quinta-feira, 13 de junho de 2019
RUBEN CARVALHO - O PCP E A LUTA PELA LIBERDADE
Nunca conheci pessoalmente Ruben Carvalho, mas partilho da opinião aparentemente unânime que se tratava de alguém com uma grande e eclética cultura, com uma inteligência viva e um sentido de humor imenso.
Foram essas qualidades excecionais que lhe permitiram conjugar a dedicação de uma vida a um partido muito rígido, mantendo-se sempre fiel às respetivas chefias, com uma liberdade de estar e de pensar difícil de encontrar por aquelas bandas.
Pessoalmente via-o como um homem para quem a liberdade, no sentido "burguês" da palavra, há muito se tinha tornado importante e não tenho duvidas de que seria capaz de lutar pela sua defesa.
No entanto a questão da "histórica luta pela liberdade" do PCP é uma questão mais complexa que toda a gente, à esquerda e à direita evita abordar.
A verdade é que o PCP durante a maior parte da sua vida, como partido estalinista que era, lutava de facto para derrubar uma ditadura mas apenas com a finalidade última de a substituir por um regime totalitário, embora admitisse ter de aceitar uma democracia burguesa como passo intermedio para o seu objectivo final. A "luta anti-fascista" do PCP nunca foi uma luta pela liberdade burguesa, era uma luta para implantar um regime de partido único e com ele fazer a revolução social.
Não discuto a abnegação, o sacrifício, os prejuízos e o sofrimento que muitos militantes do PCP suportaram nessa sua luta, e acredito que o fizeram maioritariamente com o sentido de construir uma sociedade mais justa do que a que tínhamos, mas nunca se tratou de uma verdadeira luta pela liberdade.
Claro que na sua estratégia a luta pela liberdade era utilizado como palavra de ordem para alargar o seu apoio popular, mas na verdade o PCP só contribuiu para a liberdade na medida em ajudou a derrubar o regime. Graças aos deuses, isso aconteceu apenas num momento histórico em que a possibilidade de tentar aqui implantar um sistema de partido único, mais ou menos estalinista, já tinha passado
No entanto, devemos todos uma coisa ao PCP, o seu realismo, foi esse realismo que permitiu que o partido no verão quente de 1975 não tivesse mergulhado o país no caos. Um dia saberemos quem foram os elementos, externos e internos, mais determinantes para travar a tentação dessa aventura revolucionaria suicida.
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