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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

WIKILEAKS

Numa época em que este tema é tão largamente debatido vale a pena ler o artigo publicado hoje no Project Syndicate.

http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.project-syndicate.org%2Fcommentary%2Fdyson27%2FEnglish&h=30bb1

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

REESTRUTURAÇÃO JÁ!
(Publicado no Jornal de Negócios do dia 14 de Dezembro 2010)

Na semana passada, a página inicial do Brookings Institution tinha como manchete "A Europa a caminho do terceiro mundo". O irónico é que a CE é o maior e um dos mais sólidos espaços do mundo, sob o ponto de vista económico e financeiro, no entanto, aquela profecia poderá vir a concretizar-se caso os políticos e os banqueiros europeus continuem as suas manobras dilatórias à espera que os problemas se vão resolvendo por si, enquanto, ao contrário, eles se vão agravando em ondas sucessivamente maiores.

A melhor coisa que até hoje se escreveu sobre a crise europeia veio de Berkeley, é o artigo de Barry Eichengreen, "Europe´s Inevitable Haircut", claro, curto e preciso (ver project-syndicate). Em países sem moeda própria, limitados à desvalorização interna, esta não vai resolver nada sem a reestruturação das dívidas públicas e, essa reestruturação, vai ter implicações pesadas na banca cuja recapitalização tem de ser encarada em simultâneo, sob risco de o sistema ruir como um todo. Em termos resumidos é este o teor do referido artigo.

A origem de todo este enorme problema foi a maneira como a Europa decidiu reagir na primeira fase da crise mundial, "a crise é um problema americano, nós não temos activos tóxicos e por isso o problema resume-se a uma falta de liquidez momentânea fruto da crise nos USA". E como o problema era apenas americano, só se tomaram medidas para melhorar a liquidez e nada de significativo se fez no sentido de melhorar a solvência, que entretanto tinha sido fortemente afectada e continuou a deteriorar-se dia após dia.

A tradição europeia de uma contabilidade "mais flexível" que a americana tem a vantagem que dá para esconder muita coisa debaixo do tapete por algum tempo. No entanto, esconder por longos períodos elefantes debaixo do dito tapete começa a ser cada dia mais difícil, e cada vez que um dos elefantes se mexe os mercados agitam-se, crescentemente nervosos (estranhamente!) .

E assim, como o problema era americano, estamos hoje numa situação muito pior que a do outro lado do Atlântico. Grande parte dos nossos bancos está descapitalizada, ao que se junta o facto de que, ao contrário dos USA onde parte importante dos estragos da bolha imobiliária foram absorvidos pelas agências federais, no nosso caso aqueles estragos continuam orgulhosamente nos balanços dos bancos à espera de melhores dias.

Mas na verdade ninguém quer encarar o problema de fundo que cresce de dia para dia: os países ricos fartos de pagarem os vícios dos pobres, os pobres desconfiados dos ricos, a banca tentando empurrar ilusoriamente os problemas, transferindo para as dívidas públicas já impagáveis todos os podres que pode, num processo em que o bolo aumenta todos os dias e cada vez é mais difícil de solucionar. Tudo num jogo de faz de conta em que, a troco de ganhos ilusórios de curto prazo, todos simulam acreditar na solvibilidade da outra parte. Até ao inevitável desenlace final.

Estamos a viver os últimos tempos da oportunidade para resolver a crise sem perder totalmente o controle dos acontecimentos, o que a acontecer, para além de devastar a Europa, terá repercussões mundiais difíceis de calcular. Resolver quer dizer fazer em simultâneo uma grande operação de reestruturação das dividas públicas e de capitalização da banca, signifique isso o que significar.

Recentemente falou-se muito das eurobonds como parte da solução do problema das dívidas públicas, compreensívelmente a reacção alemã foi fortemente contrária. No entanto, sejam eurobonds sejam outros instrumentos garantidos por outras entidades, a solução não pode afastar-se muito daí, só que para as tornar palatáveis só existe uma forma: estabelecer que todos os países que convertam parte da respectiva dívida em eurobonds terão de ficar impedidos de aceder directa ou indirectamente a qualquer outro financiamento para além dos estabelecidos nos respectivos planos de reestruturação. É limitação de soberania? É! Existe outra saída? Não vejo.

Todo este problema tem sido abordado apenas na óptica do bombeiro, sem soluções nem para as estruturas destruídas nem para os danos colaterais. Na verdade, a procura das soluções de longo prazo começa pela definição da percentagem máxima do PIB de cada país devedor que poderá realisticamente ser afectada ao serviço da dívida (2%, 3%, ?). Dessa resposta, e da análise da composição de cada dívida, dependerá a definição dos termos em que as dívidas serão reestruturadas. Dessa reestruturação resultarão impactos substanciais sobre a banca. Quais serão esses impactos? Como resolver os problemas de solvência e liquidez dos bancos? Esse será o segundo conjunto de respostas e dele resultarão forçosamente alterações importantes na banca europeia.

É fácil? Claro que não é. Mas quando era fácil nada foi feito, agora não parece existir outro caminho, feliz ou infelizmente. Acreditar em Mário Draghi que, na sua campanha para o BCE, diz que as crises financeiras não têm soluções rápidas "it`s a long war", é suicídio, esta não é uma crise normal num país normal.

Nos últimos tempos tem sido moda criticar Merkel por tudo e por nada, ela foi claramente a “má da festa”. A minha opinião foi sempre contrária a essa ideia, desde o início do caso grego Merkel demonstrou ser a única bombeira profissional no meio do amadorismo voluntarista reinante. Agora está chegado o momento de Merkel demonstrar se é apenas essa bombeira escrupulosa, ou a estadista de que a Europa precisa.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O BCE E MARIO DRAGHI

Draghi parece ter ambições de suceder a Trichet, talvez por isso o cuidado extremo que nas suas intervenções públicas ele tem para não ferir susceptibilidades alemãs. Segundo ele a crise europeia é para durar, "não faz sentido pensar que uma crise financeira tem solução rápida, it´s a long war", diz ele ao FT.
Já estamos com saudades de Trichet.
BARRY EICHENGREEN E A CRISE EUROPEIA

O seu artigo de hoje no Project Syndicate é talvez a melhor sistematizada e a mais clara coisa que até hoje se escreveu sobre o caminho de saída para a crise Europeia.
E não há muito por onde variar, mais bond europeu menos bond nacionais garantidos por alguem, mais "nacionalização" parcial de muitos bancos menos aumentos de capital forçados, a receita não pode variar muito, continuar a adiar não resolve como o tempo tem vindo a provar, e outros caminhos só existem nas cabeças dos ingénuos e de outros com obscuras intenções.
http://www.project-syndicate.org/commentary/eichengreen25/English
AS CIDADES MAIS DINÂMICAS DO MUNDO

A revista Atlantic da semana passada trazia um interessante ranking em que elencava as 30 cidades mais dinamicas do mundo actual.
Começando pelo mais óbvio, da lista não consta nenhuma cidade europeia.
A América do Norte apresenta apenas duas cidades, e ambas se podem considerar surpresas, Austin (a ignorada capital do Texas) e Montreal.
No entanto as grandes surpresas aparecem nos dez primeiros classificados, estão preparados? Em primeiro lugar temos Istambul (afinal se calhar não era um mau negócio para a Europa decadente), em terceiro Lima (o que só é uma surpresa absoluta para quem anda distraído), em quinto Santiago, Manila em nono e o Rio em décimo. Que tal?
As restantes das dez primeiras são mais ou menos óbvios, Shenzhen(2), Singapura(4), Shangai(6), Guangzhou(7), Pequim(8).
Nas surpresas positivas são ainda de destacar Melbourne(14), Guadalajara(15), Buenos Aires(19), Belo Horizonte(22), Rhyad(24), e tambem o Egipto com o Cairo e Alexandria(28 e 29).
Nas surpresas negativas o destaque vai para Hong Kong com o seu último lugar(30) e para São Paulo com o seu 25º lugar, muito atrás não só do Rio e de Belo Horizonte, mas sobretudo de Lima e Santiago, ou até de Manila ou Guadalajara.
Tambem pela negativa é de destacar o facto de Kuala-Lumpur, Jacarta e Taipé surgirem no grupo de Belo Horizonte.
Não se pode considerar surpresa a India não ter nenhuma cidade nas dez primeiras, dado que tods as três logo a seguir são Indianas, Hyderabad(11), Mumbai(12) e Bangalore(13), a que se juntam Kolkata(16) e Chennai(17).
Como seria expectável China e Índia empatam com 5 cidades cada uma (para além das 4 do primeiro pelotão a China tem ainda Tianjin(18)).
É de destacar tambem que o Brasil acaba por sair bem na fotografia com três cidades no ranking, o que nessa perspetiva lhe daria um honroso terceiro lugar.
Como é óbvio estas classificações não são conclusões definitivas de profundos trabalhos científicos mas resultado de um trabalho do Brookings Institute focalizado num indicador, no entanto elas são importantes quanto mais não seja para que vamos atualizando a nossa visão do mundo em que vivemos.
Este trabalho pode dizer-se que é feito sobre fotografias, ou seja, instantaneos da realidade atual, o que quer dizer que nada impede que cidades que hoje vivem em euforia não sejam as deprimidas de amanhã e vice-versa, não se pretendeu fazer aqui uma análise da sustentabilidade de longo prazo das razões que levaram às presentes situações.
Quem pensa em emigrar também pode ver aqui uma fonte de informação importante, eu, por mim, deixando São Paulo, estou hesitante entre Istambul e Lima.
E AGORA QUE CHEGA A HORA DA VERDADE, QUE FAZER?

A EUROPA ENLOUQUECEU? (18/5/2010)

Os políticos europeus estão a entrar num pânico descontrolado que não tem objectivamente nenhuma razão de ser, a situação europeia não é cómoda mas está longe de ser dramática, a menos que se continuem a fazer erros sobre erros.

A actual situação europeia apesar de complicada é das menos difíceis do mundo no âmbito da actual crise. Em termos globais a nossa dívida é moderada, a nossa balança comercial é positiva, o nosso crescimento é débil mas não põe a sobrevivencia em risco, os nossos bancos estão tão falidos como os dos outros, vários estados de alguns pequenos países europeus estão também mais ou menos quebrados o que é caso vulgar no mundo de hoje, e por aí vai... Então porquê este histerismo que se apoderou de toda a gente? Pessoalmente julgo que tem a ver com uma certa arrogância europeia que se julgava um grande líder moral e guardião de uma certa forma de solidez financeira no mundo, e agora, de repente, a Europa sente-se completamente perdida, sem referencias e sem saber para onde se voltar, e vai daí e começa a disparar para todas as sombras que vê, ou até mesmo apenas pressente. Se os nossos políticos tivessem por perto alguns conselheiros dos que viveram por dentro o dia a dia das grandes crises financeiras dos últimos 20 anos talvez ajudasse, pelo menos a acalmar os espíritos.

Claro que existem os problemas institucionais que os outros países não têm, na verdade não somos um país mas apenas uma associação com regras pouco claras, muitos egos e muitos fantasmas, no entanto isso não tem que forçosamente agir contra nós, pode haver vantagens nesta ambiguidade. O que é necessário é saber o que é que se quer, se a Europa souber o que quer e acreditar nisso, o mundo vai acreditar. O problema é que a Europa não sabe o que quer e por isso não pode acreditar, e como é evidente também não se pode pedir ao mundo e aos mercados que acreditem naquilo em que nós próprios não acreditamos.
E não vale a pena esbracejar, insultar, culpar sinistras campanhas contra nós. Se acreditarmos e formos claros eles vão acreditar.

Andamos há muito tempo a queixarmos-nos dos mercados, dos especuladores, de uma campanha sinistra contra o Euro, das agências de rating, etc., em alguns casos com razão noutros sem, mas sempre mal, mal na forma, mal no timing, mal nas respostas, o que só agrava os problemas em vez de os resolver.

Na fatídica noite da reunião dos ministros das finanças (pós Conselho Europeu), quando foi apresentado o comunicado final, ficou logo claro que o mercado não ia "comprar" a solução apesar da dimensão do pacote, e não iria comprar porque não era clara e sobretudo porque não encarava a questão da reestruturação da dívida grega, o que foi visto pelo mercado como sendo maior a preocupação de salvaguardar interesses de alguns bancos do que o de verdadeiramente limpar a casa (e aquela reestruturação poderia ter sido feita sem premiar os especuladores cheios de CDSs). Depois daquela noite os mercados tiveram uma ligeira recuperação e logo de seguida afundaram de novo, o que deixou os políticos europeus no estado que temos constatado.

A Europa tem de ter um discurso coerente sobre o que quer, e tudo quanto tem dito é tudo menos coerente, diz que não faz bailouts e temos o caso grego, simula uma grande operação de salvaguarda do euro mas faz tudo por via de um SPV a financiar, agora quer ter uma feroz polícia fiscal mas dispensa uma política económica, assim não vai dar, não dá para acreditar, isso ninguém vai comprar.

Os mercados nem sequer são difíceis de serem convencidos, basta ver os "road-shows" empresariais, o que é indispensável é apenas ter um discurso totalmente coerente e transmitido de forma absolutamente convicta (se assim for até se pode mentir). O que não dá é para não ter coerência ou falta de convicção.

Mas no final a grande questão é salvaguardar a Comunidade Europeia, não se pode correr o risco de perder a Comunidade por causa de sermos incapazes de gerir o Euro, risco que se pode correr se se continuar a improvisar. Espero que neste momento existam grupos de especialistas dedicados 24 horas por dia a simular todos os cenários possíveis e que garantam que a Europa vai saber lidar da melhor forma com qualquer cenário que se venha a pôr.
Que se percam os anéis mas fiquem os dedos.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A PT E O PATRIOTISMO

Tudo muito bonito, mas dois accionistas (50/50) que não se entendem só destroem valor na respectiva empresa. Mas grave mesmo é que se a Vivo perder 50% do seu valor a Telefónica é arranhada, mas a PT afunda.
Qual a solução?
REESTRUTURAÇÃO DAS DÍVIDAS PÚBLICAS EUROPEIAS

Finalmente parece que alguém começa a fazer alguma coisa séria sobre o assunto, até agora as lideranças europeias e os seus pacotes estiveram todos ao nível do kindergarten.
Vale a pena ler no SPIEGEL ONLINE o artigo "Merkel's Rules for Bankruptcy". Já era tempo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

IO SONO L'AMORE

O exemplo perfeito de como se estraga um filme depois de começar bem.
Uma primeira parte que promete tudo, num ambiente decadente mas glamouroso, uma história que se advinha inteligente.
Na segunda parte tudo se converte num melodrama mexicano, para mais inconsistente e pretensioso, onde até o algum chic que tenta sobreviver se perde na pirozérrima novela (em termos estéticos e de argumento).

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O PSD ENLOUQUECEU?

O novo PSD começou bem, no entanto ultimamente a confusão parece instalada.
Como eu dizia no último texto sobre este assunto, a demarcação em relação ao governo não tem sido feita de uma forma clara e isso envolve riscos grandes a prazo, mas agora pior, o PSD enveredou pelo caminho de paladino contra as grandes aposentações o que é um enorme erro, independentemente de ter ou não grande parte da razão.
É errado em termos políticos, é errado em termos técnicos, é errado em termos morais, e é duvidoso em termos populistas.

Em termos políticos porque não cabe ao PSD enquanto não for governo avançar com medidas concretas, tem sim é que obrigar o governo a fazê-lo e se o governo o não fizer derrubá-lo, sob risco de ficar o PSD com o ónus dos inconvenientes e o governo com os benefícios das medidas.
Errado em termos técnicos porque se é preciso limitar pensões a única regra indiscutível é estabelecer como limite a média dos salários durante toda a carreira contributiva, os resultados seriam iguais ou melhores que os da proposta apresentada só que justos e incontestáveis. Quem durante 40 anos descontou sobre 10.000 não pode ser aposentado com 5.000, no mínimo terão de lhe ser devolvidos actualizados metade dos descontos feitos.
Errado em termos morais porque, além de não ser justo, vem na habitual linha de satisfazer a invejazinha nacional, o que no imediato pode ser vantajoso mas de facto corresponde apenas a continuar a alimentar um dos grandes problemas da cultura nacional.
Duvidoso em termos populistas, porque provavelmente 5.000 é demais, porque não 1.500? ou mesmo 1.000? Evo Morales e Chavez teriam feito melhor!

Porque é que os deuses insistem em abençoar Sócrates?
ESPÍRITO SANTO

Alguns dias atrás discutia-se animadamente que razão terá levado Mota Amaral a recuar na utilização das escutas telefónicas na sua Comissão Parlamentar, foi unânime que face à sua profunda religiosidade foi certamente a intervenção do Espírito Santo que o fez ver o pecado mortal que estava à beira de deixar cometer...

domingo, 23 de maio de 2010

DERRUBAR O GOVERNO

Pelos seus erros a anterior direcção do PSD viabilizou a vitória do PS e a manutenção do actual governo.
De forma correta Passos Coelho abandonou a estratégia que vinha a ser seguida, concentrou a sua actuação nas críticas sobre as questões substanciais e assumiu uma posição de responsabilidade de estado face à crise que se vive.
No âmbito daquela actuação o PSD fez o que tinha de ser feito em relação à moção de censura do PCP, mas não é para mim claro que tenha explicado bem aos portugueses porque o faz.
É demasiado vago ter uns números para controlar mensal e trimestralmente, e um reforço da equipe que no Parlamento para isso dá apoio técnico. Por essa via corre-se o risco de basear toda a actuação do partido numa discussão de pequenos números, acusações de falta de informação, de informação errada, de interpretações equivocadas, etc., ou seja o habitual pântano quando se vai por estes caminhos.

O PSD não pode manter esta postura de viabilizar o actual governo sem se demarcar mais claramente dele, sob risco de perder o seu timing e entregar de novo o controle de todo o jogo a Sócrates, com os consequentes prejuízos para o país e para o partido.
Porque é que o PSD faz isto? porque não se sente em condições de participar de outras soluções governativas? ou porque teme que essas outras soluções não passem por ele? ou só porque as Presidenciais estão aí? ou porque o PS ainda não tem alternativa à chefia de governo actual? ou porque o PSD conta que o actual governo leve sozinho todo o desgaste de gerir a crise e depois lhe entregue o poder de mão beijada? ou por qualquer outra razão, baseada em fantasmas ou milagres salvadores?

Esta postura se for prolongada não é boa para o país, porque não vai pressionar o governo para fazer o que tem de ser feito, e que assim continuará pela via mais fácil para não correr riscos, e não é boa para o PSD porque inviabiliza o seu futuro político.
Quer queira quer não, mantendo a actual postura o PSD vai se enrolar com a actuação do actual governo de tal forma que lá na frente não vai aparecer ao eleitorado como alternativa, de facto terá sancionado tudo quanto de mau tiver sido feito, não terá mostrado coragem para assumir a liderança, e não terá provado a capacidade técnica de encontrar melhores soluções, então porque apoiar o PSD nessa altura?

Como este PSD tem dito desde o principio a grande questão de maior urgencia em termos económicos é a redução da despesa pública, sem essa redução feita de forma drástica não existe solução para a economia nacional, enquanto ainda der podemos aumentar impostos para tapar buracos no imediato mas isso não resolverá problema nenhum, antes os agravará para o futuro. A questão da redução da despesa é uma urgência nacional, se este governo a não fizer o PSD vai ter que avançar com uma moção de censura, para não se tornar conivente no arrastar de problemas que terão custos cada vez mais altos para o país e depois se tornarão mesmo insolúveis.
Mas como o PSD tem de ser um partido responsável não pode parecer que um dia acordou mal disposto e decidiu derrubar o governo, o PSD tem de dizer agora, num prazo curto, qual é o seu caderno de encargos para o governo e o timing para a sua execução, se o governo não cumprir com o previsto o PSD terá de avançar com a sua moção e caberá ao Parlamento encontrar a solução governativa que julgue melhor, sem dramatismos, como numa democracia adulta.
O PSD não pode é ficar como o garante de um governo que não faz o que tem de ser feito e com ele ir-se afundando sem honra nem glória (como se diria noutros tempos), enquanto o país se atola mais numa crise que ninguém sabe quanto tempo ainda vai durar, no âmbito de uma Europa que a tudo isto soma a sua própria crise de identidade, e para a qual o contributo de Portugal é cada vez menos credível face à irresponsabilidade que temos vindo a demonstrar.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A REFORMA DO SISTEMA FINANCEIRO AMERICANO

A segunda grande vitória de Obama na política interna, uma vitória também para Volcker que viu grande parte das suas ideias aprovadas (referido em texto de 8 de Fevereiro).

Um regresso parcial às regras anteriores às mudanças realizadas em 1999, mudanças essas que aliadas à crise da Ásia de 1997 são em grande medida as verdadeiras causas dos problemas actuais.
Na prática ainda estamos no rescaldo da crise de 1997, verdadeiramente aquele incendio nunca foi apagado.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

GOVERNOS - 1, ESPECULADORES -0

Ao contrário do que se esperava o euro e os mercados accionistas não conseguiram subir durante a noite, a Ásia parece ter mandado um recado ao Ocidente do tipo "problemas do Atlântico são para resolver aí mesmo", e assim o euro não passou os 1.244 nesse período.

Durante todo o dia o euro tentou várias vezes subir sem sucesso, mas às 13 horas de Nova Iorque, quando os mercados europeus já estavam fechados, uma intervenção maciça certamente capitaneada pelo BCE fez o euro subir mais de 250 pips em menos de duas horas, o que provavelmente terá esmagado muitos pequenos especuladores distraídos.

A operação "realizada" pelo BCE foi um sucesso, só que não resolve nada, é a utilização da tal luva de boxe para matar pulgas, foi positiva por aumentar o espaço de manobra mas não por ser a solução do problema.
Não existe possibilidade de o BCE fazer este tipo de operação todos os dias ou mesmo apenas de forma assídua, logo a única verdadeira solução para todo este embrulho é a Europa conseguir ter uma história credível para contar ao mundo, enquanto isso não acontecer tudo se vai manter na mesma, só que com mais volatilidade.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

GOVERNOS/ESPECULADORES - 0/0

O primeiro round desta guerra resultou num empate técnico.

Até ao fecho de Nova Yorque o euro subiu mais de 250 pips, o que sendo bom ficou aquém das expectativas face à artilharia utilizada pelos "governos" e à provável ajuda de muito especulador. Simultâneamente os mercados accionistas sofreram pesadas baixas realizando novos mínimos, e embora tenham tentado uma recuperação já depois do fecho dos mercados europeus não conseguiram no entanto encerrar em máximos do dia.
Durante a noite o euro vai tentar passar o 1,244 (máximo do dia 18) e é natural que o consiga, tudo leva a crer que as "tropas governamentais" asiáticas o façam.

Mas a Europa tem de saber que esta só aparentemente é uma guerra de valores financeiros, de compras e de vendas, que vai ser ganha por quem tiver mais poder de fogo, não é assim, trata-se de uma guerra de guerrilha, por isso de nada servirá pôr outro trilião em cima da mesa, e depois desse um outro, e mais outro, até ao desgaste completo.
A Europa ganha esta guerra sem dinheiro, sem artilharia, sem sangue, basta-lhe dizer de uma forma clara, coerente e convincente o que quer fazer, se o não fizer de nada lhe vai valer tentar matar pulgas com luvas de boxe (lembram-se?), por essa via conseguirá apenas que cada vez o buraco seja mais fundo, para ela e para a economia mundial.
GUERRAS - GOVERNOS/ESPECULADORES

De um lado bolsos quase sem fim, do outro bolsos largos mas sobretudo muito conhecimento do terreno, guerras sempre muito caras com grandes ganhos e grandes prejuízos, no final ganha sempre e apenas quem tem razão.
Veja-se o que aconteceu com a batalha entre Soros e o Banco de Inglaterra, e depois com com os Bancos da Hungria e da Malásia, Soros só ganhou no Reino Unido, é duvidoso que o seu saldo global tenha sido positivo financeiramente, no entanto para a sua vaidade pessoal pode ser que sim.

No presente caso da Europa, a razão é nossa mas isso não chega, é preciso ter uma versão clara e coerente dos factos e das políticas, assim como saber transmiti-la.

Para já apenas enorme turbulência nos mercados mundiais, para os pequenos o melhor é manter distancia, "agora é tempo de briga de cachorro grande".

terça-feira, 18 de maio de 2010

A EUROPA ENLOUQUECEU?

Os políticos europeus estão a entrar num pânico descontrolado que não tem objectivamente nenhuma razão de ser, a situação europeia não é cómoda mas está longe de ser dramática, a menos que se continuem a fazer erros sobre erros.

A actual situação europeia apesar de complicada é das menos difíceis do mundo no âmbito da actual crise. Em termos globais a nossa dívida é moderada, a nossa balança comercial é positiva, o nosso crescimento é débil mas não põe a sobrevivencia em risco, os nossos bancos estão tão falidos como os dos outros, vários estados de alguns pequenos países europeus estão também mais ou menos quebrados o que é caso vulgar no mundo de hoje, e por aí vai... Então porquê este histerismo que se apoderou de toda a gente? Pessoalmente julgo que tem a ver com uma certa arrogância europeia que se julgava um grande líder moral e guardião de uma certa forma de solidez financeira no mundo, e agora, de repente, a Europa sente-se completamente perdida, sem referencias e sem saber para onde se voltar, e vai daí e começa a disparar para todas as sombras que vê, ou até mesmo apenas pressente. Se os nossos políticos tivessem por perto alguns conselheiros dos que viveram por dentro o dia a dia das grandes crises financeiras dos últimos 20 anos talvez ajudasse, pelo menos a acalmar os espíritos.

Claro que existem os problemas institucionais que os outros países não têm, na verdade não somos um país mas apenas uma associação com regras pouco claras, muitos egos e muitos fantasmas, no entanto isso não tem que forçosamente agir contra nós, pode haver vantagens nesta ambiguidade. O que é necessário é saber o que é que se quer, se a Europa souber o que quer e acreditar nisso, o mundo vai acreditar. O problema é que a Europa não sabe o que quer e por isso não pode acreditar, e como é evidente também não se pode pedir ao mundo e aos mercados que acreditem naquilo em que nós próprios não acreditamos.
E não vale a pena esbracejar, insultar, culpar sinistras campanhas contra nós. Se acreditarmos e formos claros eles vão acreditar.

Andamos há muito tempo a queixarmos-nos dos mercados, dos especuladores, de uma campanha sinistra contra o Euro, das agências de rating, etc., em alguns casos com razão noutros sem, mas sempre mal, mal na forma, mal no timing, mal nas respostas, o que só agrava os problemas em vez de os resolver.

Na fatídica noite da reunião dos ministros das finanças (pós Conselho Europeu), quando foi apresentado o comunicado final, ficou logo claro que o mercado não ia "comprar" a solução apesar da dimensão do pacote, e não iria comprar porque não era clara e sobretudo porque não encarava a questão da reestruturação da dívida grega, o que foi visto pelo mercado como sendo maior a preocupação de salvaguardar interesses de alguns bancos do que o de verdadeiramente limpar a casa (e aquela reestruturação poderia ter sido feita sem premiar os especuladores cheios de CDSs). Depois daquela noite os mercados tiveram uma ligeira recuperação e logo de seguida afundaram de novo, o que deixou os políticos europeus no estado que temos constatado.

A Europa tem de ter um discurso coerente sobre o que quer, e tudo quanto tem dito é tudo menos coerente, diz que não faz bailouts e temos o caso grego, simula uma grande operação de salvaguarda do euro mas faz tudo por via de um SPV a financiar, agora quer ter uma feroz polícia fiscal mas dispensa uma política económica, assim não vai dar, não dá para acreditar, isso ninguém vai comprar.

Os mercados nem sequer são difíceis de serem convencidos, basta ver os "road-shows" empresariais, o que é indispensável é apenas ter um discurso totalmente coerente e transmitido de forma absolutamente convicta (se assim for até se pode mentir). O que não dá é para não ter coerência ou falta de convicção.

Mas no final a grande questão é salvaguardar a Comunidade Europeia, não se pode correr o risco de perder a Comunidade por causa de sermos incapazes de gerir o Euro, risco que se pode correr se se continuar a improvisar. Espero que neste momento existam grupos de especialistas dedicados 24 horas por dia a simular todos os cenários possíveis e que garantam que a Europa vai saber lidar da melhor forma com qualquer cenário que se venha a pôr.
Que se percam os anéis mas fiquem os dedos.
PREOCUPANTE, PREOCUPANTE MESMO, É O DEFICIT ALEMÃO

Finalmente parece que toda a gente compreendeu que não pode haver união monetária sem união económica.
Só que parece julgar-se que união económica se resume apenas a ter uma força policial europeia especializada em questões fiscais, que vai detectar, processar e impedir de actuar todos os "estados criminosos" que não respeitem os orçamentos aprovados pela UE. Só que uma união económica reduzida a isso é apenas a garantia de uma Europa que, embora tentando ser cada vez mais rigorosa, se irá afundar cada vez mais numa espiral recessiva sem fim.

A existência de uma união económica tem de implicar uma política económica para a dita união, e isso quer dizer que na actual crise mundial se por um lado existem países europeus que têm de apertar os respectivos cintos e enfrentar recessões internas, por outro lado os países que têm situações financeiras mais desafogadas têm de deixar para depois o seu apertar de cinto, sob risco de apenas se mergulhar o conjunto europeu numa recessão dolorosa e interminável.
Vem isto a propósito da intenção alemã de limitar constitucionalmente o seu deficit a 0,35% do GDP a partir de 2016, o que por si só não seria preocupante atendendo a que 2016 está ainda longe, no entanto essa decisão não só vai implicar a imediata tomada de medidas recessivas como vai alimentar ainda mais o tradicional terror alemão em relação a deficits e inflação.

É certo que uma Europa envelhecida não pode continuar a acumular deficits para gerações futuras virem a pagar, gerações essas que parecem não existir, mas dar o passo para dispositivos constitucionais tão limitativos como aqueles de que agora se fala é claramente perigoso.
Ao contrário do que muitas vezes se diz não é imoral que a Alemanha obrigue os outros a apertar o cinto e ela o não faça, imoral e suicida é que ela numa altura destas também o aperte.
Será que entre a irresponsabilidade dos PIIGS e os fantasmas alemães a Europa se vai afundar?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A APOSENTAÇÃO DE LULA E O IRÃO

Ao aproximar-se o fim do mandato Lula procura afincadamente encontrar um espaço próprio na política mundial para a sua pós presidência.
Lula sabe que depois de ter convivido com todos os grandes do mundo, sendo mesmo um deles, não dá para acabar a vida em S. Bernardo do Campo a jogar futebol e a beber umas cachaças e cervejas com os amigos.

Por outro lado Lula também sabe que não é um intelectual que possa dedicar o seu tempo a ler, investigar, escrever e pôr ideias e papéis em ordem.
Lula é um daqueles fenómenos da natureza com uma intuição e sensibilidade políticas extraordinárias, que não necessita de perder tempo nos detalhes dos processos ou em debates prolongados sobre questões mais ou menos existenciais, ele é apenas um grande emotivo com um enorme sentido de oportunidade que os deuses decidiram bafejar com toda a sorte, depois de se terem arrependido de lhe terem dado um começo tão difícil.
Claro que Lula poderá tentar ser um novo tipo de ex-presidente conferencista, longe das dissertações mais ou menos intelectualizadas, e mais perto do emotivo e do discorrer sobre experiências de vida sem fim que certamente tem, mas também isso parece não lhe chegar. Sobretudo Lula não quer que o mundo o esqueça, perdido em S. Bernardo do Campo.
Foi por isso que Lula tentou colocar-se como medianeiro do conflito Israelo-Palestino, mas foi rejeitado pelas duas partes que claramente não viram qualquer interesse na sua intermediação.

Agora Lula voltou-se para, juntamente com a Turquia, intermediar o problema nuclear Iraniano, parece que as coisas estão a correr bem. É urgente uma solução para este problema, principalmente para os USA que estão metidos num beco sem saída, mas também para o mundo porque não só um conflito armado no Irão seria a catástrofe para a economia mundial, como a nuclearização do Irão iria arrastar a da Arábia Saudita, do Egipto, da Síria, da Turquia e do próprio Brasil, tornando o mundo um lugar ainda mais perigoso. Esperemos que os deuses continuem com Lula.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

BRINCAR AOS PECs

O governo e as oposições andaram durante meses a brincar aos PECs, o governo continuava a tentar passar a imagem de que a situação não era especialmente grave, mas a contragosto lá avançou com uma "intenção de meio PEC", as oposições desancaram o projecto que por si só já era insuficiente, mas por fim o PSD lá acabou por viabilizar um "meio PEC reduzido".

Como sempre, depois de tanto disparate, acabou por ter de ser feito um PEC a sério, até mais duro do que teria de ter sido se tivéssemos feito o que tinha de ser feito no momento certo, vantagens da demagogia...
Mas o custo maior não foi o de termos um PEC um pouco mais pesado do que teria sido necessário, mas sim o de termos reforçado a nossa habitual imagem de irresponsabilidade, e pior ainda, de puro seguidismo em relação a Espanha.

Caro leitor, ao fim e ao cabo qual das duas é que é a verdadeira questão: Porque é que os mercados não confiam em nós??? ou alternativamente, Porque é que ainda há mercados que confiam em nós? O leitor que escolha.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

BRASIL - SINAIS DE PERIGO?

Inflação, irresponsabilidade político-fiscal, e balança comercial. Os problemas estão de volta?

Embora os dados oficiais continuem a mostrar a inflação controlada, os consumidores queixam-se do disparar dos preços dos bens de primeira necessidade. Mas para quem chega de fora o que mais espanta são os preços totalmente desajustados de alguns produtos e serviços (aliás tal como acontece na Grécia), a título de mero exemplo um café expresso custa em qualquer café de bairro pelo menos 2,5 reais (mais de 1,1 euros) isto na terra do café!, uma hora de estacionamento pode custar 10 reais (mais de 4 euros), e por aí vai, restaurantes, cinemas, etc. Apenas desajustamentos, ou expressão de um problema mais fundo?

A maior contribuição do governo de Fernando Henrique Cardoso para a estabilização do Brasil foi a Lei da Responsabilidade Fiscal, foi ela que permitiu finalmente controlar os gastos e as dívidas dos poderes central, estaduais e municipais, mas agora a irresponsabilidade do Congresso (Câmara e Senado) parece crescente e aprova medidas bilionárias (a última festança é de 60 bi) sem "cabimento" orçamental que obrigarão Lula ao desgaste de ter de as vetar sob risco de voltar a afundar todo o sistema. Meras jogadas eleitorais, ou regresso de velhas práticas?

Apesar do disparar dos preços das comodities a balança comercial começa a apresentar resultados negativos. Questão conjuntural, ou retorno ao eterno ciclo brasileiro - euforia/depressão?

Continuo a pensar, como aliás escrevi há muito tempo atrás (os brasileiros que desculpem o pleonasmo), que o governo deveria ter feito tudo quanto fosse possível para impedir a valorização do real para além dos 2,5 por USD (eu sei que teria sido difícil e totalmente heterodoxo), como isso não aconteceu as importações dispararam, muita produção interna foi inviabilizada e a balança comercial e toda a economia só não derraparam porque os preços de exportação das comodities dispararam.

Caso tivesse sido possível controlar a valorização do real, não só as reservas brasileiras seriam hoje muito maiores do que são, como também o parque industrial seria maior e mais competitivo, e sobretudo o Brasil estaria muito mais imunizado em relação à crise mundial do que de facto está, ou seja, se a crise mundial se agravar os preços das comodities irão despencar e com eles os saldos comerciais brasileiros e as suas reservas, num filme que através da história já se viu muitas vezes. Infelizmente o argumento de que "desta vez é diferente" normalmente não funciona.
Claro que controlar o câmbio e a inflação, sem controle total da despesa pública, era uma missão difícil, mas teria sido a única via de garantir um Brasil à prova de todas as crises.

Julgo que os dois candidatos presidenciais têm ideias concretas, e diferentes das praticadas até aqui, sobre a futura política económica brasileira, em especial José Serra que deve ter essas ideias já muito bem digeridas, agora é só esperar ....
AFINAL BARROSO FALA?!

Há muito que Barroso provou a sua imensa capacidade de flutuar reduzindo-se a dizer lugares comuns sem qualquer risco para a sua estratégia pessoal, mas hoje parece que finalmente resolveu dizer alguma coisa: "se não tivermos uma união económica é melhor esquecermos a união monetária". Nada mau para primeira vez! (vantagens de ter um Presidente do Conselho?)

terça-feira, 11 de maio de 2010

TAP E A DESCULPA DO VULCÃO
A empresa está a utilizar a desculpa do vulcão para cancelar todos os voos que não lhe interessa fazer, mesmo que nada tenham a ver com o vulcão, tem sido assim com o Brasil.
Como é que a TAP vai querer manter o seu "título" de maior operador entre o Brasil e a Europa com este comportamento de monopolista com total falta de consideração pelo utilizador-pagador (sim estas empresas não têm clientes, apenas vítimas).

segunda-feira, 10 de maio de 2010

EURO - O PACOTE BILIONÁRIO
Será que vai chegar? A questão não é o montante mas toda mecânica de funcionamento que parece não desmerecer em nada as habituais confusões da burocracia europeia. Falta ainda que o BCE diga o que vai fazer da sua parte, será que daí vem alguma verdadeira novidade? infelizmente tudo leva a crer que não, vamos ver.
Caso não haja uma estratégia clara, coerente e inovadora os mercados não vão comprar a solução, mas provavelmente vão até aproveitar para fazer uma boa recuperação antes de voltarem a cair com maior violência, "cèst la vie".

domingo, 9 de maio de 2010

O TGV - JOGOS DE CENA

O tempo e as energias que se perdem em jogadas teatrais pode ser aceitável em tempos normais mas não quando se está à beira do abismo.
Desde que o PR deu luz verd ao TGV (apesar de ter lavado as mãos como Pôncio Pilatus) era evidente que o dito "comboio" era para avançar bem rápido antes de a crise se agravar mais, a partir daí tudo não foi mais do que puro teatro.
O pequenos países precisam do apoio dos grandes e não é realista supor que no momento actual Portugal se pudesse dar ao luxo de fazer outra coisa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

BE DÁ LIÇÃO À DIREITA

O país está a ficar cada dia mais surrealista, o BE confirma a sua posição de salvaguarda dos direitos individuais enquanto a direita se atola em contradições, foi a isto que o pragmatismo acima de todos os princípios nos conduziu no caso das escutas, e isso vai ser pago por alto preço mais cedo ou mais tarde.
Mas não é só o BE a dar lições à direita, é também o MRPP através do depoimento de Garcia Pereira que se pode ver no Youtube http://www.youtube.com/watch?v=9WXfCLXCGIY, apesar de ser já de Março vale a pena.
G7!

Parece que hoje vai haver uma conference-call do G7, demasiado tarde e demasiado cedo. E já agora também demasiado pouco e, simultâneamente, demasiado demais.
Tarde porque já há semanas que se deveria saber que toda a situação a nível mundial está embrulhada, cedo porque julgo que para já ninguém tem sequer uma pista para sair daqui. Pouco porque não vão ser uns telefonemas a resolver o assunto, demais porque vai alarmar sem soluções. É só rezar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O DILEMA DA ALEMANHA

Dilema de rico é sempre melhor que dilema de pobre, o que não quer dizer que tudo seja fácil. Entre ficar no euro e ter que suportar um conjunto de países mais ou menos indisciplináveis, mas graças aos quais tem um euro de tão baixo valor que as exportações alemãs estão a crescer explosivamente, ou sair e ficar com um marco que vai valer mais de 2 dólares e arrasar toda a economia alemã, "son coeur balance"...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SÃO PAULO

Grande, feia, dura.
Suponha uma mulher assim, grande, feia, mas com qualquer coisa que você não sabe o que é e que o atrai, com o tempo começam a surgir pequenos detalhes curiosos, e depois vem a sensação agradável dada por aquela mistura contraditória de garra e doçura. Então você começa mesmo a ficar preso sem saber bem a quê, e de seguida, quando menos espera, você está pura e simplesmente apaixonado, "se cuide!"

terça-feira, 4 de maio de 2010

EURO - QUE RAIO DE INTERVALO É ESTE?
Eu dizia ontem que até dia 7 de Maio (reunião magna europeia) estaríamos no intervalo entre o 1º e o 2º acto do drama euro, mas parece que este intervalo está muito mais agitado do que é suposto estes tempos serem, até o BCE tem ajudado à agitação. A continuarmos assim o 2º acto vai já ser trágico.
ENERGIA EM ESPANHA

Parece que o governo espanhol está mesmo disposto a mudar as regras do jogo no país, indo até à utilização de medidas retroactivas. Ver o Expansion de hoje.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O CASO GREGO NÃO PODE SER MAIS DRAMÁTICO QUE O DA CALIFORNIA

Para quem gosta de textos mais técnicos vale a pena ler Jacques Melitz no voxeu.org de 2 de Maio, apesar de como sempre ser mais fácil enunciar do que fazer.
O DRAMA DO EURO

Estamos no intervalo do 1º acto, a reacção do público esteve abaixo das expectativas apesar da tentativa de fechar em tom apoteótico. Dia 7 começa a chamada para o 2º acto. Quantos actos até ao grande momento?

sexta-feira, 30 de abril de 2010

RENOVÁVEIS
O governo espanhol começou ontem negociações com a oposição com vista ao estabelecimento de um Pacto Energético de longo prazo (EXPANSION), e por cá?
ROUBINI
Hoje no FT, finalmente alguém diz o que tinha de ser dito sobre a questão grega, apesar de o caminho ser difícil espero que não se continue nos adiamentos habituais em que tudo será ainda muito pior.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

PORQUE MERKEL TEM RAZÃO

As críticas a Merkel têm sido mais ou menos generalizadas por toda a Europa, pela sua alegada "falta de visão e de espírito europeu", fora da tradição alemã e sobretudo da visão de Helmut Khol e de Adenauer. Para estes críticos Merkel está apenas preocupada com as suas eleições regionais e outros aspectos da política interna alemã.

Julgo que aquelas críticas a Merkel não têm razão de ser, não se pode comparar a margem de manobra que a Alemanha de hoje tem com a que teve no tempo dos seus antecessores, por diversas razões mas sobretudo devido à dimensão e peso da crise económica que se vive, e cujos desdobramentos são ainda dificilmente previsíveis.

A teoria do aval claro e urgente à Grécia, que correu solta por essa Europa fora, e que apenas não se concretizou graças a Merkel, tinha como base uma política voluntarista muito arriscada não só para o Euro mas para a Europa como um todo. No estado actual da economia mundial não era possível à Europa e muito menos à Alemanha, avalizar nenhum país em dificuldades fora de um quadro legal bem definido, quadro esse que não existe, mesmo que esse país fosse conhecido pelo seu bom comportamento o que como todos sabemos não era sequer o caso.

Aquele aval não era (nem é) possível por uma simples razão, a situação financeira mundial está presa por fios débeis e a qualquer momento pode "despencar", pelo que todas as posições que se tomem têm de ter em conta esse quadro, tomar qualquer decisão sem ter aquele risco em consideração é uma atitude suicida, seria isso que o aval rápido e cego à Grécia teria significado para toda a Europa, tanto mais quanto não se trata de uma simples crise de liquidez mas de problemas de solvência.

Claro que a Grécia, Portugal ou a Irlanda são economias demasiado insignificantes para serem por si só um problema maior, mesmo nos tempos difíceis que correm, no entanto considerando-as em grupo e juntando Espanha e Itália, teremos riscos potenciais que podem atingir os triliões (US) de euros, ou seja, totalmente ingeríveis.

Merkel foi depois acusada de ter acabado por ceder em toda a linha, mais uma vez não foi assim, no quadro que foi aprovado ficou absolutamente claro, para a Europa e para o mundo, qual é limite da responsabilidade alemã se amanhã a Grécia entrar em incumprimento. O risco da pretensa solução rápida e voluntariosa era que com ela teríamos "um por todos e todos por um", até ao último euro nos cofres de Berlim...

Qual é de facto a situação financeira mundial? No quadro da grave crise em que ainda estamos mergulhados os diversos Estados injectaram quantidades astronómicas de dinheiro nas economias para evitar o colapso da actividade económica e financeira, e com ele todo o subsequente conjunto de desgraças agravadas para as populações (não vem agora ao caso se a política foi ou não correcta). Como consequência daquela actuação dos Estados eles próprios ficaram enormemente endividados, mesmo os que ainda o não estavam, as populações que na maioria dos casos já estavam sobre-endividadas ficaram ainda em piores condições (embora com o alívio temporário da queda das taxas de juro), as empresas que estavam menos endividadas aguentar-se-ão enquanto houver consumidores, e os bancos continuarão de pé enquanto haja dinheiro a custo praticamente zero, novas injecções de capital e não tiverem de avaliar os seus activos a preços de mercado efectivos.

Ou seja, estamos perante um castelo de cartas, que todos queremos que se estabilize e consolide, mas ao mesmo tempo não podemos deixar de tomar todas as precauções para o caso de as coisas correrem mal, e isso quer dizer que não há avais nem cheques em branco para ninguém. Aliás o processo grego tem vindo a confirmar a necessidade daquelas cautelas, com as sucessivas surpresas sempre que se aprofundam os números (cada cavadela uma minhoca).

Com este panorama de fundo tudo pode vir a acontecer no quadro monetário europeu se as coisas se complicarem mais a nível mundial, e como é evidente a Alemanha mais do que nenhum outro país tem que que estar preparada para o que der e vier, e exigir dos outros países da zona euro que façam a sua parte no sentido de tentar salvar tudo o que ainda não está totalmente perdido.

Pôr mais "dinheiro bom em cima de dinheiro mau" não resolve nada e só torna as coisas mais difíceis para todos. Se os países em dificuldades não quiserem, ou lhes for impossível, fazer o que tem de ser feito, não vai haver solução que não passe pelo repensar da zona euro.

Esperemos que Merkel, embora tendo razão, não "force a barra" para além do exequível.

(na sequência ver texto: O regresso do marco alemão?)
O REGRESSO DO MARCO ALEMÃO?
(publicado no Jornal de Negócios a 27/4/10)

Os países da zona euro em dificuldades, embora estejam em situações de gravidade e características diferentes, têm em comum vários aspectos dos quais é de realçar a baixa produtividade relativa (e padrões de consumo não consentâneos com ela), do qual todos os outros problemas em grande parte derivam: deficits comerciais e de transacções, peso da dívida pública relativamente ao PIB, endividamento externo das economias como um todo, reduzidos níveis de poupança, etc. Portugal e a Grécia são os países que fazem o pleno e padecem de todos aqueles males, embora o nosso país em doses mais reduzidas que os gregos. Os outros países têm situações negativas mais focalizadas em alguns sintomas concretos, o que não quer dizer situações globais menos graves, quer pela dimensão, quer por outros aspectos específicos.

Estamos assim perante um conjunto de países que tem de fazer um verdadeiro milagre económico no meio de uma crise mundial extremamente difícil, milagre económico porque terão de expandir as suas economias e simultâneamente reduzir o consumo interno, num quadro de investimentos reduzidos, economias abertas e uma moeda forte que não controlam, ou seja, terão de reforçar vendas ao exterior no momento em que esse é o objectivo de todos os outros seus concorrentes que para tal têm mais margem de manobra. Pode dizer-se que se tratam de missões quase impossíveis, será que alguém o vai conseguir? no quadro actual dificilmente. Na verdade o que toda a gente espera (ou apenas tem esperança?)é de que as coisas se comecem a compor na economia mundial e isso acabe por dar espaço para estes países virem a recuperar-se lentamente ao longo do tempo. Mas, e se assim não for?

Se não for assim, o destino serão as suspensões de pagamentos ao exterior, os incumprimentos, as renegociações de dívida, etc. Poderá isso ser feito no quadro do actual euro? Aqui temos de recordar que ninguém pode (pelo menos em teoria) ser expulso do euro mas pode sê-lo da UE, o que no entanto seria um caminho complicado e totalmente desintegrador da Europa. Mas por outro lado, ter países "em default" dentro do euro, além de extremamente complexo seria uma humilhação sem fim para os países da moeda forte (Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia) e um factor de destabilização das suas economias.

Dentro deste quadro pessimista, mas infelizmente longe de inverosímil, teríamos então uma situação extremamente grave com diversos países sem condições de honrarem os seus compromissos, mas que não poderiam ser expulsos do euro e para os quais a desvalorização da moeda se tornaria uma necessidade cada vez mais premente, e face à concentração do seu comércio dentro da própria Europa o ideal seria mesmo a desvalorização do seu euro em relação ao dos "países europeus de moeda forte".
Ou seja, dado que os incumpridores não podem ser expulsos, nem sair pelo seu pé porque tal levaria à falência generalizada das respectivas economias (endividadas em euros e operando em novas moedas), restaria como solução que fossem as economias fortes a sair do euro, o que nesse quadro seria a melhor solução para todos. Quando isso acontecesse essa nova moeda (ou moedas) teria uma rápida valorização ao mesmo tempo que o euro teria forte desvalorização.

É verdade que as desvalorizações por si só não resolvem nada, elas apenas podem facilitar processos de ajustamento que por outras vias são mais difíceis ou até impossíveis, mas as desvalorizações são operações de reconhecimento de empobrecimento (elas não o criam apenas o reconhecem) e em que é transferida riqueza dos aforradores para os devedores, mas esse é o preço a pagar por quem não faz o que deve, quando deve.

Teríamos duas vias possíveis para um segundo e novo euro, na primeira hipótese a Alemanha abandonava o euro regressando ao marco ou coisa parecida e, de imediato ou posteriormente, algumas das outras economias a seguiam. A via alternativa seria a referida por Martin Taylor (ex-CEO do Barclays) da criação institucional de dois euros, um para o Sul e outro para o Norte (sudo e neuro), nesta hipótese todos os depósitos e compromissos financeiros seriam transformados 50% em cada uma das moedas que a partir desse momento começariam a divergir. Obviamente a primeira via seria a mais interessante para os países do sul.

É curioso voltar a Keynes em 1941 quando no seu texto sobre o novo sistema financeiro internacional defende a criação de várias uniões monetárias, entre as quais a germânica com a Alemanha, Holanda e Áustria (e também Suiça), e a união latina com França, Bélgica, Portugal, Espanha e Itália, neste quadro a Grécia ficava na união balcânica.

O fim do euro tal como o conhecemos é inevitável? Obviamente que não, mas se a crise se agravar o estreito caminho que tem pela frente irá tornar-se cada vez mais difícil e estreito e então poderá não haver outra saída. Seja como for, julgo mais do que nunca indispensável acelerar os mecanismos de controle e concertação das políticas fiscais e orçamentais dentro da zona euro, não só porque ainda há esperança, como porque um "novo euro" necessitaria ainda mais daqueles mecanismos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

MEIO PEC TAMBEM SERVE?

Apesar de todos os que sabem alguma coisa de economia, quer em Portugal quer no estrangeiro, dizerem que as medidas do PEC seriam insuficientes e que seria necessário ir mais longe, afinal decidiu-se reduzir o PEC em vez de o aumentar, aparentemente devido ao encontro Sócrates/Passos Coelho.

Claro que o PSD tem razão quando diz que sobretudo o que é preciso é reduzir a despesa pública e não aumentar as receitas, mas a verdade é que conseguir no curto prazo efeitos significativos na redução da despesa é praticamente impossível, e a apresentação de resultados desta vez é urgente, a UE e os mercados precisam de sinais concretos e não apenas de intenções piedosas.

Perante este aparente acordo que pelo menos adiou a decisão relativa à redução dos limites máximos das deduções fiscais, Teixeira dos Santos, para salvar a honra do convento, terá forçado o primeiro ministro a avançar com o imposto das mais valias, ora este imposto é o mais traiçoeiro dos impostos, porque no caso de a crise se agravar (que é o caso em que estas receitas seriam mais necessárias) não vão existir mais valias, e logo não vão existir receitas!

E se o PSD em vez de dramatizar o "aumento de impostos" sobre a classe média, ao mesmo tempo que no seu congresso houve quem defendesse claramente a redução significativa de todos os salários do país, viabilizasse com o PS o aumento temporário e gradual do IVA (podia começar com 0,5%), o que teria efeitos imediatos, daria credibilidade às nossas intenções e seria facilmente desmontável assim que começassem a aparecer resultados do lado da despesa?

Voltando à despesa pública, ainda mais importante e urgente do que eliminar desperdícios, é a necessidade de parar rapidamente esta corrente vertiginosa de crescimento do estado que todos os dias inventa novas funções, novos serviços, novas instalações, etc., tanto a nível da administração central como dos municípios, o que aliado ao Cavaquismo/Fontista que Sócrates no passado tanto criticou e de que agora se transformou no grande defensor, conduzem ao crescimento imparável de um monstro tentacular cada vez mais difícil de controlar.

Estamos claramente em zona de grande perigo mas ninguém parece preocupado, assim como é que a população pode compreender alguma coisa quando tiver que pagar a conta?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

TEXTOS IMPERDÍVEIS

O Finantial Times de hoje tem dois textos sobre a crise grega de enorme interesse, também o VOX-EU de 22 de Abril tem um texto de Daniel Gros e Alcidi Cinzia mais técnico mas absolutamente imperdível, este sobre as diferenças entre os casos mais problemátcos da zona euro.

O texto de hoje do FT assinado por Gideon Rachman, compara a reacção da Grécia às recentes medidas de austeridade ao que se passou na Latvia, que no ano passado teve de tomar medidas bem mais pesadas do que aquelas até agora anunciadas por Atenas. Tudo leva a crer que a Grécia mais uma vez se vai envolver nos habituais conflitos intestinais crónicos desde que deixou o império Otomano, e assim dentro em breve teremos uma rica Latvia e uma Grécia empobrecida mas ao sol do Mediterrâneo, e nós? que vamos fazer quando não der mais para brincar?

O outro texto é de Wolfgang Munchau e compara a actual crise europeia à sub-prime americana.

domingo, 25 de abril de 2010

DÍVIDA E ESPECULADORES

O disparate é livre, essa liberdade já existia até antes do 25 de Abril, mas se não se praticasse tanto era capaz de ser bom para o país.
Vem isto a propósito do que se tem dito sobre a acção dos especuladores e de outras forças sinistras (sobretudo anglo-saxónicas) contra o euro, a Grécia e Portugal.

Neste âmbito merecem especial destaque as declarações de Francisco Louçã, não contra os anglo-saxões, mas contra os europeus continentais de França e da Alemanha que ele descobriu agora que detêm grande parte da dívida portuguesa, logo perigosos especuladores contra Portugal! Ora nós que devíamos comprar aquela dívida não o fazemos (e provavelmente Louçã também não) e preferimos outras aplicações que nos parecem mais interessantes, e por outro lado os fundos e os particulares daqueles países têm confiança em nós e compram a dívida que nós não compramos, fazem-nos um favor e são insultados na praça pública como especuladores!! Está tudo a delirar ou é só ignorância?

Vamos ver se de uma vez por todas se deixa de dizer tanto disparate, os especuladores só compram dívida pública quando ela está na bacia das almas, até lá eles só vendem dívida e quando muito compram CDS`s para especularem contra, não os emitentes de dívida, mas os compradores da dita dívida que depois são insultados como especuladores pelos nossos políticos.

Espero que o Prof Dr Louçã nunca veja os especuladores comprarem dívida nacional, porque se isso viesse a acontecer quereria dizer que ela já teria um desconto de pelo menos 50%, o que como é evidente significaria tão só e apenas estaríamos completamente falidos, e ele talvez mais perto do seu sonho revolucionário.

Também a versão da conspiração anglo-saxónica contra o euro é outra confabulação sem sentido, claro que os USA não gostariam de perder o seu papel chave no sistema monetário internacional mas certamente não é essa a sua maior preocupação neste momento, isto por duas razões, o euro nunca chegou perto de pôr aquela hegemonia em causa, e neste momento para a recuperação das exportações americanas um euro forte seria muito melhor que a debilitada moeda a que a crise mundial e os erros das economias europeias conduziram.

domingo, 18 de abril de 2010

GEORGE SOROS E O INET

Soros foi indiscutívelmente um dos grandes "traders" dos tempos modernos, por essa via tornou-se um homem muito rico (dos mais ricos do mundo utilizando critérios mais alargados), mas o que o distingue são sobretudo as suas preocupações com as questões sociais, políticas e económicas, raras em homens que tiveram o seu sucesso económico e que lhe permitiriam passar os últimos anos de vida a exibir o seu dinheiro, poder, ou até jovens namoradas, em lugar do tipo de preocupações que o ocupa.

A verdade é que Soros sempre sonhou em ficar na história não como um homem muito rico mas como um filósofo, e foi por isso que escreveu diversos livros sobre a sua "teoria de reflexividade", sem qualquer sucesso diga-se de passagem, até porque aquela teoria no que é aproveitável nada tem de original e para além desse aspecto é simplesmente uma grande confusão. É curioso que Soros pouco ou nada escreveu sobre como ganhar dinheiro nos mercados, apesar de isso ser a coisa sobre a qual ele comprovadamente sabe.

Na sua juventude Soros foi aluno de Karl Popper que o marcou profundamente e que ficou como a figura tutelar que ele procura não digo igualar mas de quem pelo menos quer sentir-se condigno discípulo, e é por isso que tem sido um filantropo que abraçou várias causas político/sociais e culturais sempre longe da habitual "caridadezinha internacional". Foi nesse âmbito que em 2009 ele criou o Institute of New Economic Thinking, instituto esse que agora em Abril realizou a sua sessão inaugural no King`s College em Cambridge (a casa de Keynes) com a quase totalidade da nata dos economistas do mundo.

Aquela sessão inaugural produziu uma série de conferencias que se podem ver no site do instituto e que são de enorme interesse (http://ineteconomics.org/), ou ainda no Youtube.

É verdadeiramente prodigiosa a quantidade de informação que hoje existe disponível à distância de um clic na internet, em todas as áreas mas também na da economia, neste campo para além do site do referido instituto gostaria de realçar, entre muitos outros, os sites europeu e americano que constam dos blogs do Só Curtas:
http://www.voxeu.org/ e http://economistsview.typepad.com/economistsview/.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

OS PRÓXIMOS 100 ANOS

O título é claramente pretensioso, parece de um daqueles best-sellers que depois de espremido não diz nada, mas apesar do apelo comercial do título o livro de George Friedman (não confundir com o Thomas) é um livro indiscutivelmente importante para ajudar a compreender este nosso mundo.

O livro tem uma primeira metade que é especialmente interessante e que é dedicada à análise do mundo actual e às grandes forças que nos condicionam e em parte determinam o futuro. A segunda parte entra no campo da futurologia e é altamente polémica, além de aí ser clara a visão bélica que o autor tem sobre o nosso futuro, o que transforma esta parte num texto curioso mas de cuja leitura muita gente dispensará os pormenores.

Em termos de grandes teses do livro, pode dizer-se que Friedman pensa (ao contrário de grande parte dos outros autores) que o grande século dos USA não foi o XX mas será sim o sec. XXI. Neste novo século, tal como em toda a história da humanidade, os grandes conflitos serão inevitáveis não porque sejam em si um objectivo de alguém mas porque as desconfianças entre as diversas potencias sempre acabarão por os originar. Na sua visão a Rússia acabará por se despedaçar e as novas potencias que tentarão aproveitar essa situação serão a Polónia, a Turquia e o Japão, dado que na visão dele a China e a Índia estarão demasiado envolvidas em problemas internos para poderem ter aí algum papel. Como se vê teses largamente polémicas, postas em cima da mesa por alguém que tem uma equipe dedicada a tempo inteiro a este tipo de questões, o que não os inibe de errar totalmente mas que garante que pelo menos não estamos apenas perante meia dúzia de "palpites".

George Friedman é um homem da geopolítica e o fundador da Stratfor, empresa de consultoria nesta área que tem um site na internet que se pode ver no lado esquerdo deste blog (embora o grosso da informação seja exclusivo dos assinantes).

O autor não representa um "pensamento americano" sobre estas questões que nos USA são tema de estudo de inúmeras personalidades, universidades, grupos diversos e revistas (entre outras as duas também com links neste blog - Foreign Policy e Foreign Affairs). Já aqui referi anteriormente Farheed Zakaria como alguém com um papel e posições importantes neste campo, até pelo relevo que tem na comunicação social, Zakaria por exemplo tem posições radicalmente diferentes das de Friedman, quer em relação ao poderio americano quer às perspectivas do mundo para o sec. XXI. Com diferenças ainda mais radicais, temos no extremo oposto do autor deste livro a esquerda americana, dentro da qual neste campo e bem conhecido em Portugal temos Emanuel Wallerstein, com a sua visão totalmente pessimista não só em relação ao futuro próximo dos USA mas de uma forma mais geral em relação ao capitalismo, que segundo ele já morreu há algumas dezenas de anos mas ainda não sabe.

Não é possível no mundo de hoje ter posições sobre as grandes questões que se põem à humanidade sem conhecer estas diferentes perspectivas e com bases nelas ir construindo as nossas próprias ideias.

domingo, 11 de abril de 2010

PASSOS COELHO E O SEU CONSELHO SUPERIOR DA REPÚBLICA

Antes de tudo o mais quero destacar o sucesso que inegavelmente o Congresso foi para o PSD e para Passos Coelho, em especial pelo brilhante discurso de encerramento do seu novo líder.

No entanto, como ele próprio o disse, as dificuldades começam agora, não vai ser fácil fazer uma oposição sistemática e forte com base em conteúdos em lugar de o fazer com base em "casos", ela vai exigir muito trabalho e profundo conhecimento dos assuntos sob risco de ser rapidamente descredibilizada, é um caminho difícil mas sem alternativa.

Quanto à proposta que Passos apresentou na abertura do congresso do tal conselho de notáveis, parece que a receptividade foi muito má e quase toda a gente aposta que será daquelas ideias que discretamente será deixada cair. Julgo que pode ser uma pena fazê-lo desde já, sem a trabalhar melhor e ver da sua exequibilidade prática.

A ideia tem dois pontos negativos, corre o risco de criar um "2º Presidente da República" e por outro lado de ocupar espaço que deve pertencer ao Parlamento, julgo no entanto que esses dois problemas são ultrapassáveis e que o potencial de um órgão desse tipo pode justificar o esforço de no âmbito da revisão da Constituição se trabalhar a ideia.

Para resolver a delicadeza do problema face à Presidência deveria ser dado ao PR o poder de escolher o presidente da referida comissão, entre ex-PR`s ou outras individualidades, devendo depois esse presidente nomeado propor os outros membros da comissão para aprovação parlamentar.

O potencial desta comissão justifica alteração constitucional tão complicada? Pode ser que sim, se o seu âmbito de actuação for definido não como de um órgão decisor (aprovar nomeações, etc. que devem caber ao governo ou ao Parlamento) mas como de um órgão tutelar que vela pelas boas práticas e que nessa linha faz recomendações ao legislativo e ao executivo para que tomem medidas no sentido de melhorar e clarificar os processos de decisão política.

Teríamos assim uma versão modificada e minimizada de um Senado, que poderia assumir posições que um PR a bem da sua independência não deve assumir, e que pressionaria o governo e o parlamento no sentido das clarificações pretendidas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

CONTRA-PARTIDAS E CORRUPÇÃO

Embora seja minha intenção dedicar um texto à problemática geral da corrupção agora pretendo apenas abordar a questão da prática das contra-partidas em Portugal.

Fala-se com espanto da falta de cumprimento das contra-partidas no contrato dos submarinos como se fosse uma grande surpresa e um escândalo inesperado, eu pergunto, quantos contratos com contra-partidas tiveram execução "razoável" (digamos acima dos 80%)? Estou pessoalmente convicto que a grande maioria deles terá ficado muito longe até mesmo dos 50%.

Isto quer dizer corrupção? pode efectivamente ser uma via para isso, mas a corrupção não precisa das complicações dos contratos de contrapartidas, ela vive bem sem eles.

A prática de atrelar acordos de contra-partidas aos grandes contratos do Estado e das empresas públicas era na origem uma ideia bem intencionada e que se julgava com largo potencial, por permitir obter ganhos adicionais de valor importante para quem as recebia e de menor valor para quem as concedia, seria assim uma estratégia "win-win". Como muitas ideias generosas a prática acabou por não confirmar as intenções e normalmente os acordos de contrapartidas não foram cumpridos na maior parte dos casos (e julgo que o mesmo aconteceu a nível internacional), tendo mesmo passado a ser recomendado que se abandonasse tal prática e se negociassem preços de forma mais rigorosa sem sonhar com hipotéticas vantagens de contra-partidas que nunca se confirmam.

Porquê agora este alarme? Julgo que se está apenas a banalizar a corrupção, em breve pouca gente acreditará que ela não é um fenómeno totalmente generalizado, e isso mais não fará do que desmotivar a população e aumentar o próprio fenómeno da corrupção em vez de o diminuir.

O permanente sensacionalismo, alimentado por guerras políticas constantes, em conjunto com a crise económica que vivemos, poderá vir a abrir a porta a uma situação de instabilidade que ninguém vai então ser capaz de gerir. Pulido Valente manifesta o seu espanto perante a passividade do PC e BE face à actual crise, mas porquê fazer alguma coisa? Se mexer estraga! As burguesias estão com tendências suicidas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ORDENADOS DOS GESTORES E "CORPORATE GOVERNANCE"

Embora muito se tenha falado do tema dos ordenados dos gestores existem alguns pontos importantes que não teem sido referidos, em especial no que respeita à relação entre esta questão e os problemas de "corporate governance".

É importante começar por realçar a dificuldade deste assunto para o qual não há soluções fáceis, e todas elas serão sempre difíceis de explicar à generalidade da população, pelo que não posso deixar de criticar o facto de se ter escolhido o presente ano, com uma crise económica de grandes proporções e mais de meio milhão de desempregados no nosso país, para se forçar a informação pública das renumerações individuais, renumerações essas que independentemente do seu montante parecerão sempre ultrajantes a qualquer desempregado ou família de baixo rendimento em dificuldades.

Digo que não existem soluções fáceis, porque os simples critérios de público/privado, rentável/deficitária, grande /pequena, nacional/internacional, ou grau de imersão concorrencial, ou as comparações internacionais, etc. são simplificações traiçoeiras porque em última análise o que deve definir os níveis de renumeração é o grau de complexidade do desafio que se põe à gestão de cada empresa em cada momento.

De uma forma simplista pode até parecer fácil, definem-se os níveis de complexidade dos desafios e depois é apenas ir ao mercado procurar gestores com capacidade para enfrentar esses desafios, na verdade tudo é mais ou menos assim quando existe claramente um patrão, seja um pequeno capitalista português seja um Warren Buffett, mas fora dessas situações o processo torna-se muito mais complexo e mais político, e os jogos de poder assumem relevância especial.

Como dizia, para as empresas que teem de facto um patrão a decisão é simples, ele vai ao mercado buscar o gestor ideal para atingir os objectivos que ele pretende alcançar, gestor esse que ele julgue que tem um preço "razoável" e cuja actuação ele vai controlar de muito perto e normalmente com grande conhecimento do respectivo negócio. Nestes casos os problemas que muitas vezes se põem à gestão são de outro tipo (intromissão e avareza) que não vêem aqui ao caso.

Nas empresas em que o Estado participa, ou grandes empresas mesmo sem o Estado mas com controle partilhado entre vários grandes accionistas, o processo de selecção dos gestores deixa de ser totalmente objectivo, raramente os accionistas nestes casos baseiam a escolha nas recomendações de um "head hunter" ou solução semelhante, na prática desenvolve-se um processo negocial muito político em que os accionistas que fazem parte da decisão de escolha procuram, de entre os mais ou menos competentes, aqueles que mais garantias dão de defenderem os seus interesses e pontos de vista. Estes processos de selecção levam a vários problemas, por um lado os gestores assim escolhidos para além da sua faceta executiva teem de ter um lado político bastante desenvolvido para sobreviverem ao processo de selecção, depois o facto de terem esse lado político e a própria prática do processo negocial que culmina na respectiva nomeação dá aos eleitos e em especial ao CEO assim recrutado um poder exagerado (de quase grande accionista) em relação àquele que seria necessário para o exercício da sua missão, e para além de tudo, no meio deste processo não fica garantido que a futura conduta da gestão esteja totalmente alinhada com os verdadeiros interesses das empresas e não com interesses particulares, de accionistas, das equipes de gestão, ou outros.
A juntar a estes fenómenos do poder nas empresas sem patrão claro, temos o facto de as comissões executivas serem em Portugal parte integrante dos Conselhos de Administração, o que retira liberdade e peso aos Conselhos que acabam na prática por ficar nas mãos das comissões executivas que deveriam controlar mas que são quem na realidade tem o livro de cheques, para além da habilidade política de que já deram provas para chegar lá. E como é evidente por esta via fácilmente as renumerações dos executivos envolvidos podem deixar de ter qualquer relação com as necessidades do mercado.

Quanto a mim não são as renumerações que estão bem ou mal, são os processos de selecção e de manutenção dos executivos que são maus e perigosos, esses sim são os verdadeiros problemas que deveriam preocupar quem de direito, tudo o resto tem pouca importância efectiva.

Em Portugal não temos grandes estrelas na gestão das nossas empresas, mas para não ir muito longe falemos de Emilio Botin (presidente do Santander), quanto vale? Não faço a mínima ideia de quanto recebe mas certamente dezenas de milhões, terá por essa via entre ordenados, prémios e stock options acumulado ao longo da sua vida centenas de milhões, indiscutívelmente merecidos. As grandes estrelas teem de ser pagas, em dinheiro e em reconhecimento pelo trabalho feito, é compensador para as empresas e para as sociedades que assim seja.

Quando a contratação de gestores para empresas "sem dono" se fizer de uma forma clara e aberta, fixando-se as renumerações em função dos desafios e dos resultados, não só toda esta polémica perderá sentido, como os riscos a que as empresas e a sociedade estão sujeitas em termos de má gestão ficarão largamente diminuídos.

quarta-feira, 31 de março de 2010

CNN - FAREED ZAKARIA

Zakaria tem várias vezes sido considerado um dos jornalista-intelectuais mais influentes do planeta na actualidade, lê-lo e ouvi-lo é indispensável para qualquer pessoa que queira compreender o mundo em que nos encontramos, embora a tónica principal das suas preocupações esteja nos aspectos geopolíticos também as questões económicas e culturais estão sempre presentes.

Semanalmente aos domingos é possível ver o seu programa na CNN (14h e 22h de Lisboa, o mais prático é gravar para ver posteriormente), assim como também se podem ver os programas antigos a partir do site da CNN indicado no lado esquerdo deste blog.

O problema de assistir aos programas de Zakaria é que depois fica difícil assistir aos paupérrimos programas das nossas televisões.

segunda-feira, 29 de março de 2010

DOS GOVERNOS SOMBRA

Na ciência política, como nos mercados financeiros e como em muitas outras coisas na vida, quase nunca o que parece é. Também assim é com as dificuldades dos governos sombra.

Embora à primeira vista pareça mais fácil e menos exigente a formação de governos sombra do que a de governos efectivos na verdade não é assim. São três as frentes em que a formação de governos sombra se torna mais difícil: é mais complicado o recrutamento de "ministros", é mais exigente em termos da qualidade dos mesmos e corre o risco de ser uma via de desgaste de personalidades que de outra forma teriam possibilidade de se vir a afirmar no poder real.

O recrutamento é mais difícil por diversas razões, mas que se resumem ao facto de os riscos serem muitos e as compensações poucas, sem poder efectivo e sem equipes de apoio a sério, os ditos ministros terão de escolher entre ter papéis relativamente apagados ou o desgaste de posições constantes de confronto difíceis de manter.

Exactamente pelas razões referidas atrás, falta de equipes de apoio e falta de poder efectivo, os tais ministros terão que ser muito melhores do que ministros reais, eles terão de fazer omeletes sem ovos! E assim caímos na situação bizarra de ser obrigados a ter num governo sombra personalidades muito melhores do que aquelas que são necessárias para constituir um governo efectivo.

E por último teremos como consequencia para o partido do governo sombra o seu desgaste e o de personalidades que muito provavelmente iriam ser necessárias no futuro.

São estes os problemas em que Passos Coelho se vai envolver se for por esta via. A solução dos porta-vozes sectoriais, embora não tendo o mesmo "glamour", envolve muito menos riscos e tem potencial equivalente, ou até maior por dar a possibilidade de "rodar" gente nova.

sábado, 27 de março de 2010

MERKEL VENCEU, TEMOS ESTADISTA?

Contra tudo e contra todos, incluindo o seu ministro das Finanças (Schaube), Angela Merkel foi a grande vencedora desta pequena guerra europeia que se arrastou por algumas semanas.

Ao contrário da imagem que se fez passar, Merkel não foi o osso duro de roer que dificultou uma solução rápida e fácil para o problema grego apenas por causa das suas preocupações com as eleições e com aspectos legais da Alemanha, a verdade é que essa tal solução fácil e rápida não existia, e não era mais do que uma via rápida para o desastre europeu.

Todos sabemos que o projecto Europeu tem uma boa costela latina, com muitos passos maiores que as pernas, na base do "tudo vai correr bem", "depois se resolve", etc. Isto embora os grandes da política europeia prefiram encarar o fenómeno como manifestação da sua enorme visão política, ou de forma mais prosaica e poética dizendo que o caminho se faz caminhando. Foi assim com o euro, sem orçamento centralizado, sem política fiscal comum, sem política económica e com uma enorme diversidade entre os diferentes estados não é claramente uma zona monetária óptima, está mesmo mais para péssima.

Há muito tempo que os euro-cépticos, euro-inimigos e especuladores ansiavam por este momento de verdade, para eles a grande oportunidade, um simples escorregar neste momento de crise global seria um abrir de porta a uma sucessão imparável de manobras e ataques a toda a construção europeia. Tudo é fácil enquanto o mar está calmo e as águas se não levantam, mas quando a borrasca começa não dá para fazer erros, tanto mais quando o navio está nas condições em que o navio europeu se encontra.

Foi então que os líderes europeus começaram a querer tapar o buraco grego de qualquer maneira desde que rápida. O voluntarismo correu solto, fazia-se um FME instantâneo, juntavam-se uns cobres, ou até pura e simplesmente declarava-se o apoio e depois logo se via. E Merkel teve a coragem de ir dizendo sempre que não, de improviso em improviso até ao desastre geral não é bem o estilo dela, haja alguém com bom senso!

A comunidade europeia nunca poderia ter dado um aval directo e cego à Grécia fora de um quadro regulamentar que talvez devesse existir mas que não existe. E pior ainda, se a crise internacional se agravasse iríamos depois ter as "grécias grandes" e aí como seria? continuaria o improviso voluntarioso então com precedentes já estabelecidos?
Trocando por miúdos caro leitor, suponha que tem dois ou três irmãos, simpáticos, bons rapazes, até trabalhadores, mas coitados a vida tem sido complicada, uns divórcios, filhos difíceis, certa tendência para gastar demais, etc., responda leitor! o seu aval ou o banco?

O projecto europeu parece agora fora de perigo, quanto ao euro as coisas não são assim tão fáceis, mesmo as exigências de Merkel por si só não serão suficientes para garantir que o sistema vá funcionar. Sem uma verdadeira política económica europeia se a crise se agudizar a solução de Martin Taylor dos "dois euros" poderá vir a ser a única saída, ou pelo menos a menos má.

Tem sido voz corrente por esta Europa que Merkel é apenas uma boa gerente nunca será uma estadista, faltam-lhe a visão e a capacidade de liderança de um Helmut Kohl, diz-se. Começo a achar que estão redondamente enganados, com o seu ar de ursinho triste Merkel deu um show, um espectáculo de determinação serena, de coragem para resistir a pressões sem fim, de inteligencia a negociar as saídas possíveis.

Agora que Obama finalmente se consegue afirmar como líder de facto, mais importante ainda é que a Europa tenha alguém à sua altura.

Acho que temos estadista, a Europa bem precisa, é material em falta há muito tempo.
O PRAVDA

Das listas da imprensa mundial aqui ao lado esquerdo do blog consta o site do Pravda, é hoje um site moderno, alegre, quase fútil, o típico das nossas sociedades de consumo com muitas misses (lindas!), moda e umas coisa sérias (poucas).

Este foi o jornal que depois de intensas lutas Lenin tirou a Trotsky, nenhum dos dois resistiria a uma simples olhada a tão "decadente" objecto, mudam-se os tempos...
PASSOS COELHO II

Confirmou-se.
Uma vitória indiscutível, mais clara do que todas as previsões anteviam.

Como sempre um discurso com a entoação perfeita e globalmente correcto. Um bom princípio, apenas isso.

Gerir a sofreguidão do partido pelo poder, que sente próximo o que pode ainda estar longínquo, como é usual não irá ser fácil. Esse será o primeiro dos muitos desafios de PPC.
A ver vamos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

MANUELA FL

O PSD é um partido especialmente difícil de gerir, do pouco que eu sabia sempre julguei que FL não tinha condições para esse tipo de missão, mas é de realçar que isso seria sempre um desafio impossível para quem quer que fosse com os conselheiros que a rodearam, que ela escolheu ou que deixou que lhe escolhessem.

De qualquer modo, nestes momentos finais o que importa realçar é que Manuela Ferreira Leite foi uma Senhora até ao fim, o que já é muito nos tempos que vão correndo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

DOWNGRADE DA DÍVIDA PORTUGUESA
A Fitch acaba de fazer o downgrade da nossa dívida, não é o fim do mundo mas no contexto actual pode tornar a nossa vida bastante mais difícil.

terça-feira, 23 de março de 2010

VÁRIOS EUROS - O REGRESSO A KEYNES (1941)

Ainda durante a segunda grande guerra Keynes começou a desenvolver trabalhos com vista a definir a base a partir da qual seria possível que a economia mundial, depois de acabada a guerra, tivesse condições para entrar numa fase de crescimento global, longe do proteccionismo a que a crise de 1929 tinha conduzido o mundo. Sendo neste âmbito de destacar o texto produzido em 1941 "Proposals for an International Currency Union", de que vou aqui procurar dar uma ideia geral pelo seu interesse e actualidade quando se começa a falar de vários "euros".

Apesar de Keynes ser considerado um dos pais do sistema monetário internacional estabelecido em Bretton Woods, conjuntamente com o americano Dexter White, a verdade é que o que em 1944 foi consagrado em Bretton Woods difere substancialmente do que Keynes defendia em 1941, não sei o que dessa mudança correspondeu a evolução do pensamento do mestre e que parte resultou apenas do peso da realidade americana como grande vencedor do conflito e então a grande economia mundial com enormes superavits comerciais, e portanto a única com condições para financiar a recuperação.

Voltando ao documento de Keynes, a base do sistema seria um "International Clearing Bank" através do qual se realizariam todas as transacções internacionais num sistema fechado e por isso sempre em equilíbrio, porque os débitos de uns seriam os créditos de outros. Por outro lado, o grande objectivo seria que o sistema tivesse capacidade efectiva para pressionar quer países deficitários quer superavitários para corrigir essas situações que deveriam idealmente caminhar para um equilíbrio total, sem deficits nem excedentes. O documento pretendia também definir condições de comércio justas em termos globais longe da prática dos acordos bilaterais, limitando quer os impostos alfandegários e a fixação de quotas, quer os incentivos à exportação, numa rota que depois veio a ser abraçada pela OMC.

Defendia ainda Keynes que o ideal seria que os membros do sistema não fossem países mas "currency unions" agrupando países por razões políticas e geográficas, sistema este para o qual se deveria evoluir. Meramente a título de exemplo até porque o fim da guerra iria originar novas situações, Keynes considerava o estabelecimento de 11"unions" (América do Norte, América Central e do Sul, Império Britânico, URSS, Médio Oriente, Extremo Oriente, e 5 zonas na Europa para além do UK abrangido no Império). Sobre como operariam estas zonas monetárias tão longe da optimização Keynes não se debruça. É curioso olhar para a uniões europeias sugeridas:
- países germânicos incluindo a Suíça, a Holanda e a Áustria
- países escandinavos incluindo os estados bálticos
- a união latina - França, Bélgica, Itália, Espanha e Portugal
- Europa central - Polónia, Eslováquia, Hungria, etc
- União dos Balcans

O sistema funcionaria como de câmbios fixos, cada moeda com a sua relação fixada com o ouro, câmbios esses que obrigatoriamente seriam alterados para baixo ou para cima sempre que maiores distorções surgissem nos saldos comerciais de cada país. A título meramente de exemplo um país/zona monetária que tivesse na sua conta no clearing por mais de um ano um saldo superior a metade da média entre as suas importações e exportações num ano, seria obrigado a valorizar a sua moeda em 5%, correspondente desvalorização seria obrigatória para quem inversamente tivesse deficits de dimensão equivalente.

Texto para reflectir em tempos em que não só a nossa zona monetária tem de ser repensada, como também temos de o fazer em relação à situação dos outros países europeus fora dela.
O PEC

Este é daqueles documentos que qualquer governo gostaria de nunca ter de fazer, talvez isso ajude a explicar o que se tem passado com as apreciações de diversos comentadores económicos que teem tido mudanças substanciais ao longo do tempo conforme o documento foi passando das 9 páginas iniciais para as 110 finais. Houve de tudo, dos que de posições iniciais de concordância, ou até de elogio, evoluíram para posições de oposição radical, como houve aqueles que do tom crítico inicial evoluíram para posições de receptividade global em relação ao documento.

Claro que muito provavelmente a qualidade final do documento foi afectada pela promessa eleitoral de não subir os impostos, reinterpretada pelo governo na versão de não subir as taxas dos impostos, o que dificultou a saída de utilizar o aumento do IVA em lugar da redução das deduções fiscais, mas mesmo assim o resultado final não seria muito diferente. Ouvi economistas de vários quadrantes políticos elogiar o bom trabalho feito pela equipe do ministério das finanças.

Crítica total, clara e "fundamentada" ao documento apenas a vi da esquerda radical que defende outro modelo de desenvolvimento, modelo esse que no entanto nunca explicou qual é, pelo menos de uma forma global e coerente.

O PEC podia ser melhor? muito provavelmente sim. O PEC é mau? parece que não. O PEC podia ser radicalmente diferente? não se vê como.
JARDIM E SÓCRATES

Segundo o jornal Público, Alberto João em entrevista à Renascença terá admitido "alianças com o primeiro ministro em aspectos que ache justos para o país, mesmo que contra o PSD".

Pode-se compreender que Jardim esteja agradecido em relação ao comportamento inteligente do primeiro ministro quando da catástrofe madeirense, mas a verdade é que posições como esta, junto com o confrangedor debate entre os quatro candidatos do PSD, só tornam as coisas ainda mais difíceis para o partido laranja.

segunda-feira, 22 de março de 2010

EURO DO NORTE E EURO DO SUL

Esta é a sugestão de Martin Taylor no Finantial Times, indo mesmo ao ponto de começar a detalhar o processo de transição para as novas moedas segundo o qual a cada "euro" antigo corresponderiam dois meios euros, um do norte e outro do sul, cujos valores a partir desse momento começariam a divergir.

Está aberta a temporada para todos os exercícios na área económica!

Até Schaube com a sua insistência no Fundo Monetário Europeu está já de relações tensas com Merkel, parecendo mais perto da ministra francesa (que vai a Berlin na procura de um entendimento antes da reunião do Conselho) do que da sua chanceler, diz-se mesmo que Schaube continua com a sua equipe a detalhar o seu FME, qual brinquedo privado contra a vontade da chefe.

Tudo isto ao mesmo tempo que a Europa do sul está receosa do que pode vir a seguir à Grécia. É neste quadro que Espanha, por todas as razões cheia de vontade de mostrar serviço, vai acolher esta semana a reunião de chefes de governo da Europa que tem todos os ingredientes para ser animada.

Até lá vamos certamente ter mais exercícios, regresso do marco, expulsão ou suspensão da Grécia, FME, dois euros, e o que mais se seguirá (já agora eu também tenho um exercício) ...

terça-feira, 16 de março de 2010

ISRAEL
È natural que Obama esteja já completamente farto dos falcões israelitas, na longa lista de problemas a humilhação de Biden foi apenas mais um episódio.
Já não existe muito tempo para que tudo não acabe num drama de dimensões gigantescas, mas ainda existe esperança quando se lê um artigo como aquele hoje publicado no Jerusalem Post e que á frente transcrevo.


A free people in our land
By GERSHON BASKIN
16/03/2010 06:40


If we do not negotiate, the Palestinian nat'l movement will drop the strategy of seeking a state and will call openly for full democracy.
It was never really about the timing. Prime Minister Binyamin Netanyahu’s apology to US Vice President Joseph Biden enabled the Tel Aviv University speech to conclude the visit on an up note. The ice-cold water from Washington came only after the prime minister thought that he had successfully passed through the storm.

The current government has excelled at putting the country on a collision course with the rest of the world. Unfortunately, the government and the media are focusing attention on the relationship with the US and completely missing the real point of our predicament. It is not about our relationship with Washington, it is about our existence in the region and our relationship with our direct neighbors. It is time for the Israeli public to wake up from the hibernation of a long spring of calm and comfort. The hot summer is approaching and with it disaster.

The country needs to make a choice; there is no escape from making tough decisions. The clock is ticking and soon the choice will be made for us, if we don’t decide on our own. The “status quo” of business as usual, a sense of personal security and the illusion that we can keep the territories and make peace with our neighbors is about to end.

SINCE THE signing of the Oslo agreement in 1993 the Jewish population living over the Green Line has increased by 300 percent. Even as Netanyahu repeats the “two states for two peoples” mantra, we continue to build more housing units over the Green Line. The so-called building freeze is no more than an exercise in self-delusion. The binational reality of life over the Green Line is apparent to anyone who crosses it.

The Palestinian leadership remains firmly committed to the two-state solution, but it too knows that the chances of partition based on the Green Line are rapidly fading away. Yes, the Gaza disengagement proved that settlements can be removed, but Israel is so deeply entrenched over the Green Line that a vision of peace based on an independent Palestinian state on those territories seems virtually impossible.

The country has apparently made its choice – it prefers territories to peace. By our own hands, we are putting an end to the Zionist enterprise. A people that occupies another and denies it self-determination, liberation and freedom cannot be a free people in its lands.

THE AVERAGE Palestinian and more so the intellectuals are voicing a new understanding: There is no longer a chance to establish an independent state in the West Bank and Gaza with east Jerusalem as its capital. A new strategy is developing and Israelis should be worried about what this strategy will mean for them.

Phase one of the strategy will be what is already being termed a “white intifada.” This is a strategy for massive civil disobedience and a refusal to cooperate with the occupation. This strategy is based on non-violent confrontation with the occupation authorities. We have seen evidence of this in Bil’in, Ni’lin, Budrus, Masara and other places that are so far unfamiliar to Israeli consciousness. The Palestinian Authority is actively advancing the boycott of settlement products and will soon encourage Palestinian workers to stop working in settlements.

The challenge will be to stick to non-violence and to finetune their message. The political purpose of the struggle will be to give the two-state solution a final chance. The Palestinians will seek to gain international support as they will capture the higher moral ground. The world will see images of IDF soldiers shooting at unarmed crowds, including women and children, in points of confrontation at roadblocks and checkpoints, and around settlements.

Palestinians will design symbolic acts of removing roadblocks, building in Area C controlled by Israel, setting up roadblocks on settlement roads to stop and check Israeli drivers and more. Thousands will be arrested, many shot and possibly killed. Every use of force against Palestinian defiance will result in increasing support for them around the world and the continued rapid deterioration of support for Israel.

IF THE strategy of nonviolent confrontation fails, if the price is too high to pay or if, God forbid, it turns to violence, the Palestinian national movement will drop the strategy of seeking an independent state and will call openly for full democracy within Israel – one person, one vote. This strategy will eventually be embraced by the international community as the growing delegitimizing of Israel gains strength.

This year there were 40 university campuses around the world taking part in the “Israel Apartheid Week” campaign; next year it might be 400 or more. Once the Palestinians adopt the strategy of “democracy” as their solution, they cannot lose. It will only be a matter of time before the world treats Israel like it treated the last white government of South Africa.

Most of the world, and certainly the entire Arab world, has never really comprehended that the State of Israel is a nation-state of the Jewish people. Most of the world thinks of Jews as a religion and not a people. The opportunity to support a “democratic” solution to the conflict will be warmly embraced and supported because it makes more sense than partition, which gives the Palestinians only 22 percent of historic Palestine.


Israel will lose the battle. There is no longer a way to prevent the Palestinians from becoming a free people in their land. The only way to ensure that the Jewish people will remain a free people in our land is by making the decision to end its occupation over the Palestinian people. All settlement building must end now, not because of our relationship with the US but because we cannot advance peace until we do so. If we want to continue to build in those areas that will eventually be annexed to Israel, we must first negotiate an agreed border and territorial swaps.

The days of unilateralism are numbered. Israel will not be able to annex more than 3% of the West Bank, which would accommodate some 80% of the settlers. There simply is not more than that in equal territory to swap. Jerusalem must become a shared capital – if we don’t share it, we will surely lose it as the eternal capital of the Jewish people.

The realities of a need for an immediate course change are so unambiguous that without it our survival as a Jewish and democratic state is sure to end.

The writer is the co-CEO of the Israel/Palestine Center for Research and Information (www.ipcri.org) and an elected member of the leadership of the Green Movement political party.

domingo, 14 de março de 2010

O CAVALEIRO BRANCO FALTOU AO CONGRESSO

O tão falado cavaleiro, montado no seu corcel ainda mais branco e puro que ele, não foi a Mafra para desilusão de muitos sebastianistas, e não se prevê que apareça até dia 19, seja onde for.
Eu sou dos sebastianistas mas perdi as esperanças logo sexta-feira pela manhã quando no Jornal de Negócios li a entrevista de Fernando Ulrich, entrevista em que eu esperava que ele desse o passo preparatório para se apresentar como o tal cavaleiro surpresa, mas para desilusão minha Ulrich nem sequer é militante do PSD!
Ulrich tem mostrado um grande, crescente e evidente interesse pela "coisa pública" (demasiado até, para banqueiro), depois é um executivo de grande sucesso e experiência, com uma bagagem e determinação reconhecidos por toda a gente, e sempre foi não só um homem da área do PSD como muito ligado ao partido, mas... nem sequer é militante!
O único homem da área do PSD que poderia começar desde logo a tirar o sono a José Sócrates não pertence ao partido!

O Congresso parece que acabou por ser um acontecimento bastante positivo na vida do PSD, embora sem ter conseguido nenhum milagre e tendo ficado en-sombrado pela decisão de penalização dos críticos em período eleitoral, facto de que o PS vai explorar ao máximo. Uma vitória portanto para Santana que no entanto parecia bastante abatido(?).

Quanto aos candidatos, Aguiar Branco parece ter já ficado pelo caminho, Rangel renasceu das cinzas e está aí para disputar com Passos Coelho, que aliás fez alguns erros que lhe podem sair caros.
Continuo a pensar que nenhum dos candidatos se conseguirá afirmar como um líder, no partido e no país, pelas razões que já citei, mas tenho que admitir que o poder faz mudar e crescer as pessoas, que então ou se afirmam ou se perdem para sempre, pode ser que o milagre que não aconteceu em Mafra acabe por se concretizar na pessoa do novo líder, no entanto duvido, duvido muito.

Em qualquer caso acho que alguém deveria começar desde já a empurrar Ulrich para dentro do partido, porque o provável é que mais ano menos ano ele vá ser necessário.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A ACLAMAÇÃO DE MARCELO

Depois de diversos esforços para empurrar Marcelo para a corrida eleitoral dentro do partido, agora a nova versão é pô-lo a correr por fora, ou seja as próximas eleições serviriam apenas para designar uma figura simbólica que seria presidente do partido, mas simultâneamente o partido designaria (melhor, aclamaria!) um candidato a primeiro ministro que não seria aquele dirigente partidário mas uma outra personalidade, que apesar de não ter querido suportar o desgaste das eleições internas se pensa (quem?) ser a pessoa com mais condições para em eleições fora do partido bater José Sócrates.

Sim, caro leitor é disto que se trata, leia outra vez que talvez consiga compreender, para mim também é difícil mas vou tentar dar uma ajuda:

- a solução da aclamação do verdadeiro líder sem eleição, não tem nada de absurdo com à primeira vista possa parecer, é uma solução extremamente inteligente e com enorme potencial, aliás para o comprovar nada melhor que as experiências dos congressos e "politburos" da União Soviética e de outros países comunistas que a usaram com enorme sucesso durante décadas e, de salientar vigorosamente, sem qualquer contestação que se conheça (ou de que pelo menos tenha havido sobreviventes).

-por outro lado toda a gente sabe que o que Marcelo quer é ser presidente da República, o que só prova que no meio desta insanidade geral ele ainda está lúcido, porque é indiscutível que pela sua cultura política e capacidade de comunicação ele tem as condições para ser presidente de todos nós, mas por outro lado também é indiscutível que ele não tem condições nenhumas para ser primeiro ministro.
Falemos sério senhores, o cargo de primeiro ministro é um cargo executivo de uma exigência enorme em termos de capacidade de decisão e gestão de conflitos, a única experiência executiva de Marcelo foi um cargo de secretário de estado e pouco mais, além de que todos os portugueses conhecem o seu perfil psicológico.
Porquê então querer empurrar o homem para um cargo que ele não quer? e depois para uma corrida eleitoral contra Sócrates que será extremamente difícil? e tudo isto finalmente para que (hipotéticamente) ele viesse a chefiar um governo do qual ao fim de três meses estaria completamente farto?
Toda esta operação para quê? O leitor ainda não ficou esclarecido? Leitor difícil! Vou tentar melhor.

-no meio de tudo isto Cavaco Silva declarou que nestes quatro anos de mandato, não dedicou ainda nem dois minutos do seu tempo à questão da reeleição, é óbvio que isto quer dizer que se não vai candidatar a novo mandato, porque se houvesse a mínima hipótese de o fazer convenhamos que teria perdido pelo menos os tais dois minutos. A não ser que não estivesse a falar verdade, o que não é certamente possível, porque isso seria a consagração institucional da falta de amor á verdade como uma componente genética portuguesa, logo a única conclusão possível é a de que não se vai recandidatar. Esta pelo menos o leitor certamente compreendeu, ou não?

-sendo assim as coisas ficam mais claras! o actual presidente não se vai recandidatar, o político da mesma área que tem condições para o substituir e que sonha com isso, é empurrado para uma corrida que ele não quer. O que se passa aqui? quase parece um enigma de policial barato, vamos ver leitor, paciência... talvez a gente chegue lá.

-outro elemento, caro leitor, quem foi o cérebro que concebeu este congresso extraordinário antes de eleições? o homem que se tivessemos um senado seria o senador por excelência, um homem tão modesto que não é candidato a nada e só quer o bem do partido.
O homem que agora ajudou a conceber também a aclamação de Marcelo, quem é ele? Acertou leitor! o eterno Santana Lopes, o que quer ele? depois daquela dos dois minutos, afastar Marcelo parece ser uma jogada de mestre, ou não? Leitor por favor! é tudo tão complicado! ajude-me leitor, não faça perguntas difíceis!

Mas não é só Santana que quer empurrar Marcelo, até porque bem lá no seu íntimo ele ainda espera aquela vaga de fundo que o pode levar a ser obrigado a candidatar-se às eleições partidárias a bem do partido e da Pátria, papel que apesar de bem mais ingrato do que o de candidato a PR à falta de melhor lá terá que ser...
Para além de Santana vários outros se empenham nessa missão patriótica de empurrar Marcelo, todos eles com os mais diversos e estranhos desígnios.
Perante tanta actividade política, tanto dinamismo, o leitor provavelmente ver-se-ia inclinado a pensar que o PSD é o maior partido nacional, não? ou pelo menos líder nas sondagens? ou então no mínimo o partido que mais cresce, aquele que vai "explodir" nas urnas na próxima oportunidade? Não, caro leitor parece que não, misteriosa e injustamente nada disso acontece, vá lá saber-se porquê...

-mas há mais, e o namoro PS/CDS? como é? vai a algum lado? não é fácil, Sócrates só compra barato e Portas tem um preço alto, mas se o PSD der um jeito e empurrar definitivamente o PS para os braços do CDS, o desenlace ainda se dá. Se assim for que percentagem do eleitorado vai o PSD ter daqui a quatro anos? O quê leitor? Só isso? E estas guerras todas para quê?

O leitor pergunta se eu fumei? se cheirei? se me injectei? Eu?! Eu não! caro leitor sou do tempo em que a Coca-Cola era proibida e ainda é o meu único alucinogeno. Provavelmente leitor nós só não estamos sintonizados na onda, topas meu? (né mano? - para a versão brasileira).