O certo é que as rodas acabaram há mais de 150 anos, mas recentemente regressaram.
Já no Séc XXI as rodas reapareceram em alguns países do norte da Europa, como a Alemanha e a Suíça, rodas essas algo modernizadas mas basicamente as mesmas. Afinal parece que o optimismo positivista não se confirmou e que o problema continua a existir, mesmo na rica Europa Ocidental do nosso tempo.
Aparentemente, tudo leva a crer que se o problema existe naqueles países, potencialmente ele existirá também entre nós e provavelmente, será até bem maior por aqui.
Existindo o problema, a melhor forma de o enfrentar não seria pela multiplicação de rodas pelo país, mas por dar às mães a possibilidade de entregarem para adopção os recém-nascidos, logo nas maternidades publicas em que os tiverem, isso salvaguardaria a saúde não só das crianças, como das mães.
Este tipo de solução só há alguns anos começou a ser legalmente permitida e apenas em alguns países, países esses onde é permitido às mães abdicarem, por sua exclusiva vontade e de forma expedita, de "serem legalmente mães". Em Portugal, recentemente foi adoptada solução legal semelhante mas mais complexa, dado que entre nós as mães podem fazer aquela renuncia mas apenas com o acordo do progenitor, o que torna os processos muito mais complexos, demorados ou até inviáveis.
Embora nos possa chocar a "facilidade" com que estas mães poderiam (e podem já, em alguns países) entregar as suas crianças para adopção, a verdade é que as alternativas a essa solução são sempre ainda muito piores.
Esta possibilidade jurídica tem ainda uma outra enorme vantagem, pode vir a diminuir o numero de abortos voluntários, porque parte das mães que os fazem poderiam optar pelo nascimento para futura adopção, isto levaria à redução do numero de abortos e também à protecção acrescida da saúde das mães envolvidas.
É de realçar que, periodicamente, a imprensa portuguesa refere que fetos/recém-nascidos são encontrados em casas de banho publicas, no lixo, etc, pelo que este problema existe entre nós e terá alguma dimensão.
Neste quadro, não se compreende como aquela opção, que já existe em Portugal (embora com condicionantes), não é divulgada junto das mães em "zona de risco".
É estranho que o Estado não divulgue junto daquelas mulheres "em risco" esta possibilidade, através do Ministério da Saúde e dos organismos de acção social.
Assim como é estranho que o movimento femininista, sempre tão pronto a reagir a qualquer piropo que seja, da parte de qualquer macho, não tenha demonstrado qualquer interesse neste assunto.
A Igreja Católica, que ao longo de séculos teve um papel importantíssimo nesta área, papel de que foi afastada no século XIX, também não mostrou até agora vontade de qualquer envolvimento.

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