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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A QUESTÃO DAS PENSÕES

Podem resumir-se em quatro as diferentes posições "simplistas" que têm vindo a ser tomadas sobre este assunto:

- o sistema está falido e no futuro não haverá pensões para ninguém, pelo que desde já todos os pensionistas devem começar a ser penalizados

- as pensões estabelecidas são um direito intocável, independentemente das condições económicas do país e da forma como foram obtidas

- os sistemas de previdência que foram capitalizados pelos privados de forma correta têm de ser tratados de forma diferente dos da Previdência geral

- o governo arroga-se o direito de impor taxas especiais sobre as reformas mais altas, fazendo-o de uma forma totalmente arbitrária e dando tratamento desigual a cidadãos com rendimentos equivalentes

Para além destas posições simplistas sobre o assunto, tudo é ainda agravado pelo interesse, mais ou menos disfarçado, de  alguns grupos em vir a reduzir a previdência pública em favor de um sistema de previdência privado. Operação esta que ninguém sabe como seria realizável sem a ruptura total da actual previdência pública.

Relativamente às quatro posições atrás referidas é importante notar:

- o sistema está de facto falido, no sentido em que não existem reservas acumuladas, pois os saldos verificados ao longo dos anos, por via da diferença entre as contribuições das empresas e dos trabalhadores e as pensões pagas,  foram sendo gastos para pagar despesas correntes do estado. Mas não se pode por isso argumentar que os "velhos" sejam uns priviligeados que têm de ser penalizados pelos gastos do estado. Isto apesar de se saber que existe um numero considerável de beneficiários que pouco ou nada contribuíram para o sistema, dado que estes casos se encontram quase que totalmente ao nível das pensões mínimas, pelo que se trata sobretudo da correcção de uma injustiça histórica que o Estado/Previdência tem de suportar

- as pensões não são um direito intocável, numa época em que temos visto todos os direitos serem postos em causa face à situação de crise que vivemos, não há justificação para que com os valores das pensões não se passe o mesmo, em especial para as mais altas. Mas, mais do que isso, existem muitas pensões elevadas cujo montante nada tem a ver com os valores descontados ao longo de toda a carreira contributiva, e que foram fixadas arbitrariamente com base apenas no ultimo salário e em carreiras contributivas curtas, ou em função de outras justificações semelhantes

-não é justa qualquer distinção entre pessoas que tiveram o mesmo volume de descontos para os sistemas de previdência, seja por serem oriundas de diferente sistema de previdência ou por outras quaisquer  razões. Se havia sistemas que estavam (ou foram apressadamente) capitalizados e outros não, é culpa de Estado, e o sistema (agora comum)  não pode distinguir entre uns e outros

-a posição que o governo decidiu assumir face às pensões mais altas, para além de ter legalidade no mínimo duvidosa, não tem qualquer critério de justiça subjacente, nem é um sistema eficiente. Se se pretende reduzir as pensões acima de determinado valor a única via legal, justa e eficaz, é propor à Assembleia da República uma lei que permita recalcular todas essas pensões mais elevadas, em função dos descontos efectivamente efectuados por essas pessoas ao longo da sua carreira contributiva. Só se o governo assim fizer estará a corrigir situações erradas e injustas (poderá até propor nesse projecto de lei critérios mais rigorosos do que os existentes para as pensões mais baixas), o que o governo não pode é arbitrariamente fixar "impostos" especiais para determinado grupo de cidadãos, nem desligar a relação que tem de existir entre o valor total dos descontos efectuados ao longo da vida e a pensão a que se tem direito, fazê-lo é, para além de injusto, extremamente perigoso porque vai levar inexoravelmente à perversão do sistema, que em lugar de ficar mais viável o ficará cada vez menos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

BOM SENSO DE CURTA DURAÇÃO

Primeiro Junker diz que as condições dadas à Grécia serão extendidas a Portugal e Irlanda, de seguida Passos e Gaspar confirmam a ideia como conquista da sua brilhante actuação.

Agora o Conselho Europeu vem dizer que não há "extensões", o caso grego é especial. Claro que o caso grego é especial, não era uma solução igual que se pretendia, mas apenas a extensão aos outros países da redução dos juros e do aumento dos prazos da dívida. Depois, como já é habitual, Passos e Gaspar confirmam que nunca pretenderam qualquer extensão das condições gregas.

Mais uma vez a pressão dos falcões (Alemanha, Áustria, Holanda e Finlândia) agora acompanhados pela França, veio travar aquele que era o entendimento inicial do Conselho Europeu.

Isto não seria grave se o objectivo dos ditos falcões fosse apenas ter os países em resgate sempre no fio da navalha para os obrigar a fazer o que tem de ser feito, mas a verdade é muito pior, o que os tais falcões  pretendem é ter esses países sempre em posição de serem mandados "borda fora" do euro, se e quando as condições económicas o permitirem, e o acharem da sua conveniencia.

Nisto tudo o mais preocupante é a arrogância ignorante. Mais uma vez a Europa quer convencer-se e convencer o mundo que o seu problema está resolvido. Não está, nem sequer a caminho disso. A Europa insiste em não fazer o que precisa para resolver os seus problemas, o que é tanto mais grave quando a economia mundial volta a dar sinais de estagnação.

Mais uma vez o que se fez foi adiar problemas e apenas tirar, para já, a Grécia do banco das urgências. Os mercados responderam com descidas dos juros e subida do euro em relação ao dólar americano, que já passou o 1,3 e talvez até venha a chegar de novo ao 1,36. Depois, como vem sendo hábito, teremos nova crise, novas medidas, mais ou menos avulsas, e o empurrar de novo os problemas com a barriga sem os resolver. Até quando?

 No meio disto tudo continuamos com o nosso pretenso comportamento de bom aluno, que  seria até uma estratégia com sentido, se fossemos um bom aluno com personalidade, ideias e coragem, mas não como um pequeno aluno médio, que se limita a ser um lambe-botas de professores, ignorantes também eles, e no fundo desprezado pelos ditos professores e odiado pelos colegas.

Por este caminho vamos afundar-nos todos, entre egoísmos, miopia e incompetência.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

FINALMENTE ALGUM BOM SENSO

Ao fim de longas negociações, a Europa, ao que parece apenas graças ao FMI, lá acabou por reconhecer que de nada serve fazer de conta que os problemas não existem e continuar a adiar as inevitáveis soluções.
A Grécia, e por extensão Portugal e a Irlanda, vão ter juros mais baixos e aumento da maturidade das suas dívidas.
Não é o fim das crises, mas pelo menos permite que os deficits possam de facto começar a cair e com eles as dívidas públicas destes países.
Venceu o bom senso. O lamentável é que isso se deva apenas e tão só ao mau comportamento sistemático da Grécia e à razoabilidade do FMI, por si só a Europa não teria sido capaz de o fazer.
Para que as perspectivas de facto melhorem e toda a austeridade faça sentido, é necessário agora que se encontrem formas de garantir o financiamento à actividade das empresas competitivas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

AS TROYKAS DESISTEM DE CONTROLAR OS DEFICITS, VIVA A BANCA-ROTA!

Está a acontecer em relação à Grécia, Portugal, Irlanda e até com a pré-troyka espanhola.
Parece ser uma boa notícia, mas não é, é mesmo exactamente o contrário.

Como todas as previsões que fazem têm-se comprovado erradas, agora as troykas decidiram que os deficits não importam, desde que as reformas preconizadas sejam feitas. Isto seria óptimo se as dívidas públicas dos países envolvidos parassem de aumentar, o que é impossível com a continuação dos deficits existentes, ou seja, esta postura "flexível" das troykas não resolve nada, limita-se a empurrar os problemas com a barriga.

Isto é como se a um doente grave o médico lhe dissesse que não o ia incomodar mais com o controle da febre, mas que de resto mantinha todo o tratamento, mesmo não estando a fazer efeito, como se bastasse  ignorar os sintomas para que o doente se curasse.

Em vez de finalmente as troykas assumirem que os programas de ajustamento precisam de modificações, seja descida dos juros, seja apoio ao crescimento económico, as troykas limitam-se a empurrar  todos estes países para uma inevitável banca-rota a prazo, decidindo depois se fazem o "hair-cut" das dívidas, ou os expulsam do euro.

Como todas as estratégias que passam por não enfrentar e simplesmente adiar os problemas reais, esta também só pode acabar mal, e ainda por cima desacreditar as dolorosas reformas que têm de facto de ser feitas, mas que neste contexto são muito mais difíceis de realizar e que poderão acabar por não servir para nada.

Todos sabemos da indisciplina grega, e que aquele país sempre tentou não implementar a maioria das reformas preconizadas, de qualquer forma vale a pena ver o gráfico abaixo sobre os sucessivos erros das previsões da troyka relativamente  ao crescimento do Produto Interno grego de 2009 a 2012 (erros sempre superiores a 6%, entre a primeira estimativa e o resultado final):


http://rwer.wordpress.com/2012/11/09/folly-from-olly-the-disasterous-quality-of-the-economic-predictions-of-the-european-commission/

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A ESQUERDA E ISABEL JONET

Alguém sabe de algum projecto assistencial que a esquerda tenha criado ou apoiado? Claro que não, depois das ideias de Zola e de algumas iniciativas do início do sec XX, nunca mais a esquerda teve qualquer acção nesse campo.

A esquerda radical sempre teve a teoria do quanto pior melhor, não fazendo por isso sentido qualquer apoio social que não seja aos seus camaradas de luta anti-capitalista. Por sua vez a esquerda moderada sempre achou este tipo de "caridadezinha" uma chatice pouco interessante, sobre uma questão que cabe ao estado social resolver.

Isabel Jonet não é nem uma mulher da política, nem uma intelectual, pelo que é fácil que nos tempos que correm tenha caído em considerações um pouco confusas. Isabel é apenas uma mulher de acção que dedicou a vida a um grande projecto social, uma causa que a esquerda radical julga prejudicial aos seus interesses e a moderada olha com desdém.

Perante tudo isto a verdadeira questão que se põe é  a de saber o porquê desde súbito interesse das esquerdas por este "prejudicial, enfadonho e desprezível"  tema. A resposta só pode ser uma, a esquerda acha que nos tempos que correm a conquista de uma organização poderosa, como é hoje o Banco Alimentar, pode ser um passo importante na sua estratégia de conquista do poder, isto mesmo sabendo que fecharia o dito Banco no dia em que conquistasse o poder.

Eu subscrevo o abaixo-assinado a favor de Isabel Jonet não pela correcção das suas declarações, mas simplesmente porque na verdade não é nada disso que está em causa.

domingo, 11 de novembro de 2012

É TEMPO DE A ALEMANHA DEIXAR O EURO


Face às actuais posições da Alemanha, ou temos uma Europa com dois "euros" ou não teremos Europa, e assistiremos ainda ao agravar da crise  económica mundial.

A Alemanha tem razão em querer forçar que os países "indisciplinados" façam as reformas que têm adiado desde sempre, e que continuarão a adiar se os não pressionarem a não o fazer. Só por via dessas reformas a Europa poderá encontrar o seu espaço num mundo cada vez mais competitivo.

Mas Merkel já não tem razão quando quer que essas reformas sejam feitas em simultâneo com o apertar de cinto generalizado em toda a Europa e sem incentivos especiais aos países em crise. Por essa via teremos um suicídio colectivo.

Face à obsessão alemã contra o crescimento, antes de serem eliminados os deficits em vários países europeus, a única saída que resta à Europa é que a Alemanha (juntamente com a Finlândia, Áustria e Holanda) deixem o euro e adoptem um novo "marco". Se isso não acontecer todo o projecto europeu estará em perigo.

Se a Alemanha se opõe a que no quadro do euro os países com menores deficits se comportem como locomotivas do crescimento do continente, facilitando por essa via o ajustamento das economias mais frágeis e em contracção, então a única solução é que estas economias mais frágeis voltem a ter acesso ao controle de uma política monetária, económica e fiscal mais coincidente com as suas necessidades de sobrevivencia, sem o que todo o edifício desmoronará.

Porque deve ser a Alemanha a sair e não o contrario? A lista de justificações é grande, apenas os pontos principais:

- o grosso da população da zona euro (220 milhões no total de 333 milhões), está em países que necessitam de um rigoroso ajustamento, portanto de um euro sem as exigências da Alemanha

- o regresso individual a antigas moedas por vários países europeus implicaria uma crise financeira colossal na Europa e no mundo, para alem de instabilidade politica e social incontroláveis nos países envolvidos

- um novo "marco", adoptado por quatro ou cinco países disciplinados e com economias homogéneas e estabilizadas, pode ser facilmente conseguido através de uma união monetária simples

- a criação de uma nova moeda para o bloco dos países em dificuldade seria inviável pela complexidade da operação e pela desconfiança que o processo induziria, e conduziria também a uma crise financeira mundial

- a criação de um novo "marco", para a Alemanha e outros países que a quisessem seguir, é a solução mais fácil, mais exequível, melhor para a Europa e para o mundo

- esta via será facilmente reversível no futuro, quando as economias hoje em dificuldade tiverem arrumado as suas casas e um euro único voltar a fazer sentido

A via de um euro sem a Alemanha não será por si só uma solução milagrosa, nem evitará as reformas nas economias menos competitivas, mas se gerida com competência, rigor e criatividade é a via que oferece maior potencial para os países envolvidos, para a Europa e para a economia mundial.

Este não é um texto contra a Alemanha e os outros países que defendem políticas monetárias e económicas mais ortodoxas. É até um texto de compreensão dessas posições, por parte de países que com esforço têm as suas casas arrumadas e não querem correr o risco de vir a serem envolvidos em processos que comportam riscos que eles não precisam nem querem correr. Mas assim como é compreensível a posição desses países também eles têm de compreender que os outros países têm de procurar a solução dos seus problemas, reais e prementes,  num enquadramento mais flexível.

Ao fim e ao cabo tratam-se  de mais de 200 milhões de habitantes que necessitam de políticas que os outros pouco mais de 100 milhões não querem adoptar. Resta assim uma separação temporária e por mútuo acordo, que  no quadro actual será sempre a melhor solução para todas as partes. Nesta perspectiva nem o BCE deveria sair de Frankfurt, nem os países que optassem por sair do euro deveriam deixar de ter representantes não executivos no banco.

É evidente que seria melhor para toda a Europa que fosse possível uma solução de compromisso sobre as grandes questões da política monetária, fiscal e economica, mas dado que parece amplamente demonstrado que tal não é possível, resta este caminho.

A existência de um euro comandado pela França irá fazer reavivar velhas rivalidades continentais, mas esse será o preço que a Alemanha terá de pagar por não querer correr outros riscos. Como sempre, não há almoços grátis.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O EXEMPLO DE ITÁLIA  E AS NOSSAS VACAS SAGRADAS

O governo italiano, apesar de ser de transição e não ter sido resultado directo de eleições, anunciou ontem o corte do numero de Províncias do país de 86 para 51, correspondendo portanto a um corte de quase um terço. É esperado que o Parlamento  aprove a decisão que gerará economias da ordem dos quatro mil milhões de euros.
Uma lição clara para um país que desistiu de tocar nas mais de 300 vacas sagradas que são as nossas Câmaras, inventou falsas economias potenciais na fusão de freguesias, e não foi capaz de fazer nem uma, nem outra.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A CONFUSÃO DE FERNANDO ULRICH

Com o seu "aguenta, aguenta", Ulrich fez um mau serviço ao país e ao governo que ele diz apoiar.
Pior serviço terá ainda feito à sua imagem de banqueiro-comentador.
Claro que todos os povos aguentam muito mais do que aquilo que até agora tivemos de aguentar, e muitas vezes fazem-no mesmo ordeiramente e com espírito de missão, basta lembrar do que se passa durante as guerras, com os seus racionamentos e sacrifícios de toda a ordem.
Mas não é essa a questão, a verdade é que os povos aguentam tudo desde que compreendam a sua inevitabilidade e simultâneamente sintam que os sacrifícios podem valer a pena.
É aí, entre outras coisas, que o governo tem falhado ao não conseguir transmitir aos portugueses nem a inevitabilidade, nem o potencial do confuso caminho que está seguir.
Com amigos como Ulrich este governo não vai precisar de inimigos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O DISCURSO QUE PASSOS NÃO FEZ NO CONSELHO EUROPEU

Minhas Senhoras, meus Senhores, Caros Colegas

Todos aqui presentes conhecem a disciplina, o esforço e a humildade com que o governo e o povo português se têm dedicado ao cumprimento do programa acertado com a "Troyka". Assim o temos feito porque estamos convictos que esse é o melhor caminho para Portugal, isto porque, tal como para a Europa como um todo, apenas o reforço da nossa capacidade competitiva pode assegurar o nosso futuro e o dos nossos filhos
Nós temos consciência dos excessos despesistas que existiram no nosso país (assim como em muitos outros) ao longo de vários anos, excessos esses que têm agora de ser corrigidos de forma drástica e rápida, ainda que com os inerentes pesados custos sociais, económicos e políticos. Sabemos de tudo isso e estamos dispostos a todos os esforços que sejam necessários para o fazer, sem desculpas, sem adiamentos, sem hesitações.
Mas, por outro lado não podemos deixar de ter em conta que um programa, qualquer que ele seja, só é bom se produzir resultados aproximados ao esperado, se assim não for fica claro que o programa em causa necessita no mínimo de ajustamentos importantes, sem os quais insistir no mesmo não apenas não levará à melhoria dos resultados, como gerará o efeito contrário.
Como todos sabem foi uma questão de principio sagrada para o meu governo cumprir integralmente as reformas e as duras medidas preconizadas no acordo com a Troyka, em alguns casos fomos mesmo mais longe que o estabelecido porque sabíamos que os objectivos de redução do deficit seriam difíceis de atingir.
Meus senhores, minhas senhoras, penso que pelo comportamento que sempre adoptámos, Portugal tem agora o direito moral de dizer à Europa que o programa apenas funcionou parcialmente, apesar de escrupulosamente cumprido, com custos sociais muito grandes para o povo português, custos estes que sabíamos inevitáveis.
De facto conseguiram-se resultados notáveis na balança comercial do país, mas não nos podemos iludir, os resultados obtidos têm a ver não apenas com o aumento das exportações, mas sobretudo com a diminuição do consumo privado e das importações de bens de equipamento, de qualquer modo tudo está correr bem nesta frente, até melhor do que o programado no plano.
Já no que respeita aos resultados obtidos do lado da diminuição do deficit orçamental, não podemos deixar de constatar que eles estão muito abaixo dos objectivos traçados, isto apesar de termos adoptado medidas para alem das preconizadas, e de termos feito todas as reformas e todas as privatizações programadas.
Apesar da magreza dos resultados obtidos face ao esforço realizado não teríamos qualquer dúvida em intensificar ainda mais esse esforço se não fosse o facto de ser agora claro que nos aproximamos da zona  de uma espiral recessiva, em que as medidas para redução do deficit levam ao seu agravamento pela quebra da actividade económica e consequente redução das receitas fiscais e aumento da despesa publica fruto do inescapável aumento dos benefícios sociais.
Aproximamos-nos assim do momento em que os ganhos marginais de redução do deficit por via do aumento da austeridade, se vão reduzindo de forma progressiva e exponencial, correndo risco de rapidamente se entrar na zona perversa em que maior austeridade só gerará maiores deficits.
Alguns dados apenas para vos dar uma ideia do esforço que estamos a fazer. Neste momento em Portugal estamos com um nível de desemprego superior a 16% que ainda não parou de crescer, um salário mínimo inferior a 500 euros, um salário médio nacional inferior a 800, um imposto sobre o rendimento que para rendimentos superiores a 80.000 euros será já de 55%.
Sabemos que temos de cortar ainda mais na despesa pública, essencialmente pela reconfiguração do papel do Estado, porque muito pouco além disso poderemos já fazer num país em que o salário líquido de um médico é inferior a 2.000 euros e o de um ministro a 3.000.
Minhas senhoras e meus senhores, eu penso que se neste momento não trouxesse aqui junto de vós estas minhas preocupações estaria não só a trair o meu povo, como também a trair a Europa. Todos temos que, de cabeça fria, sem preconceitos nem oportunismos, procurar a melhor via para resolver os nossos problemas comuns.
Por isto tudo digo, o programa tal como está não vai resolver o nosso problema, logo também não vai resolver o problema europeu, não estou a pedir mais tempo, nem mais dinheiro, estou apenas a pedir que se repense a parte do programa que está a produzir resultados muito abaixo dos esperados e que nos pode conduzir a uma espiral recessiva.
Nós sabemos que há poucos anos atrás outras economias europeias, com destaque para a alemã, fizeram grandes reestruturações, com enorme visão antecipativa, disciplina e sacrifícios importantes dos seus trabalhadores. A Europa do sul não o fez, bem pelo contrário, julgando que havia chegado ao Eldorado, gastou o que tinha e o que não tinha, e em vez de reformar as suas economias agravou mesmo os seus vícios. Assim foi também em Portugal.
Sabemos que tudo isso tem de ser corrigido, sabemos dos seus custos, temos pressa em fazê-lo, não regatearemos esforços, como não os regateámos até aqui, mas temos sempre de ter a certeza que estamos num caminho com alta probabilidade de sucesso. Sabemos ainda que as mudanças que temos de fazer serão muito mais dolorosas do que as que os outros países fizeram há alguns anos atrás, primeiro porque somos mais pobres e depois porque ao contrário de as fazer numa época de euforia económica as teremos de fazer numa época de recessão. Sabemos isso tudo, mas também sabemos que temos e queremos fazê-lo, tão rapidamente quanto possível.`
É pois neste quadro de pensamento em que eu, que muitas vezes fui criticado por querer ser o bom aluno da Europa, me atrevo a dizer-vos que o nosso programa tal como está não será suficiente para obter os resultados pretendidos e pode levar-nos para uma espiral recessiva, que seria destruidora para Portugal, mas também muito negativa para a Europa.
Humildemente vos digo, julgo que a solução efectiva do problema de Portugal, para além do cumprimento por nossa parte de todas as medidas acordadas, terá de passar por um dos três caminhos seguintes a nível europeu:
-a aceleração do crescimento dos países menos endividados do bloco
-a criação de linhas de financiamento especiais às empresas portuguesas viáveis
- o reescalonamento da dívida pública portuguesa (sem hair-cuts, com aumento de prazos e diminuição de alguns juros)
A questão que aqui vos deixo é sobretudo um problema de Portugal e do meu governo, mas certamente que os senhores compreendem que, apesar da nossa pequena dimensão, na época de incertezas em que vivemos este é também um problema europeu, que agora aqui vos ponho, com o espírito totalmente aberto e colaborativo que sempre tivemos, com vista à procura de soluções que sirvam as necessidades e interesses de todos.
O que nós pensamos que a Europa não pode fazer, é aquilo que nós e outros países fizemos por demasiado tempo, ao não enfrentar os problemas e ir empurrando as soluções sempre à espera de milagres impossíveis. A Europa não pode fazê-lo, e certamente não o fará.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A COMUNICAÇÃO DO GOVERNO - III

As coisas estavam mal, agora vão ficar piores.

Diz-se que Passos Coelho quer pôr todos os ministros a falar sobre as grandes questões da governação.   Para alem de dispersar os esforços e atenção dos pobres coitados, ainda lhes vai tirar tempo para trabalharem nas suas áreas.

Os primeiros resultados já se viram com a intervenção da ministra da Justiça sobre a reposição dos subsídios. A confusão na população só irá aumentar, a cacofonia será total.

No entanto é boa ideia envolver mais o ausente Portas no apoio público às grandes políticas do governo, mas, se ele o fizer "demasiado" bem, que não venham as ciumeiras habituais.

domingo, 15 de abril de 2012

RELVAS E A COMUNICAÇÃO DO GOVERNO

Relvas é sem dúvida o animal político por excelência, hábil, lutador, corajoso e bom comunicador, mas o facto de ser um bom comunicador político não o faz um bom porta voz de um governo na situação actual do país.

Relvas é um bom comunicador para a luta política, aí ele está em casa, mas o porta-voz de que o governo e o país precisam nada tem a ver com isso. O porta-voz que é urgente encontrar tem de ser alguém que consiga criar uma grande empatia com a população, alguém que consiga transmitir a ideia de preocupação efectiva do governo com a carga que as medidas que vão sendo tomadas implicam, e simultâneamente convencer as pessoas da sua inexorabilidade.

Mesmo quando Relvas tenta fazer esse tipo de discurso é claro que o não consegue, as suas tentativas de transmitir uma preocupação genuína com os problemas da população são quase um esgar que não transmite confiança a ninguém, pode até ser que Relvas esteja preocupado com todos nós(?), mas a verdade é que ninguém acredita nisso.

Mesmo Passos Coelho, que é neste aspecto um bom comunicador e que quando quer consegue passar uma imagem honesta, de alguém efectivamente preocupado com os outros, começa a estar cansado de fazer esse papel, o que leva a que as suas intervenções sejam cada vez menos cuidadas neste campo. Mas, ainda que assim não fosse, o ideal nunca seria ter um chefe de governo "explicador" de tudo quanto se passa, quer pelo volume de trabalho que isso exigiria, quer pelo desgaste em termos de uma imagem que tem de se preservar para grandes momentos.

O governo tem alguns outros bons "comunicadores sociais", como Portas e até no seu modo muito especial Victor Gaspar, mas é evidente que nenhum deles poderá preencher esta lacuna, quer em termos de disponibilidade, quer em termos políticos.

É pois urgente para o país que Relvas encontre alguém que consiga transmitir à população uma "história" convincente e, tanto quanto possível mobilizadora, que torne menos difícil o atravessar dos próximos tempos. Já agora alguém que saiba de economia um bocado mais do que aquilo que ele sabe, para assim poder compreender a história que vai ter de contar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

A LAMENTÁVEL FORMA DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO

Este governo tem pela frente uma das mais difíceis missões que um governo poderia ter, e é evidente que uma boa comunicação seria uma ferramenta fundamental, quer para facilitar a vida ao governo, quer para tornar tudo menos doloroso à população.

Embora isto pareça evidente para qualquer pessoa, claramente não o é para o governo, e assim, os erros, as explicações embrulhadas e pouco convincentes, a falta da passagem de uma mensagem global, coerente e menos angustiante, não são para o governo razão de nenhuma preocupação.

É difícil explicar porque é assim. Será por puro desinteresse em gastar tempo com esta área? Será por o próprio governo não acreditar na possibilidade de fazer passar uma mensagem mais clara, mais coerente e menos dolorosa? Ou, mais grave, será que o governo não tem de facto uma visão estratégica integrada do que precisa ser feito, das suas justificações e até dos imponderáveis ainda existentes?

Tudo isto seria grave mesmo que daqui para frente não fossem necessárias novas medidas duras para a população, mas na verdade é pouco natural que assim seja, o que quer dizer que o governo arrisca vir a colocar-se desnecessariamente numa posição extremamente difícil, ao óptimisticamente supor que o bom senso de que o povo tem dado provas irá resistir a todo o desgaste, que o cansaço, o agravar do dia a dia e o aliciamento das pseudo-soluções milagrosas, irão trazer.

Para além do muito e difícil que ainda tem de ser feito para redução do "custo Portugal" (quer contra poderosos interesses instalados, quer possivelmente por via de mais austeridade), o governo tem de ter uma "história" simples, clara, e honesta, sobre o nosso presente e futuro próximos. Sem aquela "história" a cacofonia será difícil de disfarçar e não haverá mensagem que se possa passar.

E sem aquela mensagem, clara e coerente, o governo arrisca-se a vir a morrer na praia, com custos incalculáveis para o país.

sábado, 31 de março de 2012

OS NEGÓCIOS DA CAIXA E A BRISA

Será que existe alguma improvavel boa justificação para que numa altura em que não existe crédito para financiar a actividade económica, a Caixa avance com centenas de milhões para esta operação?

Ou, como tem sido hábito, o banco público é mais uma vez um facilitador de negócios privados de duvidoso interesse geral?

Depois disto que argumentos vão restar para pedir à Troyka maior liberdade de financiamento à economia?

Como é que perante isto a Imprensa e as Oposições, sempre tão prontas a dramatizar falsos problemas, estão misteriosamente caladas?

Será mesmo que em Portugal apenas as moscas mudam (e pouco)?