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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A CONFUSÃO DE FERNANDO ULRICH

Com o seu "aguenta, aguenta", Ulrich fez um mau serviço ao país e ao governo que ele diz apoiar.
Pior serviço terá ainda feito à sua imagem de banqueiro-comentador.
Claro que todos os povos aguentam muito mais do que aquilo que até agora tivemos de aguentar, e muitas vezes fazem-no mesmo ordeiramente e com espírito de missão, basta lembrar do que se passa durante as guerras, com os seus racionamentos e sacrifícios de toda a ordem.
Mas não é essa a questão, a verdade é que os povos aguentam tudo desde que compreendam a sua inevitabilidade e simultâneamente sintam que os sacrifícios podem valer a pena.
É aí, entre outras coisas, que o governo tem falhado ao não conseguir transmitir aos portugueses nem a inevitabilidade, nem o potencial do confuso caminho que está seguir.
Com amigos como Ulrich este governo não vai precisar de inimigos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O DISCURSO QUE PASSOS NÃO FEZ NO CONSELHO EUROPEU

Minhas Senhoras, meus Senhores, Caros Colegas

Todos aqui presentes conhecem a disciplina, o esforço e a humildade com que o governo e o povo português se têm dedicado ao cumprimento do programa acertado com a "Troyka". Assim o temos feito porque estamos convictos que esse é o melhor caminho para Portugal, isto porque, tal como para a Europa como um todo, apenas o reforço da nossa capacidade competitiva pode assegurar o nosso futuro e o dos nossos filhos
Nós temos consciência dos excessos despesistas que existiram no nosso país (assim como em muitos outros) ao longo de vários anos, excessos esses que têm agora de ser corrigidos de forma drástica e rápida, ainda que com os inerentes pesados custos sociais, económicos e políticos. Sabemos de tudo isso e estamos dispostos a todos os esforços que sejam necessários para o fazer, sem desculpas, sem adiamentos, sem hesitações.
Mas, por outro lado não podemos deixar de ter em conta que um programa, qualquer que ele seja, só é bom se produzir resultados aproximados ao esperado, se assim não for fica claro que o programa em causa necessita no mínimo de ajustamentos importantes, sem os quais insistir no mesmo não apenas não levará à melhoria dos resultados, como gerará o efeito contrário.
Como todos sabem foi uma questão de principio sagrada para o meu governo cumprir integralmente as reformas e as duras medidas preconizadas no acordo com a Troyka, em alguns casos fomos mesmo mais longe que o estabelecido porque sabíamos que os objectivos de redução do deficit seriam difíceis de atingir.
Meus senhores, minhas senhoras, penso que pelo comportamento que sempre adoptámos, Portugal tem agora o direito moral de dizer à Europa que o programa apenas funcionou parcialmente, apesar de escrupulosamente cumprido, com custos sociais muito grandes para o povo português, custos estes que sabíamos inevitáveis.
De facto conseguiram-se resultados notáveis na balança comercial do país, mas não nos podemos iludir, os resultados obtidos têm a ver não apenas com o aumento das exportações, mas sobretudo com a diminuição do consumo privado e das importações de bens de equipamento, de qualquer modo tudo está correr bem nesta frente, até melhor do que o programado no plano.
Já no que respeita aos resultados obtidos do lado da diminuição do deficit orçamental, não podemos deixar de constatar que eles estão muito abaixo dos objectivos traçados, isto apesar de termos adoptado medidas para alem das preconizadas, e de termos feito todas as reformas e todas as privatizações programadas.
Apesar da magreza dos resultados obtidos face ao esforço realizado não teríamos qualquer dúvida em intensificar ainda mais esse esforço se não fosse o facto de ser agora claro que nos aproximamos da zona  de uma espiral recessiva, em que as medidas para redução do deficit levam ao seu agravamento pela quebra da actividade económica e consequente redução das receitas fiscais e aumento da despesa publica fruto do inescapável aumento dos benefícios sociais.
Aproximamos-nos assim do momento em que os ganhos marginais de redução do deficit por via do aumento da austeridade, se vão reduzindo de forma progressiva e exponencial, correndo risco de rapidamente se entrar na zona perversa em que maior austeridade só gerará maiores deficits.
Alguns dados apenas para vos dar uma ideia do esforço que estamos a fazer. Neste momento em Portugal estamos com um nível de desemprego superior a 16% que ainda não parou de crescer, um salário mínimo inferior a 500 euros, um salário médio nacional inferior a 800, um imposto sobre o rendimento que para rendimentos superiores a 80.000 euros será já de 55%.
Sabemos que temos de cortar ainda mais na despesa pública, essencialmente pela reconfiguração do papel do Estado, porque muito pouco além disso poderemos já fazer num país em que o salário líquido de um médico é inferior a 2.000 euros e o de um ministro a 3.000.
Minhas senhoras e meus senhores, eu penso que se neste momento não trouxesse aqui junto de vós estas minhas preocupações estaria não só a trair o meu povo, como também a trair a Europa. Todos temos que, de cabeça fria, sem preconceitos nem oportunismos, procurar a melhor via para resolver os nossos problemas comuns.
Por isto tudo digo, o programa tal como está não vai resolver o nosso problema, logo também não vai resolver o problema europeu, não estou a pedir mais tempo, nem mais dinheiro, estou apenas a pedir que se repense a parte do programa que está a produzir resultados muito abaixo dos esperados e que nos pode conduzir a uma espiral recessiva.
Nós sabemos que há poucos anos atrás outras economias europeias, com destaque para a alemã, fizeram grandes reestruturações, com enorme visão antecipativa, disciplina e sacrifícios importantes dos seus trabalhadores. A Europa do sul não o fez, bem pelo contrário, julgando que havia chegado ao Eldorado, gastou o que tinha e o que não tinha, e em vez de reformar as suas economias agravou mesmo os seus vícios. Assim foi também em Portugal.
Sabemos que tudo isso tem de ser corrigido, sabemos dos seus custos, temos pressa em fazê-lo, não regatearemos esforços, como não os regateámos até aqui, mas temos sempre de ter a certeza que estamos num caminho com alta probabilidade de sucesso. Sabemos ainda que as mudanças que temos de fazer serão muito mais dolorosas do que as que os outros países fizeram há alguns anos atrás, primeiro porque somos mais pobres e depois porque ao contrário de as fazer numa época de euforia económica as teremos de fazer numa época de recessão. Sabemos isso tudo, mas também sabemos que temos e queremos fazê-lo, tão rapidamente quanto possível.`
É pois neste quadro de pensamento em que eu, que muitas vezes fui criticado por querer ser o bom aluno da Europa, me atrevo a dizer-vos que o nosso programa tal como está não será suficiente para obter os resultados pretendidos e pode levar-nos para uma espiral recessiva, que seria destruidora para Portugal, mas também muito negativa para a Europa.
Humildemente vos digo, julgo que a solução efectiva do problema de Portugal, para além do cumprimento por nossa parte de todas as medidas acordadas, terá de passar por um dos três caminhos seguintes a nível europeu:
-a aceleração do crescimento dos países menos endividados do bloco
-a criação de linhas de financiamento especiais às empresas portuguesas viáveis
- o reescalonamento da dívida pública portuguesa (sem hair-cuts, com aumento de prazos e diminuição de alguns juros)
A questão que aqui vos deixo é sobretudo um problema de Portugal e do meu governo, mas certamente que os senhores compreendem que, apesar da nossa pequena dimensão, na época de incertezas em que vivemos este é também um problema europeu, que agora aqui vos ponho, com o espírito totalmente aberto e colaborativo que sempre tivemos, com vista à procura de soluções que sirvam as necessidades e interesses de todos.
O que nós pensamos que a Europa não pode fazer, é aquilo que nós e outros países fizemos por demasiado tempo, ao não enfrentar os problemas e ir empurrando as soluções sempre à espera de milagres impossíveis. A Europa não pode fazê-lo, e certamente não o fará.