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terça-feira, 8 de setembro de 2020

 VIAGEM A GRAZALEMA

Adoro viajar contigo!
Pelo menos quando tu não vens.
Ainda hoje a viagem pela serra da Grazalema foi maravilhosa, os pobres dos turistas pequeno-burgueses continuam colados ao seu litoralzinho, sem perceber nada do que realmente conta!
Como é costume, tu não apareceste para o pequeno almoço no hotel. O criado já sabe que não é para tirar o teu lugar na mesa, tu só estás mal disposta (indispuesta?), e a qualquer momento podes chegar.
Acho que eles já gozam comigo pelas costas, mas mantêm a compostura à minha frente, que é o que importa (por supuesto Don Eduardo). No Brasil as boas gratificações fazem-nos passar de moço a "doutô", em Espanha do simples tuteio ao tratamento de Don, ainda não percebi o que é necessário para me tratarem como um Grande de Espanha, como à Duquesa louca.
Mas voltando à nossa maravilhosa viagem de hoje. Na verdade não sei bem quando é que chegaste, sei apenas que em Arcos de la Frontera estavas comigo, e que adoraste tudo, ficámos os dois espantados com os loucos dos andaluzes que fizeram aquela cidade maluca à beira de um precipício imenso, ao pé da qual, Monsaraz e Marvão parecem brincadeiras de criança ( o Filipe Bustorff que me perdoe), e ainda nem sequer tínhamos visto Zahara e Ronda.
Mais uma vez, em Zahra (de La Sierra), não apareceste para almoçar. Aí foi mais difícil explicar à criadita que não podia tirar aquele lugar ao meu lado, porque tu irias chegar a qualquer momento, mas que entretanto eu ia comendo.
Lá em Cadiz, o empregado do restaurante onde vou habitualmente já guarda sempre o lugar de la Señorita, e até pergunta constantemente por ti, se estás melhor e essas coisas todas.
Mas a pobre criadita de Zahra não estava mínimamente preparada para aquelas nuances.
A coisa parece que ficou mais complicada quando eu comecei a falar contigo e, pior ainda, quando dávamos aquelas gargalhadas maravilhosas que nós damos quando estamos juntos (não te lembras das nossas gargalhadas??!!), nessa altura eu percebi claramente que ela (a empregada) e quase todos os estrangeiros, de diversas nacionalidades que enchiam as esplanadas do pequeno largo frente à Igreja, me olhavam de soslaio de uma forma um pouco estranha. Não compreendi a curiosidade deles, mas hoje em dia as pessoas andam muito estranhas, deve ser da crise.
O meu restaurante em Cadiz, onde tu insistes em não ir, fica mesmo ao lado do hotel, é já do ano de 1812, eles dizem que o Byron costumava ir lá, isso está orgulhosamente registado numa placa junto á porta.
Sabes, aquele Lordezinho inglês, com um bocadinho de talento, mas super-convencido, podre de mimo e dinheiro, que foi elogiando toda a Europa do sul a partir de Sintra para baixo? Pois, esse mesmo, ele disse que Cadiz era a cidade mais bonita do mundo, e também, que as mulheres de Cadiz eram as mais belas que alguma vez vira.
Graças aos deuses ele não te viu a ti, com a tendência que tu tens para maus poetas não sei o que me aconteceria se ele te encontrasse.
Ao contrário do que dizem, ele teve melhor marketing (avant la lettre) do que poesia, mas quanto ao resto ele tinha razão. Apesar dos crimes urbanísticos a cidade vai resistindo e continua linda, e as andaluzas de Cádiz são de morrer, têm uns olhos verdes escuros onde é fácil qualquer mortal se perder por completo, claro que eu não, eu continuo fielmente à espera que um dia destes apareças para almoçar, e que, então tudo mude na minha vida.
Mas nunca se sabe, aquele verde é realmente estranho demais, e tu continuas sem aparecer.
Em Ronda foste maravilhosa, a cidade é surpreendente e a paisagem esmagadora, acho que também foi por isso que estiveste tão bem.
Apesar da carga de água que apanhámos e de termos ficado molhados até aos ossos, tu não te zangaste, e depois quando saímos de Santa Maria la Mayor, para podermos continuar, debaixo de chuva, compramos (aquilo era a sacristia da Igreja?) aquele paraguas que tu adoraste, mas mesmo de paraguas não conseguimos chegar aos banhos árabes, no fundo do vale, porque a água que jorrava era tanta, que corríamos o risco de acabar mergulhados no rio.
Depois desapareceste. Não percebi porque não quiseste voltar comigo para Cádiz, mas contigo é sempre assim, apareces e desapareces, sem avisar.
Talvez o tempo te dê a serenidade de que precisas.
A melhor coisa do mundo é viajar contigo, pelo menos quando tu não vens. Porque eu sei que um dia tu virás, e então tudo será ainda muito melhor, perfeito mesmo.
Ou talvez não, mi Cariño.
( agora em off - eu tnha conhecido a Sharon pouco tempo antes em Roma, numa loja da LV da Via Condotti, foi nessa altura que a convidei para esta viagem. Tudo isso se passou há já muito tempo, quando a Sharon ainda era a Sharon e eu, ainda era eu)

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