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domingo, 23 de novembro de 2014

DO ESTORIL À COVA DA BEIRA

Era uma vez a história de um menino rico cuja vida, contra todas as probabilidades, se viria a cruzar com a de um menino modesto e muito mais novo, mas que o acaso, as circunstancias, ou o destino, como se queira, fizeram com que viessem a partilhar tempos de gloria e infortúnio.

Ricardo Salgado nasceu em berço dourado, depois foi apanhado pela revolução de Abril no inicio da sua carreira profissional o que o fez andar  fora do país por alguns anos, quando regressou conseguiu impor-se como o novo líder da família, apesar de ser um Espírito Santo que de facto é um Salgado. Seguiram-se longos anos de sucessos diversos e poder crescente, até se tornar o DDT, depois foi o colapso que todos conhecemos, com os inerentes custos económicos e de imagem para o país, para um sem número de investidores que perderam tudo, ou grande parte do que tinham, e para a sua família.

Começando muito mais tarde, José Sócrates fez o percurso comum aos jovens políticos de província da nossa democracia, estruturas partidarias locais, depois nacionais, seguindo-se o Parlamento e mais tarde diversos cargos em varios governos, culminando como primeiro-ministro. Anos depois desgastado pela crise, e também por muitos casos mal explicados, perde as eleições e entra no seu "inferno astral".

Curiosamente a nossa comunicação social divide-se agora entre os que querem fazer todo o aproveitamento sensacionalista destas questões e os que vêm  de forma alarmista,  qualquer movimento da Justiça e das polícias, considerando existirem enormes riscos para as liberdades e garantias individuais.

Claro que o sensacionalismo é perigoso, e o ameaçar das liberdades individuais ainda muito mais, mas também é preciso não dramatizar com base em situações que não se verificaram. A verdade é que não existem imagens públicas da detenção de nenhum dos suspeitos/arguidos, e  umas simples fotografias de uns carros a passar não podem ser consideradas atentados às liberdades individuais, faz parte dos custos que figuras públicas têm de pagar em casos destes. Veja-se em comparação o caso dos  Estados Unidos onde se vêm na televisão suspeitos algemados e humilhados em público, sem qualquer justificação, basta lembrar Strauss-Khan.

Fala-se também em linchamento e condenação pública antes de a justiça o fazer, mas a verdade é que decida a Justiça o que decidir, a historia do BES não é explicável apenas pela crise, por azar , por pura incompetencia, ou outras razões que excluam totalmente algum comportamento doloso, toda a gente sabe disso. Como também todos sabemos que não é possível a um político que não seja rico ou não tenha tido cargos muito bem pagos, com o ordenado de primeiro-ministro ter um apartamento de luxo em Lisboa, ser cliente dos melhores alfaiates de Bevery Hills, e fazer anos sabáticos com uma vida mais ou menos luxuosa em Paris. Goste-se ou não, um primeiro ministro com aquelas condições, em Portugal nunca poderá ambicionar muito além de viver em Massamá e de passar férias na Manta Rota, ou coisa no género.
Um pato bravo qualquer pode ter montes de situações mal explicadas na sua vida, se for apanhado é problema dele, um homem público, em especial um primeiro ministro, não pode, não há como ter situações dessas numa democracia moderna.

Nada me move pessoalmente contra nenhuma das duas pessoas mencionadas, antes pelo contrario, conheci os dois em diferentes épocas e circunstancias da minha vida, e respeito a capacidade de trabalho, a energia e tambem a capacidade de conquistar poder que os dois sempre mostraram , mas lamento alguns dos caminhos pelos quais  enveredaram por razões que só eles saberão. Realço ainda que não me refiro ao aspecto político, não sou dos que pensam que Sócrates é responsável por todos os males do país, julgo mesmo que qualquer dos nossos primeiros ministros anteriores a ele, se lá tivesse estado naqueles anos, teria feito o mesmo ou pior do que ele fez, apertado entre a crise, os lobbies das construtoras, interesses diversos , e as políticas contraditorias da Europa, Sócrates fez o que o seu carácter voluntarioso, por vezes em excesso, lhe impunha que fizesse naquele quadro.

Sou contra sensacionalismos,  linchamentos públicos e versões simplistas de questões complexas, mas que muita coisa está podre neste reino que não é da Dinamarca e é uma república, isso não tenho dúvida. Agora a única coisa importante é tirar as necessarias lições do sucedido, e tomar as medidas indispensáveis para que não aconteçam de novo coisas semelhantes.

Nesse quadro a comunicação social tem um papel fundamental, mas não podemos estar optimistas, a verdade é que a comunicação social portuguesa  teve um papel relevante na destruição da monarquia constitucional e da 1ª República, e por outro lado,um papel muito menor do que por vezes se refere na queda da 2ª República. Que vai ela fazer com a 3ª?

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