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quarta-feira, 7 de abril de 2010

ORDENADOS DOS GESTORES E "CORPORATE GOVERNANCE"

Embora muito se tenha falado do tema dos ordenados dos gestores existem alguns pontos importantes que não teem sido referidos, em especial no que respeita à relação entre esta questão e os problemas de "corporate governance".

É importante começar por realçar a dificuldade deste assunto para o qual não há soluções fáceis, e todas elas serão sempre difíceis de explicar à generalidade da população, pelo que não posso deixar de criticar o facto de se ter escolhido o presente ano, com uma crise económica de grandes proporções e mais de meio milhão de desempregados no nosso país, para se forçar a informação pública das renumerações individuais, renumerações essas que independentemente do seu montante parecerão sempre ultrajantes a qualquer desempregado ou família de baixo rendimento em dificuldades.

Digo que não existem soluções fáceis, porque os simples critérios de público/privado, rentável/deficitária, grande /pequena, nacional/internacional, ou grau de imersão concorrencial, ou as comparações internacionais, etc. são simplificações traiçoeiras porque em última análise o que deve definir os níveis de renumeração é o grau de complexidade do desafio que se põe à gestão de cada empresa em cada momento.

De uma forma simplista pode até parecer fácil, definem-se os níveis de complexidade dos desafios e depois é apenas ir ao mercado procurar gestores com capacidade para enfrentar esses desafios, na verdade tudo é mais ou menos assim quando existe claramente um patrão, seja um pequeno capitalista português seja um Warren Buffett, mas fora dessas situações o processo torna-se muito mais complexo e mais político, e os jogos de poder assumem relevância especial.

Como dizia, para as empresas que teem de facto um patrão a decisão é simples, ele vai ao mercado buscar o gestor ideal para atingir os objectivos que ele pretende alcançar, gestor esse que ele julgue que tem um preço "razoável" e cuja actuação ele vai controlar de muito perto e normalmente com grande conhecimento do respectivo negócio. Nestes casos os problemas que muitas vezes se põem à gestão são de outro tipo (intromissão e avareza) que não vêem aqui ao caso.

Nas empresas em que o Estado participa, ou grandes empresas mesmo sem o Estado mas com controle partilhado entre vários grandes accionistas, o processo de selecção dos gestores deixa de ser totalmente objectivo, raramente os accionistas nestes casos baseiam a escolha nas recomendações de um "head hunter" ou solução semelhante, na prática desenvolve-se um processo negocial muito político em que os accionistas que fazem parte da decisão de escolha procuram, de entre os mais ou menos competentes, aqueles que mais garantias dão de defenderem os seus interesses e pontos de vista. Estes processos de selecção levam a vários problemas, por um lado os gestores assim escolhidos para além da sua faceta executiva teem de ter um lado político bastante desenvolvido para sobreviverem ao processo de selecção, depois o facto de terem esse lado político e a própria prática do processo negocial que culmina na respectiva nomeação dá aos eleitos e em especial ao CEO assim recrutado um poder exagerado (de quase grande accionista) em relação àquele que seria necessário para o exercício da sua missão, e para além de tudo, no meio deste processo não fica garantido que a futura conduta da gestão esteja totalmente alinhada com os verdadeiros interesses das empresas e não com interesses particulares, de accionistas, das equipes de gestão, ou outros.
A juntar a estes fenómenos do poder nas empresas sem patrão claro, temos o facto de as comissões executivas serem em Portugal parte integrante dos Conselhos de Administração, o que retira liberdade e peso aos Conselhos que acabam na prática por ficar nas mãos das comissões executivas que deveriam controlar mas que são quem na realidade tem o livro de cheques, para além da habilidade política de que já deram provas para chegar lá. E como é evidente por esta via fácilmente as renumerações dos executivos envolvidos podem deixar de ter qualquer relação com as necessidades do mercado.

Quanto a mim não são as renumerações que estão bem ou mal, são os processos de selecção e de manutenção dos executivos que são maus e perigosos, esses sim são os verdadeiros problemas que deveriam preocupar quem de direito, tudo o resto tem pouca importância efectiva.

Em Portugal não temos grandes estrelas na gestão das nossas empresas, mas para não ir muito longe falemos de Emilio Botin (presidente do Santander), quanto vale? Não faço a mínima ideia de quanto recebe mas certamente dezenas de milhões, terá por essa via entre ordenados, prémios e stock options acumulado ao longo da sua vida centenas de milhões, indiscutívelmente merecidos. As grandes estrelas teem de ser pagas, em dinheiro e em reconhecimento pelo trabalho feito, é compensador para as empresas e para as sociedades que assim seja.

Quando a contratação de gestores para empresas "sem dono" se fizer de uma forma clara e aberta, fixando-se as renumerações em função dos desafios e dos resultados, não só toda esta polémica perderá sentido, como os riscos a que as empresas e a sociedade estão sujeitas em termos de má gestão ficarão largamente diminuídos.

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