VÁRIOS EUROS - O REGRESSO A KEYNES (1941)
Ainda durante a segunda grande guerra Keynes começou a desenvolver trabalhos com vista a definir a base a partir da qual seria possível que a economia mundial, depois de acabada a guerra, tivesse condições para entrar numa fase de crescimento global, longe do proteccionismo a que a crise de 1929 tinha conduzido o mundo. Sendo neste âmbito de destacar o texto produzido em 1941 "Proposals for an International Currency Union", de que vou aqui procurar dar uma ideia geral pelo seu interesse e actualidade quando se começa a falar de vários "euros".
Apesar de Keynes ser considerado um dos pais do sistema monetário internacional estabelecido em Bretton Woods, conjuntamente com o americano Dexter White, a verdade é que o que em 1944 foi consagrado em Bretton Woods difere substancialmente do que Keynes defendia em 1941, não sei o que dessa mudança correspondeu a evolução do pensamento do mestre e que parte resultou apenas do peso da realidade americana como grande vencedor do conflito e então a grande economia mundial com enormes superavits comerciais, e portanto a única com condições para financiar a recuperação.
Voltando ao documento de Keynes, a base do sistema seria um "International Clearing Bank" através do qual se realizariam todas as transacções internacionais num sistema fechado e por isso sempre em equilíbrio, porque os débitos de uns seriam os créditos de outros. Por outro lado, o grande objectivo seria que o sistema tivesse capacidade efectiva para pressionar quer países deficitários quer superavitários para corrigir essas situações que deveriam idealmente caminhar para um equilíbrio total, sem deficits nem excedentes. O documento pretendia também definir condições de comércio justas em termos globais longe da prática dos acordos bilaterais, limitando quer os impostos alfandegários e a fixação de quotas, quer os incentivos à exportação, numa rota que depois veio a ser abraçada pela OMC.
Defendia ainda Keynes que o ideal seria que os membros do sistema não fossem países mas "currency unions" agrupando países por razões políticas e geográficas, sistema este para o qual se deveria evoluir. Meramente a título de exemplo até porque o fim da guerra iria originar novas situações, Keynes considerava o estabelecimento de 11"unions" (América do Norte, América Central e do Sul, Império Britânico, URSS, Médio Oriente, Extremo Oriente, e 5 zonas na Europa para além do UK abrangido no Império). Sobre como operariam estas zonas monetárias tão longe da optimização Keynes não se debruça. É curioso olhar para a uniões europeias sugeridas:
- países germânicos incluindo a Suíça, a Holanda e a Áustria
- países escandinavos incluindo os estados bálticos
- a união latina - França, Bélgica, Itália, Espanha e Portugal
- Europa central - Polónia, Eslováquia, Hungria, etc
- União dos Balcans
O sistema funcionaria como de câmbios fixos, cada moeda com a sua relação fixada com o ouro, câmbios esses que obrigatoriamente seriam alterados para baixo ou para cima sempre que maiores distorções surgissem nos saldos comerciais de cada país. A título meramente de exemplo um país/zona monetária que tivesse na sua conta no clearing por mais de um ano um saldo superior a metade da média entre as suas importações e exportações num ano, seria obrigado a valorizar a sua moeda em 5%, correspondente desvalorização seria obrigatória para quem inversamente tivesse deficits de dimensão equivalente.
Texto para reflectir em tempos em que não só a nossa zona monetária tem de ser repensada, como também temos de o fazer em relação à situação dos outros países europeus fora dela.
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