A INGOVERNABILIDADE E A PRESIDÊNCIA (desculpem mas esta não dá para ser curta)
A verdade é que o problema que se põe hoje ao país já não é o da governabilidade, mas o de estar à beira da ingovernabilidade, a situação é de tal maneira grave que até Vasco Pulido Valente, dos homens que mais sabe da história da nossa monarquia constitucional e da 1ª república, e conhecido como o veneno nacional, está de tal forma preocupado que já pede calma aos políticos, ele que adora ser o incendiário de serviço.
Claro que Sócrates não é o menino do coro que nós gostaríamos que ele fosse, mas nenhum político o é. Claro que ele pode ter ido longe demais nas suas tentativas de controlar a imprensa desafecta, mas, com maior ou menor intensidade, todos os governos o fizeram. Claro que ele tem, amigos envolvidos em operações duvidosas, mas todos os políticos os teem, até porque não se faz política sem dinheiro (a história de Helmut Kohl,na rica e prestigiada Alemanha, um dos poucos grandes políticos do nosso tempo, aí está para o demonstrar), isto é especialmente verdade para os políticos que começam de baixo, como Sócrates e seus amigos, e que teem de galgar degrau a degrau as escadas do poder, sendo obviamente mais fácil para os políticos que entram por cima, e que teem quem trate dos assuntos "mais delicados" que suas Exas vão olímpica e cândidamente ignorar.
Desculpem mas em política não acredito em vestais inocentes, o que não quer dizer que não existam políticos honestos.
Também são claros os traços autoritários de Sócrates e a sua pouca abertura a ter deixado, como é da tradição da nossa democracia, que se sentassem à mesa do Orçamento elementos dos outros partidos com vocação de poder (sobretudo do PSD, mas também do CDS), transformando como ninguém o fez, aquela mesa num lugar para repasto exclusivo do PS e seus amigos.
E também todos sabemos como é duro para os partidos de poder estarem muito tempo afastados do dito, os quadros partidários começam a agitar-se, contaminando as bases e as lideranças, os ódios crescem, a razão vai-se perdendo, e por aí se vai. E tudo isto é tanto mais importante quanto toda a gente lúcida nesses partidos (que sabe alguma coisa de política) sabe que, se a crise se tivesse atrasado um pouco mais, estaríamos agora a ser governados por uma 2ª maioria absoluta do PS, e os outros partidos de poder continuariam no seu jejum insuportável e sem perspectivas. Por isso, todos sentem com maior intensidade o risco que estiveram à beira de correr, que se transforma em alívio e em vontade de aproveitar a oportunidade criada.
Mas atenção, este quadro de exaltação geral, no contexto de uma grande crise económica como a que se vive (e cuja dimensão ainda se ignora), é extremamente perigoso, podendo desencadear processos políticos e sociais que ninguém vai controlar.
Não podemos esquecer que no fundo não passamos de um bando de celtas,mouros, judeus, e outros, mais ou menos selvagens, dificilmente disciplináveis, a que Salazar deu uma fina capa de compostura, pronta a estalar a qualquer momento.
Face ao ponto a que chegámos só vejo duas saídas, ou o governo estabelece um acordo partidário que lhe dê condições para governar (mais fácil com o CDS), ou o Presidente consegue transformar-se num poder moderador efectivo e credível que permita a sobrevivencia do governo minoritário.
Para o Presidente os próximos tempos também são vitais, porque muito provavelmente é agora que se vai decidir o resultado eleitoral do próximo ano. Será o tempo em que ou o Presidente se consagra como estadista, ou ficará apenas como caso fortuito de um professor que, num final de semana, nos idos de 80, foi à Figueira fazer a rodagem do seu carro.
Carbonários, anarquistas e outro revolucionários, atenção! preparem-se! parece que vai haver festa!!!
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