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segunda-feira, 14 de maio de 2018





ODE NEGRA À EUROPA*

Dizem Eles que graças a ti deixámos de nos matar
nunca mais nos mataremos, uns aos outros,  dizem Eles
será assim  para sempre, graças a ti ó Nova Europa!

Ilusão perigosa, miragem, erro ou embuste mesmo?
será verdade  que tu, com os teus pequenos passos hesitantes
cada vez mais curtos e confusos
vais ser capaz do milagre da nossa redenção?
esqueceremos assim todo o passado, todas as traições, todo o sangue
todos os ódios, todos os enganos, todas as assombrações
e também as religiões, os pecados, as perseguições, as ilusões ainda não perdidas?
todos os egoísmos, todas as invejas, todas as vinganças?
Será mesmo que todos eles não mais voltarão, e que nada os ressuscitará?

Não compreendem Eles que o que nos une é, ainda, apenas o conforto?
não será a nossa paz, somente a paz dos confortavelmente instalados?
Numa segurança comprada dia a dia, a prestações se necessário
num conforto que nos corrompe, embala, inebria, cega e paralisa

Eles, os burocratas, os políticos que mudam a todo o tempo e também os tecnocratas
Eles que da historia têm apenas uma muito vaga ideia
e que do Homem parece nada saberem, julgando que o civilizaram
Eles que dizem conhecer  o caminho, Eles sabem sempre tudo, sempre souberam
saberão certamente o caminho deles, quando tudo começar a ruir


Julgam Eles que o Mundo, respeitosamente, como sempre, esperará  por nós?
esse mundo que nos inveja, que respeita parte dos nossos sucessos
mas que também sabe quanto teve de pagar para que eles fossem possíveis
Julgam Eles que que podemos ainda definir as regras do jogo?
Julgam Eles que podemos ainda regular  mesmo a cadencia das coisas e do próprio tempo?

Pensam Eles que sem mudarmos tudo, e rapidamente, o mundo vai parar à nossa espera?
será que o mundo o vai fazer  porque contraditoriamente, nos vai invejando
outras vezes desprezando, outras respeitando e até muitas vezes nos foi odiando
ou será que o mundo o fará apenas por termos aberto mares, o pensamento, a ciência e as tecnologias?
Apesar das humilhações, da vaidade, e da arrogância que nunca sequer escondemos

Será que Eles, os otimistas de serviço, os ignorantes, os ingénuos, os políticos de passagem
os burocratas, os tecnocratas, e outros, será que todos , todos Eles, julgam que, como ontem
como foi sempre, reverencialmente o mundo esperará por nós, para que tenhamos tempo,
tempo para resolver as nossas querelas internas, de pequenos países ridículos
com os seus egoísmos, os seus passados mal resolvidos e a visão já toldada pela senilidade?
Julgam Eles que teremos sempre tempo, como dantes, muito antes?

Todos sabemos que acabaremos, como romanos, egípcios e outros,  antes de nós acabaram
restarão ruínas, pedras, muitas pedras, e historias que parecerão inverosímeis
Mas porque tem de ser tudo tão rápido? tudo tão incompetente? Tudo tão cego?
Não seria possível deixar que nossos filhos, quem sabe até nossos netos,
não tivessem ainda que ver as nossas terras convertidas numa imensa Síria,
fugindo em hordas que ninguém quererá receber, morrendo pelos caminhos
ou mesmo ainda em casa, em memoria de avós que  nada viram, nada compreenderam
além dos seus pequenos interesses do dia seguinte e dos seus negócios, tão  urgentes como dispensáveis

Talvez portugueses, ingleses e outros poucos,ainda tenham tempo e arte para se esgueirar pelo Atlântico
como sempre fizeram, como sobreviveram e se afirmaram
mas mesmo que assim seja, serão apenas tristes jangadas de pedra, feitas de sonhos perdidos
órfãs de irmãos e primos, entretanto mergulhados nas chamas dos infernos

Como sempre aconteceu aos grandes quando se deixaram tornar irrelevantes
Seremos pasto de dor, bombas, destruição e loucura
Então, no meio dos escombros serão claros, a pequenês dos nossos egoísmos
e o ridículo das nossas pequenas questiúnculas,
filhas dos nossos orgulhos e dos nossos medos, mães da nossa desgraça
nossa deles, que aqui ficarão, como sempre acreditando até ao fim que tudo acabará por correr bem


*Texto suscitado pelas comemorações do 9 de Maio